Opeth: Assumindo de vez as influências progressivas
Resenha - Heritage - Opeth
Por Thiago Pimentel
Fonte: Hangover Music
Postado em 02 de outubro de 2011
Nota: 8
A discografia dos suecos do "Opeth" é marcada pela ousadia e rompimento de barreiras dentro do, muitas vezes preconceituoso, nicho musical a qual pertencem: o heavy metal. Na obra do grupo, passagens acústicas, nuances psicodélicas e demais elementos, característicos da música progressiva, harmonizam-se, normalmente em uma mesma composição, com passagens de gêneros mais extremos da música pesada - como o death, black e doom metal.
Tal mistura sempre atraiu admiradores, como também afastou ouvintes - que não simpatizavam com alguns elementos presentes do grupo. Todavia, em meio a essa "salada de influencias musicais", algo sobressai-se na música do Opeth: a imprevisibilidade. Esse atributo costuma marcar desde a estrutura das canções, até as letras e a capa de um disco da banda.
"Heritage" fora anunciado como um álbum a parte, provocando um certo furor na mídia especializada. Uma das declarações, feitas por Mikael Akerfeldt (líder do grupo), era de que, tal como "Damnation" (2003), o vocal gutural - um dos principais elementos da música do Opeth - não estaria presente em nenhuma das faixas desse disco. Contudo, diferentemente de "Damnation", o foco desse trabalho voltaria-se, principalmente, a música progressiva como era produzida nos anos 70 (ano que marca o ápice criativo do estilo).
Um fato que marcou - e preocupou os fãs - foi a saída do tecladista Per Wiberg logo após a gravação do álbum. O motivado da saída, alegado pelo músico, foi de que ele gostaria de tocar sua própria música. A faixa-título, que abre o disco, curiosamente foi a única faixa em que Per não contribuiu no trabalho. Cortesia de seu substituto (Joakim Svalberg) a bela peça, baseada no piano, introduz ao primeiro single do disco: "The Devil's Orchard".
Já conhecida de alguns, antes do lançamento do disco, "The Devil's Orchard" é uma das faixas mais "tradicionais" desse trabalho, possui ótimas variações e um riff principal que é tão original como, na mesma proporção, grudento. Influências de bandas como "Camel", "King Crimson", "Jethro Tull" e até "Yes" seguirão até o fim do disco... e essa é a faixa mais próxima do "Opeth" tradicional - se é que é possível traçar um limite de "tradicionalidade" para a música do grupo.
A próxima canção ("I Feel the Dark") é uma das melhores. Sabe aquele tipo de música que melhora a cada audição? Essa é uma delas. A passagem mais pesada pode ser curta, mas é a 'cereja no topo do bolo' aqui. Já a quarta faixa ("Slither") é uma das músicas mais diferentes do disco e da carreira do "Opeth". Trata-se de uma homenagem ao falecido vocalista Ronnie James Dio (ex-Black Sabbath, Rainbow) e mescla elementos de grupos de rock setentistas, como o próprio "Rainbow". Infelizmente, a composição destoa demais das outra canções, soa fora do contexto, como um 'b-side' perdido dentro do álbum. Nem o clássico, e belo, final dedilhado aproxima ela do contexto do disco.
"Nephenthe", "Haxprocess" e "Famine" seguem com o clima progressivo do ínicio do álbum, porém aliando elementos jazzísticos e psicodélicos em suas fórmulas. A última citada é uma das umas das músicas mais ousadas já produzidas pela banda, contando, inclusive, com a presença de flautas. Porém, nesse ponto a audição do álbum, perigosamente, pode tornar-se cansativa.
"The Lines in My Hands" destaca-se pelas excelente linhas de bateria e imprisivilidade em si, excelentes solos de violão a enriquecem bastante essa música que é uma das mais curtas do disco e da carreira da banda, famosa por faixas enormes. A próxima música ("Folklore") possui uma forte veia jazzística e experimental no geral - até mais que no resto do álbum - e soa agradavelmente psicodélica. Um dos destaques, com certeza.
Tal como foi introduzido, o álbum encerra-se, também, com uma faixa instrumental. "Marrow of the Earth" é uma das melhores, mais bonita e melancólica canção instrumental já composta pelo "Opeth". A riqueza de influências aqui é enorme. Não há o que comentar, apenas ouça!
Sim, Mikael Åkerfeldt não mentiu em nenhuma de suas declarações: "Heritage" é um álbum a parte, mas não apenas na discografia da banda, e sim na música contemporânea no geral. Explico: não se trata de um disco composto para ser apreciado, por exemplo, enquanto o ouvinte realiza diversas outras tarefas, ou escuta em algum fone pela rua - ao menos não recomendo nas primeiras audições. No geral, é um álbum complexo, com pouquissímos elementos de heavy metal - o que vai desagradar fãs puristas - e com canções difíceis de serem absorvidas de primeira.
Enfim, "Heritage" vai contra a maré de toda a música descartável tão perpetuada na atualidade. Confesso que demorei para compreendê-lo e foi dificil resenhá-lo, pois precisei de algumas e, introspectivas, audições para entender a obra em sua totalidade.
Claro que este disco trará novos apreciadores ao grupo, mas a chance de provocar uma resposta negativa, infelizmente, é ainda maior. "Heritage" é complexo desde sua capa - existe muito simbolismo por trás das imagens, vale a pena "estudá-la" -, até a última nota de "Marrow of The Earth". Mas a melancolia, a introspecção e o experimentalismo - mais do que nunca - tão característico da música do "Opeth" estão presentes. Todavia, quem esperar um "Still Life" (1999) - épico, agressivo e metal - ou até mesmo um "Damnation" - acessível, melodioso e depressivo - quebrará a cara.
Apesar de ter gostado desse experimento, secretamente - agora, não mais - aguardarei o regresso das guitarras incrivelmente distorcidas e dos guturais.
Músicas-chave:
"Folklore" ; "I Feel the Dark" ; "Marrow of The Earth"
Formação:
Mikael Åkerfeldt - vocais e guitarra
Fredrik Åkesson - guitarra
Martín Méndez - baixo
Martin Axenrot - bateria
Joakim Svalberg - teclado
Tracklist:
1. Heritage 02:05
2. The Devil's Orchard 06:40
3. I Feel the Dark 06:40
4. Slither 04:03
5. Nepenthe 05:40
6. Häxprocess 06:57
7. Famine 08:32
8. The Lines in My Hand 03:49
9. Folklore 08:19
10. Marrow of the Earth 04:19
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