Porão do Rock: Muse encerra festival atendendo às expectativas
Resenha - Muse (Estádio Mané Garrincha, Brasília, 01/08/2008)
Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 06 de agosto de 2008
O segundo dia do Porão do Rock prometia não só uma programação mais variada, como bandas melhores, mesclando medalhões com novos nomes da cena independente que renovaram a música alternativa brasileira, provando que é possível ser "indie" sem prejuízo de sonoridade, organização, relacionamento com o público, etc.
No Palco Pílulas, às 17h, ainda com quase ninguém na arena, o – temos um nome engraçadinho – GILBERTOS COME BACON abriu os trabalhos apresentando um som que ainda não se decidiu o que quer ser: hardcore, reggae, hip-hop, rock, pop, música latina... sobrando energia e, na maioria das vezes, pedindo alguns ajustes.
O público ainda começava a chegar quando o VAI THOMAZ NO ACAJU, combo entre Gabriel Thomaz, vocalista do AUTORAMAS e parte dos integrantes do MÓVEIS COLONIAIS DE ACAJU, uma das melhores bandas do Brasil atualmente, subiram no Palco Principal. Difícil imaginar uma abertura melhor. Junto a Gabriel, André Gonzáles (voz), BC (guitarra), Beto Mejía (flauta transversal), Eduardo Borém (gaita cromática, escaleta e teclados), Esdras Nogueira (sax barítono), Fabio Pedroza (baixo), Leonardo Bursztyn (guitarra), Paulo Rogério (sax tenor), Renato Rojas (bateria) e Xande Bursztyn (trombone) tocaram músicas do seu compacto em vinil lançado em 2007, auto-intitulado, como "Família Que Briga Unida Permanece Unida", "O Sol Eu Não Sei" e "Stock Car Theme" – uma divertida brincadeira vocal. Diversão, aliás, foi o tom do show, com o ótimo naipe de metais em "alta voltagem" do Móveis e participações de convidados especiais da cena de Brasília. Uma das mais empolgantes e suculentas apresentações do Porão.
Colocado em seqüência não à toa, o mesmo pode ser dito sobre os cariocas do CANASTRA, big band um pouco mais enxuta e com uma deliciosa mistura de samba, mpb, rock, jazz, surf music e todo um swing bem particular, demonstrado também nas ótimas letras. Com músicas de seus dois discos, "Traz A Pessoa Amada Em Três Dias" (2004) e "Chega De Falsas Promessas" (2007), o CANASTRA provou porque é um dos nomes mais adorados da cena atual. Som redondo, banda entrosada e músicas que já são cantadas pela platéia, como "Motivo De Chacota", "Chevette Vermelho", "Meu Capuccino", "Miss Simpatia" e "Quando Sim Quer Dizer Não". Destaque para a presença notável do baixo acústico de Edu Vilamaior. E se a abertura foi com uma maravilhosa versão instrumental do Hino Nacional, o fim ficou com a execução do riff de "Back In Black", do AC/DC. Algo como "um dos melhores shows nacionais que se pode querer".
Depois, os locais do SAPATOS BICOLORES trouxeram seu rock genérico que não empolgou muita gente. Enquanto isso, no Pílulas, o SUPER STEREO SURF mostrou que pode ir um pouco mais longe com seu som gostoso de ouvir e melodias bem construídas. E aí tivemos o eletrônico de LUCY AND THE POPSONICS, o sempre bom "rrrrrrock" do AUTORAMAS, muito bem recebido pelo público, a mistura do MUNDO LIVRE S/A, o "hyper rock" pretensioso do SUPERGALO e a baiana PITTY, com uma banda já acostumada ao palco que se saiu melhor do que o esperado, assim como a própria demonstrou que é dona do público e manda muito bem naquilo que se propõe a fazer.
Mas todos queriam mesmo era os britânicos do MUSE. Camarote lotado – ao contrário do dia anterior – e público num frisson assombroso para quem até dois anos atrás só era conhecido no Brasil pelo círculo diminuto dos indies anglófilos doentios.
Felizmente, todo o reconhecimento da imprensa e o oba-oba dos fãs justifica-se pela discografia do grupo. Se já se convencionou considerá-los de "difícil classificação" (não por acaso), resta atestar que, de fato, Mathew Bellamy (voz/guitarra), Christopher Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) são um corpo estranho no mainstream do pop mundial. Altas doses de progressivo e metal, falsetes descarados que funcionam, o paradoxo da grandiloqüência expressa por um power trio afinado cobertos por um invólucro de pop e toques eletrônicos. Alcançaram o topo sem praticar o óbvio, construindo uma identidade musical singular, trazendo a mente um pouco do melhor produzido nas décadas de 70, 80 e 90, com músicos completos, técnicos e intensos ao vivo, ajudados pela estrutura gigante e extremamente profissional por trás.
Sendo impossível trazer ao Brasil todo o aparato demonstrado no recém-lançado CD/DVD H.A.A.R.P, ao vivo em Wembley, o telão, balões gigantes, confetes e foguetes de CO2 foram o suficiente para encantar a platéia. Mas fora o hi-tech e o espetáculo, a música se destaca por si. Considerados o melhor grupo ao vivo do mundo pela imprensa inglesa, o posto pelo menos está em boas mãos - independente de ser questionável. Não fazem apenas um show, mas um verdadeiro concerto neo-prog/pop/metal tecnológico cheio de improvisos, com um espírito notável de uma autêntica banda ao vivo, ao inverso de 90% da cena, indo além do básico para embolsar alguns milhares de dólares.
"Knights Of Cydonia", uma das mais prog do repertório, abriu a noite para êxtase dos 17 mil presentes. E se em estúdio eles já mais que flertam nitidamente com o metal, no palco o peso é assombroso, sendo um convite ao headbanging, a exemplo do que o próprio Bellamy faz às vezes. E se o vocalista vai do falsete extremo ao mais grave e natural com facilidade – e convencendo – na guitarra coloca muita (mas muita) distorção e efeitos, complementado por um pad exclusivo acoplado à guitarra, além de sintetizadores e todo um leque de opções muito bem utilizadas, que encontram nos teclados de Morgan Nichols (músico contratado), o suporte ideal.
"Black Holes & Revelations", o último trabalho, de 2006, foi a base do show, indo desde a ampla "Map Of The Problematique" até a dance "Supermassive Black Hole", que ao vivo é aceitável apesar de contar pouco com a minha simpatia. Do álbum, baladas como "Invincible", que tem um refrão tão piegas que chega a ser corajoso e a ótima "Starlight" foram os momentos ideais para o "vamos cantar todos juntos".
Na verdade, a maioria das composições têm espaço e apelo para que o público se una a voz de Bellamy: poucas vezes a música pop foi tão bem costurada com o peso e quebradeiras típicas do prog e do metal, como comprovaram "Butterflies & Hurricane", "Stockholm Syndrome" – estupenda – e "Hysteria".
Da tríade de intocáveis vieram "New Born", "Time Is Running Out" e "Plug In Baby", não só algumas das melhores como três das minhas preferidas da banda, exemplos perfeitos que de certa forma resumem o que é o MUSE. Junte a estas "Feeling Good" e seu piano marcante, contando com uma atuação inesquecível do vocalista.
O fim, com "Take A Bow", deixou a sensação de que poderíamos ficar ali por pelo menos mais uma hora e conferir ausências sentidas como "Apocalypse Please", "Sing For Absolution", "Bliss", "Space Dementia" e "Muscle Museum", dentre outras. Mas tudo bem, na certa voltarão ao país e com um novo CD pra divulgar. Em 4 trabalhos sólidos o MUSE alcançou o topo do mundo com uma música bem menos comercial que a maioria dos que costumam ocupá-lo. O único pecado é, às vezes, cair na megalomania sonora desmedida. Mas de um jeito que até eventuais deslizes dão motivos para serem perdoados. A banda é muito (muito) boa, e nada indica que deixará de sê-la. Mesmo para qualquer um com má-vontade, o show fez mais que cumprir as expectativas.
E o saldo final do Porão do Rock foi um festival muito bem organizado, com dois palcos principais revezando-se sem atrasos nas apresentações (uma raridade), um lounge interessante entre eles no camarote, ingressos baratos, estrutura adequada para quem estava na pista e uma seleção de bandas brasileiras que, apesar de boa, pode melhorar bastante. O evento cresceu a ponto de investir em atrações internacionais de peso (e portanto mais caras), trazendo ao país um grupo no auge, não na entre-safra ou já esquecido (outra raridade). Longe da perfeição, óbvio, mas o suficiente para estar entre os principais eventos do calendário nacional. Que venha a edição 2009!
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