Dream Theater: Mike Portnoy, o deus que cometeu pecado
Por Daniel Junior
Fonte: Aliterasom
Postado em 22 de dezembro de 2010
No mês de setembro de 2010 começa uma das maiores novelas exibidas no meio do "roquenrrou" e olha, haja paciência para acompanhar cada capítulo do drama "With or Without You" em uma versão brasileira traduzida como "Com migo ou sem migo, o time vai pra frente". Quando Mike Portnoy anunciou sua saída do Dream Theater, talvez a banda mais bem sucedida do prog metal do século XX, fez o mundo ruir para fãs e não-fãs da banda.
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Por motivos óbvios. O conjunto formado por ele e os super-integrantes parecia que transformava em realidade a banda dos sonhos. Aquele desejo que o fã de Stallone sempre teve de ver Arnold Schwarzenegger juntos em uma película, quebrando tudo. Ou mesmo, rever os Beatles de volta aos palcos, com todos os seus fundamentais integrantes vivos e construindo pérolas musicais para história da música mundial. Dream Theater realizava o fetiche de que existia sim, um grupo capaz de ter em todos seus instrumentos, deuses. E não existe figura mais apropriada para comparar estes músicos quando o assunto é técnica.
Não sei se alguns fãs esqueceram mas eram os deuses astronautas e gente de carne e osso. Gente que chora, tem medo de escuro. Gente que erra. Gente que acerta. Gente que calcula certo. Gente que manda mal na hora de escrever pedir perdão. Gente que limpa sujeira. Gente que faz cagada. Pois é. O manto espetaculoso e o clima de super-poderes afastava os mais ávidos e fanáticos do DT do pensamento de que algum dia pudesse acontecer algo de errado com a banda olimpiana.
E deu.
Portnoy abandonou o barco em setembro de 2010 alegando não estar feliz com seu filhote, a quem dera nome, forma, olhos, boquinha, ouvido e ensinou as primeiras palavras, o primeiro tombo (de porre), a primeira alegria em família e também momentos dolorosos de tristeza e depressão. O baterista era a cara da banda. Mesmo Petrucci sendo soberbamente elegante nas seis cordas, tendo inclusive participado de uma edição do G3, não era o emblema maior do DT. Seu logo humano significativo tinha nome e se chamava Mike Portnoy.
A banda - segundo a mesma - deixou seus queixos caírem na mesa da conversa que foi curta e objetiva. Alegando cansaço criativo e esmolando seu talento para alguns shows em 2011, Portnoy ainda deu um miguézinho de que poderia ser o primeiro baterista oficial free-lance de uma banda de rock (ou de qualquer estilo). Surpreendida, a banda precisava pensar o que fazer. Uma vez que o barba azul deu às costas àquela sala que ainda tem o cheiro dos gogós que enguliram seco o choro, a banda em um respirar que lembra o lutador abatido no corner do ringue, resolveu que precisava de um tempo.
Deu um time. Procurou o baterista. Não pessoalmente. Segundo as entrevistas (existem transcrições à esmo pela internet), a banda mandou e-mails através de Rudess e Petrucci, tentando demover do pobre coração de MP a ideia de abandonar sua criança em frente à casa de um estranho. Talentoso ou não. Não foram correspondidos em suas tentativas. Àquela altura do campeonato, Portnoy era o baterista oficial do Avenged Sevenfold.
Daí pra frente o que rolam são declarações curiosas de todas as partes do universo. A banda não abaixa a cabeça, toma providências, convoca os novos batedores-mor para um processo seletivo que causaria mais curiosidade do que o final de Lost. O restante da trupe trata com serenidade e melancolia a saída do baterista mais inventivo do rock dos últimos anos, sem fazer apontamentos mercadológicos. O discurso lairriberiano ou os textos paulocoelhinos tomam conta de cada pronunciamento: "Estamos animados com o que podemos fazer neste novo desafio". Essa frase sempre me soa como se fosse uma libertação. Pode ser apenas uma impressão.
Dezembro de 2010. Portnoy é informado por sua nova e agora ex-banda que não existe pretensão de que ele continue com eles em 2011. O empresário ainda vem a público dizendo que este sempre foi o plano original, ou seja, Mike Portnoy tinha prazo de validade no A7X: 12/2010.
E agora...
Agora, o baterista, produtor, compositor e mentor da sua ex-banda resolve pedir pinico. Resolve, três meses depois, rever sua decisão e espera compartilhar isso com seu filhote. Mais ou menos assim: "Estou te dando para um novo pai (baterista) mas sua mãe (a banda) continuará sendo a mesma. Quem sabe um dia papai volta." Só que a mãe que foi traída por uma menininha mais nova (A7x), nem foi ao encontro marcado pelo pai no Central Perk (onde Rachel, Ross, Phoebe, Joey, Chandler e Monica tomavam seu café ao final de cada dia) e apenas mandou seu advogado para que ele assinasse as cartas do divórcio. Por hora, o melhor é separação de corpos...
Agora um pouquinho de filosofia barata:
Na vida a gente pode querer muitas coisas. Na verdade, a gente pode querer tudo. Sem nunca se esquecer, que em cada querer, há uma consequencia. Digo isso sem a pretensão de dar um ar fatalista ao acontecido, mas se você pensa que certas coisas na vida podem ser tratadas como a escolha de um extrato de tomate, cada bebida tem o porre que merece. O nível do desastre ou da graça que se pode encontrar é proporcional ao peso da escolha e da decisão que foi tomada.
Uma vez dito isso e percebida toda encrenca que Portnoy se envolveu e acabou envolvendo sua banda, que teve às pressas, de montar um esquema em busca de um baterista impossível: alguém que seja melhor para o DT do que o seu próprio fundador, chegamos à conclusão que Portnoy foi sim precipitado, imaturo e passou toda a sua presepada malabarística com as baquetas para sua vida real, por assim dizer. Nesta hora, não é o fato de ter levado a banda por 25 anos nas costas, organizando de cabo à rabo, o legado e a história do grupo, que pesa para defendê-lo. Se estes fatores fossem realmente fundamentais no coração do músico, ele seria mais misericordioso com o tempo e com seu amigo de tantos anos, John Petrucci.
Tomou uma decisão. Que à contragosto foi aceita pela banda. E ali, não havia individualidade, ranço de desavença, mesquinharia. Havia todo o peso que é aceitar a separação do monstro de seu pântano. Foi a hora de se olhar no espelho, cheio de vaidade, estufar o peito e dizer: " Não tenho barriga tanquinho mas consigo fazer com que me olhem. Sou atraente ainda". Metáforas ridículas à parte, a banda - para mim definitivamente - deu um chute no traseiro de Portnoy e para acabar com essa crise matrimonial, acompanhada minuto à minuto pelos seus fãs em todos os meios de comunicação, deve anunciar ainda esta semana o substituto do baterista.
Conhecendo um pouco da história pessoal de Portnoy (assim como todos os fãs que acompanharam a saga da cachaça nas letras dos discos da banda até o derradeiro BC&SL) me atemorizo pela parte humana do semi-deus. Estar em família, descansando de tantos anos (como ele queria não era verdade?) de turnês, de discos, apresentações, workshops, produções, viagens, talvez fosse uma solução temporária para este músico que enfrenta os demônios que ele mesmo criou.
Nesta época do ano, a discussão estaria em torno do tema do próximo disco, se a banda voltaria a fazer discos como "Awake", se Myung voltaria a ter mais espaço nas composições do disco, se haveria vocal gutural, qual o sexo dos anjos, quem veio primeiro o ovo ou a galinha e etc e etc.
Acho que aquela apreensão que tomou conta dos fãs tornar-se-á pior ainda. Desejo toda sorte do mundo ao novo baterista do DT. Ele irá precisar...
Dream Theater: a saída de Mike Portnoy
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