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Roger Waters: Show da turnê US + THEM explicado

Resenha - Roger Waters (Arena Fonte Nova, Salvador, 17/10/2018)

Por Armed Furtado Rabelo Mustafa
Postado em 08 de novembro de 2018

Roger Waters está de volta ampliando os limites da produção de palco na turnê Us + Them (Nós Mais Eles), uma pequena variação no nome da música Us And Them (Nós E Eles). Um espetáculo em larga escala com elementos cênicos, projeções, telões de LED em alta definição e efeitos de laser multi-dimensionais repleto de clássicos do Pink Floyd e pitadas e de seu mais novo álbum Is This The Life You Really Want? de 2017.

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CONTÉM SPOILERS!

Após assistir ao show da turnê no Brasil realizado na cidade de Salvador (BA) em 17/10/2018, fiquei extremamente impactado pelo Maior Espetáculo da Terra e decidi escrever esta resenha. Minha interpretação sobre os significados do show.

- PRÓLOGO

"E procure no horizonte..." (The Last Refugee)

As luzes da Arena Fonte Nova se apagam e no telão surge uma mulher sentada na praia observando o horizonte. Ela fica ali por vários minutos e mais tarde descobriremos que ela é uma refugiada. Ela encara o horizonte contemplando o oceano. Depois de algum tempo uma ameaça se aproxima na forma de uma tempestade vermelha que toma conta do céu nublado, algum perigo iminente está chegando.

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- 1º ATO

A imagem do telão é sugada e vemos partículas disformes ao som de uma versão amedrontadora de SPEAK TO ME. Aos poucos percebe-se estarmos vislumbrando ser o interior de uma esfera que viaja pelo espaço, quando começa a música BREATHE. Seria esta esfera uma nave alienígena? Neste momento identifiquei a primeira referência ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço de 1969 do diretor Stanley Kubrick; o monólito do filme é um retângulo, uma forma perfeita, assim como a esfera o é. Sobrevoando o planeta por diversos lugares a esfera parece observar de forma desinteressada a raça humana até chegar à Usina Termelétrica de Battersea (aquela da capa do álbum Animals de 1977).

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Em ONE OF THESE DAYS, a música tribal denuncia a violência contra a mulher. A câmera persegue uma muçulmana em uma loja de conveniência e ronda uma mulher negra de classe média em sua casa representando um perigo a elas: "Num destes dias, eu vou te cortar em pedacinhos" (diz a única fala da música).

TIME é a passagem dos tempos, desde a criação até os dias atuais, o tempo não se importa com a humanidade, apenas está lá como uma força da natureza. A esfera é indiferente ao tempo, resiste a ele. Perceba como as músicas do álbum The Dark Side of the Moon são tratadas pelo espetáculo com uma pegada de ficção-científica espacial.

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Logo em seguida presenciamos o atemporal espetáculo cósmico, um grande show no céu estrelado na voz das cantoras Jess Wolfe e Holly Laessig que cantam uma versão de THE GREAT GIG IN THE SKY juntas. A união é um dos temas do espetáculo de Roger Waters, e elas, usando a mesma peruca parecem irmãs gêmeas. Sem falar que suas cabeças se confundem às estrelas no espaço.

A esfera retorna para anunciar WELCOME TO THE MACHINE, ela se contorce, convulsiona e de dentro surge o clássico videoclipe da música. O metal é como um animal feroz que precisa ser dominado pelo homem. Mais uma referência ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço quando surge um monólito semelhante ao do filme e dele o conhecimento do uso de ferramentas que culmina no domínio do metal e na criação das máquinas que decapitam o homem, matam centenas e banha a terra de sangue. Roger Waters também encena as letras das músicas neste show, deixa de lado o contrabaixo e "he played a mean guitar" (toca a guitarra principal) com ele no meio do palco, cantando. Ao final o monólito volta à nave mãe, à esfera. Teria sido ele no início dos tempos, o catalizador do uso da tecnologia pelo homem? Como no filme 2001 onde o monólito faz o mesmo.
Teria a esfera nos visitado em tempos remotos e agora retorna?

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Em DÉJÀ VU Roger Waters faz uma prece, mas ao invés de pedir a Deus um mundo melhor ele se coloca no lugar de Deus e diz o que faria em seu lugar: um mundo melhor na esperança de que as pessoas não sofressem. Se coloca também no lugar de um drone de guerra: ele teria medo de matar, mas drones não tem consciência. Ele lamenta que todo o mal feito pela humanidade se repita como um eterno déjà vu.

THE LAST REFUGEE traz de volta a refugiada do prólogo dançando em um armazém abandonado, ali ela recorre à sua memória para fugir do presente. Sua dança parece indicar o que aconteceu àquele mundo, como no momento em que aponta os braços como um avião de guerra mirando ao solo ou uma ave prestes a agarrar sua presa. Ela sonha com seu filho na praia.

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PICTURE THAT é um convite para que uns se coloquem no lugar dos outros. Que o opressor tenha empatia pelo sofrimento do oprimido. Não devemos mais pensar em nós OU eles e sim nós MAIS eles.

Logo depois em WISH YOU WERE HERE uma tentativa de reconciliação fracassa, no telão duas mãos se desintegram antes que possam se tocar.

E o fim do primeiro ato se dá com ANOTHER BRICK IN THE WALL, grito de ordem em defesa das crianças de todo o mundo contra sistemas de ensino robotizantes, religiosos ou estatais, uma lembrança dos tempos de escola que Roger tanto odiava.

- INTERVALO

Waters dialoga com o público através de diversas mensagens no telão. A palavra de ordem é RESISTA: ele aborda questões polícias, sociais e ambientais. Dou destaque para "Resista às cleptocracias". Por último ele pede que resistamos à ideia de que alguns animais sejam mais iguais do que outros, frase tirada diretamente do livro a Revolução dos Bichos de George Orwell.

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Antes da banda voltar ao palco a palavra DOGS fica estampada no telão por tanto tempo que comecei a ficar intrigado. Seria uma provocação ao público? Em a Revolução dos Bichos os cachorros são responsáveis por manter os porcos no poder. São como a classe burguesa: mantém as ovelhas em sua situação de servidão e almejam frustradamente o lugar dos porcos. Seríamos nós os dogs? Com ingressos custando na faixa de 800,00 reais, me veio esta reflexão.

- 2º ATO

Como esperado a banda volta ao palco para tocar a música DOGS. Em determinado ponto uma ovelha garçom serve à mesa os integrantes da banda usando máscaras de porcos, a diferença de classes é clara. Curiosamente não há cachorros no palco, estariam eles na plateia? Roger Waters usando uma máscara de porco (seria uma autocrítica?) declara que "Os porcos dominam o mundo!". Depois todos retiram as máscaras e brindam como iguais. Logo em seguida Roger de cara limpa levanta um cartaz que diz "Que se fodam os porcos!" e o público vai ao delírio.

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PIGS é o momento que Roger Waters ataca diretamente Donald Trump. Pelo que o show apresentou até agora fica claro que é um ataque a todos que se comportam como ele. Ele questiona uma possível masculinidade frágil de Trump, debocha de sua arrogância de bilionário e do "queixo gordo" do presidente norte-americano. Por coincidência, ou predição, Trump possui o mesmo "queixo gordo" que consta na letra da música. O ponto alto é quando o porco voador é entregue ao público que o faz em pedaços rapidamente com ferocidade. Como cães raivosos...

Em MONEY Waters atira para todos os lados: políticos de direita e de esquerda são areia do mesmo saco. Apertos de mãos selam acordos que dividem pobres e ricos. Estão todos juntos por causa do dinheiro. A música em determinado ponto é interrompida, ouve-se barulhos estranhos, tudo está escuro e de repente explode uma bomba atômica... logo depois ouve-se o som do dinheiro, como na introdução da música... é a guerra gerando lucro. E a música retorna com o solo de sax.

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A esfera volta a observar o planeta em US AND THEM, violência, segregação, pobreza, guerra, muros dividindo pessoas... No momento da música em que a banda de apoio canta "And who knows which is which and who is who?" (E quem sabe qual é qual e quem é quem?), Roger fora do microfone responde "I know! I Know!" (Eu sei! Eu sei!) de forma feroz. E ele sabe, por isso a turnê, para compartilhar suas certezas.

Em SMELL THE ROSES Roger é preso por expor os poderosos, os esquemas do dinheiro. É preso em pleno palco com as mãos atadas enquanto fica momentaneamente desacordado depois de uma tortura. Apesar do ritmo dançante da música o clima é tenso.

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A esfera finalmente surge dentro do estádio em BRAIN DAMAGE, passeia no ar com sua superfície espelhada com o público refletindo em sua face polida. Me senti desconfortável com sua presença, ali do alto ela parecia nos questionar: "Como podem permitir que o mundo seja assim?". Se ignorávamos até então as mazelas que ela presenciou, depois deste show já não poderíamos mais. Foi-nos dado um espelho e vimos um mundo doente.

O ciclo da vida de ECLIPSE é cantado duas vezes quando surge o prisma tridimensional de The Dark Side of The Moon. Primeiro surgem as luzes coloridas que depois se tornam uma única luz branca de paz e harmonia entre os povos. Todos devemos nos unir parece ser a mensagem.

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Neste show Roger Waters tocou pela primeira vez ao vivo a música TWO SUNS IN THE SUNSET do álbum The Final Cut de 1983 que apesar de seu tom melancólico e armagedônico também passa a mensagem: "Éramos todos iguais no final". Talvez a decisão de tocá-la tenha tido relação com a morte por motivo estúpido de Mestre Moa que aconteceu 10 dias antes, um momento de desilusão com a humanidade.

Roger Waters em seus 75 anos pode ter se tornado um velho ranzinza, porém otimista e esperançoso.

Em COMFORTABLY NUMB ele celebra a comunhão. Enquanto que no telão duas mãos gigantes se cumprimentam em um espetáculo de cores no ponto alto da música, o solo de guitarra, ele desce do palco para se aproximar de seus fãs. Acena, toca, troca algumas palavras... A música que outrora fazia parte de uma obra que representava o isolamento do cantor com o público agora é um momento para comunhão.

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- EPÍLOGO

"E procure no horizonte e você encontrará minha criança..." (The Last Refugee).

Voltamos à refugiada sentada na praia como no prólogo, sua filha, como podemos constatar ver no videoclipe da música WAIT FOR HER onde a refugiada também aparece, se aproxima (até então pensávamos que estava morta) e senta junto de sua mãe. Ao tocar ECLIPE duas vezes Roger Waters dá uma segunda chance a elas... Dá uma segunda chance à humanidade.

Termina-se o show e as deixamos lá sentadas contemplando seu lar além mar. Desta vez não há iminência de perigo. A ameaça vindo do horizonte não surge. Um final de esperança. Um final feliz.

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Obs.: Este texto é uma versão revisada e levemente ampliada de análise publicada anteriormente na página do Facebook Pink Floyd Sync.


SETLIST
1º ATO:
Speak to Me
Breathe
One of These Days
Time
The Great Gig in the Sky
Welcome to the Machine
Déjà Vu
The Last Refugee
Picture That
Wish You Were Here
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall Part 2
Another Brick in the Wall Part 3
2º ATO:
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
Money
Us and Them
Smell the Roses
Brain Damage
Eclipse
ENCORE:
Two Suns in the Sunset (Premiere: First time ever)
Comfortably Numb

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