O "gênero esquecido do rock" que subiu ao topo das paradas nos anos 1980, segundo a Veja
Por Gustavo Maiato
Postado em 07 de junho de 2025
Em um cenário dominado por nomes como Madonna, Bruce Springsteen, Dire Straits e Tears for Fears, o rock progressivo parecia um gênero enterrado pela indústria fonográfica nos anos 1980. Mas, como lembra o jornalista Felipe Branco Cruz na coluna "O Som e a Fúria", da Veja, um "fenômeno improvável de popularidade" subiu ao topo naquele ano: a banda britânica Marillion, com o álbum "Misplaced Childhood".

Lançado em junho de 1985, "Misplaced Childhood" alcançou o primeiro lugar nas paradas do Reino Unido, desbancando "Boys and Girls", de Bryan Ferry, e permaneceu entre os mais vendidos por 41 semanas. Inspirado na infância e nas dores emocionais do vocalista Fish, o álbum foi um retorno surpreendente ao formato de álbum conceitual — estrutura em que as músicas giram em torno de uma temática comum, muitas vezes contando uma história. O disco abordava temas como desilusões amorosas, sucesso repentino, amadurecimento e alienação emocional.


O destaque inicial do disco foi "Kayleigh", uma balada com riff marcante do guitarrista Steve Rothery. A faixa, com pouco menos de quatro minutos, contrariava a lógica das composições longas típicas do prog rock e se tornou um hit imediato, alcançando a segunda posição no UK Singles Chart. Na sequência, "Lavender" repetiu o êxito e chegou ao quinto lugar. Segundo Veja, o sucesso do álbum levou a crítica a batizar o movimento como neo-prog, uma nova onda do rock progressivo que ganhava força com roupagem moderna.
Outro detalhe curioso: "Misplaced Childhood" foi concebido em meio a um momento de crise pessoal de Fish. Parte das letras foi escrita durante uma viagem de LSD, em uma espécie de "vômito criativo", como o próprio cantor descreveu. As gravações ocorreram na Alemanha, no lendário estúdio Hansa Tonstudio, em Berlim, em meio a porres de tequila e a primeira experiência de Fish com heroína. A gravadora EMI sequer sabia o que a banda estava produzindo.

O impacto do disco foi tão grande que, em 2003, a revista Classic Rock o elegeu como o quarto maior álbum conceitual de todos os tempos. Já a revista Kerrang! o colocou na lista dos melhores discos de 1985. Em 2017, o álbum ganhou uma edição de luxo com remixagem em som 5.1 por Steven Wilson, além de faixas inéditas e gravações ao vivo.
Quase 40 anos após o lançamento, "Misplaced Childhood" segue como referência obrigatória do rock progressivo moderno — um testemunho de que, mesmo em uma década marcada por sintetizadores e estética pop, ainda havia espaço para ousadia lírica, estrutura épica e emoção crua. Como escreve Felipe Branco Cruz, o feito do Marillion "foi uma façanha espantosa". E uma lembrança de que, às vezes, até gêneros esquecidos podem renascer — e fazer história.

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