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Cavalera Conspiracy: Terça que fez valer a espera em Fortaleza

Resenha - Cavalera Conspiracy e Krisiun (Complexo Armazém, Fortaleza, 02/09/2014)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 06 de setembro de 2014

Terça-feira. 2 de setembro. Não uma terça-feira comum. Não um dia para voltar do trabalho para casa, jogar as pernas no sofá e assistir ao Jornal Nacional e à novela. Era um dia histórico. Era o dia, ou melhor, a noite para encontrar duas bandas de irmãos, o trio KRISIUN e a conspiração dos CAVALERA (acompanhados de Marc Rizzo e do ex-POSSESSED Tony Campos) para ver, ouvir e sentir o melhor que o metal nacional já produziu. Confira abaixo como foi essa noite, cujas lembranças os headbangers de Fortaleza levarão para a sepultura.

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KRISIUN

Eram 9 da noite quando o KRISIUN subiu ao palco levando ao delírio o público (grande para uma terça-feira) que os aguardava. O calor infernal da capital cearense combinava com "Combustion Inferno" do trio gaucho. Antes de "The Will To Potency", Alex Camargo (baixo e vocal) declarou ser uma honra e prazer estar de volta ao Ceará e creditou tudo o que a banda já tinha alcançado ao apoio dos fãs. Com paulada em cima de paulada, com o mosh correndo solto, como é de se esperar em um show do KRISIUN, rolaram grandes sucessos como "Ominous", "Conquerors of Armagedom", executados com velocidade visceral e a costumeira violência. E Alex ainda brincou dizendo que ia botar mais peso ainda, antes de mandar "Descending Abomination". "Blood of Lions" foi outra que quase bota tudo abaixo.

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"Isso aqui é a motivação pra gente continuar tocando", disse Alex antes de deixar o show por conta de seu irmão, Max Kolesne, que executou mais um de seus solos matadores de bateria. Cinco mil metralhadoras disparando ao mesmo tempo. De volta ao microfone, Alex avisou que tocariam um clássico. Era a senha pro mosh explodir ainda mais. O vocalista nem teve que cantar o refrão. O público canta. "Lay down your souls to the gods rock n' roll". É "Black Metal", do VENOM.

A cada música, mais um solo rápido, técnico, destruidor de Moyses Kolesne. Chegando próximo ao fim do show, se referindo aos próximos irmãos que ocupariam aquele palco, Alex Camargo ainda declarou: "Sem demagogia, esses caras botaram o Brasil no mapa, botaram o metal nacional no patamar de SLAYER, METALLICA... Esses caras nos ensinaram a fazer o que a gente faz aqui hoje". E mandaram mais brutalidade na forma de "Slain Fate". Um show com a marca registrada do KRISIUN. Muita brutalidade aliada a muita técnica. Irrepreensível.

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CAVALERA CONSPIRACY

Além do público geral, o Complexo Armazem estava também apinhado de membros de várias bandas, de veteranas como o OBSKURE a novatas na cena como a SKIN RISK. SIEGE OF HATE (SOH), CLAMUS, KRENAK, ENCÉFALO, FELIPE CASEAUX, uma quantidade de músicos suficiente para preencher o line up de um grande festival do metal estava ali, ansiosos para ver aqueles que tanto os tinham influenciado. Um dizia que era o show da sua vida, outro dizia que era o mais esperado de todos. E no palco, nada de muita luz, nada de shows pirotécnicos ou um batalhão de canhões de luz, não era necessário. A emoção do espetáculo estava garantida para todos aqueles que tinham sonhado com o momento de ver juntos os irmãos CAVALERA, talvez, exagerando mas nem tanto, como quem sonha ver Page, Plant, Jones e um Bonham. Separando o público do palco, um riacho artificial ajudava a minimizar a sensação de calor. Esse "riacho" não seria o suficiente para impedir, mais tarde, que algum crowd surfer mais afoito chegasse ao palco, mas não houve complicações.

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Às 10:49, quando o apresentador do show anunciou os irmãos CAVALERA, a gritaria foi geral. "Fortaleza, vamo arrebentar essas cabeças fudidas", grita Max ao subir ao palco. Emoção geral ao ver os dois irmãos ali. O mais velho dos irmãos Cavalera grita "Fortaleza, vamo arrebentar essas cabeças fudidas" ao subir no palco, acompanhado dos fieis escudeiros, o guitarrista Marc Rizzo e o baixista barbudo Tony Campos (um line up muito semelhante ao que já tinha sido visto ano passado na Barraca Biruta, com o SOULFLY), mas com um integrante muito especial, Iggor Cavalera. Lá no palco também estava o estandarte que Max leva em todos os seus shows em qualquer lugar do mundo, a verde-amarela bandeira brasileira.

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O frontman não para de se comunicar com o público (não é só o poder das músicas que o fez se tornar o que é), pede rodas, joga água em si e na plateia para enfrentar o calor, como uma instância brasileira do OZZY. Nem se importa de molhar a guitarra. Ali embaixo, com "Beneath The Remains" colada a "Desperate Cry", homens barbudos choram. Ou choram ou cantam junto. Ou os dois. Max também é reverente à banda que foi o opening act da noite e dedica "Troops of Doom" aos colegas gaudérios do KRISIUN. E o desfile de porradas continua, fazendo o sangue ferver em nossos corpos com "Sanctuary". E até uma batida de forró fica bem quando sai das baquetas de Iggor, acompanhado de toda a distorção provida por Rizzo. "Wasting Away", do NAILBOMB (banda que também contou com os dois irmãos no line up) também registrou presença. "The Doom of All Fires", uma das melhores de Inflikted, o primeiro disco do CAVALERA CONSPIRACY faz uma menção discreta ao MIXHELL, projeto de música eletrônica de Iggor. Max faz questão de deixar a homenagem bem mais explícita.

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"Tô muito feliz de tá aqui com vocês. É uma honra. Quer ouvir coisa nova?" disse Max, anunciando "Pandemonium", novo disco que chega às lojas em novembro. A batera na faixa nova é mesmo muito rápida, sem descanso, com escassas viradas. Antes do refrão, ainda não dava pra cantar junto, mas dava pra fazer roda, mas até teve gente que se arriscou no Ba-bi-lo-nian Pan-de-mo-nian. No final, Max, exemplo de frontman, fez quem ainda não estava cantando, cantar junto. E perguntando "Vocês tão prontos, Fortaleeezaaa?", o show parece ter novamente início com "Arise", colada a "Dead Embrionic Cells". Quem não cantou nessa dobradinha deveria se envergonhar. Em "Killing Inside", o segundo single do "Brunt Force Trauma", o baixo de Tony Campos mais aparece, enquanto Marc faz um grande solo e Max exige todo mundo de mãos pra cima.

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A certa altura do show, Max exibe uma camisa jogada por alguém da plateia. Pintados a mão, os dizeres "Parabéns Chaos A.D". A camisa ficou lá pendurada no microfone, naquele lugar tão especial, enquanto o quarteto mandava "Refuse/Resist", faixa que abre o álbum aniversariante, e a galera enlouquecia. Max interrompe para pedir a maior roda da noite. Precisava? Nem tanto.

A sempre atual "Territory" é a música pra assistir de olhos fechados. Não devia acabar nunca, assim como não acaba a guerra no Oriente Médio, islâmicos radicais continuam atirando em cristãos enfileirados e cortando cabeças de jornalistas no Iraque, enquanto judeus continuam matando criancinhas em Gaza. Por que a música tem que terminar? Termina porque agora serão três Cavaleras no palco. Ritchie Cavalera, filho de Max, participa de "Black Art" e rola até um reggae regido por Max. "Aiô iô, Aiô iô iô".

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"Banzai Kamikazee" é mais uma nova música que também esteve no setlist. Ao contrário de "Banzai...", esta já tinha sido apresentada aos fãs, na Internet. "Anticop" e "We Who Are Not As Others" e a anunciada jam com o KRISIUN não deram as caras (assim como não apareceram em Brasília), mas, não tínhamos nada do que reclamar. O que tínhamos vivido até ali já nos permitia ir pra casa com os pescoços doloridos, os ouvidos zunindo e os corações felizes. Nem um pouco de microfonia que teimou em aparecer aqui e ali fizeram daquele show uma experiência menos inesquecível. Não era a reunião sonhada por 101 de 100 fãs do SEPULTURA, mas era o mais próximo que podíamos estar daquela formação clássica que serviu de colégio para cada um de nós. Já pensaram em trocar o sonho da reunião pelo sonho de uma turnê com CAVALERA CONSPIRACY, SOULFLY e SEPULTURA, alternando-se em cada localidade na ordem de subida ao palco? Se o MEGADETH e o METALLICA podem, por que não eles? Am I Evil?

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Bem, a resenha acaba aqui. Eu sabia que só faltavam três músicas ("Innerself", "Atitude" e o clássico "Roots Bloody Roots") e não podia me furtar à obrigação de ir para o circle pit. "Can I take it?" Voluntariamente eu estive no olho de um furacão.

Era o fim daquela noite tão aguardada. O jogo estava ganho. "Deus os abençoe", disse o atacante Max, antes de chamar o goleiraço Iggor e os dois laterais Rizzo e Campos para a frente do palco para os agradecimentos. Agradecidos estávamos todos nós. E naquela noite, éramos todos também um pouco filhos da Dona Vânia.

Agradecimentos: Denor Sousa e Empire, pela atenção e credenciamento (e pelas entrevistas com os irmãos, que valem mais que um autógrafo) e Yago Albuquerque, por atender ao chamado numa terça-feira e fazer os cliques que ilustram esta matéria.

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Entrevistas com Max e Iggor:

Setlist CAVALERA CONSPIRACY

1- Inflikted
2- Warlord
3- Beneath The Remains/Desperate Cry
4- Troops Of Doom
5- Sanctuary
6- Terrorize
7- Wasting Away
8- The Doom Of all Fires
9- Babylonian Pandemonium
10- Arise/Dead Embryonic Cells
11- Killing Inside
12- Refuse/Resist
13- Territory
14- Black Ark
15- Banzai Kamakazi
16- Innerself/Atitude
Bis
17-Roots Bloody Roots

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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