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AC/DC: a primeira vez com "Let There Be Rock"

Resenha - Let There Be Rock - AC/DC

Por Ivison Poleto dos Santos
Postado em 13 de julho de 2017

"Let There Be Rock" foi lançado nos cinemas (sim nos cinemas!) em setembro de 1980 e em videoteipe no mesmo ano. Isso lá fora, já aqui não faço a mínima ideia de quando foi lançado, pois como muitos já escreveram nesta página, as coisas demoravam a chegar nas terras tupiniquins. Foi filmado no Pavillon de Paris, em 9 de dezembro de 1979, e contém também entrevistas com os integrantes da banda, incluindo o vocalista Bon Scott, que morreu dois meses após as filmagens. Como era costume, os shows das bandas da época eram filmados e editados como filmes para poderem passar nos cinemas, pois na época achava-se (diga-se os grandes capitães da indústria do entretenimento) que as pessoas, não iriam ao cinema para ver um show gravado, ainda mais de rock.

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Um belo dia em uma tarde do já muito distante ano de 1985, um pequeno grupo de amigos foi à locadora Omni na Avenida Faria Lima em São Paulo dar uma olhada nas fitas disponíveis. Era um costume adquirido ao descobrir que a referida locadora possuía fitas originais de bandas de rock que estávamos começando a gostar. E também porque poderíamos copiá-las, o que não era uma operação das mais simples, pois teríamos que comprar fita virgem, que não eram baratas; juntar dois videocassetes, mais caros ainda, e mais um cabo, que só encontrávamos na Rua Santa Efigênia. Porém, moleques de 16 anos tinham, e ainda têm, todo o tempo do mundo...

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Éramos uns seis moleques que ansiosamente esperavam pelo único registro ao vivo daquela que era naquele momento uma das maiores bandas de rock do mundo. Aprontamos a parafernália, sentamos confortavelmente no sofá ou no chão ou em cadeiras, não importava, o show iria começar. Detalhe: havia pelo menos umas duas ou três fitas para serem gravadas, portanto teríamos de ver o mesmo cada vez! E daí? Era o AC/DC! Colocamos a fita para tocar e pronto, a diversão estava começando.

Simples! Eletrizante! Cativante!

Estas são as palavras que definem muito bem o que sentimos quando assistimos "Let There Be Rock" pela primeira vez. Era o AC/DC da era Bon Scott no seu auge. A banda alcançaria outros auges no futuro, mas se você é como eu que mesmo gostando muito de Brian Johnson prefere Bon Scott nos vocais, entende bem o que quero dizer.

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"Let There Be Rock" mostra uma banda que não tinha sido afetada pelo sucesso de "Highway To Hell", o primeiro sucesso internacional de verdade do AC/DC. A banda continuava com os mesmos hábitos simples de antes da fama, o que o filme mostra bem nas cenas onde os integrantes se preparam para o som. Malcolm Young apenas troca de camiseta, Phil Rudd e Cliff Williams preparam os dedos com esparadrapos e Cliff coloca uma munhequeira, artefato que anos depois percebi como seriam úteis para evitar pulsos abertos. Bon Scott apenas penteia (?) os cabelos e coloca uma calça jeans toda rasgada. Quem se demora mais é Angus para produzir todo o seu visual de Problem Child que ele vai perdendo ao longo do show até ficar quase desnudo. Já nos primeiros acordes, ele perdeu o boné. O palco é extremamente simples com muito espaço para Angus fazer das suas. Não há equipamentos especiais, nem efeitos estrambólicos. Nem gelo seco, se não me falha a memória.

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Quando se fala dos músicos do AC/DC, não se pode desconsiderar as dinâmicas de palco dos seus integrantes. Angus é o centro das atenções tamanhas são as suas catarse e entrega. Ele não para por um minuto sequer. Nem mesmo em uns dos momentos mais interessantes em que ele sai do palco para tomar oxigênio diretamente de um balão postado nos bastidores. Dificilmente existirá outro guitarrista com o mesmo empenho e paixão. Ele também não utiliza nada de especial em matéria de efeitos. Logo se percebe a falta de uma pedaleira. Ela absolutamente inexiste. Angus utiliza apenas a distorção do seu Marshall, e um compressor para realçar os timbres de sua Gibson SG. Nada mais que isso. Bon Scott fica em primeiro plano somente quando está cantando. Nas paradas fica logo atrás de Angus fazendo as suas dancinhas, que são um show a parte. Malcolm e Cliff ficam no fundo do palco, um de cada lado da bateria só indo à frente para os microfones postados no palco para os refrãos e automaticamente voltam. Phil fica escondido atrás das baquetas como a maioria dos bateristas recebendo apoio dos roadies postados nos bastidores. Logo na primeira música ele fura a pele da caixa que teve de ser trocada. Malcolm se coloca tanto em segundo plano como guitarrista que se percebem claramente dois buracos na sua guitarra de onde foram retirados os captadores. Por que ele fez isso? Coisa que percebemos na época e nos perguntamos até hoje.

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Há algumas cenas bastante interessantes e peculiares. A primeira que nos chamou a atenção foi aparelho esquisito que Angus usava em cima do amplificador antes do show. Após muitos debates acalorados, decidimos que deveria ser um afinador eletrônico, pois um de nós já tinha ouvido falar que eles existiam. Mas até hoje não descobrimos como funcionava. Bon Scott chama a atenção nas entrevistas seja pelo lado cômico e boa praça como quando é perguntado sobre sua relação com homens ele fala que dá somente um aperto de mão e diz ‘E aí, cara!’. Porém, o momento mais tocante é quando o entrevistador pergunta sobre os seus defeitos e ele responde ‘Eu bebo muito!’. Há também cenas que foram colocadas para ‘encher linguiça’ como a que Phil Rudd tenta abrir uma garrafa de champanhe com uma espada. E consegue!

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Enfim, uma perfeita amostra de como se deve fazer rock’n’roll sem firulas e frescuras! Obrigatório ‘for those about to rock’!


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Sobre Ivison Poleto dos Santos

Veterano das guerras metálicas. Pesquisador, escritor, resenhista, músico frustrado (por isso tudo o anterior). Ao contrário da opinião comum, acho que o melhor do Metal ainda está por vir e que existem grandes bandas novas por aí. Só procurar. No meu caso elas vêm até mim.
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