Resenha - Geoff Tate - Tokio Marine Hall (São Paulo, 20/01/2023)
Por Nelson de Souza Lima
Postado em 26 de janeiro de 2023
Geoff Tate é um sobrevivente. A palavra foi uma das mais usadas durante o show que o ex-vocalista do Queensryche fez em São Paulo. Fácil entender porque ao vermos o que Tate passou nos últimos meses. Uma delicada cirurgia no coração, em junho de 2022, que o obrigou a se afastar dos palcos e interromper compromissos profissionais. Inclusive os shows agendados no Brasil em setembro do ano passado, dentro da "Empire 30th Anniversary Tour", foram remarcados. A turnê celebra os 30 anos de "Empire" (1990), um dos álbuns mais aclamados do Queenryche, nos áureos tempos em que integrou o grupo de Seatle, de 1982 a 2012. Além disso, o vocalista fez questão de enaltecer o fato de que todos os que estavam ali no TMH sobreviveram a implacável pandemia de Covid-19.

Aos 64 anos, recém-completados no dia 14 de janeiro, Tate, ao contrário de muitos de seus pares oitentistas, soube preservar a voz. O timbre continua forte e a performance ao vivo não deixa a bola baixar mesmo quando tem que alternar entre graves e agudos. Mas, claro, sem exageros tratando a afinação com os devidos cuidados. A rápida tour brasileira passou, além de São Paulo, pelo Rio (cujo show foi substituído por um set acústico num pub da Lapa carioca para 50 felizardos) e em Limeira, interior de São Paulo.
O público estava ávido por essa apresentação que, além de "Empire", teve outro ótimo álbum, "Rage For Order" (1986) também tocado na íntegra. Em bom futebolês, o cara já entrou com o jogo ganho, pois quem estava ali já conhecia o repertório e queria cantar junto com o ídolo.
E os fãs efusivos não fizeram feio. Apesar de não lotar a casa, o público foi bom e quem foi conferiu um excelente show. Claro que nem tudo é perfeito: num momento a bateria parecia um pouco mais alta, noutro não se ouvia direito o solo da guita, ou ainda quando o mic parecia sumir de repente. Mas nada disso comprometeu e Tate e sua banda competente mostraram um espetáculo de alto nível.

Os gaúchos da Marenna abriram os trabalhos. Liderado pelo vocalista Rodrigo Marenna, o quinteto fez uma competente apresentação e sua sonoridade alternando hardão oitentista, metal tradicional e pitadas de AOR agradaram os poucos presentes.
Ladeando o vocalista estão os ótimos Mauro Caldart (guitarra), Bife (baixo), Arthur Schavinski (bateria) e Luks Diesel (teclados) que com o perdão da brincadeira cumpriram bem o papel de "boi de piranha", pois a banda de abertura, invariavelmente, toca pra poucas testemunhas, dá uma equalizada no equipo e equilibra os amplis. Quem viu o Marenna sacou que os caras têm potencial para ir longe, ultrapassar as fronteiras e buscar carreira internacional. Ponto pros gaúchos.
Por volta das 22 horas as luzes do palco se apagaram e a galera delirou com o show que iria começar. Mas, a expectativa só aumentou, já que não se sabe se intencional ou não demorou mais uns dez minutos pra começar. Aos poucos a banda entrou. Primeiro o batera Danny Laverde e o baixista Jack Ross, o tecladista brasileiro Bruno Sá. Na sequência os guitarristas Kieran Robertson e Alex Hart, seguidos por Tate, ovacionados com furor.
Tocando o repertório de "Rage For Order" na primeira parte do show o sexteto mandou "Walk In The Shadows", "I Dream In Infrared" e "The Whisper". Todas executadas com competência, com a banda mostrando os arranjos o mais próximo possível das versões em estúdio. Como Tate ainda se cerca de cuidados em virtude da cirurgia, se movimentava bem de um lado ao outro do palco, mas sem arroubos de energia. O agito ficou por conta do guita Kieran Robertson que chamava o público toda hora pra bater palmas e cantar junto. Desnecessário dizer que o público respondeu. Como dito lá no começo Tate a todo momento agradecia os fãs pelo carinho e retribuía com muitos "I Love You". Gente fina o cara
"I Will Remember" encerrou o set de "Rage For Order". A banda deixou o palco para um intervalo de quase meia hora.
De figurino novo o sexteto voltou, com fôlego recarregado para "Empire". O disco é o maior sucesso comercial do Queensryche, rendeu disco de platina triplo nos Estados Unidos, além de chegar ao 9º lugar no Top 200 da Billboard em 1991 e tendo no repertório "Silent Lucidity", uma das maiores power ballads do metal.
"Best I Can" abriu o set na segunda parte do show e em "The Thin Line", Geoff Tate mostrou alguma desenvoltura no saxofone. Confesso que me esforcei pra ouvir o sax. Não sei se tava baixo ou tô com algum problema de audição. Melhor deixar pra lá.

O ápice de "Empire", sem dúvida, é "Silent Lucidity" que fez enorme sucesso no Brasil, integrando inúmeras coletâneas de baladas românticas e, salvo engano, até trilha de novela.
Geoff Tate se surpreendeu com o coral dos fãs e retribuiu com gestos de agradecimento.
Após "Anybody Listening?" o grupo deixou o palco para voltar em seguida para um encore com "Eyes Of a Stranger". Um show inesquecível deste lendário vocalista que fez por merecer todo o carinho e empolgação dos fãs.

SET LIST - Geoff Tate - Tokio Marine Hall - 20/01/2023
Parte 1- Rage For Order
1- Walk In the Shadows
2- I Dream In Infrared
3- The Whisper
4- Gonna Get Close to You (Dalbello Cover)
5- The Killing Words
6- Surgical Strike
7- Neue Regel
8- Chemical Youth (We are Rebellion)
9- London
10- Screaming in Digital
11- I Will Remember
Parte 2- Empire
12- Best I Can
13- The Lin Line
14- Jet City Woman
15- Della Brow
16- Another Rainy Night (Without You)
17- Empire
18- Resistance
19- Silent Lucidity
20- Hand On Heart
21- One and Only
22- Anybody Listening?
Encore
23- Eyes Of a Stranger
Fotos: Nelson de Souza Lima
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Os álbuns esquecidos dos anos 90 que soam melhores agora
A banda com quem Ronnie James Dio jamais tocaria de novo; "não fazia mais sentido pra mim"
Download Festival anuncia mais de 90 atrações para edição 2026
A única música do Pink Floyd com os cinco integrantes da formação clássica
A música lançada há 25 anos que previu nossa relação doentia com a tecnologia
O melhor disco do Anthrax, segundo a Metal Hammer; "Um marco cultural"
O disco do Metallica que para James Hetfield ainda não foi compreendido; "vai chegar a hora"
Show do AC/DC no Brasil não terá Pista Premium; confira possíveis preços
A música do Kiss que Paul Stanley sempre vai lamentar; "não tem substância alguma"
O solo que Jimmy Page chamou de "nota 12", pois era "mais que perfeito"
O clássico do metal que é presença constante nos shows de três bandas diferentes
Tuomas Holopainen explica o real (e sombrio) significado de "Nemo", clássico do Nightwish
Steve Morse admite ter ficado magoado com o Deep Purple
David Ellefson relembra show que Megadeth fez como trio ao lado de Exodus e Testament
Ritchie Blackmore faz rara aparição pública e rasga elogios a Bryan Adams

Geoff Tate lembra de quando David Coverdale deu chilique por sanduíche
O melhor conselho que Geoff Tate recebeu veio de Gene Simmons
Por que a balada "Silent Lucidity" fez sucesso, segundo o vocalista Geoff Tate
Deicide e Kataklysm: invocando o próprio Satã no meio da pista


