Genesis: O apocalipse da era Gabriel
Resenha - Lamb Lies Down on Broadway - Genesis
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 30 de junho de 2015
Nota: 10 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
O lançamento do duplo The Lamb Lies Down on Broadway (1974), que alcançou o décimo lugar nas paradas inglesas, cumpriu a promessa de obra-prima quase irretocável indicada pelo progresso dos álbuns anteriores.
A banda resolvera trabalhar num álbum conceitual, formato quase obrigatório entre bandas de rock progressivo, que geralmente escolhiam temas míticos, de ficção científica ou de velhos, exóticos e/ou obscuros registros históricos para compor obras grandiloquentes.
Mike Rutherford planejara uma ópera-rock baseada no Pequeno Príncipe, mas foi antagonizado por Peter Gabriel, que tencionava seguir rumo diametralmente distinto: a história de Rael – pseudo-anagrama de seu sobrenome – um porto-riquenho vivendo em Nova York e que desce aos subterrâneos da metrópole em busca de seu irmão John (ou seria à procura de outra parte de sua própria personalidade?). Uma história com protagonista terceiro-mundista no rarefeito mundo do prog rock parece revolucionário à princípio e até é um pouco. Mas, a morenice e punkice da personagem logo dão lugar a um emaranhado de referências gregas, freudianas e de cultura de massa, quando o jovem se depara com as temíveis aventuras no sub-solo da Grande Maçã.
Gabriel escreveu todas as letras, isolado dos demais. A tensão na banda galgava topos. Decorrentes de sessões de análise, sonhos, experiências mediúnicas, um vasto cabedal de informações jornalísticas e literárias e o que mais Gabriel estivesse tomando na época, as letras têm mantido fãs ocupados há quase 40 anos, tentando decifrar cada referência. Há muita coisa escrita sobre cada canção de The Lamb Lies Down on Broadway, tipo de álbum que divide fãs e deixa alguns obcecados. Freud, Marshall McLuhan, Keats, trocadilhos (inúmeros) e até Burt Bacharach são a ponta dum iceberg quilométrico de alusões, duplos sentidos e obscuridades nos textos gabriélicos.
O show de divulgação de foi uma extravaganza com slides, explosões, luz estroboscópica e muitas trocas de roupas do vocalista pra encarnar as distintas personagens. As vinhetas e faixas instrumentais foram pensadas como intervalos para as trocas. Rock no hemisfério norte sempre foi negócio levado a sério e muito profissional. Com toda essa parafernália, a atenção destinava-se cada vez mais ao cantor – visto como "líder" do Genesis – desgastando ainda mais o relacionamento entre os músicos.
Todo mundo está no topo da forma. Peter canta como nunca em tantas vozes tão diferentes! O cara vai do doce ao gutural, do grave ao agudo, da voz "natural" aos vocais tratados tecnologicamente. Ajuda muito que o timbre de Phil Collins seja bastante similar, pois as harmonias e vocalizações atingem momentos sublimes, basta conferir Counting Out Time, de matriz beatlemaníaca.
A guitarra de Steve Hackett vai dos tons orientalizados da rastejante Fly On a Windshield ao solo derrete-coração e arrepia-pelo de Silent Sorrow in Empty Boats.
Tony Banks deixa o Mellotron de lado e toca bastante piano, mas a enxurrada caudalosa de teclados que faz a alegria de certos fãs de prog corre solta nos solos de Riding the Scree e In The Cage (com sua citação discreta a Burt Bacharach).
Phil Collins certamente deu bom passo para detonar seus pulsos tocando os achados percussivos, que ora pulsam com energia detonante, ora têm tom discreto, mas, junto com o baixo de Mike Rutherford compõem uma cozinha que poucas bandas tiveram com tal qualidade e criatividade. Basta ouvir The Grand Parade of Lifeless Packaging.
O som pastoral dos álbuns anteriores, de modo geral, cede lugar a uma sonoridade mais rock. Em The Waiting Room, a banda ensaia até uma sonoridade meio space, meio ambient, meio psicodélica, graças a Brian Eno. Nada que o Nektar não tivesse feito. Meus 3 minutos desfavoritos entre quase 95 de música intensa.
Em retrospecto, aquela formação parece que atingira o auge de sua criatividade em The Lamb Lies Down on Broadway. Para onde ir depois da obra-prima sempre presente nas listas de melhores álbuns conceituais?
Tensões, problemas pessoais e a vontade de seguir caminhos diferentes afastavam Gabriel cada vez mais dos demais membros. Por um par de semanas, durante a pré-produção de The Lamb, o vocalista-letrista ensaiou uma saída do grupo e foi aos EUA trabalhar na trilha-sonora do que seria um filme de William Friedkin, então todo-poderoso devido ao megassucesso O Exorcista. Depois de dar com os burros n’água, voltou com o rabinho entre as pernas pra Inglaterra.
Mas, o vaso já estava trincado e depois do último show da turnê, na cidade francesa de Besançon, Peter Gabriel tornou público o seu desligamento.
Fim de uma era e período de incerteza. Embora todos fossem excelentes músicos, os holofotes estavam sobre Gabriel e, para muitos, Collins, Banks, Rutherford e Hackett não passavam de músicos de apoio. Mister achar novo vocalista, mas quem poderia substituir o carisma de Peter Gabriel? Quase todo mundo apostava no apocalipse do Genesis.
Tracklist:
Disco 1
1. The Lamb Lies Down on Broadway (4:50)
2. Fly on a Windshield (4:23)
3. Broadway Melody of 1974 (0:33)
4. Cuckoo Cocoon (2:11)
5. In the Cage (8:15)
6. The Grand Parade of Lifeless Packaging (2:45)
7. Back in N.Y.C. (5:42)
8. Hairless Heart (2:13)
9. Counting Out Time (3:42)
10. The Carpet Crawlers (5:15)
11. The Chamber of 32 Doors (5:40)
Disco 2 time: 48:49
1. Lillywhite Lilith (2:42)
2. The Waiting Room (5:24)
3. Anyway (3:07)
4. The Supernatural Anaesthetist (2:59)
5. The Lamia (6:57)
6. Silent Sorrow in Empty Boats (3:07)
7. Colony of Slippermen (8:13)
a) The Arrival
b) A Visit to the Doktor
c) Raven
8. Ravine (2:04)
9. The Light Dies Down on Broadway (3:32)
10. Riding the Scree (3:57)
11. In the Rapids (2:26)
12. It. (4:15)
Outras resenhas de Lamb Lies Down on Broadway - Genesis
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



A banda de rock favorita do Regis Tadeu; "não tem nenhuma música ruim"
O álbum clássico do Iron Maiden inspirado em morte de médium britânica
A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
O melhor álbum do Led Zeppelin segundo Dave Grohl (e talvez só ele pense assim)
A banda que superou Led Zeppelin e mostrou que eles não eram tão grandes assim
O rockstar que Brian May sempre quis conhecer, mas não deu tempo: "alma parecida com a minha"
Andi Deris garante que a formação atual é a definitiva do Helloween
O álbum do Led que realizou um sonho de Jimmy Page; "som pesado, mas ao mesmo tempo contido"
A performance vocal de Freddie Mercury que Brian May diz que pouca gente valoriza
Loudwire elege os 11 melhores álbuns de thrash metal de 2025
A cantora que fez Jimmy Page e Robert Plant falarem a mesma língua
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar
O baterista que Neil Peart dizia ter influenciado o rock inteiro; "Ele subiu o nível"
A canção emocionante do Alice in Chains que Jerry Cantrell ainda tem dificuldade de ouvir
Steve Vai: "Eu não posso tocar como Yngwie Malmsteen; ninguém pode tocar como ele"
Qual era a opinião de Tony Iommi sobre Ozzy Osbourne solo e Randy Rhoads em 1984?
Restart: após uma década, como está garota do meme "puta falta de sacanagem"
O álbum narrativo do Genesis que, aos 50 anos, ainda é extremamente necessário
Os onze maiores álbums conceituais de prog rock da história, conforme a Loudwire
Os 11 melhores álbuns de rock progressivo conceituais da história, segundo a Loudwire
David Gilmour revela quais as quatro bandas de prog rock que ele mais detesta
O álbum dos anos 80 que conquistou Ozzy Osbourne
Por que o Genesis nunca deve se reunir com Peter Gabriel, segundo Phil Collins



