Gessinger, como Lobão, não entende porque os anos oitenta são considerados "a década do rock"
Por Bruce William
Postado em 04 de janeiro de 2025
Humberto Gessinger começou sua trajetória musical influenciado por grandes nomes do Rock Progressivo como Steve Howe e Rick Wakeman, a ponto de ter admitido que "Wish You Were Here", clássico do gênero lançado pelo Pink Floyd em 1975, é o álbum que provavelmente ele mais ouviu na vida: "Talvez de volume eu tenha ouvido mais Rock Progressivo do que MPB, mas eu tive a sorte de viver na época em que a MPB de grande qualidade tocava no rádio, além da geração do Belchior, os nordestinos, os mineiros. Porque geralmente quem curtia MPB não queria saber de rock progressivo, mas essa mistura um pouco implausível é que me formou".
Mas houve um momento em que ele começou a sentir que a complexidade técnica desses ídolos tornava a música algo inalcançável. Foi com a chegada do Punk e sua abordagem mais simples que ele encontrou motivação para começar a tocar. "Se é bonito tocar mal, tô nessa", brincou, relembrando o impacto daquela mudança de perspectiva.
Durante os anos 80, Gessinger percebeu que muitos artistas e fãs abandonaram o Progressivo e o Hard Rock, cortaram os cabelos e se voltaram ao New Wave ou ao Punk, algo que foi mencionado também por seu contemporâneo Lobão: "Era um pecado mortal você dizer que gostava de Led Zeppelin nos anos oitenta". Humberto, no entanto, continuou ouvindo as "velharias" que outros descartaram. Para ele, essa década foi uma redefinição completa do que era considerado rock and roll, especialmente no Brasil.
"Eu fui meio otário assim até os anos oitenta, porque todo mundo da minha geração - o Renato Russo ouvia as mesmas coisas que eu, rock progressivo - a gente dizia que ouvia as coisas do momento, mas eu ouvia aquela velharia que são os discos que todo mundo jogou fora, todo mundo jogou fora as coleções de Led porque mudou a agenda. Depois, todo mundo comprou os discos de novo. Era uma agenda", comentou.
A ideia de que os anos 80 foram a "década do rock" que existe aqui no Brasil é uma interpretação equivocada para Gessinger, pois ele acha que o advento da tecnologia no período causou uma mudança geral na estética musical, que só seria retomado na década seguinte. "Os anos oitenta para todo mundo não foram anos de Rock and Roll. Foram anos da digitalização dos teclados. Volta um pouquinho depois com as hairbands, que também não são lance legal, mas volta a ser esse Rock and Roll meio assim obscuro com a coisa do Grunge, mais assim, Soundgarden e tal. É muito louco porque, pro Brasil, ficou (marcado) os anos oitenta, que foram os anos menos Rock and Roll."
Mas ele pondera que, apesar de ter sido o período "menos roqueiro" que houve, o talento dos músicos suplantou todas as circunstâncias da época e gerou algo que ficou para a história: "Às vezes fico pensando... Será que foi uma concentração de gente de talento? Acho que o que talvez aconteça hoje é que nós tenhamos ficado mais preguiçosos como ouvintes, menos generosos, muito pragmáticos e não damos chances da gurizada desafinar nas primeiras músicas autorais deles. Já queremos o refrão antes da introdução."
Para Humberto, os tempos mudaram e hoje existe uma certa impaciência de que tudo dê certo, o que impede que as coisas levem o tempo necessário para serem experimentadas: "A nossa geração correu muitos riscos. Todo mundo tinha algo de 'foda-se', sem prestar muita atenção em querer fazer as coisas certas. Hoje em dia vejo a molecada muito pragmática. Isso ao invés de facilitar, tá prejudicando o caminho deles. A gente tinha vergonha de ser parecido com outra banda. Hoje em dia os caras tem orgulho de dizer: Minha banda é parecida com isso, com aquilo... Caralho! Mas... De fato, essa geração dos 80 construiu um repertório muito interessante, além do que a estrada passou a ser uma coisa importante, fazendo surgir um ambiente ao redor".
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