Steven Wilson: Uma obra de arte inesquecível em São Paulo
Resenha - Steven Wilson (Carioca Club, São Paulo, 20/03/2016)
Por Diego Camara
Postado em 29 de março de 2016
Existem shows, e existem SHOWS. A música sempre é e será arte, mas há artistas que superam conceitos, que mereceriam uma nova palavra para nomear seus feitos. Isto resume bem o que foi a performance de Steven Wilson e banda no último dia 20 no Carioca Club, um dos melhores shows que já tive o prazer de assistir - e posso apostar, um dos melhores da maioria dos presentes naquele local, naquela data.
Antes do show, uma enorme fila se formara na entrada do Carioca Club, por toda a Cardeal Arcoverde, quase chegando ao Largo da Batata. O show seria grande, bem cheio - muito mais do que o show no Teatro Bradesco, que teve um público bastante baixo e muitas cadeiras vagas na plateia. A entrada do público foi bastante tranquila, e demorou bem menos do que o esperado para tanta gente.
O espetáculo pode começar às 19h00 em ponto, conforme o cronograma. Adam Holzman puxou com suas teclas o início de "First Regret", arrancando aplausos da plateia. A banda entrou toda no palco, iniciando o primeiro set da apresentação e já encaixando com a excelente "3 Years Older". A apresentação não tem outra palavra a não ser excelente. O som estava perfeito, da bateria ao baixo, era possível distinguir com perfeição cada um dos instrumentos da banda, o que mostra o esmero tanto da produção quanto da banda em fazer uma apresentação de excelência. O público não pode ficar nada além de admirado com a potência e a sonoridade da banda ao vivo, que não deixou em perder nem um pouco para as gravações do álbum.
Steven Wilson manteve seu estilo ácido como sempre, bastante direto e sincero, e pareceu estar mais do que a vontade e de bom humor durante todo o show. Agradeceu ao público por ter vindo e gastou alguns segundos para criticar a última apresentação, que teve um público realmente bastante inferior do que neste show. "Finalmente vocês vieram!", diz ele, arrancando algumas risadas do público. Toca então uma das melhores músicas do seu novo disco. "Hand Cannot Erase" flui como mágica, as transições são leves como uma pluma, passando do som lento do início para a potência das guitarras de Dave Kilmister e a bateria de Craig Blundell. Nada se perde, cada nota se encaixa com perfeição a outra.
Para apresentar "Routine", outro dos grandes sucessos de seu novo disco, Steven perguntou aos seus fãs se eles gostavam de música "miserável e solitária". "É óbvio que vocês gostam", responde ele, "eu não faço músicas felizes. Claro que não faz, as músicas de Wilson nos fazem pensar, nos trazem emoções, a melancolia que ele canta em cada uma de suas letras não pode trazer outro sentimento a não ser este de miséria, de tristeza insolúvel. "Routine" é um resumo deste estilo, um excelente resumo. Puxada pelo violão, com seu tom de mistério, os detalhes fazem esta música perfeita.
Quebrando este ritmo, a banda encaixou logo em seguida "Home Invasion" e "Regret #9", com sua pegada extremamente progressiva. Destaque para os solos de Dave Kilmister, que substituiu com maestria Guthrie Govan, e ao solo de teclado de Adam Holzman, que fechou a apresentação desta dupla. "Transience", a seguinte, contou com o coro feito pela plateia, em um dos poucos momentos que o público realmente participou da apresentação até aquele momento.
O show poderia ter terminado ali. Estava perfeito, fantástico. Mas claramente Steven Wilson queria realmente alargar os conceitos - ou talvez, diria eu, esmigalhá-los - e em seu segundo set ele conseguiu fazer o que estava perfeito se tornar ainda melhor. Começou já encaixando a misteriosa e sinistra "Drag Ropes", a melhor música do seu projeto Storm Corrosion, em parceria com Mikael Akerfeldt. A música ganhou um tom bem diferente com a voz de Wilson, mas com o clipe sendo apresentado no fundo e o excelente acompanhamento de sua banda, não perde mais uma vez em nada para a gravação original. O instrumental forte da música, arrastado, deixa o público extremamente ligado, atento, como se nem piscassem.
Um segundo depois, com as primeiras notas de "Open Car", uma boa parte do público já levanta e começa a bater cabeça. Um público metal foi ao show para ouvir as boas e velhas músicas do Porcupine Tree, e claramente não ficaram decepcionados com a porrada desta música. Após esta música, porém, Wilson resolveu tecer algumas críticas ao heavy metal, afirmando que não acha que esta sendo tocado nada mais de novo no gênero. As palavras de Wilson parecem uma opinião pessoal apenas, mas soam sem dúvidas de maneira indireta para algo bastante concreto: não existe mais nenhuma chance de que Wilson volte a compor novas músicas no metal - o que deixa o próprio futuro de um retorno do Porcupine Tree inviável.
Steven também falou sobre a morte de David Bowie e a tristeza de isto ter ocorrido logo no início de sua turnê. Toca então "Lazarus" em homenagem ao músico. A música é acompanhada por violão e piano, emocionando os fãs presentes. Encaixa a seguir outra música do Tree, a longa e cheia de vertentes "Don’t Hate Me", que começa com o ar melancólico e lento das músicas de Wilson, quebrada por um excelente solo de guitarra de Kilmister, pelo som psicodélico de seu meio que lembra muito bandas clássicas como Gong e fechada com um longo ambience, que deixa o público em total silêncio, apenas curtindo a apresentação.
A seguinte, "Vermillioncore", teve outra apresentação genial. Essa música ao melhor estilo King Crimson mostrou Nick Beggs extremamente afiado. Seu baixo tomou conta da música, cheio de feeling, ao melhor estilo do mestre Tony Levin. A música ainda contou com uma apresentação genial de Craig Blundell, não sei de onde Steven tirou este cara, mas ele foi realmente uma grata surpresa durante todo o show.
Completando o show, a banda trouxe três outras músicas para o bis. "Space Oddity" veio como uma segunda homenagem a Bowie, com Steven Wilson puxando o violão junto com Holzman e Kilmister. Apresentação linda, cheia de emoção. Para fechar, Wilson ainda tem mais duas cartas na manga. A primeira é uma das poucas músicas pegajosas de sua carreira - nas palavras do próprio músico. Pede que o público cante junto com ele esta música, o que é bem atendido pelos fãs na execução da excelente "The Sound of Muzak".
Para terminar o show, Wilson toca o que ele considera sua melhor música. Em um clima totalmente diferente da anterior, a banda toca a sombria e melancólica "The Raven that Refused to Sing". O clipe da música no telão ao fundo traz um clima ainda mais especial para o final do show, onde a arte do desenho se completa com a música ao vivo. O silêncio em geral da plateia coaduna com o pedido do mestre, que não quer cantoria nesta música. A história, calma e arrastada, termina em um final épico, forte, puxado novamente pelas guitarras. Aplausos. O show termina. O público saiu claramente extasiado.
Steven Wilson é:
Steven Wilson - Vocal, guitarra, teclado, baixo, violão
Dave Kilmister - Guitarra, violão
Nick Beggs - Baixo, chapman stick
Adam Holzman - teclado
Craig Blundell - Bateria
Setlist:
Set1:
First Regret
3 Years Older
Hand Cannot Erase
Perfect Life
Routine
Home Invasion
Regret #9
Transience
Ancestral
Happy Returns
Ascendant Here On...
Set2:
Drag Ropes (música do Storm Corrosion)
Open Car (música do Porcupine Tree)
My Book of Regrets
Index
Lazarus (música do Porcupine Tree)
Don't Hate Me (música do Porcupine Tree)
Vermillioncore
Sleep Together (música do Porcupine Tree)
Bis:
Space Oddity (cover de David Bowie)
The Sound of Muzak (música do Porcupine Tree)
The Raven That Refused to Sing
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