Kisscândalo: leia um trecho da autobiografia de Paul Stanley
Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 01 de abril de 2014
Trecho traduzido para o português da vindoura autobiografia de PAUL STANLEY, "Face The Music: A Life Exposed", a ser lançado no dia 8 de Abril pela editora HarperOne.
[...] "Peter pendurava um cartaz todo dia contando regressivamente o número de dias restantes da turnê de despedida. Ele começou a pintar uma lágrima abaixo de sue olho. Eu achava que aquilo o deixava parecido com o famoso personagem Weary Willie, de Emmett Kelly, o trágico palhaço que viajava com o Ringling Bros. Circus, e com o Barnum & Bailey Circus. E quanto ao resto de sua maquilagem, era como se ele tivesse esquecido de como fazê-la. Ele começou a parecer um urso panda, com grandes retângulos em volta de seus olhos.
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A turnê foi horrível. Sofrimento e drogas eram constantes. Gastamos toda nossa energia tentando arrancar Peter e Ace para fora de seus quartos de hotel. Ace deu um soco do nada em Tommy em um dos shows. Peter tinha sua costumeira série de exigências sobre como o staff dos hotéis deveria tratá-lo e quais janelas deveriam ser cobertas com papel alumínio e tudo mais. Nós nunca sabíamos se chegaríamos a um show na hora certa, e quando subíamos ao palco, nunca sabíamos se acabaríamos o show. Quero dizer, se um cara tem problema para por maquilagem, como é que ele vai tocar? Sem surpresa alguma, os shows ficavam bem ruins ás vezes.
Eu estava puto com Peter e Ace por serem desrespeitosos em relação a tudo que tínhamos conseguido e tudo que os fãs estavam nos dando. Eu comprei a ideia de que aquilo tinha acabado. O fim do Kiss. Não havia para onde ir. Era insuportável.
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Estávamos engaiolados musicalmente também – basicamente tocando as mesmas 17 músicas que tínhamos ensinado a eles para a reunião inicial. Essa era a terceira turnê com o mesmo set list. Peter e Ace simplesmente não davam mais conta. A bitola já estava batendo no vermelho. Eu tinha que inventar respostas absurdas em entrevistas sobre o porquê de estarmos tocando as mesmas músicas. Eu não podia simplesmente dizer, "porque Peter e Ace não conseguem mais aprender nenhuma outra."
Certa noite, durante um show, Doc McGhee tentou chamar minha atenção do lado do palco, fazendo gestos para mim e apertando seu nariz.
Huh?
"Vocês estão uma merda!", ele ficava repetindo. "A porra do Peter está tocando devagar demais", eu disse a ele. Doc correu para trás do praticável da bateria e começou a fazer o mesmo gesto para Peter. "Peter, você está tocando devagar demais!" "Bem, eles também estão!", Peter respondeu. "De que diabos você está falando?" Doc gritou. "Você é o porra do baterista!". Em outra noite, Peter tinha um novo problema. Ele parou de tocar no meio de uma música e só levantou as baquetas e me olhou como se pego de surpresa. Eu gritei, "Toca!" e comecei a bater meu pé de modo que ele pelo menos começasse a bater nas peles de novo. Isso aconteceu em mais de uma ocasião.
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Um músico bem famoso – que tinha assistido à banda muitas vezes – chegou em mim um dia e disse, "Eu não posso mais vir aos shows. É doloroso demais ouvir isso."
O pior sentimento para mim era ler resenhas descendo o pau nos shows e pensar, "isso está totalmente certo". Era uma vergonha enorme, porque a banda podia ter sido ótima e não foi. O drama fora do palco e a hostilidade e o ressentimento e a trairagem estavam afetando a música. E daí tinha a droga. Quando Ace tinha uma noite livre e fazia um monte de cagadas, brincávamos dizendo que a o bagulho dele estava estragado.
Teria sido ótimo nos despedirmos com glória musical; ao invés disso, estávamos nos arrastando. Em certo momento, tiramos um dia para repassarmos as músicas e ajustar as coisas. Ace não apareceu para um dos ensaios. Ele disse que não estava se sentindo bem porque ele tinha doença de Lyme – um mal transmitido por um carrapato de veados. Peter, o grande gênio que ele é, disse, "Conversa fiada! Ele nunca foi mordido por um veado!"
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Eu estou morando num hospício?
No dia 11 de agosto de 2000, tínhamos um show em Irvine, Califórnia, depois de uma semana de folga. Ace tinha passado a semana em Nova Iorque. Tínhamos uma regra de que se qualquer um de nós fosse viajar de avião pro outro lado do país em um voo comercial para chegar a um show, ele tinha que chegar um dia antes – apenas para ter uma margem de segurança, caso houvesse uma tempestade ou um problema mecânico ou o que fosse. Não queríamos ter que cancelar shows.
Um dia antes do show em Irvine, Tommy tinha arrumado uma limusine para pegar Ace e levá-lo ao aeroporto. Ele sempre fazia com que a limusine chegasse horas antes porque era a mesma labuta para tirar Ace de casa ou do hotel. Daí, todos nós ficávamos sentados esperando pelo progresso na situação dele. O horário marcado para pegá-lo era meio-dia no horário da Costa Leste.
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Às 1:30PM, Tommy ligou para a limusine, "O Sr. Frehley precisa ir."
"Hm, senhor, ele ainda não saiu da casa."
Mais meia hora se passou. Tommy e Doc tentaram falar com Ace ao fone, ligando para a casa dele. Sem resposta. Depois de ligar outras cinco vezes, para lá, eles finalmente o contataram.
"Ace, você tem que entrar no carro – você vai perder seu voo."
"Tem um problema… uh… eu estou doente…" Milhões de desculpas. Eles ficaram reagendando Ace em voos cada vez mais tarde. A limusine voltava a cada vez, até as 7 e depois 8 da noite. "O passageiro não saiu da casa, senhor", dizia o chauffeir a cada vez.
Tommy conseguiu colocar Ace no fone de novo. "Tem mais um voo hoje à noite, o último."
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"Okay", disse Ace. "Eu prometo."
Mas, novamente, na hora marcada, nada aconteceu. "O passageiro ainda não saiu da casa, senhor."
Vôo perdido.
No dia seguinte havia o show. Ace começou o dia do outro lado do país. Por algum pequeno milagre, contudo, ele chegou ao aeroporto pela manhã, foi recebido por um representante, e levado a seu avião.
O tráfego do aeroporto de Los Angeles até o local do show seria um problema sério. Então arranjamos para um helicóptero ficar esperando no Terminal 4, onde Ace iria desembarcar, e levá-lo ao local do show pelo ar. Desse modo, ele provavelmente chegaria a tempo para tocar.
Daí recebemos uma ligação. "Bem, temos boas e más notícias."
"As boas notícias são que Ace realmente está no avião. A má é que o avião tem um problema mecânico e está atrasado." Naquela altura, Doc mandou Tommy parar tudo que ele estivesse fazendo e que fosse para o show. Ele teria que se apresentar.
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Nós viajávamos com um traje de Spaceman confeccionado especialmente para Tommy – como uma apólice de seguros. Um traje totalmente novo, com botas e tudo mais, feitos para o corpo de Tommy sempre vinha junto nos cases do figurino. Nós sabíamos que Tommy daria conta do recado, mas nunca tinha o feito pra valer.
"Vocês são como super-heróis", disse Doc. "Então Tommy Thayer vai interpretar a Batman hoje? Ainda é o Batman."
Tommy colocou a maquilagem e se vestiu. Enquanto isso, estávamos recebendo notícias sobre onde Ace estava à medida que a hora do começo do show se aproximava. Ele aterrissou… o passageiro está no helicóptero… a 70 km…
Ace entrou no camarim cerca de 20 minutos antes do horário previsto para a apresentação. Ele olhou para Tommy – totalmente caracterizado, com a guitarra, pronto pra ir – e só disse, "Ah, hey, Tommy, como vai?"
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Atrasamos o show por uma hora, Ace colocou sua maquilagem, e tocamos.
O fato de viajarmos com uma roupa para Tommy não parecia incomodar Ace. Ele via tudo isso como uma graça – algo entre uma piada e uma ameaça vazia. Mas estávamos 100 por cento prontos para subirmos ao palco com Tommy. Não o vestimos daquele jeito para dar uma lição em Ace; nós o fizemos porque tínhamos um show para fazer. O mesmo tipo de comportamento inconsequente tinha levado a uma espiral descendente de décadas e agora ameaçava afundar o barco. Aquilo era um salva-vidas.
Ainda assim, Ace continuou a pensar e agir como se ele fosse insubstituível. Ele continuou a mostrar total desconsideração por todo mundo, continuando a agir como se fossemos abençoados por tê-lo. Ele se parabenizava por chegar ao show.
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"Isso não vai rolar", Doc disse a mim e a Gene. "Esses caras são péssimos. Eu administro uma empresa de agenciamento, não a Cruz Vermelha. Eles não me mandam para países destruídos para reconstruir as coisas. Eu não salvo pessoas. Vocês tem que fazer mudanças." [...]
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