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Resenha - Extreme Hate Festival (Carioca Club, São Paulo, 04/08/2013)

Por Durr Campos
Postado em 07 de agosto de 2013

Sem querer comparar, mas o EXTREME HATE FESTIVAL pode muito bem vir a ser o sopro de alívio aos que, assim como eu, ainda lamentam a ausência do Setembro Negro, tradicional evento de metal extremo do mês que o batiza, organizado pela saudosa Tumba Produções. Não temo em comentar sobre isso, até porque o cara por trás da extinta produtora, Edu Lane, estava lá no EHF prestigiando o evento ao lado de sua família, mostrando que união na cena é sempre o que a mantém viva. A Dark Dimensions, responsável pela escuridão sonora no último domingo, cumpriu plenamente seu papel ao mesclar death e black metal de forma única. O cast era daqueles de causar uma calamidade mundial. A não ser que, em sua opinião, ter MARDUK (Suécia), SUFFOCATION (EUA), VADER (Polônia), SINISTER (Holanda) e UNEARTHLY (Brasil) em uma mesma noite seja algo menos "perigoso" que isso. Acompanhe nas próximas linhas o que presenciamos, eu e o fotógrafo Kennedy Silva.

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Fotos: Kennedy Silva

E lá se vão quase um ano e meio desde que assisti a uma apresentação dos cariocas do UNEARTHLY. Daquela feita, quando tocaram no Hangar 110 abrindo para o Aborted, o que vi em cena foi uma banda extremamente, no sentido literal, segura de sua proposta, profissional e de uma competência sem tamanho. Agora imaginem como eles estão após colecionarem uma turnê pelo Velho Mundo – a qual gerou o DVD "Baptizing the East in Blood: Live at Voronezh, Russia", bem como uma sucessão de concertos nos mais variados locais. Acertou quem pensa no quarteto formado por F. Eregion (vocais/guitarras), M. Mictian (baixo), VinnieTyr (guitarras) e B. Drumond como um dos itens mais importantes de nossa atual safra nacional de metal em sua mais profana forma. O set teve início pontualmente às 16h20 como anunciara a produção com "7.62", seguida da fenomenal "Insurgency". Após uma breve parada para saudar o público, Eregion pergunta se havia ali algum seguidor "die hard" do Unearthly para mandar o hino "Days of Storm", do debut "Infernum: Prelude to a New Reign" (2002). A sequência veio com a exuberância de "Murder The Messiah", faixa de abertura do estupendo álbum "Age ofChaos" (2009), acompanhada de outra impecável, mas do último de estúdio "Flagellum Dei" (2011), "MyFault". As duas próximas, a velocíssima "Baptized in Blood" e a minha favorita no mais recente supracitado trabalho, "Black Sun" (Nota do redator: Menção honrosa a esta perfeita combinação entre metal extremo e ritmo nordestino), não só mantiveram o público nas mãos da banda, como causaram o pavor geral. O final veio em grande estilo ao anunciarem "Age ofChaos", emendada com um cover matador para "Children of the Grave" do Black Sabbath. Banda merecedora de todos os aplausos.

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O SINISTER já é veterano no Extreme Hate Festival, pois tocou em sua edição de 2009. Naquela época a formação era outra, aliás o line-up dos holandeses mudou consideravelmente desde sua formação em 1988. Pelo menos 15 músicos já são considerados ex-membros, sendo que desses nada menos que quatro vocalistas! Inegavelmente talentosos, mesmo assim ainda prefiro seu frontman original, Mike (Sinister) van Mastrigt, o qual registrou os três álbuns definitivos da banda, a saber: "Cross The Styx" (1992), "Diabolical Summoning" (1993) e "Hate" (1995). Após a saída de Mike o que se viu foi uma batalha em manter o grupo em atividade, tendo a efetivação de Rachel van Mastrigt-Heyzer como um marco na carreira. Com ela registraram dois bons trabalhos, "Creative Killings" (2001) e "Savage or Grace" (2003), mas não houve jeito e o Sinister pôs um fim em sua jornada. Felizmente quase três anos depois o baterista Adrie Kloosterwaard, único membro original na atual formação, ressucitou a banda, assumiu as vozes e de lá para cá foram mais quatro discos [Nota do redator: "Afterburner" (2006), "The Silent Howling" (2008), "Legacy of Ashes" (2010) e "The Carnage Ending" (2012)], um DVD entitulado "Prophecies Denied (2006)", mais algumas alterações no efetivo e finalmente o quinteto que veio ao Brasil, que além de Adrie conta com Toep Duin nas baquetas, Mathijs Brussaard no baixo, além de Dennis Hartog e Bastiaan Brussaard nas seis cordas. Os caras esbanjaram simpatia dentro e fora do palco, inclusive assistiram a TODOS os shows, distribuiram autógrafos, tiraram fotos no meio da multidão, beberam sem parar e massacraram os pescoços deles e os nossos, quando tocaram, por exemplo, as obrigatórias "Sadistic Intent", " Transylvania (City of the Damned)", "Unheavenly Domain", "My Casual Enemy", "Afterburner", " Blood Ecstasy", além do hino "The Grey Massacre", dedicada a uma garota chamada Priscila, e a grande surpresa do set, a sobrenatural "Epoch of Denial", do debut e já citado "Cross The Styx".

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Já o VADER podem ser considerados fregueses nossos, haja vista que esta é sua quarta visita ao Brasil desde 2005. O quarteto liderado pelo figuraça Piotr "Peter" Wiwczarek (vocais e guitarras) é completado por Marek "Spider" Pajak (guitarras), Tomasz "Hal" Halicki no baixo e o fenomenal James Stewart, substituto de outro monstro, Pawel Jaroszewicz, atualmente no Decapitated. "Sothis", do EP de mesmo nome lançado em 1994, deu início à pancadaria, acompanhada de um clássico sem precedentes, "Vicious Circle", do debut " The Ultimate Incantation", lançado há exatos 20 anos. "If I shed my pair of wings", entoa Peter para mandar uma versão matadora de "Wings" do sensacional "Litany" (2000). Pena esta ter sido a filha única deste álbum no set, mas nada que duas do meu favorito "Black To The Blind" (1997) não pudesse recompensar. Estou falando de "Fractal Light" e da soberba "Carnal", daquelas que jamais poderão faltar nas apresentações do Vader. Nesta última, aquela paradinha para os versos "I tasted the fever of Your existence/ Seems like cold grain to my mouth/ I stand aside, I stay away/ Transmuting my quicksilver blood" é de pirar até os mais ortodoxos no metal da morte. Era notória a satisfação dos poloneses frente a uma imensa massa de seguidores ávidos pelo som único que praticam e pelo qual são responsáveis por uma incontável gama de imitadores ao redor do planeta. Em especial o "Spider" não se continha em sorrisos solo após solo; lick após lick. A recompensa de tamanha qualidade em cena veio com vozes em uníssono para "Reborn In Flames" e "Silent Empire", para ficarmos apenas nesses dois exemplos. Outros destaques no repertório foram "Come and See My Sacrifice", cantada inclusive por um Moyses Kolesne (Krisiun) empolgadíssimo ali do meu lado e outra das antigas, "Dark Age", bastante festejada.

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Pouco antes das 20h surgem eles, magnânimos, supremos, um dos detentores do trono deste estilo tão cativante e emblemático chamado death metal. Estou a escrever sobre o SUFFOCATION, responsável pelo melhor concerto de todo o EHF. Logicamente que os fãs das outras atrações irão discordar, mas a performance deste quinteto de Long Island, Nova Iorque, foi de levar muito marmanjo às lágrimas. Por pouco este que vos escreve não chora também, em especial durante a execução das mais velhas, como a que iniciou a festa, "Thrones of Blood", do perfeito " Pierced from Within" (1995). Só bastou esta para sabermos que estávamos diante do "mestre de cerimônias" da noite, o indefectível vocalista Frank Mullen, dono não só de um dos melhores timbres no estilo como de uma presença cênica inigualável. Mullen pediu licença para tocarem uma das novas e anunciou "As Grace Descends", uma das mais fortes de "Pinnacle of Bedlam", lançado este ano e já detentor de críticas positivas nos quatro cantos. O Suffocation possui dois EPs, sendo que em ambos consta a faixa tocada na sequência, "Catatonia". Vou precisar eleger a minha versão favorita como a do "Human Waste" (1991) ao invés da registrada em "Despise The Sun" (1998) pelo fato daquela contar com o baterista original, o inigualável Mike Smith, talvez o melhor - sim, o melhor! - baterista no estilo se pegarmos os nomes surgidos na mesma época. Para evitar maiores delongas sobre o assunto, vou deixar uns três vídeos disponíveis mais abaixo para o caro leitor tirar suas próprias conclusões. Antes que eu me esqueça, a tocada em seguinda, isto é, "Funeral Inception", foi retirada deste último "extended play" mencionado. Mais uma das recentes com "Rapture of Revocation" e outro clássico, "Pierced from Within", capaz de fazer até um barbado levar as mãos no rosto para esconder a emoção. A partir daí foram mais um punhado de canções feitas sob medida para conectar público e músicos. Aliás, citei os outros membros além de Frank Mullen? Como não mencionar a cozinha formada pelos matematicamente precisos Derek Boyer e Dave Culross, baixista e baterista respectivamente, assim como a dupla de guitarristas composta pelos lendários Terrance Hobbs e Guy Marchais? Olha, o que essas duas criaturas são capazes de fazer nas seis cordas é para ou continuar os estudos no instrumento ou desistir de uma vez por todas, sem meio termo! Quando os riffs de "Infecting the Crypts" ecoaram nos PA's do Carioca Club era a deixa para dizer "até logo" ao Suffocation, até porque faz um bom tempo que esta é a escolhida para fechar os shows. Nada mais justo que por um fim com algo cuja "vibe" transmite recomeço, afinal trata-se de uma do debut "Effigy of the Forgotten", lançado em 1991, ano primoroso para o estilo que este cinco senhores continuam a orgulharem-se em tocar.

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Coube então ao MARDUK fechar o Extreme Hate Festival. Os headliners também conhecem bem seus fãs brasileiros e sabiam da árdua tarefa em tocar após o cataclisma novaiorquino. Felizmente a grande maioria permaneceu no local mesmo sendo um domingo. Sendo assim, Daniel "Mortuus" Rostén (vocais), Magnus "Devo" Andersson (baixo), Lars Broddesson (bateria) e o patrão Morgan "Evil" Steinmeyer Håkansson (guitarrista) adentraram com sede de sangue e uma coleção de ritos maquiavélicos para saciar seus exigentes apreciadores. Uma curiosidade, com exceção de "Heaven Shall Burn... When We Are Gathered" (1996), do ótimo "La Grande Danse Macabre" (2001) e "Plague Angel" (2004) todos os álbuns foram lembrados no set-list, fato que acresceu à apresentação da horda. "Serpent Sermon", cujo título batiza seu mais recente trabalho de estúdio, fez as honras com boa aceitação, mas ao invés de cabelos se misturando o que via-se eram inúmeros smartphones e câmeras registrando a entrada dos suecos. Sem delongas "Nowhere, No-One, Nothing" do bom "Wormwood" (2009) continuou a chacina, acompanhada de uma das mais conhecidas, "The Black...", presente na estreia "Dark Endless", bons tempos em que o dono do microfone era o insano Andreas Axelsson, cujo talento o fez compor ao lado do mítico Dan Swäno outra banda importantíssima da Suécia, o EDGE OF SANITY, onde já tocou guitarra, baixo e também cantou [Nota do redator: Por exemplo, no essencial álbum "The Spectral Sorrows" (1993) é dele os vocais na faixa "Feedin' the Charlatan"]. A pegada de "Imago Mortis" e as variações em "Slay the Nazarene", do ótimo álbum "Nightwing" (1998), foram cruciais para manter o pique na casa. Veja bem, o Marduk é uma baita banda mas, desde que Mortuus assumiu as vociferações ali, tenho lido e ouvido boa parte dos fãs queixando-se. Ele é um cara esforçado, berra que é uma beleza(!) e até arrisca um sorriso de canto de boca, mas não possui o "modos operandis" de Erik "Legion" Hagstedt, para muitos o cantor definitivo dessa história toda. Daí vem mais uma nova com "Temple of Decay", o que não ajudou tanto, mas a recuperação chegou em forma de um tanque de guerra em "Christraping Black Metal", do inigualável "Panzer Division Marduk" (1999), uma das maiores aberrações da velocidade em se tratando de black metal escandinavo. Nada melhor que emendar com outra jóia, "With Satan and Victorious Weapons", que se não é a composição mais, digamos, próxima de um "hit" do Marduk, chega bem perto disso. Percebi que durante sua execução, praticamente metade do Carioca Club a tinha na ponta da língua. A trinca seguinte foi de corar até o cramunhão, pois juntar uma nem tão antiga, no caso "Womb of Perishableness", com "Materialized In Stone" e a feroz "Wolves" é passível de sucesso apenas quando realizado por quem SABE o que anda aprontando em prol das profundezas. Já que estamos a falar sobre danação, era hora da cartada final com outra de "Panzer Division Marduk", desta feita a imunda "Baptism by Fire", feito sob medida para um encore dessa perversidade. Sejamos sinceros, a Cardeal Arcoverde, rua no bairro de Pinheiros onde os cinco grupos apresentaram-se no último domingo, já pode regozijar-se como o endereço oficial daquele que reina no andar de baixo.

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Sobre Durr Campos

Graduado em Jornalismo, o autor já atuou em diversos segmentos de sua área, mas a paixão pela música que tanto ama sempre falou mais alto e lá foi ele se aventurar pela Europa, onde reside atualmente e possui família. Lendo seus diversos artigos, reviews e traduções publicados aqui no site, pode-se ter uma ideia do leque de estilos que fazem sua cabeça. Como costuma dizer, não vê problema algum em colocar para tocar Napalm Death, seguido de algo do New Order ou Depeche Mode, daí viajar com Deep Purple, bailar com Journey, dar um tapa na Bay Area e finalizar o dia com alguma coisa do ABBA ou Impetigo.
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