Santana: Quando ele quer, ele não brinca em serviço
Resenha - Santana IV - Santana
Por Ricardo Pagliaro Thomaz
Postado em 08 de maio de 2016
Nota: 10
O SANTANA ORIGINAL VOLTOU!! Uau! Eu realmente achei que nunca mais iria ver isso acontecer! Mas aqui estamos! Que beleza! Carlos Santana reúne a banda original, aquela da era Woodstock, lá do finalzinho dos anos 60 e inicio dos 70, para gravar um novo álbum!
Eu sou um enorme fã desta fase do guitarrista! Vê-lo lançar o ótimo Shape Shifter em 2012 foi de fato encorajador, então, não vamos perder muito tempo, vamos falar desta nova maravilha musical chamada Santana IV!
E se me dão licença, eu prefiro simplesmente ignorar, por completo, a maçaroca sonora que o Tonhão lançou em 2014, Corazón. Ah, você não sabe quem é esse Tonhão? É uma forma que eu achei de dissociar a porcaria sonora que o Santana virou em discos como Shaman, por exemplo, recheado de participações medíocres e musiquinhas xaropes, com o lado brilhante do guitarrista, que é quando ele realmente mostra esforço. Mas eu não quero falar sobre isso tudo aqui. Vamos deixar o Tonhão de lado, vamos falar de Carlos Santana e sua banda, a célebre, a única, a icônica. A banda que trouxe o Rock para o mundo latino.
O nome do 24º álbum do grupo, lançado agora em 15 de Abril, não poderia ser mais simbólico! Lógico, que este não é o lindo quarto álbum do guitarrista com sua banda, que saiu em 1972, o cara já lançou mais de 20 discos ao longo de sua carreira com o nome Santana, muitos deles fizeram por merecer o nome da banda estampado lá em cima, outros, mais notadamente os da década passada, bem, não fizeram por merecer; porém, a numeração do disco aqui não tem valor de contagem, mas tem o valor simbólico de ser a continuação direta da proposta musical que eles vinham desenvolvendo até o terceiro álbum de carreira, de 1971.
Além disso, para deixar a coisa ainda mais atraente, o guitarrista mexicano foi atrás de reunir seus companheiros antigos de banda! Sim, meu amigo, eu estou falando de gente da pesada, como o tecladista e cantor Gregg Rolie e o guitarrista Neal Schon, ambos caras que, após terem trabalhado juntos em Santana III e Caravanserai, fundaram, em 1975, a banda Journey. Junto deles, músicos como o percussionista Michael Carabello e o baterista Michael Shrieve, que integraram juntos o Santana de 1969 a 1971, também retornam!
Estes caras estavam afastados do Santana já faz muitos anos, mais de 40! Temos aqui portanto um verdadeiro revival do Santana original da era Woodstock. Só não voltam o baixista David Brown, que morreu em 2000, e o percussionista José "Chepito" Areas, que resolveu ficar de fora mesmo, por alguma razão que eu desconheça. No lugar deles, tocam os músicos da banda mais recente do guitarrista, o baixista Benny Rietveld e o percussionista Karl Perazzo.
E quanto ao disco? EXCELENTE!!! Absolutamente transpirando, em todos os aspectos, aquela sonoridade clássica do Santana! Até mesmo a capa, que é uma alusão ao leão do primeiro álbum da banda, nos deixa esta sensação de nostalgia. Eu tive que pegar este álbum e escutar, incontáveis vezes, em casa, no carro, às vezes até mesmo no trabalho, no meu intervalo, para me convencer do que eu estava escutando ali.
E o que é melhor: você, que conhece o trabalho clássico do guitarrista, deve se lembrar que cada um dos três discos da formação clássica, tinha em torno de umas nove músicas cada. Pois bem, aqui neste disco novo, eles matam sua sede de Santana vintage com quase o dobro disso, ou seja, dezesseis faixas novas! É muita novidade! Um verdadeiro bálsamo para quem estava com saudades desta formação do Santana.
E o Santana, quando realmente quer, não brinca em serviço! Contando com a experiência de seus primórdios, e a maturidade musical que só o tempo pode trazer, o grupo nos presenteia com preciosidades que remontam à sonoridade woodstockiana, com maravilhas como "Yambu", ou a pesadíssima "Shake It", e já se nota o retorno da sonoridade africana, dos arranjos latinos misturado ao potente Blues Rock que a banda praticava em seu início; depois ainda tem "Anywhere You Want To Go", que remete diretamente à sonoridade caribenha do clássico "Oye Como Va". Ou se quiser, tem o intimismo musical jazzístico e experimentação nos sete minutos de jam de "Fillmore East", uma referência lá de 1968, quando a banda começou sua trajetória.
Ainda tem mais! Para uma relaxada, ouça a maravilhosa "Sueños", contando com toda a latinidade do guitarrista em solos acústicos inspiradores. E tem mais som vintage! "Caminando" é absolutamente descomunal! Segue na linha da segunda faixa, aquele blues carregado do grupo, com batidas latinas e o vocal marcante de Rolie, e uma aparente referência ao The Doors em uma passagem! Meu Deus, como eu esperei para escutar este Santana de novo! Os arranjos vintage, aliado à sonoridade de produção moderna é uma coisa linda, te dá a sensação de estar fazendo uma viagem aos anos 70, mas sem sair da época que estamos. Mais ou menos o que eu senti, quando os Yardbirds retornaram em 2003 com o álbum Birdland, após 36 anos de ausência.
"Blues Magic" é um magnífico slow blues latino, e "Echizo" remete à sonoridade de um clássico como "Toussaint L'Overture", com a volta do Rock com batida africana tão marcante do grupo, ouça e compare. Toda a sonoridade vintage da banda é celebrada e enaltecida aqui neste novo disco, e eles tocam juntos, com a mesma química de 40 anos atrás, como se o tempo jamais tivesse passado. A faixa "Forgiveness", que fecha o disco, é mais uma experimental absolutamente maravilhosa, cheia de nuances, climas e toda aquela atmosfera carregada de anos 70, que o fã de longa data poderia esperar.
Ainda tem mais coisas, algumas delas seguem a linha do que o guitarrista realizou no restante dos anos 70 até o início dos anos 90, como "Freedom In Your Mind", uma das duas faixas do disco que conta com a participação especial do cantor de rythm'n'blues Ronald Isley, conhecido pelo seu famoso projeto The Isley Brothers; outro destaque é a soul "Leave Me Alone", que relembra o Santana oitentista, mas sem aquele exagero de sintetizadores, só com os teclados suaves e pontuais de Rolie, fazendo a mágica. Pra terminar os destaques, a belíssima e transcendental "You And I", um poço transbordando feeling, técnica e musicalidade que vai te deixar absolutamente retido, sedado, sem reação. Venha experimentar.
Tudo que posso dizer para terminar, é que estou afoito! Absolutamente realizado e maravilhado com este discaço! Feliz e contente em adicionar esta preciosidade na minha coleção pessoal, e tenho certeza absoluta, que você também ficará! Eu recomendo altamente que você vá atrás deste disco novo do Santana, o original! E também estou realmente animadíssimo com a possibilidade desta formação clássica da banda se reunir de novo no futuro para nos encantar novamente. Vamos só esperar que não me venha um próximo disco do Tonhão, e que Carlos Santana reúna toda este potencial, todo este talento e inspiração em esforços para lançar um Santana V - quem sabe? É esperar e torcer! Vá atrás de Santana IV, e maravilhe-se!
Santana IV (2016)
(Santana)
Tracklist:
01. Yambu
02. Shake It
03. Anywhere You Want To Go
04. Fillmore East
05. Love Makes The World Go Round (com Ronald Isley)
06. Freedom In Your Mind (com Ronald Isley)
07. Choo Choo
08. All Aboard
09. Sueños
10. Caminando
11. Blues Magic
12. Echizo
13. Leave Me Alone
14. You And I
15. Come As You Are
16. Forgiveness
Selo: Santana IV Records
Banda:
Gregg Rolie: voz, teclados, órgão Hammond B3
Carlos Santana: guitarra, voz
Neal Schon: guitarra, voz
Benny Rietveld: baixo
Michael Shrieve: bateria
Michael Carabello: congas, percussão, voz
Karl Perazzo: timbales, percussão, voz
Participação especial:
Ronald Isley: voz (faixas 5 e 6)
Discografia anterior:
- Corazón (2014)
- Shape Shifter (2012)
- Guitar Heaven (2010)
- All That I Am (2005)
- Shaman (2002)
- Supernatural (1999)
- Milagro (1992)
- Spirits Dancing in the Flesh (1990)
- Freedom (1987)
- Beyond Appearances (1985)
- Shangó (1982)
- Zebop! (1981)
- Marathon (1979)
- Inner Secrets (1978)
- Moonflower (1977)
- Festival (1977)
- Amigos (1976)
- Borboletta (1974)
- Welcome (1973)
- Caravanserai (1972)
- Santana III (1971)
- Abraxas (1970)
- Santana (1969)
Site oficial:
http://www.santana.com
Para mais informações sobre música, filmes, HQs, livros, games e um monte de tralhas, acesse também meu blog:
http://acienciadaopiniao.blogspot.com.br
Outras resenhas de Santana IV - Santana
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps