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Tommy Bolin: As aventuras jazzísticas

Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 17 de fevereiro de 2016

Tommy Bolin ficou conhecido do grande público por ser o substituto de Ritchie Blackmore no Deep Purple. Ao lado da lendária banda inglesa, o guitarrista norte-americano gravou o subestimado "Come Taste the Band", lançado em 1975 e o canto do cisne da primeira fase do grupo. O fim da trajetória do Purple na década de 1970 deve-se muito à morte de Bolin, ocorrida em 6 de dezembro de 1976 devido a uma overdose envolvendo heroína, cocaína, álcool e barbitúricos.

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Antes de entrar no Deep Purple, Tommy Bolin já tinha uma carreira estabelecida. Com passagens por James Gang e Moxy, grupos com os quais gravou bons discos, o guitarrista alcançou o seu auge musical em dois trabalhos de jazz, ambos ao lado de bateristas emblemáticos do gênero: o panamenho Billy Cobham (Miles Davis, Mahavishnu Orchestra) e o norte-americano Alphonse Mouzon (Herbie Hancock, McCoy Tyner, Wayne Shorter).

A primeira experiência de Tommy Bolin pelo jazz está registrada no clássico "Spectrum", disco de estreia de Billy Cobham como band leader. A banda que gravou o álbum contava ainda com Jan Hammer (teclado, também do Mahavishnu Orchestra) e Lee Sklar (baixo, músico de estúdio presente em inúmeros títulos), além da participação de outros instrumentistas. "Spectrum" é um trabalho emblemático, um dos mais conhecidos e bem sucedidos discos de fusion da história, fato comprovado pela ótima performance nas paradas - 26º posto no Billboard 200 em 1974 e o primeiro lugar na parada de jazz da mesma Billboard, em 1973.

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Colocando em prática a sua experiência com Miles Davis - com quem gravou clássicos do nível de "Bitches Brew" (1970), "A Tribute to Jack Johnson" (1970) e "On the Corner" (1972), além de "Get Up with It" (1974) - e a passagem pela Mahavishnu Orchestra - Cobham é o baterista original do grupo e está nos álbuns "Inner Mounting Flame" (1971), "Birds of Fire" (1973) e "Between Nothingness and Eternity" (1973) -, Cobham compôs todas as canções do disco, criando uma sonoridade que mescla requinte e técnica instrumental com melodias que facilitam a acessibilidade. O maior exemplo dessa alquimia está em "Stratus", principal e mais conhecida faixa de "Spectrum", um clássico instantâneo do fusion e que foi regravada por um sem número de artistas.

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Neste álbum, é possível ouvir um outro lado de Tommy Bolin, em contraste com a agressividade e o peso do Deep Purple. Com notas elegantes e uma performance equilibrada, o guitarrista coloca-se no mesmo nível dos demais integrantes da banda de Cobham, tocando de maneira limpa e sublime. Econômico e usando as notas de maneira sutil, Bolin alcançou em "Spectrum" aquela que pode ser considerada, sem exageros, como a melhor performance de sua breve carreira.

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No ano seguinte, Tommy fez parte da banda que gravou o terceiro trabalho de Alphonse Mouzon, o também excepcional "Mind Transplant", cujas sessões aconteceram em dezembro de 1974. Além de Mouzon e Bolin, a banda contava com Jerry Peters (piano elétrico e órgão), Jay Graydon (guitarra, músico de estúdio que está em discos de nomes como Don Ellis, Alice Cooper, Diana Ross, Ray Charles, Joe Cocker, Marvin Gaye e inúmeros outros artistas) e Henry Davis (baixo).

Em comparação a "Spectrum", "Mind Transplant" é um trabalho bem mais agressivo. A mão pesada de Alphonse Mouzon marca o ritmo durante todo o disco - ouça a absurda introducão de "Ascorbic Acid" pra ter ideia do que estou falando -, que em suas oito faixas (todas compostas pela baterista) insere doses generosas de rock na mistura. O resultado passa pelo trabalho brilhante das guitarras de Bolin e Graydon (muitas vezes soando como gêmeas), em uma performance com poder de cativar, por exemplo, aquele seu amigo fã de rock e que sempre passou longe de toda e qualquer coisa que soasse minimamente próxima ao jazz. Faixas como "Snow Bound" e "Happiness is Loving You" deixam claro o talento e a classe de Bolin, com solos belíssimos.

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As parcerias com Billy Cobham e Alphonse Mouzon influenciaram Tommy Bolin, e isso ficou claro em "Teaser", estreia solo do guitarrista, que chegou às lojas em 17 de novembro de 1975, pouco mais de um mês após o lançamento de "Come Taste the Band" (o disco do Deep Purple saiu dia 10 de outubro daquele ano). Podemos ouvir o que Bolin aprendeu e assimilou ao lado de Cobham e Mouzon em "Homeward Strut", a faixa mais conhecida de "Teaser". Instrumental, é um jazz-rock que traz o guitarrista transitando por paisagens melódicas e harmônicas similares às presentes, principalmente, em "Spectrum".

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Dono de um talento enorme e de uma musicalidade rara, Tommy Bolin foi uma grande perda não só para o rock, mas para a música de modo geral. Ouvir seus discos e as parcerias experimentando outros gêneros dá uma amostra da capacidade do norte-americano, e também demonstra o quanto ele era aventureiro em sua trajetória.

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Sobre Ricardo Seelig

Ricardo Seelig é editor da Collectors Room e colabora com o Whiplash.Net desde 2004.
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