O álbum que mistura Titanic, John Lennon e Leonardo DiCaprio — e que Bob Dylan não curte
Por Gustavo Maiato
Postado em 20 de maio de 2025
Lançado em 11 de setembro de 2012, o 35º álbum de estúdio de Bob Dylan, "Tempest", é uma obra densa e com temas sombrios — mas, curiosamente, não era o disco que Dylan queria ter feito. Em entrevista à Rolling Stone e também em outras resgatadas pela Far Out, ele revelou a frustração com o resultado: "Não foi o álbum que eu queria fazer. Eu tinha outro em mente. Queria fazer algo mais religioso."


Apesar de elogiar a força narrativa das faixas, Dylan admitiu que não tinha o material necessário para seguir sua intenção original: "Intencionalmente, canções especificamente religiosas eram o que eu queria fazer. Mas eu simplesmente não tinha o suficiente. ‘Tempest’ é um disco em que tudo vale e você simplesmente tem que acreditar que vai fazer sentido."
Gravado no estúdio de Jackson Browne, em Los Angeles, o álbum contou com a banda que acompanha Dylan nas turnês: Tony Garnier (baixo), George G. Receli (bateria), Donnie Herron, Charlie Sexton e Stu Kimball (guitarras), além de David Hidalgo, da banda Los Lobos, que toca guitarra, violino e acordeão. O resultado são composições que oscilam entre o violento e o terno, o mítico e o confessional.

A faixa-título, "Tempest", tem quase 14 minutos e narra, com detalhes imaginativos e melancolia épica, o naufrágio do Titanic. "Eu estava só brincando com a melodia uma noite. Gostei muito dela. Pensei: ‘Talvez eu me aproprie disso’. Mas para onde eu iria com ela?", contou Dylan.
Na canção, ele mistura tragédia histórica, referências bíblicas e até cultura pop — sim, Leonardo DiCaprio aparece na letra. "Sim, Leo. Não acho que a música seria a mesma sem ele. Ou o filme."
Sobre as licenças poéticas, Dylan defende a liberdade do compositor: "Um compositor não liga para o que é verdade. Ele liga para o que deveria ter acontecido. É o próprio tipo de verdade dele."
A faixa "Roll On, John" encerra o disco com uma delicada homenagem a John Lennon. Há também faixas como "Tin Angel", um conto sombrio sobre obsessão e perda, "Soon After Midnight", aparentemente romântica, mas possivelmente vingativa, e "Pay in Blood", marcada pelo refrão cruel: "

Embora o título tenha levantado especulações sobre uma possível aposentadoria, Dylan foi direto ao refutar a teoria de que Tempest seria seu álbum derradeiro: "A última peça de Shakespeare se chamava The Tempest. O nome do meu disco é só Tempest. São dois títulos diferentes."
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