Resenha - Imaginations Through The Looking Glass - Blind Guardian
Por Carlos Eduardo Corrales
Postado em 20 de março de 2005
Matéria escrita para o site
DELFOS – www.delfos.art.br
Se tem uma qualidade na qual as bandas alemãs indiscutivelmente se sobressaem sobre a maior parte das outras – principalmente as escandinavas (leia resenha do show do Children of Bodom aqui e do Dimmu Borgir aqui) – é na qualidade de seus shows. É incrível como as bandas deste país têm a capacidade de fazer ótimos shows. De Primal Fear (leia aqui) a Gamma Ray e passando, é claro, pelo Blind Guardian, nunca presenciei um show de uma banda alemã que tenha sido ruim. Ok, talvez o do Helloween na época em que divulgava o escabroso The Dark Ride, mas aí a culpa foi mais do disco e das músicas escolhidas pela banda do que do show em si.
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Quem já teve oportunidade de assistir aos dois shows que o Blind Guardian fez em nossas terras deve se lembrar de quão bons são os nerds do Metal ao vivo, motivo mais do que suficiente para ser lançado um registro em vídeo de seus shows, coisa que já era exigida pelos fãs há tempos.
Musicalmente é um DVD perfeito. Qualidade de som e de performance de gente grande, inclusive nos corais e nas músicas mais complicadas como And Then There Was Silence. O setlist também deve ser o suficiente para levar os mais fanáticos a orgasmos múltiplos nunca antes imaginados, principalmente na segunda metade do show. Saca só: Time Stands Still, Bright Eyes, Lord of The Rings, The Bard’s Song, Imaginations From The Other Side, And The Story Ends, Mirror Mirror e muitas outras. Na verdade a única que senti falta durante o show (Into the Storm) está presente no DVD 2 como faixa bônus. Mas falamos disso depois.
Ainda falando sobre as músicas, é notório de que o grande momento nos shows do Blind Guardian é a linda The Bard’s Song. Pois aqui no DVD, algo diferente acontece. Durante Valhalla, a banda pára de tocar para deixar a galera cantar o refrão, como sempre fez. Pois o público simplesmente não pára de cantar. Hansi chega a cortar a galera, apenas para vê-los recomeçar o coro. E não é só isso, várias músicas depois, eles começam a cantar o refrão da Valhalla DE NOVO. Chega a ser engraçado observar a reação da banda, que fica com uma tremenda cara de ponto de interrogação.
Elogios feitos, vamos às tradicionais críticas afinal, você está no DELFOS. Quem já viu o show deles, deve ter percebido, mas no DVD fica ainda mais evidente a falta de presença de palco de Hansi Kürsch. Não me entenda mal, o cara é um dos meus vocalistas e compositores preferidos, mas que ele parece não saber o que fazer com as mãos ou aproveitar o tamanho do palco é inegável. Chega a lembrar até um Ozzy Osbourne mais novo (por favor, fãs sem opinião própria, não venham me dizer que o Ozzy andando de um lado para o outro procurando o microfone é uma tremenda presença de palco).
Outra crítica que tenho para fazer não se restringe apenas a esse DVD, mas a quase todos os DVDs de Metal que já assisti. Excetuando-se o Iron Maiden e seu Rock In Rio, é evidente que as bandas simplesmente não sabem aproveitar as qualidades técnicas do DVD, lançando produtos com qualidade de imagem abaixo da média (o que não é o caso aqui), mas que, principalmente, parecem terem sido feitos por uma equipe técnica amadora. Sabe aquelas edições que mostram o guitarrista base na hora do solo? Ou pior, que mostram só o vocalista? Esse é um tipo de erro que não pode acontecer. Tem coisa pior do que assistir um DVD que tem suas imagens constantemente mal enquadradas? Quer um exemplo? Em vários momentos a câmera mostra um dos guitarristas cortado pela metade enquanto em praticamente todo o plano nada mais existe. Outra coisa muito comum aqui é a imagem ficar fora de foco. Ora, qualquer um que já operou uma câmera de vídeo (ou mesmo de foto) sabe que a imagem sai de foco vez ou outra. Isso é normal e não tem nada de errado com isso, mas por que diabos deixar justamente a câmera que perdeu o foco no DVD se tinham muitas outras registrando o show? Isso é facilmente retirado na edição, o que demonstra um certo amadorismo do grupo contratado pelos alemães para cuidar da parte técnica do DVD e até mesmo da própria banda, que deveria ter solicitado a exclusão dessas imagens.
Para terminar as críticas do disco 1 – no disco 2 tem mais – não posso deixar de comentar a desonestidade da caixinha, na qual diz que o disco 1 tem 140 minutos. Não se deixe enganar, meu amigo. A duração do show é de menos de 125 minutos. Ora, isso, além de desonesto, é um crime contra o código de defesa do consumidor. O problema é que ninguém reclama (além de mim e de mais uns gatos pingados) e daí o consumidor continua sendo tratado como palhaço pelas multimilionárias empresas (e não estou me referindo somente à gravadora, que fique bem claro, isso é um círculo vicioso). E ainda é simplesmente ridículo mentir nisso. Ou vai dizer que alguém que está lendo essa resenha deixaria de comprar o DVD se pegasse a caixinha e estivesse como duração apenas 120 minutos? Ora, é claro que não.
Uma outra curiosidade do DVD é sua opção de legendas. Tudo que o Hansi fala com o público é em alemão e NÃO está legendado nem em inglês. Se você ligar as opções de legendas, a única diferença que fará no vídeo é que aparecerão os nomes das músicas, o que é bem legal. Porém, legendas em inglês para o que é falado em alemão seriam bem-vindas. E talvez uma opção que mostrasse as letras na tela também cairia bem (aliás, por que todo DVD não tem isso? É algo tão simples e tão legal).
Disco 1 comentado, vamos ao disco 2 que traz os extras. E ele já começa com mentiras, já que na caixinha está escrito que contém "Backstage Scenes of the A Night At The Opera Tour 2002". Não. Não existe nada nem remotamente semelhante a isso no disco. A não ser que esteja escondido e, nesse caso, não deveria estar listado na caixa.
O que realmente está presente nos extras é um Slideshow que mostra algumas fotos enquanto os falantes soltam Nightfall. Também conta com um Making of do Blind Guardian Festival (este legendado em inglês) que é bem chato. Isso se deve ao fato de que a banda optou, não por um documentário profissional com entrevistas e coisas do gênero, mas por filmagens amadoras feitas por câmeras de mão com comentários dos membros da banda por cima (em áudio apenas, e em alemão). A fórmula é mais ou menos aquela seguida no péssimo Infinite Visions do Stratovarius (pelo menos aqui o documentário é bônus, lá era a atração principal). O disco também traz uma entrevista com a banda, que também não é grande coisa.
Mas o mais legal dos extras são mesmo as músicas bônus. E temos belas versões de Majesty, Into The Storm, Welcome To Dying e Lost In The Twilight Hall. A maior parte delas (as três últimas) está um pouco escura, mas são, sem dúvida a melhor parte do disco de extras.
Para terminar, vamos comentar a embalagem. Ela é simplesmente fenomenal, pelo menos na versão em que botei minhas mãos, que é proveniente dos EUA. É um digipack capa dura lindíssimo repleta de desenhos da mais alta qualidade abrangendo os tradicionais temas RPGísticos do Blind Guardian. Destaque para o ingresso que mostra como local do show Middle-Earth (Terra-Média para os que não falam inglês). E para um anão exatamente igual ao Gimli do filme Senhor dos Anéis.
Bom, se você chegou até aqui, você provavelmente quer saber se vale a pena comprar esse DVD. Sim, vale a pena, mas infelizmente não é tudo o que poderia ser. Um DVD trazendo um show completo do Blind Guardian é algo com potencial para estar em qualquer lista de melhores DVDs de Metal, já que, além da absurda qualidade técnica dos músicos, eles são uma banda grande e com potencial de investir em uma equipe técnica de primeira linha. Pena que, para este Imaginations Through The Looking Glass, eles preferiram economizar...
(Century Media – 2004)
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