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Blu-ray Audio: o que os fãs de Rock e Metal lucram com o formato?

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 15 de maio de 2014

Desde o fim do ano de 2009, o formato Blu-ray em sua variação dedicada ao mercado de audiófilos, o Blu-ray Audio, tem andado a passos bem curtos como único representante das mídias tangíveis a sobreviver ao avanço da internet e a disponibilidade de arquivos de alta fidelidade totalmente de graça e permutados incessantemente pela rede afora. Após a derrocada do HD-DVD e da pífia ofensiva do DVD-Audio, esperava-se que o Blu-ray Audio, ou BDs, como são conhecidos, despontasse como única peça colecionável para aqueles que buscam uma reprodução cada vez mais apurada de suas peças favoritas, mesmo que a larga maioria deste segmento fosse composta por colecionadores que já possuem edições de obras clássicas em outros formatos de alta resolução, como o SACD.

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Chegou a anunciar-se um encodamento 3.0 específico para players somente de conteúdo fonográfico em 2010, ideia que, a essa altura do campeonato, já foi esquecida, enterrando de vez a possibilidade de players automotivos de BDs. Contudo, todos os players de Blu-ray existentes provem áudio LPCM de alta resolução e em codec DTS lossless, usando a tecnologia multicanal da Dolby por meio de uma conexão HDMI, então a necessidade real de um player somente de áudio é descartada.

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No ano passado, a Sony por fim resolveu por fim abrir mão de seu mítico e outrora inatingível encodamento para a mídia SACD, acenando às gravadoras com a possibilidade de estas revirarem seu catálogo pregresso [o mais rentável e seguro] e relançá-lo no bitrato 24 bits/96 kHz – ou em qualidade ainda maior – no mercado de downloads pagos. A decisão de disponibilizar o DSD veio aliada ao lançamento de uma estratégia intraconvergente que inclui também a chegada às lojas de players de arquivos digitais de virtualmente toda e qualquer extensão, versatilidade essa reforçada pela inclusão, nesta nova linha de hardware, de portas para conexão à internet e firmware rastreador de novos plug-ins e equações para leitura de novos tipos de arquivos. que possam ser predominantes no futuro. A Sony ainda teve a sagacidade de planejar o alinhamento de seu firmware para DSD com o sistema operacional para telefonia móvel Android, que já é presente em alguns de seus receivers, assim como os de outras marcas japonesas como a Yamaha. Os primeiros players portáteis de DSD [e FLAC, WAV, APE, AAC, MP3, etc...] chegam às lojas do Japão no segundo semestre.

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A correta e racional retomada do áudio de qualidade pela gigante nipônica assustou e muito a Apple, que se sentava confortavelmente no trono de líder da disseminação da música via web na América do Norte, onde o iTunes impera [seguido pela Amazon] e aparelhos portáteis da marca são predominantes, ainda que com versatilidade e qualidade duvidosas [a Apple ainda ignora a extensão FLAC, uma favorita dos fãs, para tentar firmar seus próprios codecs lossless, a ponto de o sistema operacional iOS 7, pifiamente, processar áudio em até 16 bits – o que deve ser mudado no iOS 8, programado para surgir esse ano], junto ao gritante – sem trocadilhos – desconforto da qualidade dos fones de ouvido fornecidos por ela.

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Mas onde fica o BD nisso tudo? A verdade é que os aficionados por reprodução fonográfica maximizada abraçam toda e qualquer nova tecnologia que venha acrescentar faixa dinâmica a seus registros favoritos, e estão ávidos para acoplar um módulo de DSD a seus setups, mas não abrem mão do aspecto lúdico da mídia física, seja lá qual for.

Contando – inteligentemente – com isso, os selos estão apostando em 2014 como o ano do estabelecimento do BD no nicho dos audiófilos, e uma leva considerável de lançamentos chega ao comércio esse ano.

Dentre os títulos já existentes a se conferir de modo a vivenciar in loco todo o potencial do meio está "Dark Side Of The Moon" do Pink Floyd, rebatizada aqui como "Dark Side Of The Moon Immersion Edition", e que inclui o espetacular remix em 5:1 conduzido por James Guthrie [previamente disponível em SACD] e também as versões em 4.0 [ou quadrafônica, como queira] feita por Alan Parsons em 1973 e o estéreo original, todas as três em áudio LPCM 96/24. Há pouca ou nenhuma distinção entre o remix em 5:1 desta edição e o SACD – é de se presumir que o trabalho tenha sido feito em 96/24 e então convertido para DSD no caso do remaster em SACD. O conteúdo no geral é uma festa para ouvidos e olhos: são seis discos, com extras abundando proliferamente.

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Outro decano do rock progressivo dos anos setenta, o Rush, também foi lembrado com ‘Moving Pictures‘ um combo de Blu-ray com CD que traz remixagens em 5:1 tanto em LPCM 96/24 como em DTS-HD Master Audio [amplitude reforçada sem parcimônia neste segundo], ale de um mix estéreo dois canais em 96/24.

O canadense Neil Young, ele próprio um audiófilo atormentado [vide seu player de alta resolução, o ‘Toblerone’ PONO, em processo de manufatura no momento] teve todo seu catálogo de 1963 a 1972 revisitado de modo mais ambicioso: áudio 192/24 sem compressão em dois canais para nove discos, e uma décima mídia abriga seu primeiro filme, "Journey Through The Past", com trilhas de som em 5:1 DTS e estéreo 96/24.

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Seu amigo estadunidense, Tom Petty, vem com duas reedições: a de "Damn The Torpedoes" em 5:1 LPCM e áudio DTS-HD Master, além de um mix estéreo, e "Mojo", em áudio DTS-HD Master 5:1 e estéreo LPCM 48/24.

Como se deve concluir, o ramo da música sinfônica é sempre o primeiro a tirar vantagem das novas tecnologias de som, e neste cenário não é diferente: desde que o BD deu seu primeiro passo, há uma infinidade de lançamentos no formato, e chega a ser difícil pensar em reedições ou mesmo novos títulos que não estejam à venda em BD ou em download de alta resolução.

O Pure Audio Blu-ray é a base de uma interface com o usuário recomendada pela AES – a Audio Engineering Society. Desenvolvida pelo msm Studios, a Pure Audio Blu-ray possui um item que torna os players de Blu-ray muito mais versáteis, a mShuttle, que permite que qualquer player conectado à internet possa ser acessado através do navegador [via Mac ou PC] naquela rede, de modo que o conteúdo possa ser baixado do disco. Não há necessidade de nenhum programa a mais para conectar o computador ao player, apenas o número de IP do último, facilmente detectável por meio do menu de configurações do player.

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Deste modo, alguns discos Blu-ray – de seletos selos - com áudio em FLAC de dois canais de toda a música contida em alta resolução [assim como em qualidade de CD - 44.1/16] pode ser reproduzido em seu notebook ou telefone celular. Tais arquivos já são vendidos sem proteção contra cópia na própria mídia, e também possuem um scan da capa em sua metadata.

Claro, você precisa ter um player habilitado para executar arquivos FLAC em eu computador, mas essa é uma questão facilmente resolvível.

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Alguns apontam para uma suposta e bastante subjetiva inferioridade do áudio LPCM 96/24 em relação ao DSD usado nos SACDs, tendo como possível causa o pré-eco na trilha de áudio dos filtros de 48 kHz necessários para o LPCM. Ainda assim, as gravações em discos Blu-ray são em 192/24 LPCM [estéreo] /ou em áudio DTS-HD Master [192/24 [5:1], e ajustar o filtro para até 96 kHz parecem eliminar as diferenças audíveis entre o LPCM e o DSD [técnica que se sustenta cada vez mais mediante ás recorrentes acusações de malefícios à saúde auditiva causados pela frequência em 192 kHz].

Os discos em BD são uma prova absoluta e cabal de que a tecnologia de áudio multicanal para apreciação doméstica é uma realidade irresistível e que chegou para ficar, e que, em tese, deverá ser cada vez mais difundida, e, portanto, financeiramente acessível. Então por que razão, motivo ou circunstância você não se depara com seus discos favoritos em BD em grandes magazines como as Lojas Americanas, Saraiva FNAC ou mesmo em seus respectivos sites na web?

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O problema é que, quando as gravadoras receberam subsídios multimilionários para lançar títulos em SACD e DVD-Audio do catálogo pregresso de seus artistas mais certamente rentáveis, elas não tiveram a resposta comercial que acharam que iriam ter, em grande parte graças à ascensão do compartilhamento de arquivos no alvorecer do século e, complementarmente, no caso do Brasil e o resto do Terceiro Mundo, à galopante e indiscriminada pirataria. Consequentemente, poucos artistas considerados populares podem insistir em ter seus trabalhos antigos e novos lançados em gravações multicanais de alta qualidade.

Junto a isso, a ganância desmedida destas mesmas gravadoras gerou taxas escorchantes e proibitivas de licenciamento para que seus títulos de acervo fossem reeditados em edições limitadas por selos menores interessados em atender a uma demanda específica do mercado. As ‘majors’ não veem o licenciamento para remasters de luxo em alta resolução como um ganho a mais que elas não teriam de outro modo, e exigem quantias absurdas para liberá-los, o que começou a mudar quando uma delas – a própria Sony, produtora de hardware muito antes de ser uma gravadora – viu na combinação de sua presença nos dois frontes como uma arma a ser usada. Segundo alguns selos menores dos EUA e Reino Unido, ‘praticamente tudo’ dos baús da Sony pode ser revirado e lançado em DSD, o que deve provocar uma mudança bastante significativa no cenário de venda de downloads.

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O futuro dos BDs e como ele atingirá você? Resolva a equação Blu-ray player/Playstation + Internet + Celular com Android e o resultado será seu envolvimento com ele. Cada vez mais, a experiência da reprodução fonográfica se aproxima do fã de rock, e não se afasta dele, como alguns podem pensar. Uma feira para desenvolvedores de jogos para vídeo game sendo realizado esse mês no Brasil começa a propor que conteúdos exclusivos de mídias como as do PS4 não necessitem de cartão de crédito para serem comprados, o que seria feito automaticamente por meio de créditos de seu aparelho celular. Alie isso ao desparecimento das tomadas em no máximo 10 anos [a energia carregará os aparelhos por meio de ondas, tal como proposto há mais de um século pelo gênio Nikola Tesla] e o empecilho de arquivos de alta resolução drenarem muita energia da bateria de um dispositivo móvel sumirá, fazendo com que uma integração completa de qualidade, conveniência acesso e portabilidade transite livremente entre lar, transporte [particular ou público], trabalho e lazer.

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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