Nanda Moura se consolida como jovem veterana no Best of Blues and Rock 2023
Resenha - Nanda Moura (Best of Blues and Rock, São Paulo, 02/06/2023)
Por André Garcia
Postado em 04 de junho de 2023
Fotos: André Velozo
O delta blues é a vertente original do gênero, surgida no começo do século passado nas plantações de algodão às margens do Rio Mississippi, como um grito de lamento dos escravos: música para ouvir com os ouvidos e o coração para curar a alma. Nos Estados Unidos, Robert Johnson e Muddy Waters estão entre seus maiores expoentes, mas aqui no Brasil, sua mais recente revelação é a guitarrista e cantora Nanda Moura.
Apesar de jovem, aos 32 anos já é uma veterana, pois se apresenta desde os nove, e há anos se debruça sobre o estudo a tradição do blues clássico. Não consigo pensar, no entanto, em uma escolha mais apropriada para fazer a abertura do Best of Blues and Rock — ainda mais por ter sido realizado no Ibirapuera, local que um mês antes São Paulo se despediu de sua rainha roqueira Rita Lee.
A semana foi de tempo frio e chuva, mas no dia do evento os deuses do blues fizeram o tempo abrir. A banda subiu ao palco pontualmente às 15h40 de uma tarde até então ensolarada, quando ainda tinha muita gente para chegar. Os já presentes estavam em sua maioria na frente do palco, bem próximos; os demais, no clima de Ibirapuera: bem à vontade, em pequenos grupos, sentados ou deitados pela grama. O sol estava batendo de frente no palco, mas toda a banda, vestida de preto, resistiu bravamente. Principalmente a Nanda, com blazer e tudo.
Em suas gravações, ela faz um estilo mais delta blues. Já no show, provavelmente por dividir o palco com bandas mais roqueiras, ela adotou um repertório mais blues rock, na linha do blues de Chicago: elétrico, valvulado, cadenciado. Nanda possui um vasto repertório de riffs, licks e fraseados de blues, que executa de forma que parece até fácil. Da mesma forma, ela canta sem fazer esforço, atingindo notas das graves às agudas precisamente. Ela parece sempre cantar e tocar as notas certas.
A formação da banda, em quarteto, era baixo, bateria e uma dupla de guitarras. Enxuta, sem gordura, direto ao ponto; menos é mais. "Nada supera guitarra, baixo e bateria", já dizia Lou Reed. Os músicos que a acompanham foram uma base sólida e coesa, muito segura e eficiente. Todos os quatro soam como veteranos, apesar de jovens. Na saideira, entretanto, os três deixaram o palco, onde Nanda tocou no estilo monobanda: sozinha no palco, cantou acompanhada de sua guitarra e um bumbo para marcar o ritmo.
O som do evento estava muito bom, com vocal limpo e destacado e os instrumentos bem equalizados, bem audíveis. O volume não estava estrondoso como no Summer Breeze. Se isso é bom ou ruim, você decide — a vizinhança certamente agradeceu.
Após o show, teve a coletiva de imprensa com a dupla Nuno Bettencourt e Gary Cherone (os fundadores do Extreme), bem como Bruna Tsuruda e Ma Langer, respectivamente guitarrista e baixista da banda Malvada. Nanda Moura foi quase que direto do palco para lá, onde se sentou ao lado de Tom Morello.
Quando perguntada sobre a nova geração de blues feminino que anda se destacando no Brasil, a musicista fez questão de pontuar que as mulheres fazem parte da história do blues desde os primórdios: a primeira mulher a gravar blues foi há um século, nos anos 1920. Ela não se sente parte de uma novidade, mas sim de uma história: recebeu o bastão das que vieram antes, herdou delas um legado, uma missão.
Ter aberto o Best of Blues and Rock em grande estilo certamente foi um mais um passo dado pela cantora e guitarrista (e seu trio de apoio) rumo à consolidação na cena blues nacional.
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