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Morrissey: Eternamente juvenil em vídeo de 1992

Resenha - Live In Dallas - Morrissey

Por Renato Araujo
Postado em 10 de março de 2015

Só mesmo um fã muito radical dos THE SMITHS não concorda que a banda rendia muito mais em estúdio do que ao vivo. A prova 'viva' é justamente o único disco ao vivo oficial da banda, que deixa escapar a sua enorme fragilidade em apresentações "em directo". Talvez foi pensando neste detalhe que, ao seguir carreira solo, o vocalista MORRISSEY procurou obstinadamente uma banda que tivesse "punch" suficiente para apresentações ao vivo. Ele só iria encontrar a formação ideal ao assistir uma apresentação da banda revivalista de rockabilly THE POLECATS. O grupo havia sofrido uma debandada geral, restando apenas o guitarrista BOZ BOORER, que estava remontando-a com outro guitarrista, ALAN WHYTE e novos integrantes, mas sem o mesmo entusiasmo de antes.

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Foi quando MORRISSEY os descobriu e propôs que eles se tornassem sua banda de apoio, no que prontamente aceitaram. Isto foi em 1992 e o resultado desta inusitada parceria, é que o grupo continua tocando com ele até hoje, inclusive com BOORER e WHYTE se tornando parceiros do bardo de Manchester. O disco "You Are The Quarry" (em uma tradução livre, "você é a galera"), por exemplo, foi totalmente composto com os dois guitarristas. O som de MORRISSEY, desde então, ficou mais pesado e menos "fresco", no sentido gay mesmo da palavra. Os rapazes dos POLECATS serviram como uma injeção de testosterona para MOZ.

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Este "Live In Dallas" foi filmado ainda em 1992, logo após o lançamento do disco Kill Uncle, o primeiro com a participação da nova banda. Como se trata de um combo de "rude boys", desde o início do show se percebe que a adaptação de algumas canções mais "sensíveis" do cantor inglês se dá com uma certa dificuldade. Mas o resultado geral é muito bom e a banda se mostra firme e até bem humorada, como nos gritos esquisitos de "November Spawned a Monster" que ALAN WHYTE reproduz com enorme bravura e fidelidade. A inclusão das brilhantes covers de Thrash (NEW YORK DOLLS) e That's Entertainment (THE JAM) mostram que os rapazes não estavam mesmo pra brincadeira.

A performance de MORRISSEY sob o palco da cidade em que JFK foi morto (há um disco de ELVIS com o título do filme, por sinal) é surpreendente mesmo para quem já conhece sua personalidade. Logo de cara a surpresa é a "macheza" do vocalista, que, já em 92, quando o show foi realizado, havia abandonado muitos dos trejeitos gay que fazia à frente dos SMITHS. Faz questão de descer ao fosso e apertar a mão de seus fãs (claro que ele parece claramente se regojizar com o assédio), pega cartas jogadas da platéia, recebe com bom humor uma chuva de flores jogadas pelo público e dá espaço para performances solo dos integrantes da banda de apoio.

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Quando alguns garotos sobem ao palco para tentar abraçá-lo, MORRISSEY, se não os incentiva, também não os reprime, o que faz com que o espetáculo seja encerrado antes do que deveria por não haver mais condições de segurança. Os teens acabam rasgando a blusa do músico em pedacinhos, criando um souvenir instantâneo. No bis, a invasão do palco se torna generalizada e ele é obrigado a fugir para os camarins, deixando à cargo de ALAN WHYTE terminar de cantar a música de encerramento. No final das contas, se percebe porque MORRISSEY é tão querido pelos fãs. Muito diferente de outros rock stars esquisitinhos e esquisitões, desta e de outras eras, ele é um de nós, uma pessoa absolutamente comum que, no palco, parece estar "latinicamente" em uma festa em seu apê (ôpa!), cheia de penetras, mas se divertindo muito. "Ele é a galera", como diz o título de um de seus melhores discos. Não me arrependo de ter dado ao meu filho o seu nome.

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Sobre Renato Araujo

Renato Araujo, jornalista, músico, nascido em 1966.
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