Neil Peart: O (provável) fim do Rush
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collectors Room
Postado em 03 de março de 2016
Aconteceu o seguinte: em uma entrevista, Neil Peart, baterista do Rush, declarou ver com tranquilidade a possibilidade de não fazer mais shows. A fala de Neil foi essa: "Recentemente, minha filha Olivia me apresentou aos seus amiguinhos de escola dizendo que eu era um baterista aposentado. É uma verdade, embora seja engraçado ouvir. Como acontece com atletas, chega o momento de sair do jogo. Estou fazendo isso há 40 anos, mas me sinto mal em ficar longe da minha filha por semanas. O pior não é sentir saudades, mas saber que ela sente minha falta. Há um sentimento de culpa ao fazer uma criança passar por isso".
Foi o suficiente. A imprensa começou a dar destaque para a notícia, repercutindo a declaração de Peart. Tanto que os outros integrantes do Rush tiveram que responder a respeito. Com a palavra, Geddy Lee: "Não há muito a dizer. Acho que ele apenas estava expressando seus motivos para não querer mais fazer turnês, devido ao que acontece com seu corpo. É tudo que posso comentar". Algumas semanas antes da entrevista de Neil, tanto Lee quanto Alex Lifeson disseram em entrevistas que o futuro do Rush era uma incógnita, pela insistência de um dos integrantes em não excursionar novamente.
Mais recentemente, tanto Geddy quanto Alex declararam que gostariam de seguir tocando e compondo juntos, mas que Neil já não aguenta mais a rotina, o esforço e tudo o que envolve um show de três horas do Rush quase todas as noites. Segundo o baixista, Peart está feliz ao lado da família e em ótimo estado mental, aproveitando a vida e se sentindo muito bem.
Precisamos falar um pouco sobre Neil Peart. O músico está com 63 anos. No Rush, toca desde 1974 - ou seja, entrou na banda com 22 e está nela há 41 anos. Com Lee e Lifeson, Peart construiu uma carreira formidável. Com a banda, foi reconhecido não apenas com um dos melhores bateristas do mundo, mas também pelo seu incrível poder imaginativo, manifestado nas letras do grupo.
Então, em 1997 a vida de Neil mudou completamente. Num espaço de apenas dez meses, o baterista passou por uma grande tragédia familiar. Em 10 de agosto daquele ano, Selena, sua única filha, de apenas 19 anos, faleceu em um acidente da carro. Sua esposa, Jacqueline, entrou então em uma depressão profunda, falecendo vítima de câncer no dia 20 de junho de 1998. Totalmente arrasado e sem chão, Neil Peart pegou a sua moto (uma BMW que havia ganhado de presente de Jacqueline) e saiu sem rumo. Foi andar, andar e andar. Saiu do Canadá, foi para o norte do país e percorreu 88 mil quilômetros em estradas de gelo, fugindo do que deixou para trás. Toda essa experiência está contada no livro "A Estrada da Cura" (lançado no Brasil pela editora Belas Artes), onde o músico afirma que dirigia sem sentido porque assim conseguia focar em algo que não deixava o seu cérebro pensar sobre as perdas que havia sofrido. Neste período, Geddy e Alex só recebiam notícias de Neil através dos cartões postais enviados pelo baterista. A banda quase acabou na época.
Mas a vida precisava seguir em frente - e seguiu. Neil conheceu a fotógrafa Carrie Nuttall, e o casamento aconteceu em 2000. Com a vida voltando aos eixos, Peart chamou Lee e Lifeson pra conversar e o trio reativou o Rush. Seis anos após o seu último álbum, a banda retornou em 2002 com "Vapor Trails". No final de 2009, Olivia Louise Peart, primeira (e até agora única) filha de Neil e Carrie, nasceu. E foi justamente a pequena Olivia, na sabedoria dos seus 6 anos, que revelou ao mundo o que Lee e Lifeson já sabiam, mas não queriam admitir: Neil Peart cansou de tudo e quer curtir a vida com a família, longe dos palcos.
Peart construiu um legado enorme. Os álbuns que gravou com o Rush influenciaram e inspiraram gerações de ouvintes. E sua história ficou ainda maior ao superar uma terrível tragédia pessoal e retomar sua carreira, mostrando enorme respeito pela música, pelos colegas de banda e pelos fãs.
Neil merece descansar. Está com 63 anos, com uma filha de 6, construindo e curtindo uma nova família depois de tudo que passou. Faz todo sentido querer viver outra realidade, com a certeza de que já fez a sua história na música. Eric Clapton vive situação semelhante. O guitarrista, atualmente com 70 anos, também perdeu um filho de maneira trágica (Conor, de 4 anos, falecido em 1991 depois de cair da janela do quinquagésimo-terceiro andar do apartamento de sua mãe, em Nova York), encontrou na música a força para se reencontrar, casou novamente e hoje é pai de três pequenas meninas: Julie Rose (14 anos), Elle May (12) e Sophie Belle (10). E, como Peart, também sinalizou não ter mais desejo de realizar longas turnês e tocar em lugares distantes.
O fato é que nossos ídolos estão envelhecendo, e cabe a nós, fãs, respeitarmos os desejos dessas pessoas que nos acompanharam durante toda a vida, inspirando nossas próprias trajetórias com a música incrível que criaram.
Fique na boa, Neil. Relaxe, Eric. Tudo que vocês precisavam fazer, já fizeram. Vocês tem direito de parar. Curtam suas vidas tranquilos, vocês merecem.
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