Bon Jovi: apenas clássicos completam a maioridade
Resenha - Keep The Faith - Bon Jovi
Por Erick Rabello
Postado em 10 de novembro de 2010
Apesar de ainda cantarmos as canções desse álbum como se tivessem sido lançadas ontem, Keep The Faith está completando 18 anos. Muitas pessoas que estão lendo esse texto, talvez ainda nem tivessem nascido durante aquele louco início de década. Lançado em 03 de novembro de 1992, Keep The Faith veio carregado de significados para a banda. Era o 5° álbum da banda e tinha a difícil tarefa de reposicionar o Bon Jovi nos anos 90.
Não era uma tarefa fácil. Após o lançamento do álbum New Jersey, de 1988, o Bon Jovi embarcou numa turnê mostruosa que já no seu final passou pelo Brasil para duas apresentações no Festival Hollywood Rock de 1990. Empresariado por Doc McGhee, a banda quase implodiu nesse período. Apesar da banda ainda demonstrar entrosamento no palco, nos bastidores as coisa não iam bem. Após o final da turnê, cada membro seguiu seu caminho, se dedicando a projetos solos. O futuro do Bon Jovi era incerto.
Depois de uma turnê cortada pela metade, Richie Sambora e Jon Bon Jovi decidiram sentar pra decidir o futuro da banda. Essa reunião deu-se em outubro de 1991. Com tudo acertado, o chefe decidiu demitir o empresário e criar a Bon Jovi Managements para cuidar dessa nova fase. Foi criado também um selo que seria responsável pelo lançamento do álbum KTF, mas o Jambco não decolou como Jon queria.
Com tudo acertado, a banda viajou para Vancouver, no Canadá e trancafiou-se no Little Mountain Studios, sob a tutela de Bob Rock. A idéia inicial era que o Bob Rock produzisse o álbum Stranger In This Town de Richie Sambora, mas este declinou para produzir o novo álbum do Metallica, o "Black Album" (que se tornou um clássico da década de 90). Como vimos, a escolha do Bob Rock não foi errada. Ao escutar o resultado, Jon acreditava que seria Bob Rock a pessoa mais indicada para dar a cara moderna que ele queria imprimir na banda nessa nova década.
Como citado anteriormente, KTF representava uma mudança muito grande para a banda. Talvez hoje nem seja tão notável, mas na época as mudanças foram enormes em todos os sentidos. A banda estava abandonando o glam rock que os tornara famoso (note que nenhuma faixa lembra os clássicos Slippery When Wet e New Jersey). Com isso, Jon precisou diminuir seu ego e passar a ser mais companheiro dos outros membros da banda. Já não dava mais entrevista sozinho e cada um passou a ter consciência de sua importância dentro da banda. O visual da banda também estava menos carregado e mais limpo que nos anos 80 e a maturidade e a sonoridade saltavam aos ouvidos.
O maior dos desafios era vencer as mudanças que haviam ocorrido na música. O hard rock explorado à exaustão pela MTV já não dominava as paradas de sucesso. Um novo estilo (o grunge) tinha chegado com toda força reformulando o gosto musical. Bandas como U2, Guns N’Roses e Metallica tinham se tornado as mais ambiciosas do planeta. Freddie Mercury tinha morrido em 1991, deixando livre o posto da banda mais extravagante do rock.
Foi nesse contexto que KTF nasceu. Em cima das pressões internas e externas. O primeiro single foi lançado antes do álbum e trazia uma faixa totalmente nova para o contexto de tudo que a banda já tinha feito. Uma clara influência de bandas mais novas como o Live (note a linha de baixo/percussão de "Pain Lies On The Riverside" e vai saber do que estou falando).
"Keep The Faith" ainda trazia em seu lado B a canção natalina "I Wish Everyday Could Be Like Christmas". Ambas ganharam videoclipes e foram sucessos instantâneos. No vídeo de KTF vemos Jon e Richie pelas ruas de New York, misturados ao povo principalmente no bairro do Brooklin e na Wall Street. O single atingiu o número 1 da parada rock da Bilboard.
O álbum continha oficialmente 12 faixas com clara influência de Rolling Stones e Bruce Springsteen. Atingiu o número 5 na parada Top 200 da Billboard, permanecendo entre os 200 por 49 semanas. No Reino Unido estreou em 1° Lugar, permanecendo 24 semanas entre os 20. Permanecendo nas paradas inglesas por 70 semanas. Nos EUA produziu 3 hits entre os 40+ e no Reino Unido 6 hits entre os 20+, sendo que 3 atingiram o Top 10. No Reino Unido, desbancou Glittering Prize 81/92 do Simple Minds e nos EUA desbancou Erotica de Madonna.
O segundo single foi "Bed Of Roses" que atingiu o número 13 da parada inglesa e o número 5 nas paradas americanas. Era uma balada diferente de todas que a banda já tinha feito. Orientada para o público mais adulto que gostava de megasucesso de Bryan Adams como "Everything I Do (I Do It For You)". Para mim, contém um dos solos mais bonitos de Richie Sambora. Para o vídeo, o diretor Wayne Isham queria colocar Jon Bon Jovi no topo da montanha, mas Jon disse que já tinha feito isso em Blaze Of Glory e sugeriu que mandassem o Richie e o David Bryan. Além disso, apresentava a banda no palco num show gravado em 31 de dezembro de 1992, no Stabler Arena , em Bethlehem, Pensilvânia.
O terceiro single foi escrito pelo tecladista David Bryan, Jon e Richie. Apenas uma canção de amor, mas com pegada mais rockrer. Atingiu o número 27 da parada americana e o número 9 da parada inglesa.
O quarto single, "I’ll Sleep When I’m Dead", foi lançado em julho de 1993 e tornou-se um dos Standards da banda durante os shows, muitas vezes dando vazão a medleys sensacionais como com "Jump Jack Flash" dos Rolling Stones e/ou "Papa Was a Rollin’ Stone" do Undisputed Truth. O vídeo brinca bastante com a idéia do filme "A Hard Day’s Night" dos Beatles, onde eles passam todo o tempo tentando sobreviver as fãs.
O quinto single foi "I Believe", lançado em julho de 1993. Já não fez tanto sucesso, pois não conseguiu emplacar na parada americana, mas atingiu o número 11 da parada inglesa. Possui um dos melhores vídeos feito pela banda e dirigido pelo premiado diretor Nick Egan.
O sexto e último single foi "Dry County" (alterada em alguns países para Dry Country), era a menina dos olhos de Jon. Lançada já em 1994, ela era ambiciosa ao extremo, mas só atingiu o número 9 da parada inglesa, não configurou na parada americana, mas fez muito sucesso em alguns países da América Latina, inclusive no Brasil. A maior canção da banda, ela tem a duração de 9:52 e é uma das melhores vitrines para o talento de Sambora. Mais tarde, Jon chegou a confessar que a idéia era de que ela fosse importante para a banda assim como "Child in Time" é para o Deep Purple, "Stairway to Heaven" para o Led Zeppelin, "I Want You (She’s So Heavy)" para os Beatles "The End" para o The Doors ou "November Rain" para o Guns N’ Roses. Com o tempo, ela tornou-se o maior pós-hit que a banda poderia produzir, pois é uma das mais pedidas nos shows.
Enfim, KTF conseguiu cumprir a tarefa para o qual foi concebido. Colocou o Bon Jovi de vez nos anos 90. Mostrou uma banda mais coesa, mais madura e mais consciente política e socialmente. Hoje, o Bon Jovi não tem como extrair 6 singles de um álbum, até porque o mercado fonográfico mudou bastante em quase 20 anos e não permite explorar toda a força de um álbum. KTF marcou o último trabalho do Alec na banda e ainda deu fôlego para o lançamento de These Days 3 anos depois. Os lados B’s dessa fase tinham potenciais para serem singles. Escute Fieds of Fire, Starting All Over Again e saberás do que estou falando.
Aproveite que você terminou de ler a matéria, deixe de lado o preconceito por apenas uma hora e coloque o álbum inteiro pra tocar, pois tem faixas brilhantes que jamais foram tocadas no rádio ou na MTV. E se você ainda não entende todo esse sucesso da banda durante essa turnê do The Circle, é porque você não soube o que foi manter a fé naqueles loucos anos 90.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



O fenômeno do rock nacional dos anos 1970 que cometeu erros nos anos 1980
O álbum clássico do Iron Maiden inspirado em morte de médium britânica
A música que surgiu da frustração e se tornou um dos maiores clássicos do power metal
O melhor álbum do Led Zeppelin segundo Dave Grohl (e talvez só ele pense assim)
O rockstar que Brian May sempre quis conhecer, mas não deu tempo: "alma parecida com a minha"
Andi Deris garante que a formação atual é a definitiva do Helloween
O álbum do Led que realizou um sonho de Jimmy Page; "som pesado, mas ao mesmo tempo contido"
A banda de rock favorita do Regis Tadeu; "não tem nenhuma música ruim"
O baterista que Neil Peart dizia ter influenciado o rock inteiro; "Ele subiu o nível"
A banda que superou Led Zeppelin e mostrou que eles não eram tão grandes assim
A banda fenômeno do rock americano que fez história e depois todos passaram a se odiar
Loudwire elege os 11 melhores álbuns de thrash metal de 2025
A canção emocionante do Alice in Chains que Jerry Cantrell ainda tem dificuldade de ouvir
A cantora que fez Jimmy Page e Robert Plant falarem a mesma língua
Steve Harris reconhece qualidades do primeiro álbum do Iron Maiden


Os 20 álbuns de classic rock mais vendidos em 2025, segundo a Billboard
Pollstar divulga lista dos 25 artistas que mais venderam ingressos no século atual
O Melhor Álbum de Hard Rock de Cada Ano da Década de 1980
Para George Lynch, Dokken poderia ter sido tão grande quanto Mötley Crüe e Bon Jovi
Os 3 clássicos dos anos 1980 que você não precisa sentir culpa por amar
5 melhores momentos prog de bandas do hard rock oitentista, segundo o Loudwire
Bon Jovi foi o "Nickelback dos anos 1980", segundo o Ultimate Guitar
Ex-empresário acha que o Bon Jovi não faria sucesso hoje
O megahit dos Beatles que inspirou Bon Jovi a lançar novo álbum: "Por que não?"


