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Opinião: Meu luto pelas mídias físicas

Por Tales Avellar
Postado em 18 de abril de 2022

Eu não cheguei a viver realmente uma época de lojas de discos. Nasci em 1996 - ou seja, eu vi muitas coisas legais, como Avril Lavigne e Padrinhos Mágicos, mas não lojas de discos. Enquanto elas existiam, eu era criança demais para me importar - eu já tinha um Gameboy e uma fita de Pokémon. Bem quando eu estava entrando na adolescência, cheio de hormônios e euforia e angústia e doido para me conectar com as pessoas, e teria adorado uma loja dessas... bam, entramos no mundo conectado.

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Eu me lembro do último CD que eu ganhei, nessa época. Foi um CD do seriado Glee. Nada muito impressionante - não julguem meu gosto musical por isso! Ganhei de aniversário de alguma colega, e eu me lembro de olhar para ele e pensar... "Mas eles já morreram, não?" (Os CDs, não o elenco de Glee, que ainda estava vivo.)

Então, a minha adolescência, mais angústia do que euforia, foi me agarrar a comentários de Facebook. Na época, o Facebook era 1) usado pela juventude, e 2) basicamente um Tumblr com nomes reais, para falar com as pessoas com quem você de fato convivia. Era até legalzinho. E eu, que sempre fui maluco por música sem nunca ter notado isso, conhecia músicas pelos links de Youtube dos outros. Eu ia ouvir a música compartilhada no feed, porque estava sedento por música nova, mas também porque queria me sentir próximo de pessoas ao meu redor. Agora, vou parecer um tiozão falando, mas todo aquele "compartilhamento" não me fez sentir preenchido, "compartilhando" de fato um momento com outro ser humano. Uma coisa é (deve ser) gostar de Paramore em uma loja de discos, com outras dezenas de adolescentes de cabelo pintado e lápis no olho para confraternizar com você sobre como seus profundos sentimentos terríveis são evocados pela banda. Outra é gostar de Paramore sozinho no seu quarto, com seus profundos sentimentos terríveis e uma janela do Facebook. Era como gritar no vazio.

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Posso ser um nostálgico incorrigível, mas eu queria a época de mix tapes. Mesmo que fossem mix tapes em CD. Tudo bem, às vezes alguém me manda uma playlist. Mas sou o único que não acha que dê no mesmo? Na prática, nos quartos reais, estamos sozinhos. Eu sinto luto pela juventude que não tive, pelo ambiente transbordando música que foi tirado de mim.

Foi como se eu estivesse na rua jogando beyblade e alguém dissesse, "Ei, eu vou te tirar daqui e te botar numa sala com um bando de eletrônicos maneiros!". E, quando cheguei lá, eu vi que isso significava ficar sozinho. Era divertido, até que todo o resto fora de casa desapareceu. O meu pai tinha uma locadora de filmes, e as pessoas muitas vezes iam lá mais para bater papo com ele do que para alugar um filme. Velhinhas solitárias, jovens, quarentões sedentos por conexão. Um dia, o mundo mudou e a loja faliu, e muitas pessoas foram perguntar se ele precisava mesmo fechar, com tristeza ou um quase ressentimento. Você não tem mais onde frequentar toda semana para conversar, mas veja só, agora você tem uma SmarTV, que é muito melhor! Ou não? Será que toda essa conveniência se traduz em felicidade? Somos animais, afinal de contas, e ainda precisaríamos de milhares de anos de Instagram até nossos cérebros passarem a entender isso como contato humano real. Por enquanto, parece sopa aguada.

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A música é só mais uma distração no telefone, como um seriado ou um aplicativo de clicar em animais de aquário, e ainda por cima interrompida por notificações de mensagens sem importância. Além disso, as músicas não são suas, não possibilitam uma coleção de verdade, construída por anos e décadas, porque só estão lá as que fecharam contrato com a plataforma, e ainda podem desaparecer desse ou daquele streaming a qualquer momento. Andamos de um lado para o outro com um pequeno aparelho e não temos a que nos ligar no nosso entorno. Hoje, quando acontece algo incrível no campo da música, como o power grupo dos membros sobreviventes das grandes bandas grunge, eu mando uma mensagem num grupo de WhatsApp para amigos. Eles escutam nas próprias casas, e comentamos com muitos emojis e palavrões sobre como o álbum é incrível. E a vida continua. Teria dado no mesmo ver um vídeo de gatinho tossindo.

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Talvez eu só tenha um parafuso faltando. Eu gosto do palpável. Eu gosto de ver uma estante cheia de CDs e me sentir rodeado por sons que amo. Hoje eu posso fazer isso, claro - não é proibido -, mas é uma espécie de excentricidade. De certa forma, é uma coisa de brechó: você tem que procurar saber onde ainda existe uma loja de discos, se deslocar até Deus sabe onde para encontrá-la, e, claro, não ver todos os CDs que poderia querer, só os que por acaso ainda estão lá.

Teria mais graça com companhia, se o jeito padrão de ouvir música ainda fosse físico. Qualquer amigo ou tiozão que viesse poderia olhar minha coleção e pedir um emprestado e nunca mais devolver, ou me falar de algum que ouviu recentemente, ou, melhor ainda, trazer um para abrirmos e ouvirmos juntos, como tem gente que espera para assistir a séries juntos.

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Acho que tudo isso foi a consequência inevitável da popularização da internet. Parece que tem acontecido uma certa ressuscitação dos CDs, e até de fitas cassete e vinis, que nem a minha geração ouviu. (Na verdade, os anos 2000, em geral, parecem estar na moda, de tanto tempo que já faz - até o mesmo pop punk voltou do nada!) Pode ser uma onda passageira de "moda vintage"; pode ser a reação de uma nova geração de adolescentes (sim, há uma nova geração de adolescentes e eu não estou mais nela), que cresceu com todos os seus filmes e desenhos animados e músicas e entretenimento e mensagens de ex e imagens de revista de modelos irreais na mesma telinha portátil, e precisa de algo real. Sei que eu preciso. Ou talvez o algoritmo seja um caminho sem volta e vamos viver numa distopia de espaçonave do Wall-E regada a dancinhas de TikTok para sempre. Alguém rebobina a fita.

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