Wacken 2007: Os shows e bastidores do Valhalla do Heavy Metal
Resenha - Wacken Open Air 2007 (Wacken, Alemanha, 02 a 04/08/2007)
Por Alexandre Cardoso e Bruno Garcia e Léo Martins de S. Júnio
Postado em 17 de março de 2008
O Valhalla do Heavy Metal. Assim pode ser definido o Wacken Open Air. Esse, que é o mais tradicional festival de heavy metal da Europa - e, provavelmente, do mundo, chegou a sua décima nona edição reunindo mais de 60 mil pessoas, com uma lotação máxima e ingressos esgotados meses antes do evento.
"There are only two music styles: Heavy and Metal" e "Wacken: Rain or Shine!" são duas de muitas frases que definem o festival - e estampam muitas camisetas. E a última serviu muito bem para definir a edição deste ano. Durante toda a semana anterior ao início do Wacken, caiu uma chuva torrencial na cidade, e a área do festival foi muito afetada. Toda a estrutura de palco, som e stands já estava montada (montagem que pôde ser acompanhada pelo site oficial do festival, através de imagens geradas por uma webcam), mas o lugar virou um lamaçal. Tamanho foi o estrago que os organizadores chegaram a considerar o cancelamento do evento. No entanto, eles resolveram arriscar e uma solução encontrada foi espalhar uma quantidade enorme de feno (!) por toda a área enlameada, na tentativa de estabilizar o chão. Pelo menos, o local ficou "transitável" e um vídeo sobre tudo isso rolava nos telões durante o intervalo dos shows. Na área da imprensa havia um mural com fotos dos estragos causados pelas chuvas, fotos da área do festival depois de encontrada a solucao e uma plaquinha com os dizeres "Wacken 2007, cancel or fight? FIGHT!".
A expectativa que o Wacken gera nos headbangers do mundo todo é enorme, e é sabido que muitos de nós, brasileiros, morremos de vontade de estar lá. De tanto que se ouve falar ou ver nos DVDs que tantas bandas gravam no festival, não tem como achar que o Wacken não é incrível. E o porte e infra-estruturas do festival realmente fazem jus a sua fama. Tudo começa quando se chega na pequena cidade de Wacken e se presencia algo que não parece ser possível: uma cidade inteiramente Heavy Metal! Logo na entrada da cidade havia um banner com as seguintes frases: "Welcome Metalheadz! Wacken, the Heavy Metal Town." Durante os dias do festival, todo o comércio e a vida em Wacken são voltados para ele. Dezenas de lojas de merchandising, barracas de comida e casas de moradores que disponibilizam seus jardins para a venda de café da manhã e bebidas podiam ser vistas ao longo de toda a cidade.
Os shuttle buses, ônibus fretados com destino ao festival que saíam da estação de trem de Itzehoe, cidade próxima a Wacken, sempre chegavam cheios à entrada principal, trazendo headbangers extremamente empolgados – e equipados! Após retirarem suas pulseiras no guichê, todos se dirigiam ao camping para montarem suas barracas, que seriam suas moradias pelos próximos 3 dias. Muita gente também foi de carro, e esses eram os que cuidavam da trilha sonora do acampamento. As pessoas levaram cadeiras, churrasqueiras, mini geladeiras e muita, mas MUITA bebida.
A área de camping era muito grande, muito bem dividida em quatro partes, acomodando todas as barracas sem qualquer problema de espaço. Lá, já podíamos perceber a quantidade de pessoas vindas de diversos paises que só um evento como o Wacken pode reunir: italianos, espanhóis, portugueses, ingleses, japoneses, e claro, brasileiros!
Como membros da imprensa, ficamos no camping junto ao backstage, também grande e organizado, onde também haviam muitos brasileiros, que faziam parte da excursão realizada por uma empresa de turismo de São Paulo junto com a revista Roadie Crew. Além da equipe da revista, também estavam por lá o pessoal do Stay Heavy e os músicos do Torture Squad.
O Backstage era um local sempre bacana de se estar, já que todos os músicos das bandas que se apresentariam no festival circulavam numa boa, e para nós, fãs de muitos deles, era mais fácil abordá-los. E todos eram muito simpáticos, pois na Europa o assédio é muito menor do que aqui no Brasil. Por isso os caras ficam bem contentes quando alguém chega, pede um autógrafo, bate um papo e tira uma foto. Mike Terrana (baterista, ex- Rage, atual Masterplan) até nos deu seu copo de cerveja – cheio!
Belas garotas fantasiadas de diabinhas – que posavam para fotos e fizeram a alegria dos marmanjos - e um ofurô chamavam a atenção no Backstage. Sim, um ofurô, onde podia-se tomar um banho peladão (ou peladona) e pendurar suas roupas pra secar no varal. Infelizmente, não vimos nenhuma das diabinhas se banhando...
Outras peculiaridades do festival são os mictórios a céu aberto, que facilitaram a vida de muita gente que não se importava em fazer xixi pra todo mundo ver, e também algo que pode ser chamado de lava rápido humano. Ele funcionava da seguinte maneira: nessa área reservada, a pessoa chegava, pagava e aguardava sua vez. Então, era só tirar a roupa toda – ali, na frente de todo mundo – e entrar no lava rápido. Além de eficiente e relativamente barato (7 euros, lembrando que isso é Europa), parecia ser bem divertido. Depois da lavada, a pessoa recebia a toalha para se enxugar e um par de chinelos para circular por ali. E outra vez mais, infelizmente, não vimos nenhuma garota do jeito que veio ao mundo.
Falando de merchandise, o Wacken também é um paraíso para quem gosta de comprar coisas relacionadas ao estilo rock/metal. A linha de produtos oficiais do festival é mais do que completa: camisetas, jaquetas, moletons, CDs, DVDs, canecas, chaveiros, isqueiros, toalhas, adesivos, barraca, saco de dormir, cartões postais com um punhado de terra da área do festival... até um vibrador estava à venda.
Em outros stands, muitas camisetas de bandas, pôsteres, bandeiras, brincos, anéis, cintos. Lá tem praticamente tudo. Um item muito essencial por lá é o porta copos que se leva na cintura, como um cinto, e também um chifre, que não serve como berrante, e sim pra encher de cerveja. Genial!
O Metal Market é uma grande tenda localizada na área externa de onde ficam os grandes palcos, junto das barracas de merchandise, do "Biergarten" e da praça de alimentação. Além de concentrar uma grande quantidade de expositores que vendem camisetas, CDs, DVDs e LPs de todos os estilos - e muitas raridades, há também um pequeno palco para shows de bandas independentes, workshops e, para a alegria dos headbangers, três shows diários de strip-tease. Lá, além dos divertidos e sensuais strip-teases, presenciamos os ótimos workshops do guitarrista Michael Angelo e do baterista Mike Terrana. Angelo é um animal das guitarras, dono de uma técnica invejável e que, a principio, pode até desmotivar qualquer iniciante no instrumento. Carismático, bem humorado e dono de uma postura extremamente "heavy metal", Michael Angelo exibiu suas guitarras signature, falando um pouco sobre elas e mostrando sua técnica, além de tocar músicas de sua autoria, com destaque para "No Boundaries" e alguns covers. Estes merecem destaque por terem sofrido uma verdadeira "operacao" por parte de Michael, que imprimiu o seu estilo em músicas consagradas como a ovacionada "Mr. Crowley" de Ozzy Osbourne. O guitarrista encerrou seu workshop tocando com sua famosa guitarra de dois bracos, girando-a em seu eixo que a prende à correia diversas vezes no meio da música e tocando-a em todas as posições possíveis. Sem dúvida um show para ser elogiado. Depois de se ver um mestre nas guitarras, nada mais apropriado do que um mestre nas baquetas. O Sr. Mike Terrana subiu no palco em seguida ao workshop de Michael Angelo, impressionando a todos com sua técnica e sua precisão. Divulgando seu novo DVD "The Rhythm Beast – In Session", Mike fez um workshop memorável, aventurando-se até mesmo nos vocais e fincando suas baquetas na pele do surdo no final do espetáculo.
[an error occurred while processing this directive]Mas a visão que impressiona mesmo é a que se tem quando se cruza os portões do festival, depois do camping. Os dois palcos principais, o True Metal Stage e o Black Metal Stage erguendo-se lado a lado em meio a um exército de headbangers, tendo entre eles apenas um telão e uma enorme cabeça de bode feita de ferro e que se inflamava e espirrava fogo para o alto a partir do momento em que escurecia até o final dos shows do dia. Além destes dois palcos havia o Party Stage, que era menor em relação aos palcos principais (mas com a mesma qualidade) e o Wet Stage, palco da famosa Metal Battle e de algumas bandas mais underground.
Devido à problemas de logística, não pudemos chegar no primeiro dia, do qual lamentamos ter perdido o show do Saxon. Os comentários foram muito bons e houve participação de Tobias Sammet (Edguy, Avantasia) em uma das músicas. Aliás, o vocalista participaria, no dia seguinte, de uma coletiva no centro de imprensa, mas foi embora devido a uma crise de apendicite e teve que ser operado às pressas. Tobias falaria sobre o próximo álbum do Avantasia "Lost..." e também sobre o show que faria no Wacken de 2008 com seu projeto paralelo, algo que com certeza é um grande atrativo para o ano que vem.
[an error occurred while processing this directive]O Grave Digger fez um show muito parecido com o que vimos no Earthshaker Fest desse ano, só que mais curto: apenas 45 minutos. A qualidade do som era oscilante no início do show, mas melhorou logo depois da segunda música. Com um show rechado de clássicos, destaque para "Rebellion", "Grave Digger", "United" e o hino da banda "Heavy Metal Breakdown".
A grande surpresa foi o Lacuna Coil, já que nunca vimos a banda ao vivo no Brasil. Os italianos fizeram um show cheio de energia, e obtiveram grande resposta do público. A performance de palco de todos os músicos é de fazer inveja a muitos, e a vocalista Cristina Scabia justificou todos os elogios que são feitos à ela: além de linda, é extremamente carismática e canta muito ao vivo.
O show do Blind Guardian foi muito semelhante àqueles que os alemães fizeram no Brasil esse ano, pois ainda estão em turnê do último álbum "A Twist in the Myth". A banda é muito querida pelo público germânico, e fizeram um show muito bom, onde Hansi Kürsh fez muitas brincadeiras com o público (em alemão, claro), mas sua performance vocal deixou um pouco a desejar, já que sua voz falhou em alguns momentos.
O Dimmu Borgir era uma das atrações mais esperadas, e correspondeu a todas as expectativas. Com um palco cheio de pirotecnias e um excelente jogo de luzes, pode-se dizer que foi um show "assustador", no melhor sentido da palavra: a atmosfera que se criou ali foi perfeita e a banda fez um dos melhores shows do festival, sem dúvida, e com uma qualidade de som praticamente perfeita.
Outra banda que foi muito ovacionada pelo público foi o Iced Earth, em um show que pode ser resumido como "uma avalanche de riffs heavy metal". Alguns sons da nova fase com Ripper Owens misturados com os clássicos da fase com Matthew Barlow proporcionaram grandes "bangeadas" para o público. Ripper demonstra muita confiança em cima do palco, e está bem mais desenvolto do que nos tempos de Judas Priest, e Jon Schaffer é uma máquina de tocar guitarra.
O Stratovarius tocou um set list sem novidades, em especial para nós brasileiros, já que por tantas vezes os finlandeses passaram por aqui. Apesar disso, faltou um pouco de energia no show dos caras, mesmo com Timo Kotipelto agitando bastante, contrastando com o sempre parado Timo Tolkki. "Last Night on Earth", uma musica inédita, foi tocada, mas não causou grande impacto, pois é muito fraca perto de outros sucessos como "Distant Skies" e "Black Diamond".
Junto com o Stormwarrior, Kai Hansen fez aquilo que muitos fãs de metal melódico sonhavam: a execução de clássicos do "Walls of Jericho", o primeiro álbum do Helloween. O som do Stormwarrior é muito influenciado pelo Helloween mais antigo e, por isso, tudo parece ter saído próximo à perfeição. Como Kai não tocou guitarra, pôde dedicar-se apenas ao microfone, e o cara mandou muito bem. Destaque para "Ride The Sky", "Victim of Fate", "Judas" e o hino "Heavy Metal (is the Law)", cantado em uníssono pelos bangers presentes ao pequeno Party Stage.
Acompanhar todos os shows de um festival é algo bem difícil, ainda mais quando temos quatro palcos e mais de 70 bandas tocando das 11 da manhã às 3 da madrugada! Mas em um evento como o Wacken Open Air, alem de curtir as bandas, vale a experiência de estar numa cidade que se dedica totalmente ao evento, de ter a oportunidade de conhecer fãs de todo o mundo (alguns, verdadeiras figuras), beber uma cerveja muito boa (e em grandes quantidades!), comprar camisetas, cds e etc. O Wacken é diversão garantida para qualquer headbanger que se preze e, caso você tenha a idéia de ir até o festival e tiver um porquinho com suas economias... quebre-o sem dó!
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