Dream Theater: temas pessoais e solos com feeling
Resenha - Black Clouds & Silver Linings - Dream Theater
Por Pedro Zambarda de Araújo
Fonte: Bola da Foca
Postado em 12 de julho de 2009
Trazendo temas pessoais, dando destaque para solos de guitarra com feeling e com poucas músicas, mas bem progressivas, o Dream Theater revive elementos que cativam os fãs, sem perder o passo em direção ao futuro. As trevas, o peso e a agressividade estão em sintonia com a luz de muitas melodias de "Black Clouds & Silver Linings", lançamento de junho de 2009 e receita de uma banda elaborada que continua aclamada por um público fiel.
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"A Nightmare to Remember" é um óbvio retorno às origens do DT: Metallica. Mas a música não é uma cópia, pois apenas tem alguma inspiração no pessoal do thrash metal, ainda tendo sua característica mais progressiva. Portnoy provavelmente estava satisfeito com o lançamento de "Death Magnetic" e fez um trabalho nessa faixa que abusa do pedal duplo, parecido com a trupe de Hetfield em "...And Justice For All". Os teclados de Jordan Rudess possuem uma variedade de efeitos que fez parte de "Systematic Chaos". Muito efeito wah-wah vem da guitarra de Petrucci. Mas há problemas também no instrumental, principalmente no baixo de Myung, que some no meio de uma bateria exagerada. LaBrie está em forma e mostra de cara. Não abusa de agudos e não desaparece, marcando as músicas com sua personalidade.
"A nightmare to remember / I'd never be the same / What began as laughter / So soon would turn to pain". Essa faixa tem tantas nuances e uma diversidade que até o próprio Mike Portnoy, sem largar as baquetas, arrisca cantar por volta do tempo 10min. A voz dele dá uma quebra fundamental na canção. A música tem pausa no ritmo frenético por volta dos 4min e passa realmente a impressão de estar em um pesadelo, em um acidente de carro. "In peaceful sedation I lay half awake / And thought of the panic inside starts to fade /Hopelessly drifting / Bathing in beautiful agony". Começo, meio e final lindos, por mais que se fale em tragédia.
Depois desse retorno ao peso e ao heavy metal que sempre foram bases do Dream Theater, "A Rite Of Passage" é uma balada grudenta sobre as passagens da vida e com letra mais positiva em relação à música anterior, mas ainda com um peso e virtuose que a deixa respeitável para fãs do progressivo. Traz na letra, também, referências claras a maçonaria e nenhuma aos integrantes da banda, desembocando em outros assuntos. "Turn the key / Walk through the gate / The great ascent / To reach a higher state /A rite of passage". John Petrucci está realmente equipado com pedais, mas não deixa de usar escalas elaboradas em um solo, enquanto Portnoy resolve reduzir o ritmo sem perder qualidade. LaBrie sobe um pouco a voz, sem se comprometer, e, infelizmente, Myung continua apagado.
"Wither" não é rica instrumentalmente, mas acerta em outra balada marcante e uma letra mais soft (e é a mais curta do álbum, 5min25s). Lembra "I Walk Beside You", do "Octavarium", que ainda desperta a raiva dos devotos da primeira fase da banda, mas é acessível a fãs de outros estilos. "I wither /And render myself helpless / I give in /And everything is clear / I breakdown / And let the story guide me / I wither / And give myself away". LaBrie canta com naturalidade e à vontade, com o coro de vocais de fundo formado por John Petrucci e Mike Portnoy.
A distorção mais pesada da guitarra anuncia a próxima música, acompanhada por intervenções do teclado. "The Shattered Fortress" traz riffs de músicas anteriores do DT para encerrar a chamada "saga da cachaça", amplamente divulgada na internet. Com passagens de "The Glass Prison", do antológico "Six Degress Of Inner Turbulence", e "The Root of All Evil", do CD "Octavarium", a letra trata sobre reabilitação durante o alcoolismo, feita por Mike Portnoy no melhor estilo Eric Clapton de compôr e transmitir mensagens sobre o tema dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. "I am responsible / When anyone, anywhere / Reaches out for help / I want my hand to be there" são nitidamente frases de apoio aos que não conseguem se livrar do álcool e aos reabilitados que desejam ajudar (caso do próprio Portnoy).
"The Best of Times" é uma das mais belas melodias criadas para a guitarra. A banda em si se aquieta nessa música. Rudess começa com um teclado acompanhado por violino, enquanto, aos poucos Petrucci surge com um violão. LaBrie quebra a introdução leve em dueto com Portnoy. A letra resgata o passado do pai de Mike Portnoy e é uma homenagem a sua morte recente (começo de 2009). O encerramento dela é que decepciona um pouco: Petrucci executa um solo de guitarra de dar inveja, mas, ao invés de ser prolongado, ele é bruscamente interrompido.
Com arranjos típicos de Rush, uma novidade para o Dream Theater, "The Count of Tuscany" fecha muito bem essas 6 músicas. Sendo a mais longa de todas as faixas (cerca de 19min16s), a música pode ser facilmente dividida em três partes. O começo traz a melodia principal, sendo interrompido por um refrão muito mais pesado de LaBrie e Portnoy, como vozes. Entre as passagens do refrão, teclado que lembra "Scenes From a Memory" e até "Images and Words". Não é uma volta completa ao passado, mas agrada muitos fãs.
O tema que encerra o CD é sobre a cidade natal de John Petrucci, Tuscany, trazendo histórias de seu passado familiar e outros detalhes. Linda é a seqüência que segue pelas frases "Of course you're free to go / Go and tell the world my story / Tell them about my brother /Tell them about me / The Count of Tuscany". A parte final segue um outro solo de guitarra tão inspirado quanto em "The Best of Times", mas retomando, aos poucos, a primeira melodia.
Esse álbum não consegue o mesmo sucesso de um EP como "Change of Seasons", mas é bonito como ele trata bem de temas particulares de dois integrantes fundamentais da banda - Portnoy e Petrucci - e aborda o tema da iluminação de maneira concreta. Agora é esperar que eles mantenham LaBrie com a mesma qualidade vocal dos últimos álbuns e, finalmente, que dêem maior destaque a John Myung, principal prejudicado nos últimos lançamentos, deixado de lado nas composições.
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