Resenha - O Início, o Fim e o Meio - Raul Seixas
Por Rolfdio e Eduardo dutecnic
Fonte: Minuto HM
Postado em 06 de novembro de 2011
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O blog Minuto HM foi conferir a 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo nos meses de outubro e novembro onde centenas de filmes de todas as partes do mundo estão sendo exibidos. São curtas, longas, documentários e todo o tipo de gêneros e filmes para todos os gostos e credos.
O título escolhido para conferir foi foi o filme "Raul – O Início, o Fim e o Meio" – título tirado de um dos grandes clássicos do músico. O filme é um longa e tem previsão de entrar nos circuitos nacionais a partir do dia 27 de Janeiro de 2012 para o grande público e nós tivemos a oportunidade de conseguir um dos disputados ingressos para as 3 sessões que a amostra disponibilizou para o dia 27 de Outubro de 2011. Acreditem, os ingressos foram disputados. O filme é produzido pelo paraibano Walter Carvalho que já atuou em diversas produções nacionais ao longo de décadas. Este documentário sobre a vida de Raul Seixas resgata materiais antigos, coleta opinião de pessoas, músicos, fãs, parentes, e, principalmente de suas ex-companheiras e esposas as quais o filme se apropria de uma linha de tempo de suas respectivas convivências para apoiar na cronologia de explicação dos fatos da vida de Raul Seixas.
O ingresso que o blog comprou pela internet estava previsto para a sessão das 22:00 e, já na chegada ao Cine Unibanco Frei Caneca às 21:20, ficou claro que teríamos ali mais um tributo a esse grande músico brasileiro.
Várias pessoas com camisas de fã clubes paramentados como o ídolo e exibindo tatuagens com os símbolos (Sociedade Alternativa) e nomes de Raul Seixas, já eram vistas em grande quantidades ali na entrada do cinema. A movimentação foi aumentando a medida que o horário da sessão se aproximava. Ainda na fila, tive a oportunidade de registrar o diretor Walter Carvalho – de relevante para um blog sobre música, acho importante ressalvar que ele atuou na produção nacional Cazuza – O Tempo Não Pára. Na foto abaixo, Walter Carvalho esta a esquerda com um sósia que é retratado no filme com seu filho que possui o mesmo nome de batismo de Raul Seixas. Ambos estavam na sessão e esse detalhe foi uma das curiosidades neste evento: várias pessoas que estavam na fila das sessões também foram retratadas no filme. Desde fãs entusiasmados até os participantes da Ordo Templi Orientis – Ordem dos Templos do Oriente – seita a qual Raul e Paulo Coelho fizeram parte e que colocarei um comentário mais a frente – haviam várias pessoas que de certa forma fizeram parte de algum momento da trajetória do músico.
Perto das 22:00, fui informado – já em uma fila gigantesca – de que a sessão atrasaria em 20 minutos. O motivo do atraso – conseguido as duras penas, após quase puxar pelo braço um dos organizadores da Mostra – foi que antes da exibição do filme, o diretor estaria se dirigindo à plateia e tecendo um rápido comentário sobre a obra. Após a entrada conturbada de todos os pagantes, a produção da amostra de cinema introduziu Walter Carvalho ao público e apresentou produtores e roteiristas.
O filme começa – como se espera – mostrando a infância de Raul Seixas na Bahia e a sua precoce decisão de ser um músico de rock and roll logo em sua pré-adolescência e a influência dos amigos do consulado americano que tinham acesso a um material precioso que vinha de um EUA em uma época de ouro com Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richards e toda a nata do rock e Blues americano da década de 50/60. Aqui uma curiosidade: Raul já bebia e fumava feito gente grande aos 14 anos de idade. Nesta etapa, o filme mostra o começo com The Panthers e Raulzito e os Panteras e o filme resgata depoimentos de pessoas que conviveram com Raul nesta época.
O filme mostra a primeira filha de Raul que mora nos EUA e que se recusa a participar do filme de forma textual, limitando-se a postar uma mensagem em uma rede social explicando os motivos pelos quais não queria fazer parte do documentário.
Os pontos altos do filme são os depoimentos de seus parceiros de composição e de vida. O mais famoso de todos é sem dúvida Paulo Coelho, que é bastante participativo no documentário e expõe de forma direta muito da sua relação com Raul que modulava fortemente entre amor e ódio. Nesta parte do filme, os documentaristas expuseram um pouco do como vieram as ideias do que poderiam chamar de a "inspiração para uma Sociedade Alternativa" e mostram os representantes da Ordo Templi Orientis – Ordem dos Templos do Oriente – dando seu depoimento e um breve resumo do que a seita prega e segue como princípios, explicando a sua visão sobre a vida e citando aquele que chegou a ser um líder mundial da seita: Aleister Crowley. Esta parte mostra os seniors da seita citando a pertinência de que a humanidade possui um conceito deturpado sobre os conceitos de diabo, demônios e tudo que é "demonizado". Nesta parte, existem cenas fortes e chocantes, como exemplo, um dos membros defecando em um vaso sanitário com a fotografia do Papa João Paulo II e o sacrifício de animais mostrado de forma explícita ocorrendo em uma floresta – mostram um porco sendo morto e um bode sendo decapitado – como parte de rituais da seita. Algo extremamente forte, porém, talvez, necessário para contextualizar o que a seita representa e como eram seus rituais e parte de suas crenças. Comentário adicional: Paulo Coelho sempre comentou que antes de escrever O Diário de Um Mago – considerado como seu primeiro livro de grande sucesso comercial que fala de sua experiência no caminho de Santiago de Compostela – teve contato e imersão em seitas de magia negra e que "todos pagaram pelo preço destas escolhas passadas".
Paulo Coelho também não se envergonha de dizer que foi ele o responsável por ter apresentado Raul às drogas mais pesadas, como cocaína e ácido. Na verdade, todo tipo de droga foi apresentada a Raul por Paulo Coelho que se mostra bastante confortável com isso no filme. Ele fala das parcerias e das "viagens" intermináveis dessa época. O documentário mostra outros parceiros extremamente importantes para sua obra como Cláudio Roberto que compôs o Rock das Aranha, entre outros sucessos.
Para quem acha que Raul Seixas não tem a ver com Heavy Metal, acho que é válido lembrar que Raul foi o primeiro, senão, o único artista brasileiro a cantar e citar Aleister Crowley em sua obra. No meio musical internacional, figuras grandiosas – como John Lennon - já bebiam na fonte de Crowley – vide a capa do Sgt Peppers em que John Lennon fez questão de colocá-lo como uma das figuras na capa do disco. No meio do Metal, os mais relevantes citar são Jimmy Page e Bruce Dickinson, que nunca esconderam sua identificação com a obra do "bruxo", além da famosa Mr. Crowley de Ozzy Osbourne (com Don Aire nos teclados), que é um clássico. Existem outros artistas que se inspiraram na vida de Crowley para a sua obra artística e obviamente estes exemplos não encerram esse ponto. "Faça o que tu queres pois é tudo da Lei" – texto considerado sagrado da O.T.O e que Raul cita tacitamente nos versos de Sociedade Alternativa. Sem falar que Raul foi disparado um dos mais subversivos artistas de sua época – mais do que peso pesados comunistas como Chico Buarque e seus sambas de protesto. Raul foi exilado e o documentário mostra que sua volta se deu pela sua extraordinária vendagem da época.
Raul começou a ter projeção destacada no festival internacional da canção em 1975 e Let me Sing foi o seu primeiro hit. Convidado por Nelson Mota, Raul tocou no Hollywood Rock de 1975 onde outra banda histórica também tocou lá: o Vímana composto por Lulu Santos, Lobão e Ritchie. Aqui é outra história.
O filme traz depoimentos de Renato e seus Blue Caps, Tarik de Souza, Nelson Mota, Caetano Veloso, Roberto Menescal, Tom Zé, Pedro Bial, Marcelo Nova entre outros e de suas ex-esposas e companheiras. Estas são um deleite para o público. Mostram claramente como Raul Seixas amou e foi amado por suas mulheres e como elas influenciaram a sua obra. Mostram ainda os problemas de conviver com uma pessoa que sofria de um pesado problema de alcoolismo e os recorrentes problemas de saúde derivados de uma diabetes que se agravou ao longo dos anos. O filme mostra também a dificuldade de Raul em conseguir atender a compromissos de show dada a sua saúde debilitada e a necessidade incessante de continuar fundo na bebida. Mostraram o caso do show do Parque Lage no RJ onde ele foi vaiado por se apresentar bêbado e depois cair no palco. O público se revoltou e reagiu de forma exagerada, atirando latas no palco – sou carioca, mas é preciso dizer aqui como os cariocas são extremamente mal-educados em se tratando desse tipo de situação.
Comentário dos autores da resenha: o filme não mostra um caso famoso de Raul quando este foi se apresentar, se não me engano, em Santos - não confundir com o famoso show na praia de Santos onde ele esquece e erra várias de suas letras – e seu nível de embriaguez era tão grande que ele não conseguia sequer se comunicar com a plateia e sua aparência já era de uma pessoa inchada e debilitada pelo álcool. Isso levou as pessoas que estavam presentes a quererem linchá-lo por acreditar que não se tratava dele mesmo, mas sim de um farsante e aproveitador. A polícia precisou ser chamada para evitar problemas com os mais exaltados.
Kika Seixas fala da angústia de ver o marido abandonado pelo show business e dos esforços para tentar fazê-lo trabalhar, mas as condições de Raul eram deploráveis. O filme em seguida retrata a chegada de Marcelo Nova na vida de Raul. Nova era vocalista do Camisa de Vênus – banda de rock dos anos 80 – que emplacou entre outros hits " Eu Não Matei Joana Dark" – e surge como uma figura que venera a vida e a obra de Raul. Até aí, pessoas que não tinham muito conhecimento da vida de Raul, como eu, achavam que de fato Marcelo Nova deu uma "sobrevida" – entenda-se aqui que Raul já era um artista consagrado, porém, atravessava uma pesarosa entressafra artística – e Marcelo Nova reencontra o ídolo e organiza de forma não planejada uma parceria que dá muito certo, culminando em um lançamento de uma material inédito. Dado esse contexto, o filme levanta um ponto curioso: o fato de que a seqüência de shows e compromissos que a dupla passou a fazer tenha atenuado os problemas de Raul e debilitado-o ainda mais em sua frágil saúde. Eu sinceramente nunca havia visto a relação dos dois sob este ponto de vista. Marcelo Nova aparece com um discurso em que "se explica" sobre isso e sobre uma possível visão de "aproveitador" e eu nunca havia visto isso sob esse perspectiva mas, realmente, o documentário faz questão de reinterar o ponto.
O filme mostra com bastante carinho a dedicação dos fãs em suportar Raul ao longo de sua carreira, principalmente em seus momentos próximos do fim onde o presidente do fã clube de Raul Seixas, em seu depoimento, mostra o quanto os fãs se esforçaram para tirar Raul Seixas dos problemas que lhe rodeavam – que não eram poucos. Por fim, o documentário conta os últimos momentos de sua trágica e prematura morte em São Paulo, ocorrida no Edifício Aliança, que aparece bastante no filme e onde ele foi achado pela sua secretária já morto. Um final emocionante e que com a ajuda do excelente som da sala, fez todos se emocionarem ao som de Gitá tocando e mostrando os últimos momentos de sua jornada. Raul não merecia isso – com certeza, não!
Assistam! Nós recomendamos e fazemos aqui um singelo tributo a esse grande artista brasileiro, e, mesmo em um blog especializado em Hard/Metal, nós gostaríamos de deixar aqui nossa homenagem. Toca Raul!!!!!!!!
Comentário dos autores do post: eu conhecia Raul já quando era criança – década de 80 – apenas dos seus principais "medalhões", mas quando ele faleceu – 1989 – as rádios passaram a executá-lo como nunca, como nunca visto com nenhum outro artista falecido. Ele foi, em minha humilde opinião, o primeiro artista a realmente ter "sucessos" veiculados em rádio em sua situação post-mortem. Em seguida, algumas peças de teatro – como o Báu do Raul – preencheram um pouco do o vazio que seus fãs tinham com sua partida. Sua genialidade em suas letras e sua persistência em não fazer algo puramente comercial para veicular em rádios fez dele um artista único que nunca será esquecido pela sua legião de fãs. Este documentário é uma justa homenagem ao nosso extraordinário "maluco beleza". Além de poder conhecer mais da vida deste ídolo, eu me emocionei ao poder ter a oportunidade de ouvir em som alto alguns dos grandes sucessos dele: Medo da Chuva com Zé Ramalho, Trem das Sete, O Diabo é o Pai do Rock, Como Vovó Já Dizia, enfim, ouvir os grandes clássicos em som alto e bem definido foi uma experiência incrível. Recomendo a todos conferirem este documentário!
[an error occurred while processing this directive]Acesse o Minuto HM para mais informações e fotos - e veja uma foto foto exclusiva do Edifício Aliança.
http://minutohm.com/2011/10/28/documentario-raul-–-o-inicio-o-fim-e-o-meio/
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