Whitesnake e Judas Priest: Público fiel depois do auge
Resenha - Whitesnake e Judas Priest (Arena Skol, São Paulo, 09/09/2005)
Por Fábio Faria
Postado em 17 de setembro de 2005
O Arena Skol Anhembi pareceu ser a escolha certa para receber o show de dois grandes nomes da história do Rock internacional, Judas Priest e Whitesnake, que não estão mais no auge de suas carreiras, mas têm um público fiel - caso o show fosse no Pacaembu, por exemplo, seria um fracasso do ponto de vista de venda de ingressos - além de ter como banda de abertura os paulistas do Angra. O local é aberto e acomoda 30 mil pessoas, embora, não estivesse totalmente lotado, e possui uma boa infra-estrutura, banheiros decentes, espaço para alimentação, camarotes com visão privilegiada construídos do lado esquerdo do palco, tudo muito bem organizado. Até os shows começaram praticamente no horário marcado.
Como isso não é muito comum em se tratando de Brasil, muitas pessoas chegaram quando as apresentações já haviam começado. E, claro, dá-lhe reclamações. Não desse que vos escreve, pois ao entrar no "Arena" presenciei o final da introdução de 'Deus Le Volt' e imediatamente o Angra toma o palco com 'Spread Your Fire', seguida de 'Waiting Silence', ambas do mais recente trabalho da banda 'Temple of Shadows'. Deste, ainda tocaram 'Angels And Demons' e 'Wishing Well'. Na posição de banda de abertura – embora tenha sido anunciado como "banda convidada" -, os integrantes do Angra foram agraciados com um ótimo som e iluminação de palco perfeita, coisa rara de acontecer por aqui. Eduardo Falaschi, Kiko Loureiro, Rafael Bittencourt, Felipe Andreoli e Aquiles Priester souberam usar disso e brindaram a platéia com uma performance empolgante. O repertório foi bem escolhido – apesar de terem deixado de fora 'Carry On' – com ênfase na "era" Edu Falaschi; além do mais recente álbum, não foram esquecidas músicas do primeiro álbum com o vocalista, o 'Rebirth', dentre elas a faixa-título, 'Acid Rain', 'In Excelsis' e 'Nova Era'. Os destaques, no entanto, foram as performances inspiradas em 'Nothing To Say' e 'Angels Cry'.
Muita gente reclamou da participação do Angra no evento, supostamente pelo fato da banda estar deslocada pelo tipo de som que toca em relação às atrações internacionais. Pura bobagem. Muito pelo contrário, se fosse possível, em teoria, dizer que alguém estaria deslocado, esse alguém seria o Whitesnake. Uma banda de Hard Rock, entre duas bandas de Heavy Metal. Claro, que se isso fosse desvantagem, esqueceram de avisar David Coverdale e cia. Foi surpreendente a apresentação do grupo. Acompanhado por um time de feras - os guitarristas Doug Aldrich e Reb Beach, o baixista Uriah Duffy, o tecladista Timothy Drury e o lendário baterista Tommy Aldridge (Ozzy Osbourne, Gary Moore, etc) – Coverdale espertamente começou o set com um medley de 'Burn/Stormbringer', ambas da fase em que ele era o frontman do Deep Purple. Apesar do som um pouco ruim logo no início - o que foi corrigido rapidamente -, o vocalista inglês ganhou a platéia logo de cara.
Com mais de cinqüenta anos, David mostrou que sua voz está em grande forma e enlouqueceu os fãs com uma hora de show. Pode-se até pensar que foi pouco, mas tamanha foi a energia e a garra apresentada pelo Whitesnake, que se o tempo fosse maior, talvez o show não tivesse sido tão bom. E os fãs só têm uma reclamação a fazer: faltou o clássico 'Fool For Your Loving'. Fato quase perdoável, já que foram tocadas 'Bad Boys', 'Love Ain't No Stranger', 'Slow an' Easy', 'Crying in the Rain', 'Is This Love'(dispensável), 'Give Me All Your Love', 'Here I Go Again' e 'Still of the Night'.
Difícil destacar alguma canção, a banda foi perfeita em todas elas. Até o também cinquentão Tommy Aldridge arrebentou com seu famoso solo, ora usando as baquetas, ora usando as próprias mãos. O adjetivo "memorável" cabe perfeitamente a esta apresentação do Whitesnake. E acredite ou não, muita gente foi lá só pra ver a banda, tanto que foi possível ver pessoas indo embora assim que começou a tocar a famosa música do grupo de comediantes ingleses Monty Python, 'Always Look on the Bright Side of Life', ao término do show.
Por volta das 10 horas da noite, a atração principal, o Judas Priest, entra em cena. Ao apagar das luzes começaram os gritos, que continuaram durante a introdução 'The Hellion', culminando em 'Electric Eye'. Daí em diante foram só clássicos: Metal Gods', 'Riding on the Wind', 'A Touch of Evil', 'Beyond the Realms of Death', 'Turbo Lover', 'Victim of Changes', 'Hell Bent for Leather', 'Living After Midnight' e 'You´ve got Another thing Comin' e 'Diamonds & Rust' – foi mantida a versão acústica imortalizada por Tim "Ripper" Owens no CD '98 Live Meltdown', sem que Halford conseguisse atingir o mesmo resultado.
O conjunto surpreendeu e não abdicou de mostrar músicas do novo disco 'Angel of Retribution'. Foram apresentadas 'Revolution', 'Deal with the Devil', 'Hellrider' e 'Judas Rising', está última um dos destaques na parte visual do show. Rob Halford surge lentamente por detrás da bateria com os braços abertos imitando a ilustração da capa do CD. Surpresa mesmo no repertório foi à inclusão de 'Exciter'('Stained Class', de 1978 ) e 'I'm a Rocker'('Ram It Down', de 1988).
O set list do Judas Priest foi construído de maneira a agradar e surpreender, fato consumado, ainda que tenha sido parcialmente bem sucedido nesse intuito. E a aqui começa um fato estranho desse show, quase inexplicável. A platéia obviamente era composta na maioria esmagadora de jovens, cujos pais provavelmente nem se conheciam quando o Judas lançou seu primeiro álbum. Natural, então, que muitas das canções fossem ignoradas por esse público. E esse foi o calcanhar de Aquiles de Halford e seus companheiros. Os mais fanáticos, que conhecem a discografia da banda de cor e salteado, foram os que tiveram a verdadeira satisfação de ver uma das lendas do Heavy Metal. Tem que se concordar com quem afirma que a maioria estava lá para ouvir 'Breaking The Law' e 'Painkiller'. Nada de errado nisso, foram excelentes as respostas a essas canções. Mas se eu fosse um dos integrantes do Judas teria ficado um pouco decepcionado. Era comum ver pessoas paradas, com cara de "que isso?", durante verdadeiros hinos do Metal.
Mesmo assim eles não se abateram, Glenn Tipton, K.K. Downing, Ian Hill e Scott Travis foram impecáveis, ainda que com os andamentos de algumas músicas um pouco mais lentos. Mas não conseguiram tirar do público a reação digna, que uma banda como o Judas Priest merece. Nem durante o solo de Glenn, no qual ele tentou um pingue-pongue com a platéia, a resposta foi satisfatória.
A principal atração da turnê atual do Judas Priest é a volta de Rob Halford aos vocais. Embora tenha cantado bem, foi possível constatar que a passagem dos anos esta enfraquecendo a voz de Halford. Ele não reproduz ao vivo, com a mesma intensidade, o resultado alcançado no estúdio como no passado. E veja, ainda assim, o cara conseguiu um bom resultado. A idade parece pesar para ele também na movimentação de palco. Em alguns momentos, parecia que o cantor estava se apoiando, principalmente nas plataformas. No transcorrer da apresentação, ele tentou de todas as maneiras instigar o público, dizendo que estava feliz de voltar ao Brasil – chegou a abraçar a bandeira do país -, também arriscou um pingue-pongue com os presentes, e se saiu melhor que Tipton. Mas sinceramente, não conseguiu unanimidade no quesito interação com a platéia. Destaque mesmo foi sua entrada no palco com a moto, fato corriqueiro nos shows do Judas, mas que realmente causa um impacto interessante.
Fica aí a dúvida: o Judas não é mais o mesmo ou o público paulista é que não soube reverenciar a altura o "Deus do Metal" e seus asseclas? Eu fico com a segunda alternativa.
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