Ghost: discografia comentada da banda sueca
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 22 de fevereiro de 2016
Quando o Ghost surgiu, não havia muita informação sobre a banda. Aqueles seis músicos mascarados, originários da Suécia e vestindo figurinos sacros, eram misteriosos e seguiam a linha evolutiva de nomes como Alice Cooper e Kiss, com um visual misterioso e cativante. Aos poucos, mais informações e teorias foram vindo à tona, com tentativas de tentar identificar quem seriam os integrantes da banda, como uma busca pelo Santo Graal que poderia explicar o impacto instantâneo do grupo.
Desde que surgiu em 2008, a banda ganhou capas nas principais revistas especializadas mundo afora, tocou em grandes festivais (incluindo uma passada pela edição 2013 do Rock in Rio), recebeu elogios de grandes nomes e, como não poderia deixar de ser, ganhou haters na mesma proporção. Mas o principal fato é que, durante todo esse tempo, o Ghost gravou ótimos discos. O sexteto já lançou três álbuns e um EP, com cada título explorando aspectos distintos de sua personalidade.
Abaixo, está uma análise detalhada de cada um destes títulos. Um convite para quem quer explorar toda a beleza e a magia da música única desta talentosa e misteriosa banda sueca.
Opus Eponymous (2010)
O primeiro ponto que salta aos ouvidos é que o álbum de estreia dos suecos parece ter sido gravado no final dos anos 1970, soando próximo de alguns dos principais nomes daquela década e sem um pingo da evolução pela qual passou o heavy metal nos últimos trinta anos. As principais influências são bandas clássicas como Black Sabbath, Judas Priest, Pentagram, Blue Oyster Cult e Coven, além de algumas pitadas do rock psicodélico do final da década de 1960. O resultado é uma música relativamente simples, sem arranjos complicados ou passagens exageradamente técnicas, e que retoma algumas características marcantes do metal setentista, como a melodia e a acessibilidade – sim, a acessibilidade, no sentido em que as composições cativam o ouvinte de primeira, grudando na cabeça e tornando a audição do trabalho um ato de prazer contínuo.
O som é orgânico, vivo, pulsante. O peso não está somente nas guitarras, mas, sobretudo, na atmosfera das composições. O vocalista Papa Emeritus não grita, não distorce a sua voz, apenas canta de forma limpa, explorando falsetes que remetem a Eric Bloom (do Blue Öyster Cult) e King Diamond. Os guitarristas despejam riffs e solos na melhor escola do metal clássico, enquanto o tecladista é o principal responsável por dar um clima único às faixas, fazendo as composições, todas com letras que exploram temas sobre ocultismo e satanismo, soarem com um clima religioso instigante.
Com apenas nove faixas e 35 minutos, "Opus Eponymous" foi um disco inesperado, que entrega uma surpresa agradável a cada composição. Na contramão das generosas doses de agressividade e rapidez que assolam o metal contemporâneo, trouxe uma sonoridade rica em climas, o que torna a sua audição próxima a uma experiência sensorial. Os maiores destaque são "Con Clavi Con Dio", a clássica "Ritual", a ótima "Elizabeth" - dedicada à Condessa Elizabeth Bathory -, "Stand by Him", "Prime Mover" e a admirável instrumental "Genesis", que encerra o álbum de maneira perfeita.
Infestissumam (2013)
"Infestissumam" ("hostil" em latim), lançado em 10 de abril de 2013, foi produzido por Nick Raskulinecz (Foo Fighters, Rush, Stone Sour, Trivium). Além disso, marcou a estreia do grupo pela Loma Vista, braço da Universal, que pagou US$ 750 mil pelo passe do sexteto. Mais sombrio e teatral que "Opus Eponymous", trouxe o Ghost explorando uma gama maior de influências e encontrando a sua personalidade.
Em relação à estreia, o aspecto melódico foi explorado com mais profundidade, expandindo a característica teatral das composições. E o contraste entre melodias agradáveis e letras repletas de menções a temas ocultos e sombrios continua sendo o toque de mestre, com a banda construindo embalagens atraentes para um discurso que soa repugnante para a maioria. Outro ponto que merece destaque é a amplitude de influências explorada. Um certo tempero glam pode ser sentido em "Jigolo Har Megiddo", enquanto em "Idolatrine" a sonoridade se aproxima do AOR, tornando a letra ainda mais eficaz.
Três canções formam a espinha dorsal de Infestissumam e se destacam das demais. A impressionante "Ghuleh / Zombie Queen" é a prova definitiva do imenso talento dos mascarados, partindo de uma balada atmosférica para um andamento que remete à surf music, tudo embalado por coros muito bem construídos. Ela soa como se o Goldfrapp encontrasse o Cramps - e acredite, o resultado é espetacular. Na sequência, "Year Zero" inscreve-se fácil entre as melhores músicas da carreira do grupo, iniciando com um coro macabro que transporta o ouvinte para algum ritual perdido no tempo. Com um arranjo inteligente e andamento moderado, tem batidas que nos levam à disco music e um teclado muito bem executado. E, por último, há "Monstrance Clock", faixa que encerra o disco de maneira magnífica com uma narrativa dramática e um coro antológico. No meio disso tudo, surpresas como a valsa "Secular Haze" e "Body and Blood", que soa como um cântico milenar retrabalhado para o nosso tempo.
Fascinante e às vezes estranho, "Infestissumam" mostrou o Ghost como uma clara visão do que aspira produzir, tanto musical quanto artisticamente. A banda apurou a sua identidade, que já era única, e a tornou ainda mais singular. Um casamento profano entre metal, pop e hard rock, que prova prova que o Ghost está longe de ser obra do acaso.
If You Have Ghost (EP, 2013)
Produzido por Dave Grohl - que, segundo os próprios músicos suecos, andou fazendo alguns shows com a banda escondido atrás das máscaras do grupo -, "If You Have Ghost" foi lançado apenas sete meses após "Infestissumam" e é um EP de cinco faixas. Quatro delas são versões para canções de outros artistas: a que também batiza o disco é uma composição de Roky Ericsson, "I’m a Marionette" é do ABBA, "Crucified" é do Army of Lovers e "Waiting for the Night" é do Depeche Mode. Completando o tracklist, uma versão ao vivo da valsa satânica "Secular Haze", presente em "Infestissumam".
Com grande personalidade, a banda desconstrói os arranjos originais e imprime uma nova cara para as composições, colocando a sua personalidade nas versões. Isso faz com que os quatro covers soem como canções do próprio Ghost, algo que é difícil de ser alcançado quando se trabalha com a obra criada por outros artistas.
Chama a atenção também o distanciamento que as quatro canções de estúdio apresentam do heavy metal, dando um passo além ao que havia sido apresentado em Infestissumam. O Ghost não soa como um grupo de metal em "If You Have Ghost", mas sim como uma banda de rock embebida em doses generosas de psicodelia e melancolia, características intensificadas, respectivamente, pela parte instrumental e pelas belíssimas linhas vocais de faixas como "If You Have Ghost" e "Crucified".
Vale mencionar que Dave Grohl, além de assinar a produção, também tocou bateria em "I’m a Marionette", mostrando que a sua associação com o Ghost é muito mais profunda do que se supunha no início.
Meliora (2015)
"Meliora" trouxe o Ghost aprimorando a fórmula apresentada em seus dois primeiros álbuns. O peso de "Opus Eponymous" e as experimentações de "Infestissumam" marcam presença de forma equilibrada, e o resultado é uma sonoridade que mantém a sua força e com capacidade para conquistar multidões de novos fãs.
Mais madura, a banda compôs um disco recheada do ótimas canções. Para os adeptos do peso, "From the Pinnacle to the Pit" é um prato cheio. Para quem admira o lado mais experimental dos suecos há a linda "He Is", dona de uma beleza de cair o queixo. E ainda há espaço para a exploração de novas influências, como é perceptível nos ecos de Deep Purple presentes em "Majesty".
"Meliora" é o disco mais redondo da curta carreira do Ghost. Os reviews carregados de elogios, inclusive de veículos que antes não tinham engolido muito bem os mascarados, comprovam a enorme força do álbum.
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