2Cellos: uma performance estarrecedora em POA
Resenha - 2Cellos (Auditório Araújo Vianna, Porto Alegre, 01/10/2015)
Por Karen Waleria
Postado em 05 de outubro de 2015
O "2CELLOS" desembarcou em Porto Alegre, na última quinta-feira, dia 01 de outubro. É a segunda vez que os violoncelistas vem ao Brasil, porém foi a primeira vez que apresentaram-se na capital gaúcha.
A dupla, que rompe as fronteiras entre os mais variados gêneros da música, e que faz isso com muito requinte e criatividade, está em tour mundial de divulgação do álbum "Celloverse", lançado em janeiro deste ano via Sony Masterworks. Durante a performance que durou, infelizmente, apenas 1h30, os músicos percorreram os seus três álbuns lançados, mas com uma ênfase maior no mais recente.
A apresentação começa meio que intimista, mas quando chega a terceira música apresentada...Os músicos começam a "duelar". O duelo entre os dois cellos, ora parece uma dança, envolvente, ora parece uma batalha, uma guerra. Eles enlouquecem e a platéia enlouquece junto com eles. Vê-los ao vivo é uma experiência única. Eles se entregam de corpo e alma às suas eletrizantes performances. Impressionam independente de estarem tocando Bach ou IRON MAIDEN.
Os croatas não se prendem a modelos. Sem o menor pudor mesclam IRON MAIDEN com Gioachino Rossini em "The Trooper", colocam uma introdução autoral em "Thunderstruck" do AC/DC, aliás quando essas obras-primas foram executadas o auditório quase veio abaixo.
A roupagem, o arranjo que "They Don't Care About Us" de Michael Jackson recebem das mãos desses malucos, no bom sentido, é espetacular com direito a batucadas dignas de um TAMBOUR DU BRONX. Nesse momento do show eu praticamente, isso que sou uma pessoa meio contida, tive que me segurar na minha cadeira. (risos)
A reação entusiástica do público ia aumentando a cada música executada. E o auditório estremeceu em vários momentos dessa noite, verdadeiramente inesquecível. Não posso deixar de citar "Wake me up" do DJ Avicii, divina. Enfim, músicas de Hans Zimmer, Piazzzola, Enio Morricone, Bach, GUNS N' ROSES, Michael Jackson, NIRVANA, COLDPLAY e ROLLING STONES são interpretados uma após a outra ( Não nessa ordem, ok? Não anoitei o setlist do show.) e cada qual recebem esse toque, esse tempero que só os 2CELLOS tem.
Luka é mais tímido e conversa com a plateia no início do show, já Stjepan é mais extrovertido, interagindo bastante com os presentes, fazendo caras e bocas, fazendo brincadeiras, e "paquerando", sim, paquerando as belas garotas da plateia. Inclusive, ele faz Luka ter um acesso de riso no meio do show. Todos riem.
Afirmo, com certeza, que nunca presenciei um show tão contagiante. Senti-me como que num dos clipes deles, mais precisamente, no clipe de "Thunderstruck", e acredito que mais presentes sentiram-se assim.
No clipe citado, parte de uma plateia "aristocrática" de um show bangueia junto aos músicos freneticamente, No início do show uma plateia contida, depois ensandecida...Bem como a plateia que lotava o Araújo Vianna.
Sabe quando se ouve uma música e começa a batucar com as mãos, depois marcar o compasso com os pés, logo em seguida começa-se a balançar a cabeça e vai aumentando a intensidade. Nessa hora já se está batendo cabeça enlouquecidamente.
Faltam-me adjetivos para descrever como é assistir Luka Šulić e Stjepan Hauser. Ao assistir os seus vídeos, que contam com milhões de visualizações na internet, óbvio, que se imagina como são os croatas no palco, mas quando eles iniciam a sua performance...Afirmo, é surpreendente. A performance ora é calma, ora é eletrizante. As emoções são pulsantes, tipo quando se anda de montanha russa, daquelas com looping e looping duplo. É de tirar o fôlego, tamanha energia, entusiasmo e paixão com que eles tocam.
Assistindo a dupla é que pude entender o porquê deles colecionarem inúmeros prêmios, de fazerem sucesso no mundo todo, com shows em estádios e arenas lotadas, apesar da dupla ter sido criada há apenas quatro anos. Não existe ninguém hoje em dia que se equipare a eles, não desmerecendo músicos como David Garrett e bandas como Apocalyptica.
Não posso deixar de falar de Dušan Kranjc, o baterista que acompanha Luka e Stjepan. Nunca vi um trio fazer tanto barulho, no bom sentido. No momento que ele junta-se ao duo, o show transformasse num concerto de rock, no sentido de agregar mais peso. Abre aspas, o que esse baterista toca, é um absurdo, outro monstro.
Os músicos, posso chamá-los de malucos, não? Os malucos, tocam com a alma, com prazer...São energia pura.
Em determinados momentos do show a plateia ficava totalmente absorta, não se movia, não se ouvia nenhum ruído no auditório todo. Nesses momentos dava a impressão que o público ficava sem respirar. De repente eclodiam palmas infindáveis, antes, durante e após a música executada. Era uma explosão de emoções...
[an error occurred while processing this directive]Vi pessoas emocionadas, outras chegaram a chorar, outras gritavam...outros, nesse grupo me enquadro, gritavam enlouquecidamente.
Foi único! Não sei se sentirei novamente algo assim. Acredito que a maioria dos privilegiados que presenciaram o espetáculo concordem comigo. Gênios surgem de tempos em tempos.
Na minha opinião, o principal trunfo do 2CELLOS é fazer com que os ouvintes de música clássica, erudita, vejam o rock e metal, soul e pop com outros olhos e vice-versa.
Falando da plateia, ela era bem heterogênea, mas me chamou atenção o grande número de adolescentes e algumas crianças.
Li que o 2Cellos tem influenciado jovens ao estudo de violoncelo. Influenciando jovens a fazer boa música e não terem preconceito em relação a estilos. Muitos dos que estavam ali, com certeza, eram jovens músicos e futuros músicos.
[an error occurred while processing this directive]A euforia de alguns dos presentes fazem com que Stjepan, sempre muito engraçado, soltasse um "Shut Up!"alto e em bom tom. Todos riram. O nível de adrenalina do público estava tão alto que o músico falou isso, num tom de brincadeira, para que o show pudesse continuar.
O show me envolveu tanto que não senti o tempo passar.
Durante o show pensei... A dupla seria uma atração bem apropriada para o próximo Rock in Rio.
Para finalizar a mega-performance o duo toca Bach, "Air on the G String" com a mesma verdade e intensidade de todo o show.
Fotos: Sônia Butelli
Agradecimentos à Opus Promoções pelo grande espetáculo.
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