Bandas Novas: não sejam BURRAS de pagar para tocar
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 22 de abril de 2014
Eu moro em Los Angeles. Estou aqui faz pouco menos do que 4 anos, mas, durante esse tempo, eu conheci excelentes músicos na cidade, todos talentosos o suficiente para estourar a qualquer momento. A triste realidade é, em uma cidade tão saturada de músicos incríveis, a nata não vai subir pra parte de cima da xícara tão rapidamente como subiria em outras cidades.
Todo mundo que é ótimo aqui está no mesmo nível – tendo vitórias ocasionais aqui e ali. Alguns conseguem uma turnê grande e caem na estrada. Alguns são contratados e passam pela montanha russa das grandes gravadoras. Alguns se focam no YouTube. Alguns ganham a vida trabalhando em estúdios. Alguns voam pelo país tocando em faculdades. Alguns montam no carro e excursionam pela costa e pelo interior sozinhos. Mas o que todos esses músicos não-estelares de Los Angeles têm em comum é que, quando tocamos um show na cidade, nós aceitamos acordos miseráveis. Como é que eu sei que esses contratos são miseráveis? Bem, eu já agendei centenas de shows em quase todas as grandes cidades do país e sei como as outras cidades procedem.
Isso não vai ser uma matéria sobre Los Angeles [isso daria um livro], mas sim sobre as casas que exigem que você ‘pague para tocar’.
Vamos explorar algumas das várias situações ofertadas às bandas pelas casas e produtores todo dia:
O PIOR
Exigir que as bandas comprem uma cota de ingressos antecipadamente
DO QUE SE TRATA: Tipicamente, isso acontece com ‘produtores’ que ficam de tocaia no [site] Reverbnation [antigamente era o MySpace], acham bandas ingênuas e prometem a eles apresentações em casas conhecidas. Tudo que você, a banda, tem que fazer é vender 35 ingressos [que você tem que comprar antecipadamente ou pagar antes de subir ao palco]. Mas hey, você fica com 3 dólares de cada ingresso que vender! Que bocada! Exceto por você ter que comprar os ingressos por $12 e vender a $15. Se você fizer as contas, você está ganhando 20% do que as pessoas pagaram apenas para ver você – o que é o contrato mais filho da puta na história dos contratos filhos da puta.
ISSO É JUSTO?: CLARO QUE NÃO! Como é que esses ‘produtores’ se safam desse cambalacho para cima de bandas novas que não sabem de nada e fazem qualquer coisa para tocar naquela casa – incluindo aí pagar muito por isso? Por mais tentado que eu fique a dar os nomes desses produtores filhos da puta que fazem isso [e como eu gostaria] eu não o farei e espero que um número suficiente de vocês leiam esse artigo e digam a eles, educadamente, que se fodam quando entrarem em contato com vocês [como eu já mandei muitas e muitas vezes].
+++ Historinha engraçada: No meu último ano em Minneapolis, um desses produtores ficou me enchendo o saco para tocar em uma casa na qual eu já havia sido a atração principal da noite várias vezes. Eu disse a ele que geralmente eu coloco 500 pessoas em meus shows como atração principal e não estava interessado na proposta dele [já que eu tinha uma boa relação com o dono da casa]. Ele respondeu explicando quanto dinheiro a mais eu poderia fazer com o acordinho filho da puta dele se eu colocasse 500 pessoas lá [duh!]. Eu repliquei dizendo que ‘não, obrigado’ e que por favor não me contatasse mais. Eu então fui abordado pela mesma ‘pessoa’ várias vezes por email nas semanas seguintes. Eu fiquei cada vez mais irritado, até que eu finalmente entrei em contato com o dono da casa e disse a ele o que estava acontecendo e como isso estava queimando o filme do lugar e como eles deveriam parar de trabalhar com esse organizador. O dono cancelou o próximo show dele e não trabalhou mais com essa pessoa desde então. PRONTO! Mais bandas precisam fazer isso em mais cidades.
LIÇÃO APRENDIDA: Não pague para tocar em casas legais. Você será PAGO [uma boa quantia] para tocar nelas quando você puder arrastar um público substancial até elas.
UM MUITO RUIM
A casa pega o número do cartão de crédito de alguém da banda no começo da noite para cobrir a diferença da quantidade mínima de pagantes.
DO QUE SE TRATA: Isso é quase tão ruim quando a situação anterior. Uma casa pega o cartão de crédito de uma banda no começo da noite e, a menos que um certo número de pessoas pague para ver a banda [o porteiro tem uma lista comparativa] a um preço absurdo de couvert, a casa debitará a diferença no cartão da banda. Eles geralmente exigem um mínimo de 50 pessoas para assistir você a $15 por cabeça [do qual eles ficam com 100%] e daí então dividem tudo 50/50. Então, se você colocar 100 pessoas, você sai com $375, e a casa fica com $1125. Basicamente, você está recebendo 30% SOMENTE se você colocar 100 pessoas. Se você trouxer 50, você não ganha nada. Isso acontece de fato em casas de Sunset Strip.
ISSO É JUSTO?: Não. Você e a casa deveriam estar no mesmo barco. Você se arriscou tocando no palco deles, eles deveriam arriscar em você. Eu entendo, eles estão tentando se proteger financeiramente, mas há modos muito mais éticos de se fazer isso.
LIÇÃO APRENDIDA: Se a casa não tem fé que você vai trazer público, então não aceite o show.
RUIM
Casas que cobram uma ‘taxa de aluguel’.
DO QUE SE TRATA: Casas noturnas que também abrigam eventos privados como casamentos ficaram atentas ao fato de que estavam ganhando muito mais dinheiro quando realizavam festas de casamento ao alugar a casa do que quando organizam uma noite de shows. Então elas pensaram, ‘por que não pedir às bandas quase o mesmo valor para organizar um show em nossas belas instalações?’ Eles farão você alugar o lugar por uns $1500. Você pode cobrar o quanto quiser e ficará com 100% do valor arrecadado [se tiver sorte]. Você está essencialmente fazendo as vezes de produtor. Ah, você também é músico? Hm.
ISSO É JUSTO?: Bem, não é o ideal. A casa está basicamente garantindo o seu e vai conseguir a despeito de você levar alguém ou não. Eles estão apenas admitindo que têm ZERO de chance na sua capacidade de atrair público e lhe farão um grande favor ao DEIXAREM que você toque lá [por uma quantia exorbitante].
LIÇÃO APRENDIDA: Eu geralmente aconselho a não fazer isso. Toque em outra casa que ofereça um contrato justo e padronizado. Ou, esmiúce os números e se você achar que você levará pessoas em número suficiente para fazer deste um acordo que vale a pena, mete a cara. Ajuda pagar de organizador de vez em quando.
SUSPEITO
Casas que só te pagam depois que certo número de pessoas tiver vindo ver você
DO QUE SE TRATA: Eu só vi esse tipo de acordo em Los Angeles e Nova Iorque [algumas outras cidades estão aderindo]. Basicamente, o porteiro tem uma comanda na porta com o nome de cada banda nela. A casa bola um modo à parte [padrão] para negociar com cada banda. Tipicamente, você só recebe se um certo número de pessoas [já vi de 1 a 75] pagar para lhe assistir [e não às outras bandas do evento]. Daí você recebe uma fatia do bolo a partir do primeiro tostão pago acima da cota. O que quer dizer que se o mínimo for de 35 pessoas a $10 e você levar 33, você sai com $0 [e a casa pega os seus $330 – e todas as bebidas que os seus fãs compraram]. Contudo, se você levar 35 pessoas [e o acordo for de 60%] você sai com $210.
ISSO É JUSTO?: Até é, mas não muito. Por cima, parece que eles só estão cobrindo suas despesas, MAS, se eles têm cinco bandas no programa e cada uma tem que levar 35 pessoas a $10, a casa acaba ficando com MUITO MAIS do que apenas o necessário para cobrir despensas. Se cada banda levar 30 pessoas a casa fatura $1500 [30 pessoas x $10 x 5 bandas] e cada banda ganha $50. Vai se fuder!
LIÇÃO APRENDIDA: Eu não gosto destes acordos porque eles encorajam a competição entre os artistas e não a postura ‘estamos todos no mesmo barco’ – da qual eu compartilho. Você tem 0 de incentivo para trabalhar com as outras bandas do cast para que a coisa dê certo, encorajando que os fãs fiquem do começo ao fim. Por causa disso, bandas em Los Angeles e Nova Iorque não se conhecem muito bem e tipicamente aparecem pouco antes de seu show e saem logo depois – o que aliena aos fãs também. É MUITO raro ver fãs em LA ou NYC ficarem na casa para uma noite inteira de música [por causa dessa prática]. As casas não se dão conta de que se elas parassem de oferecer tais acordos e começassem a encorajar a promoção do evento como um todo, elas ficariam com mais gente dentro por maia tempo [mais venda de bebidas]. Mas até aí, eu não mando nessas casas.
O PADRÃO
As casas deduzem um valor do montante arrecadado
DO QUE SE TRATA: A casa deduz um montante do total pago à porta antes de rachar a portaria. Eu já vi desde $50-$1500 num clube com capacidade de 700 pessoas ou menos [$1500 no Roxy da Sunset Strip]. O padrão é $50-350 dependendo do tamanho da casa. Qualquer coisa acima de $350 por uma capacidade menor do que 700 pessoas é um roubo.
ISSO É JUSTO?: Claro. Eles não precisariam contratar um técnico de som ou um porteiro se você não estivesse tocando lá naquela noite. Esse dinheiro [geralmente] vai diretamente para essas pessoas e daí a casa divide o resto com você de modo justo. Mas quando as casas começam a cobrar você por segurança e bartenders [como o Roxy], daí então você deveria reagir: ‘Ah bem, nosso pessoal do merchandise custa $100 cada noite, nosso técnico de guitarra cobra $250 e nosso gerente de groupies custa $300. Vamos deixar assim?’
O BOM
Portaria dividida totalmente
DO QUE SE TRATA: Muitas casas ficam felizes em ter você e dividirão a portaria com você desde a primeira pessoa que pague o couvert. O acordo é esse. Se 50 pessoas entrarem a $10 e você tiver uma proporção de 70/30 com a casa, você sai com $350.
ISSO É JUSTO: Com certeza. Eu vejo esse acordo de vez em quando, mas a maioria fica com pelo menos $50 para pagar o técnico de som.
O EXCELENTE
Garantia mais % da Portaria
DO QUE SE TRATA: Se você já for mais estabelecido e tiver um excelente relacionamento com a casa, você pode negociar esse tipo de acordo. Tem que ter bala na agulha, e um histórico comprovado com o lugar. As casas fazem isso por você para que você toque nelas [e não na concorrência]. Devido a seu histórico comprovado, eles se sentem seguros de que a quantidade de divulgação que eles farão trará pessoas o suficiente a seu show para que ele seja financeiramente compensador para eles.
[an error occurred while processing this directive]ISSO É JUSTO?: Com certeza. Você fez por merecer!
Há uma linha tênue entre o aceitável, ético, bom para os negócios e produtivo para a carreira.
Olhe pelo ponto de vista da casa: eles estão se arriscando a cada vez que abrem as portas para um show. Se ninguém aparecer, eles têm que perder dinheiro [porteiro, cara do som, bartender, eletricidade, calefação, refrigeração, e por aí]. Se for uma casa unicamente dedicada à música e não abrir a menos que seja para um show, então eles estão perdendo dinheiro a partir do momento em que abrem as portas, até que as pessoas [de preferência que bebam] entrem na casa.
A ideia mais errada que as bandas têm sobre esses lugares é que a casa vai divulgar seu show e trazer gente para dentro. As casas acham que as bandas deveriam divulgar seus shows e trazer pessoas. No fim das contas, os dois acabam não promovendo o show e ninguém aparece.
A razão pela qual todas as casas em A e NYC podem criar acordos tão horrendos para as bandas é porque há MUITAS bandas dispostas a aceitar tais acordos. Se uma banda se recusar, há 10 outras esperando na fila [talvez não tão boas] e que vão topar. Casas em cidades menores tendem a criar acordos melhores para atraírem as bandas boas, que trazem público. Elas se dão conta que se oferecerem acordos leoninos e uma certa quantidade de bandas não aceitar, não haverá banda alguma para tocar na casa deles e eles irão à falência.
O mais importante a se entender é: NÃO TOQUE EM UMA CASA GRANDE SE NÃO PUDER LOTÁ-LA. Faça shows em casas menores e as lote. Abra para bandas maiores em casas maiores para construir seu público. Continue lotando as casas pequenas e eventualmente você poderá passar para as grandes com bala na agulha o suficiente para arrancar um acordo justo.
[an error occurred while processing this directive]Texto original por ARI HERSTAND
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