O profundo significado do enigmático refrão de "Ouro de Tolo", clássico de Raul Seixas
Por Gustavo Maiato
Postado em 19 de abril de 2024
O álbum "Krig-ha, Bandolo!" lançado por Raul Seixas em 1973 traz no seu tracklist uma das músicas mais aclamadas da carreira do músico baiano – a inconformada "Ouro de Tolo". Apontada por diversas listas como a melhor música de sua carreira e uma das mais relevantes da música brasileira, trata-se de um hino contra a estagnação do espírito. Uma reflexão sobre a passagem do tempo e como se leva a vida no automático.
O refrão da música traz os seguintes versos: "Eu é que não me sento / No trono de um apartamento / Com a boca escancarada, cheia de dentes / Esperando a morte chegar / Porque longe das cercas embandeiradas / Que separam quintais / No cume calmo do meu olho que vê / Assenta a sombra sonora dum disco voador".
O site Psicanálise Clínica explica que "Ouro de Tolo" tem a ver com o fato de Raul Seixas ter obtido sucesso, mas não estar satisfeito com sua vida. Isso é claramente exposto no refrão inconformado.
"Se Raul conseguiu tudo que quis, por que continuava insatisfeito? Que epifania o fez mudar de ideia? E as alusões autobiográficas ao período de dureza que passou no Rio depois de vir de Salvador para trabalhar em gravadora? É curioso também Raul dizer que teve sucesso na vida como artista, quando nenhum de seus discos anteriores havia vendido nada. É Raul ironizando Raul", diz o texto.
Já o site Memória Sindical mostra como a canção aborda o Brasil na ditadura, sendo uma "bofetada no inconformismo nacional"
"No dia 7 de junho de 1973, Raul Seixas convocou a imprensa para registrar sua aparição em plena Avenida Rio Branco, no Centro do Rio, violão em punho, cantando a música ‘Ouro de Tolo’. Deu certo: a cena foi exibida no Jornal Nacional, horário nobre da TV. A canção era uma bofetada no conformismo nacional diante das vantagens ilusórias oferecidas pela ditadura.
‘Ouro de tolo’ é o nome que se dava na Idade Média às promessas de falsos alquimistas. Transpondo a ideia para a década de 1970, Raul Seixas reduz a nada as aspirações da classe média que apoiou o milagre econômico da ditadura: a euforia regada pela estabilidade social do cidadão respeitável e por uma visão religiosa conformista era simplesmente um ‘ouro de tolo’".
Sobre o trecho do refrão que diz que Raul não vai ficar sentado esperando a morte chegar, o site Fala Fera diz: "Às vezes, esse é o ponto em que muitas pessoas da classe média chegam. Ficam esperando a morte chegar, sem mais esperanças de mudanças, solitárias e com um vazio gigantesco no peito".
Por fim, o Músicas e Suas Histórias reflete sobre qual seria o real ouro cantado por Raul, que não é o de tolo: "Assim, transpondo para os próprios ideais e aspirações de Raul Seixas na época, percebe-se que ele indica que o verdadeiro ouro estava no despertar da consciência individual, visando à construção da Sociedade Alternativa, e não no discurso ufanista e triunfalista da ditadura militar da época, junto com seu suposto milagre econômico. Logo, o disco voador ao final da letra seria uma referência a essa nova sociedade a ser construída".
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