Warrant: um resgate da passagem pelo Brasil em 1997
Por Igor Miranda
Fonte: Van do Halen
Postado em 24 de junho de 2012
O Warrant foi um fenômeno de popularidade entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990. O quinteto, formado na icônica Hollywood por Erik Turner e naturalmente liderado pelo vocalista/frontman/compositor Jani Lane, apresentava um Hard Rock bem típico da época, mas com um toque maior de criatividade e ganchos melódicos incríveis, muito disso graças às habilidades de Lane como compositor. Os discos "Dirty Rotten Filthy Stinking Rich" e "Cherry Pie" venderam muito bem e elevaram o nome do Warrant até mesmo fora dos Estados Unidos. No entanto, a partir do terceiro álbum, "Dog Eat Dog", de 1992, o grupo perdeu a fama paulatinamente. A partir daí, como tentativa de adaptação ao atual mercado fonográfico, foram lançados os discos "Ultraphobic" e "Belly To Belly", respectivamente em 1995 e 1996, com uma proposta mais introspectiva, densa e pesada.
Nesse momento, surgiu a oportunidade do Warrant se apresentar no Brasil. Ou seria meio Warrant? Ou seria apenas Jani Lane e dois outros quaisquer? Isso vai do julgamento de cada um. O fato é que Jani Lane, Rick Steier e Danny Wagner se apresentaram em formato acústico no Sub Club, anexo ao Café Columbia, em São Paulo (SP), nos dias 16 e 17 de outubro de 1997. Steier era o guitarrista da banda, juntamente de Erik Turner, desde o ano de 1994; Wagner era o tecladista desde 1995 e, curiosamente, se tornou o baterista de 1998 até 2000. A abertura da apresentação ficou por conta da banda paulista Madame, conhecida no underground da época. Todo o trabalho da Madame, aliás, está disponível no link:
http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/pulga_joe
O responsável pela vinda dos músicos foi Carlos Chiaroni, dono da icônica loja Animal Records, localizada na Galeria do Rock de São Paulo. Carlos explica que houve dois motivos para justificar a vinda apenas de três integrantes do Warrant em formato acústico: além de ter sido sua primeira experiência com shows internacionais e ainda não ter orçamento destinado para trazer a banda completa, ele pretendia apostar no formato acústico que estava em alta, graças ao sucesso do quadro Unplugged MTV, principalmente. O próprio relata que jamais faria algo como isso hoje em dia, até porque era inexperiente na época.
[Ignorem o ano que está errado neste e nos outros vídeos que seguem abaixo: o show ocorreu em 1997, não em 1998!]
Com os shows marcados para quinta e sexta, os músicos chegaram ao país na quarta-feira e fizeram uma sessão de autógrafos na Animal Records. Edu Rox, do site Lokaos Rock Show (www.lokaos.net), relata que Jani se assustou ao ver a Avenida Paulista. "Ele não acreditava que o Brasil era daquele jeito, acho que ele esperava uma selva, ou uns quiosques na praia – aqui tem isso, claro – mas uma Avenida Paulista cheia de gente correndo de um lado pro outro ele realmente não esperava, ele soltou a seguinte frase: ‘É igual Nova York e todas essas grandes cidades’", relembra Edu.
Na noite anterior ao show, ainda rolou uma festinha com os músicos das duas bandas e outros convidados que, em sua maioria, nem sabiam quem era Jani Lane, segundo o baterista Dino Scarpelli, ex-Madame e atual Viva Noite (banda do programa televisivo Pânico). O vocalista Pulga Joe, também ex-Madame, recorda: "Ao vê-lo, fiquei inicialmente meio decepcionado, pois ele usava um óculos de tiozinho, e mesmo com seus cabelos loiros e bem cortados, não estava naquela forma de Rock Star dos clipes que assisti. Estava um pouco gordo, com camisa branca aberta ‘a la Edson Celulari’ e calça jeans. Ele nos falou que estava ligeiramente gripado e, naquela festa, bebemos todos os drinks possíveis e cantamos canções do Warrant e outras no violão. A voz dele, mesmo gripado, era aquela dos CDs. Achei o Jani extremamente educado e equilibrado. Um cara do bem, e de verdade, acho que pensava ‘o que eu estou fazendo neste país?’ pois em todos os momentos ele parecia meio aéreo, mas não me parecia que usava qualquer tipo de droga". Sobre a personalidade de Lane – que faleceu em 2011 devido a problemas com álcool e sabia-se que tinha problemas com depressão -, Dino Scarpelli reforça: "Ele era um cara super normal, nem um pouco depressivo pelo menos naquele momento, estava super feliz de estar conhecendo o Brasil. No fim da festa ele já estava abraçando todo mundo". Apesar desses relatos, Carlos disse que Jani era uma pessoa bastante frustrada, muito disso por nunca ter se tornado um rockstar do patamar de Bret Michaels ou Paul Stanley. O sucesso repentino e a subsequente queda do Warrant acabou deixando Lane um pouco depravado.
As duas apresentações, que tiveram praticamente o mesmo repertório, englobaram toda a carreira do Warrant – figuraram praticamente canções de todos os discos, desde o debut "Dirty Rotten Filthy Stinking Rich" até o obscuro "Belly To Belly". Um desses shows – não se sabe se é da noite 16 ou 17 – está disponível na internet com qualidade de mesa de som e pode ser facilmente encontrado em sites de download, em buscadores como Google ou reprodutores de mídia como YouTube. É curioso que, até hoje, não se encontram informações sobre essa passagem na internet, apenas o áudio de uma das noites.
Edu Rox comenta que os fãs receberam muito bem o grupo na apresentação. "As pessoas estavam vendo pela primeira vez um ícone do hard rock oitentista, o que parecia impossível no Brasil na época, principalmente por ser 1997 que o estilo estava totalmente apagado. Quem foi era fã de verdade. Eles ficaram realmente espantados com a euforia que a maioria das pessoas mostraram por eles estarem no Brasil. Na cabeça dos caras, eles nunca imaginariam que tinham fãs no Brasil, principalmente em 1997″, afirma.
Ao fim da performance de uma das noites, ocorreu uma jam com os músicos do Warrant e a banda Madame para tocar Man In The Box, do Alice In Chains. Pulga Joe relembra como foi a experiência: "Jani estava meio incomodado com minha presença, pois eu já estava completamente tomado pela bebida como um moleque sem noção feliz da vida. Cada vez que eu metia a boca no microfone, ele me olhava com uma cara de ‘quem é esse baixinho folgado?’. Nos últimos minutos da canção, eu coloquei meu braço por debaixo das pernas abertas do Jani e com o braço levantando e abaixando sem parar no meio das pernas dele, em direção à platéia, simulei um membro gigante com uma ereção! Isto foi muito sem noção! Ele me olhou com uma cara de indignação, e eu achando que estava o divertindo muito".
Sobre o Hard Rock oitentista naquela época no Brasil, Edu Rox fala sobre o acesso ao material das bandas: "Naquela época quem gostava desse tipo de banda eram os fãs verdadeiros que se mantiveram mesmo com a queda do estilo. As pessoas no show eram mais velhas que eu, viveram mesmo todo aquele estouro do Hard Rock pelo mundo. Sem internet ficava praticamente impossível os mais jovens conhecerem e gostarem desse tipo de banda. Um dos únicos meios eram as lojas da Galeria como a Animal Records que sempre trabalharam com o estilo. No meu caso em especial, o Guns n’ Roses, Skid Row e Bon Jovi tinham sido enormes no país anos antes, então nós fãs desse estilo começamos a procurar outras bandas que saíam dessa trinca e assim encontramos o Warrant, o Mötley Crüe, o Poison e muitas outras".
Em relação às apresentações das bandas do gênero em terras tupiniquins, Edu complementa: "Raramente tínhamos shows de Hard Rock oitentista aqui, a coisa estava feia mesmo. O Skid Row tocou 1 ano antes, no Monsters of Rock de 96, e foi aquela palhaçada pra cima dos caras, até acabou a banda. No mesmo ano teve Def Leppard aqui, o show do Rio de Janeiro foi simplesmente cancelado por falta de ingressos, e o de São Paulo que seriam 2 shows, acabou tendo 1 só com nem 2000 pessoas, os caras ficaram putos e disseram que nunca mais voltariam. O Carlão da Animal fez o Kip Winger depois do Warrant mas foram poucas pessoas, entre 100 e 150 por noite. O Whitesnake tocou no show da 89 Rádio Rock na época, e fechou a noite, depois do show do Megadeth MUITA gente começou a sair fora. Posso dizer que foram tempos negros pro Hard aqui no Brasil, e no mundo também com certeza, hoje em dia a coisa está bem melhor, você vê um Europe lotando casa, o Winger, o Michael Monroe, Whitesnake, Scorpions… claro que há bandas maiores, outras menores, essas do naipe do Warrant eu acho que não lotariam hoje em dia, um exemplo disso é o L.A. Guns recentemente que foi um fiasco".
[an error occurred while processing this directive][Respectivamente, flyer do evento e verso com o endereço de Jani Lane (escrito pelo próprio!) para envio das fotos do show. Que falta a Internet fazia…]
Apesar da ótima aceitação do público à época, Carlos Chiaroni relatou que não houve conversas para uma volta de Jani ou da banda completa, até porque o Warrant ficou parado por alguns anos, depois voltou com outro vocalista - Jaime St. James, ex-Black N’ Blue. Carlos ainda comenta que esteve no último show do Warrant, no festival Rock The Bayou de Houston, e disse que a performance de Jani Lane a partir de metade do show foi bizarra, destacando o momento em que o próprio chegou a cantar a letra de Machine Gun no meio da clássica Cherry Pie. A partir daí, o grupo seguiu com Robert Mason, ex-Lynch Mob.
Abaixo, segue o repertório tocado em uma das noites:
01. D.R.F.S.R
02. Down Boys
03. Heaven
04. A Letter To A Friend
05. Feels So Good
06. Uncle Tom’s Cabin
07. Blind Faith
08. Sometimes She Cries/Maybe I’m Amazed
09. I Saw Red
10. Asshole/Indian Giver
11. Stronger Now
12. Washington State
13. Very Fine Line
14. Cherry Pie
Agradecimentos:
Carlos Chiaroni (Animal Records)
Pulga Joe e Dino Scarpelli (ex-banda Madame - http://tramavirtual.uol.com.br/artistas/pulga_joe)
Edu Rox (Lokaos Rock Show - http://www.lokaos.net/ )
Imagens cedidas por Edu Rox.
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