Quando o Engenheiros do Hawaii escapou por um triz de um tiroteio em Moscou
Por Bruce William
Postado em 26 de março de 2023
Um curioso episódio aconteceu com o Engenheiros do Hawaii em 1989, na época em que a banda estava realizando a "Variações sobre a mesma tour", para divulgar o seu terceiro álbum, "Ouça o que eu digo, não ouça ninguém", lançado em dezembro de 1988 pela gravadora BMG por meio do selo Plug, que havia sido criado no ano anterior para lançamentos de bandas nacionais de rock dentro da gravadora RCA.
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Conforme relata Arthur Dapieve no livro "BRock - O Rock Brasileiro dos Anos 80", a gravadora havia mandado material de todo seu cast para a então União Soviética, e os russos ficaram entusiasmados com os Engenheiros e convidaram a banda para se apresentar por lá, no que seriam cinco shows em Moscou e Leningrado (São Petersburgo). "Simples assim", diz Arthur. "Gessinger, Maltz e Licks mandaram traduzir 'Terra de gigantes' e 'A revolta dos dândis I' para o russo e embarcaram num voo Rio-Compenhague-Moscou no dia 29 de setembro, para fazer dez shows, cinco em cada cidade".
A equipe para os shows era super enxuta, diz Alexandre Lucchese no livro "Infinita Highway: Uma Carona com os Engenheiros do Hawaii". "Além de Gessinger, Licks e Maltz, estavam junto com a banda um representante da gravadora, uma produtora e um técnico de som. Sasha, que ficou sabendo por terceiros da chegada do grupo e foi ao aeroporto apenas por curiosidade, acabou se agregando ao time".
Sasha era o músico porto-alegrense Alexandre Cavalcante, que havia sido amigo de Augustinho Licks e havia deixado Porto Alegre em 1983 após ganhar uma bolsa de estudante do Partido Comunista, indo morar em Moscou. "Não foi uma coisa muito organizada. Fui ao aeroporto, e lá viram que eu falava português e russo. Na hora, me contrataram como intérprete, pois não tinham ninguém para a função. Também acabei sendo roadie e ajudando no que mais foi preciso nesses dias" disse Sasha em relato publicado no livro do Lucchese.
E Arthur conta no livro dele que a banda ficou hospedada em um complexo de hotéis chamado Smailov, e que a organização garantia que todos os ingressos haviam sido vendidos, mas no primeiro show a banda se assustou ao entrar no palco e se deparar com meia dúzia de pessoas na plateia. "A organização, porém, não mentira: na velha USSR, o fato de as cooperativas comprarem todos os ingressos não significava que eles seriam realmente utilizados" relata o autor, e em seguida contando que aquele primeiro show foi apenas um susto: "Felizmente para os Engenheiros, as outras quatro noites realmente lotaram - uma delas só com militares" diz Arthur. Os shows de Leningrado acabaram sendo cancelados.
Mas susto mesmo aconteceu no restaurante do hotel em Moscou, conforme contou Lucchese, onde Humberto jantava todas as noites e havia se tornado familiar à equipe e pessoas próximas, que ele cativava com atitudes como bancar toda a despesas de um grupo de turistas cubanos só para que eles se sentassem à sua mesa. Aquilo angariou a simpatia de uma garçonete do local, que num determinado momento, em tom de camaradagem, resolveu dar um aviso para o Sasha: "É melhor vocês saírem daqui. Em instantes, haverá uma briga".
Sem entender direito o recado mas compreendendo o risco, eles imediatamente foram deixando o local. "Quando estavam na porta do restaurante, um estrondo os fez entender que era preciso ter mais pressa. Os estampidos foram se sucedendo, enquanto Gessinger e Sasha corriam para longe do tiroteio, que fazia balas zunirem acima da mesa que há pouco estavam ocupando", conta Lucchese. "Era uma cidade com códigos e funcionamento de algum modo compreensíveis para habitantes como aquela garçonete, mas absolutamente inacessível para um estrangeiro.
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