Alcest: Música do fundo da alma de quem compôs
Resenha - Souvenirs d'un Autre Monde - Alcest
Por Thiago Pimentel
Postado em 25 de março de 2011
Nota: 8 ![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
![]()
Fruto da mente do "solitário" músico Niege - que gravou todos os instrumentos - "Souvenirs d'un Autre Monde" transporta o ouvinte através de sua atmosfera melancólica a um mundo parelo. Mundo este oriundo dos sonhos de Niege durante a sua infância. Este fato explica o nome do álbum que, traduzido do francês, significa "Memórias de um outro mundo".

O ALCEST começou praticando um black metal cru, tosco. Contudo, em seu primeiro EP - "Le Secret" (2005) - Niege já deu indícios de rumar para uma direção contrária ao metal extremo. Uma direção mais psicodélica e ambiente - opasta tradicional a agressão do metal. Na verdade este álbum possui apenas resquícios de heavy metal, sendo sua rotulação uma tarefa complica, injusta. A bateria talvez preserve alguns elementos do metal extremo, com o uso de batidas típicas do black metal. Incrivelmente esse estilo "baterístico" não soa deslocado, apenas contribui para deixar o som do ALCEST ainda mais peculiar.
O álbum inicia-se com "Printemps Emeraude" exibindo uma poderosa "parede sonora de guitarras" e melodias melancólicas. Apesar do longo tempo da canção a forma como tudo se encaixa e envolve o ouvinte é fantástica. As linhas de baixo também são ótimas. Diferente das composições do primeiro EP as partes dessa canção não parecem "costuradas" e apontam o ALCEST para uma direção impensável para um projeto que nasceu no metal: o shoegaze e post-rock.
O trabalho de guitarra não é o tradicional no rock n' roll/heavy metal, isso pode causar estranheza a quem está acostumado a um formato mais linear de riffs e solos, pois o instrumento é mais usado para criar camadas sonoras do que para destacar-se na música.
"Souvenirs d'un Autre Monde" e "Les Iris" continuam a "grande viagem". O trabalho de violão é bem intenso: o instrumento domina quase todas as composições do músico. Remetendo a bandas como OPETH. Essa característica, além do uso do idioma natal do músico (francês), também é uma das principais da banda.
Um outro atributo do trabalho que chama atenção são os vocais limpos de Niege. Eles funcionam como mantras que ficam em segundo plano - isso quando não são usados coros -, no fundo da música. Isso cria um efeito envolvente e nostálgico no ouvinte - o que deve ter sido a grande intenção do compositor.
A quarta faixa ("Ciel Errant") talvez seja uma das mais melancólicas do disco, sua levada acústica inicial mesmo que evolua em riffs distorcidos preserva as tais melodias tristes. As linhas de guitarra solo complementares são muito boas e aqui repetem a ideia das primeiras faixas. Sem excessos de notas, apenas o essencial. Essa sutileza talvez seja o grande charme, em especial, dessa música.
"Sur L'autre Rive Je T'attendrai" possui vocais femininos realizados por Audrey Sylvain. Essa canção assim como a próxima apontam para uma direção mais "folk" que até então não havia sido visto com tanta evidência no disco. O trecho de encerramento - após o "falso final" - com o dedilhado durante os "sons de mar" são um grande deleite progressivo.
A última faixa ("Tir Nan Og") é uma das mais singulares da obra. Além de apresentar um trabalho de percussão bem interessante também destaca-se pela inclusão dos teclados. Essa é uma das minhas favoritas do disco, pois possui melodias bem grandiosas sem soar piegas. O encerramento do álbum não podere ser mais épico. O título da canção faz referência a uma expressão irlandesa sobre uma mitológica "ilha da juventude".
Em suma, "Souvenirs d'un Autre Monde" é um grande trabalho. Único, diferenciado, peculiar. Poderia procurar ir além do uso desses sinônimos para sintetizá-lo, porém não acho adjetivos diferenciados que melhor definam essa obra que não esses. É um disco escrito, aparentamente, sem pretensões comerciais... apenas música do fundo da alma de quem compôs.
Por sua peculiaridade obviamente atrairá tantos admiradores quanto detratores, na mesma proporção. Seu único defeito talvez seja a duração das faixas que, por não variarem muito, pode tornar a audição do álbum cansativa. Recomendado para quem gosta de grandes viagens psicodélicas em forma de música. Um conselho final: não vá escutar esperando heavy metal e... muito menos black metal.
Músicas-chave:
Printemps Emeraude ; Ciel Errant ; Tir Na Og
Formação: Niege - vocais e todos os intrumentos
Tracklist:
1. Printemps Émeraude 07:19
2. Souvenirs d'un autre monde 06:08
3. Les Iris 07:41
4. Ciel Errant 07:12
5. Sur l'autre rive je t'attendrai 06:50
6. Tir Nan Og 06:10
Tempo total: 41:20
Publicado originalmente em
http://hangover-music.blogspot.com/2011/03/resenha-album-alcest-souvenirs-dun.html
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



As 5 melhores bandas de rock dos últimos 25 anos, segundo André Barcinski
A única banda de rock progressivo que The Edge, do U2, diz que curtia
Não é "Stairway" o hino que define o "Led Zeppelin IV", segundo Robert Plant
O guitarrista do rock nacional que é vidrado no Steve Howe: "Ele é medalha de ouro"
Sharon Osbourne revela o valor real arrecadado pelo Back to the Beginning
Os três álbuns mais essenciais da história, segundo Dave Grohl
O disco do Queensryche que foi muito marcante para Kiko Loureiro e para o Angra
O artista "tolo e estúpido" que Noel Gallagher disse que "merecia uns tapas"
Divulgados os valores dos ingressos para o Monsters of Rock 2026
A opinião de Tobias Sammet sobre a proliferação de tributos a Andre Matos no Brasil
A história de quando Regis Tadeu passou fome: "Vou fracassar como ser humano?"
O guitarrista que fundou duas bandas lendárias do rock nacional dos anos 1980
A banda que Alice Cooper recomenda a todos os jovens músicos
Os 11 artistas que Rita Lee alfinetou no clássico "Arrombou a Festa"
Kerry King coloca uma pá de cal no assunto e define quem é melhor, Metallica ou Megadeth
Trio punk feminino Agravo estreia muito bem em seu EP "Persona Non Grata"
Svnth - Uma viagem diametral por extremos musicais e seus intermédios
Em "Chosen", Glenn Hughes anota outro bom disco no currículo e dá aula de hard rock
Ànv (Eluveitie) - Entre a tradição celta e o metal moderno
Scorpions - A humanidade em contagem regressiva
Soulfly: a chama ainda queima
Os 50 anos de "Journey To The Centre of The Earth", de Rick Wakeman


