Peter Murphy: O público gostou, mas podia ter sido melhor?
Resenha - Peter Murphy (Via FUnchal, São Paulo, 14/02/2009)
Por Thais Cacciacarro
Postado em 25 de fevereiro de 2009
A noite de 14 de fevereiro entrará para a memória de muitos fãs de Peter Murphy, ícone da cena gótica no final dos anos 70 à frente do Bauhaus.
Fotos: Valéria Alves
Nascido e criado na Inglaterra, Murphy iniciou sua carreira no Bauhaus como vocalista permanecendo no line up da banda até 1984, quando a deixou para entrar num projeto chamado "Dali’s Car" que, aliás, não deu muito certo.
Murphy então decidiu partir para carreira solo, seguindo uma linha de atuação bem diferente do Bauhaus, o que era de seu interesse na época. Em 1986, lançou "Should The World Fail To Fall Apart" e dali seguiu com diversos outros álbuns. Desde que se lançou em carreira solo, foram nada menos que dez.
Mas o ápice de sua carreira solitária veio mesmo com o álbum "Deep", de 1990, que tem singles conhecidos, como "Strange Kind Of Love" e "Cuts You Up".
Cansado de viver só, em 1998 resolveu fazer uma turnê de aniversário de 20 anos com o Bauhaus. Alguns projetos juntos seguiram, como o lançamento, em 2008, de um álbum de estúdio, intitulado "Go Away White". Porém, Murphy e os demais integrantes do Bauhaus declararam ser a última vez que se reuniriam com essa finalidade e seguiram cada um para um lado. Murphy ultimamente tem participado da turnê do Nine Inch Nails.
A Via Funchal não estava cheia. Havia espaço de sobra para o local se transformar em uma enorme pista de dança, o que não aconteceu já que os fãs preferiram se aglomerar perto do palco. Mas o público presente estava muito animado e as apostas de quais músicas seriam tocadas era visível nos grupos de amigos que se juntaram atrás de diversão e da realização do sonho de ver o líder do Bauhaus tocando em terras brasileiras pela primeira vez trinta anos depois de lançar seu primeiro single.
Às 22h10 entrava em cena, pelo lado direito do palco, a estrela da noite. Logo na introdução podia-se perceber que seria um show performático, simpático, envolvente e movimentado (Peter andou e dançou por todos os espaços disponíveis, utilizou plumas, tocou escaleta, teclado e rodopiou pelo palco com um blazer de veludo azul). O cantor abriu o show com "Burning From The Inside", seguida por "The Line Between The Devils Teeth". "Dissapearing" foi um momento à parte, que o inspirou a despetalar romanticamente as três rosas que estavam fixadas no pedestal de seu microfone e as jogar à platéia. Em seguida, mandou "Gliding Like a Whale" e a partir daí o set list foi deliberadamente modificado por ele, que parecia se sentir à vontade para cantar o que quisesse.
Executou a triste "Hurt" (do Nine Inch Nails) pendurado numa escada ao fundo do palco, que parecia mais uma cena digna de um musical da Broadway. Fez uma versão acústica envolvendo "Strange Kind Of Love" e um pequeno trecho de "Bela Lugosi’s Dead". Ficou muito próximo dos fãs sempre que possível, recebeu simpaticamente os presentes que lhe foram oferecidos, questionou os fãs sobre o que eles queriam ouvir (não que isso tenha significado que iria atendê-los), brincou com "Mamma Mia" num solo e interagiu com o público se dizendo exausto após tanto tempo com sua "Retrospective Tour’09".
Entre outros sons de destaque, vale mencionar a versão de "Transmission" (Joy Division), que animou o público a tirar o pé do chão, "All We Ever Wanted Was Everything", "She’s In Parties", "Cuts You Up" (uma das músicas mais esperadas), "Time Has Got Nothing To Do With It" e "Lust For Life" (Iggy Pop e David Bowie).
O público de São Paulo foi agraciado por um espetáculo teatral, um show técnico, perfeito para os góticos presentes que se deliciaram, mas com um gostinho de quero mais.
Murphy deixou o palco como se estivesse no meio do show, às 23h55, afirmando que Bela Lugosi estava morto – será que ele quis dizer que o movimento gótico também está morto?
Nem seus músicos pareciam ter entendido o fim repentino da apresentação, já que em Porto Alegre o show durou cerca de duas horas e meia e aqui eles tocaram apenas cerca de uma hora e quarenta e cinco minutos.
O já não tão jovem Peter Murphy, com 51 anos, deixou de fora "Índigo Eyes", "All Night Long", "Final Solution", "Crystal Wrists" entre outros sucessos de sua carreira solo e da época do Bauhaus, que era o que o público esperava ouvir.
Quem sabe da próxima vez ele venha no início ou no meio da turnê, para que não se sinta tão exausto a ponto de deixar os fãs voltarem para casa com o sentimento de que "podia ter sido melhor".
Mesmo assim, não há muito do que reclamar, pois a presença de palco do artista, sua voz impecável (que parece inabalável) e sua vontade de voltar ao país valeram por estes anos de espera. Era facilmente perceptível a satisfação dos fãs de terem visto seu ídolo ao deixarem a casa com um riso estampado no rosto e entoando alguns dos sucessos de Murphy.
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