Scott Weiland: Duff McKagan salvou vocalista em outra época
Por Igor Hidalgo
Postado em 07 de dezembro de 2015
Baixista revelou ter ajudado ex-colega de VELVET REVOLVER a largar drogas
"Para Scott Weiland: siga em frente, meu amigo". Assim o ex-baixista do GUNS N’ ROSES e do VELVET REVOLVER, Duff McKagan, fez uma das dedicatórias no final de seu livro, "É Tão Fácil e Outras Mentiras", lançado em 2011. O guitarrista e vocalista do LOADED contou, em sua obra literária, que anteriormente salvou das drogas o antigo frontman do VR e do STONE TEMPLE PILOTS, que trabalhava com o WILDABOUTS e faleceu em 3 de dezembro.
Depois de deixar o GN’R, em 1997, McKagan prosseguiu com outros projetos musicais até montar nova banda (VELVET REVOLVER) com os ex-companheiros Slash e Matt Sorum. Por volta do final de 2002, início de 2003, o grupo iniciou os trabalhos e procurava um vocalista. Após receberem muito material, testar diversas pessoas, nenhum era unanimidade para os três ex-gunners e o guitarra-base do bando, Dave Kushner.
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Duff conheceu Weiland através da esposa, Susan, que era amiga da companheira do vocalista, Mary. Scott tinha problemas com o STP na época e, assim que houve o anúncio da separação do grupo pertencente ao movimento grunge, o nome apareceu naturalmente. Mas McKagan disse que a princípio estava reticente com a possibilidade da entrada de Weiland no VR, porque ele ainda passava por alguns períodos de abuso de drogas.
"Eu não convivia mais com alguém em estado de vício total há oito anos", conta. Mesmo assim o convidou e houve o acerto. "Ele estava muito acima de qualquer outro que havíamos visto ou escutado", enaltece McKagan. O vocalista utilizou as demos das canções "Fall to Pieces", "Set Me Free" e "Big Machine", transformando-as em excelentes petardos. Após a inclusão da segunda destas canções na trilha do filme Hulk, de Ang Lee, as coisas iniciavam bem para o novo ‘supergrupo’.
SUMIÇO
No entanto, Scott simplesmente desapareceu. "Ele estava no fundo do poço com seu vício em crack e heroína", narra Duff. "Tentamos muito ajudar, mas ele já havia passado várias vezes por reabilitações", emenda. Até que Weiland decidiu voltar ao centro de reabilitação. Após nova fuga do colega, McKagan foi a um apartamento em Los Angeles confrontar o drogado vocalista, que ao invés de revidar os gritos do baixista, suplicou uma ‘última ajuda’.
Weiland quis saber como Duff ficou sóbrio por meio das artes marciais, ciclismo e corrida. "Ele precisava de um tratamento diferente. Implorou", conta. Pelo fato de também ser pai, teve piedade e resolveu colaborar. O cara que ajudaria Scott era um professor de kung fu chamado Joseph. Na mala para um chalé em região montanhosa e distante da perigosa LA, Duff levou medicamentos de desintoxicação.
Exercícios de meditação eram a primeira arma para combater os espasmos de abstinência de Weiland, naquele local que mais parecia um "monastério chinês escondido". Comida saudável também ajudaria na reabilitação. "Coloquei Scott na dieta que me havia feito tão bem durante o primeiro ano de sobriedade", descreve. A ideiaz era desintoxicar e manter o corpo do colega exausto e confuso o bastante para não fazer nada além de dormir.
Com o sucesso do single "Set Me Free", a expectativa sobre o VELVET REVOLVER aumentara e Duff McKagan tinha a missão de resgatar Scott Weiland, apelidado na ocasião de "Homem do Campo". As semanas se passaram e o vocalista estava pronto para regressar e trabalhar em mais material que Slash, Duff, Matt e Dave compuseram no ano anterior para o futuro álbum inicial, denominado Contraband.
Depois de trabalhar alguns anos com os músicos, incluindo turnês ao redor do mundo e outro disco – Libertad –, Weiland não conseguiu deixar os tóxicos de lado e teve nova recaída, resultando na expulsão do VR. Em seguida houve um revival do STONE TEMPLE PILOTS, mas novos problemas com drogas resultaram na exclusão definitiva do grupo que o revelou ao mundo. Por fim, nova tentativa de seguir na indústria musical, desta vez com o grupo THE WILDABOUTS, e a morte aos 48 anos, noticiada em 3 de dezembro de 2015.
MAIS CASOS
Em seu livro, Duff relata o sofrimento com outros casos trágicos consequentes de drogas. Ele sofrera em outra época a perda de West Arkeen, que colaborou com o GUNS N’ ROSES e havia lutado contra o vício em crack e heroína desde 1985, quando se conheceram. O falecimento do coautor de sons como "Yesterdays", "The Garden" e "It’s So Easy", em maio de 1997, entristeceu profundamente McKagan, que tentou reabilitar o colega das drogas.
No caso de Arkeen, antes de deixar o GN’R não podia ajudá-lo, uma vez que se encontrava "muito fodido" – palavras do próprio baixista. Mas depois de deixar a banda de Axl Rose chamou o músico e o encaminhou para treinar no dojo. West apareceu e assustou a todos com as cicatrizes de agulhas e abscessos no corpo. "Provou ser um aprendiz dedicado e se lançou de cabeça nos treinos. Percebi que nas artes marciais havia encontrado o que precisava, assim como eu", compara.
Entretanto, segundo Duff, depois de alguns meses percebeu que o amigo subitamente havia deixado de aparecer no dojo. Após tentar entrar em contato diversas vezes com Arkeen, Duff se sentiu ‘feito de otário’ e, quando o colega tentou retornar ligações, o ignorou. O arrependimento depois seria doído. "Senti que havia abandonado West", confessa McKagan. "Talvez eu pudesse ter feito algo mais", acrescenta.
E uma passagem marcante vivenciada por Duff diz respeito ao líder do NIRVANA, Kurt Cobain, outro que passava por maus bocados devido ao uso indevido de drogas. No dia 31 de março de 1994 o gunner foi ao Aeroporto de Los Angeles tentar pegar voo para Seattle. O genial e depressivo líder da banda de Seattle esperava o mesmo voo e os dois começaram a conversar.
INFERNOS
Kurt Cobain havia acabado de fugir de uma clínica de reabilitação e McKagan recorda que os dois estavam "fodidos" na época. Ambos conseguiram assentos próximos e conversaram durante todo o trajeto. "Eu estava no meu inferno e ele estava no dele. Parecia que nos entendíamos", detalha o baixista. Quando desembarcaram em Seattle, Duff pensou em convidar Kurt para conhecer sua casa. "Tive a impressão de que ele estava solitário e sem companhia naquela noite. Assim como eu", pondera McKagan. Mas devido ao alvoroço no aeroporto os dois se separaram em meio à multidão e Cobain correu para uma limusine que o esperava. Poucos dias depois o empresário de Duff o comunicou que Kurt fora encontrado morto em sua casa em Seattle, depois de disparar uma arma contra a própria cabeça. Ó destino cruel no rock!
Enfim, Duff "king of beers" McKagan serve de exemplo de superação aos junkies que acabam tragados pela morte por meio dos entorpecentes. Foram anos de consumo excessivo, principalmente de vodca e cocaína. Os resultados vieram com a queda de chumaços de cabelo, dores nos rins ao urinar, septo nasal queimado e sangrando, pele rachada das mãos e pés e erupções no rosto e pescoço.
Mas depois Duff conseguiu dar a volta por cima, deixando as drogas, se graduando em Administração e virando homem de negócios no ramo artístico, sendo colunista semanal no Seattleweekly.com e ESPN.com, assim como um exemplar pai de família. Mesmo parecendo clichê a questão de sobreviver a tormentas na vida pessoal e se gabar, inclusive contando em livro, o fato é que McKagan fez a sua parte, tentando ajudar alguns colegas. E ponto.
Igor Hidalgo, 32, é jornalista e mora em Nova Odessa/SP (região de Campinas)
Morte de Scott Weiland
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