Erasmo Carlos tentou enganar censura fingindo homenagem a filha de amigo em letra
Por Gustavo Maiato
Postado em 21 de janeiro de 2025
A história de como a música "Maria Joana", de Erasmo Carlos, enfrentou a censura na ditadura militar revela o clima de repressão da época. No livro "Contos do Rock", Erasmo detalha o episódio em que tentou driblar os censores com uma justificativa curiosa, envolvendo o amigo e letrista Nelson Motta.
"Com a contracultura dos anos 60, aquela coisa maravilhosa, o mundo dominado pela filosofia hippie do paz e amor, faça amor, não faça guerra, logicamente aquilo gerou muitos modismos, e um dos modismos principais foi a maconha, a descoberta das drogas. E aquela coisa toda foi logicamente e imediatamente adotada pelos intelectuais e pelos artistas do mundo inteiro, inclusive por mim", escreve Erasmo no livro.
A inspiração para a música veio durante uma viagem a Israel. "Eu fui numa boate em Tel Aviv, e quando entrei tinha um som louco, um calypso maravilhoso, e o cara falava ‘I like marijuana, I like marijuana’. E eu disse: ‘Vou fazer uma música chamada Maria Joana’."
No entanto, a censura logo barrou a canção, enxergando na letra uma apologia à maconha, algo inadmissível sob o regime militar. Erasmo tentou contornar o veto com um argumento inusitado: "Eu fiquei numa sinuca: que eu vou fazer, que eu vou falar lá com os ‘hômi’? Aí lembrei que eu tinha lido no jornal que meu amigo Nelson Motta, que era casado com a Mônica na época, esse casal ia ter uma filha e o nome dela seria Joana", recorda.
"Liguei pro Nelson e disse: ‘Vou dizer que fiz a música pra sua filha’, e o Nelson falou: ‘Mas, Erasmo, a minha filha não se chama Maria Joana, ela se chama Joana’. E eu digo: ‘Cara, vou dizer que ela ia se chamar Maria Joana, depois vocês desistiram, tiraram o Maria, e eu já tinha feito a música’. Mas não colou. Não colou não", conclui.
A música acabou sendo lançada apenas em disco, sem permissão para execução em rádios ou shows. "Então eu nunca tinha cantado essa música até agora", confessa o Tremendão, que viu o veto limitar o alcance de uma obra que, segundo ele, representava o espírito libertário de sua geração.
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