Bandas de Rock e Metal apostam em jogos, itens exclusivos e experiências além da música
Por Luis Fernando Ribeiro
Fonte: Hell Yeah Music Company
Postado em 17 de agosto de 2025
O lançamento do single "Enter The Behelit", da banda finlandesa de Heavy Metal, Beast in Black, evidenciou uma tendência que tem sido cada vez mais incorporada aos lançamentos, serviços e produtos de bandas e artistas de Rock e Heavy Metal: a necessidade de entregar ao seus admiradores e potenciais novos fãs uma experiência que vai além da música. A iniciativa visa, além de incorporar a experiência do ouvinte, trazer algum destaque para a banda em meio a uma verdadeira avalanche de lançamentos que acontecem todas as semanas e que disputam a atenção do público.
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Essa busca por inovação demonstra novas estratégias de marketing e também uma reconfiguração na forma como o público consome música. Em vez de apenas ouvir, os fãs são cada vez mais convidados a interagir, explorar narrativas, colecionar itens ou participar de universos expandidos criados pelas bandas. Esse envolvimento mais profundo fortalece o vínculo emocional com o artista, amplia a fidelidade da base de fãs e posiciona a música como parte de uma experiência mais ampla e sensorial.
Neste contexto, a diversidade de iniciativas e produtos criados por bandas de Rock e Metal tem se expandido consideravelmente. Ao longo desta matéria, vamos explorar uma série de exemplos dessas inovações, destacando desde itens exclusivos e colaborações inovadoras, ou ao menos audaciosas, tanto de bandas internacionais quanto do cenário nacional. A proposta é mostrar como essas ações têm transformado a relação dos fãs com seus ídolos, criando um novo paradigma para o consumo de música.

Confira abaixo a playlist que destaca as músicas e lançamentos associados a essa matéria.
Voltando ao exemplo do Beast in Black, o lançamento de "Enter The Behelit" protagonizou uma colaboração entre três pilares da cultura pop: a lendária franquia Diablo, da Blizzard Entertainment, que revolucionou o mercado de jogos de RPGs; o icônico mangá Berserk, de Kentaro Miura; E a própria Beast in Black em si, representada por sua gravadora, Nuclear Blast. Lançado em 28 de abril de 2025, o single foi integrado à versão mobile do jogo Diablo Immortal. Foram produzidos apenas 200 exemplares em vinil marmorizado preto e vermelho do single, com arte especial desenvolvida em conjunto pelas equipes de Diablo e os detentores dos direitos de Berserk. A capa destaca elementos de Diablo IV, enquanto a contracapa apresenta arte de Diablo Immortal. O pacote inclui ainda um tapete zoetrópico para toca-discos, adesivos da banda, fotos exclusivas dos bastidores e artes conceituais criadas pela equipe de Diablo IV para esta colaboração. "Enter The Behelit" vem acompanhada de um videoclipe exclusivo dirigido pela premiada diretora Katri Ilona Koppanen, apresentando uma animação inspirada em Diablo e Berserk, incorporando o amor da banda pelo mangá e pela arte gótica de Diablo, dando vida à história da música.

Outra aposta ligada ao universo dos RPGs veio do Blind Guardian, uma das bandas mais influentes da história do Power Metal. Em vez de lançar uma nova música, o grupo alemão decidiu ampliar sua mitologia com o jogo de tabuleiro "From The Other Side". Inspirado em seu universo lírico, o board game apresenta o Blind Guardian como o guardião dos Reinos da Imaginação, que convoca quatro heróis — o Ferreiro, o Conjurador, o Menestrel e o Sentinela — para impedir o despertar do Dragão das Trevas. Com miniaturas detalhadas, cartas, dados e um tabuleiro completo, o jogo entrega uma experiência digna de grandes campanhas de fantasia. No Brasil, "From The Other Side" estreou durante o festival Bangers Open Air, com exclusividade no estande da Tanelorn Heavy Metal Shop, responsável também pela distribuição nacional dos jogos de bandas como Therion, Rhapsody of Fire, Powerwolf e Sabaton.


Também no Bangers Open Air, o supergrupo brasileiro, Ready To Be Hated, formado por Luis Mariutti, Thiago Bianchi, Fernando Quesada e Rodrigo Oliveira, fez o show de estreia de seu álbum de estreia, "The Game of Us". O álbum apresenta uma proposta única e inovadora: o encarte do CD se desdobra em um tabuleiro jogável, com regras, objetivos e 43 casas inspiradas em fatos da trajetória dos integrantes. Acompanhado de um design meticuloso e sombrio, o projeto convida o ouvinte a mergulhar — casa por casa, faixa por faixa — nos altos e baixos de vidas dedicadas à música, à superação e à resistência. A venda do álbum acompanhado do jogo está sendo realizada através do site da loja Planeta Rock.

O próprio Angra, banda original de Luis Mariutti, já havia apostado anteriormente, ainda que em outro formato. A arte icônica de "Angels Cry", álbum de estreia do grupo, ganhou vida como um quebra-cabeça oficial lançado pela Corbe Toys, também responsável pelo mesmo produto para a arte da capa do disco "Brasil", do Ratos de Porão.
Ainda no cenário nacional e mais uma vez explorando o universo dos games, a banda de rock alternativo, Ingrime, apostou no formato retrô dos jogos de computador para ampliar a experiência do single "Apenas Estranhos", lançado em 2024. O lançamento da música - ainda que protagonista - veio acompanhado de um videoclipe animado e um jogo no formato indie plataforma, no qual o jogador percorre cenários que dialogam diretamente com a letra da música e com a trajetória da banda. Já em 2025, o grupo voltou a surpreender ao revisitar seu álbum de estreia sob uma nova ótica, relançando as faixas no formato LoFi Beats. O álbum, que originalmente explorava elementos do indie e rock alternativo, ganha uma nova atmosfera relaxante e introspectiva, perfeita para os amantes desse gênero crescente nas plataformas digitais, especialmente no YouTube.

Antes de lançar seu aguardado álbum "Skeletá", um dos destaques de 2025, os suecos do Ghost haviam estreado o álbum "Rite Here Rite Now", trilha sonora de um filme homônimo exibido nos cinemas do mundo todo em parceria com a Trafalgar Releasing. O longa combina elementos narrativos inspirados em uma websérie criada pela própria banda — que explora personagens fictícios e suas histórias — com cenas ao vivo registradas durante os dois últimos shows da turnê norte-americana Re-Imperatour de 2023, realizados no Kia Forum, em Inglewood, Califórnia.


Esse formato ganhou força especialmente após o lançamento de Through the Never, do Metallica, que se destacou por fugir do modelo tradicional de documentário. O filme combina cenas de um show ao vivo da banda com uma narrativa de ficção, centrada nas desventuras de Trip, um jovem roadie encarregado de uma missão urgente durante uma apresentação do Metallica. Ao deixar o estádio, ele embarca em uma jornada caótica e imprevisível. Embora tenha um enredo ficcional, a história está intimamente ligada à performance da banda, que ocorre paralelamente aos eventos vividos por Trip.
De forma similar, ainda que de maneira bem mais modesta, os alemães do Destruction, uma das principais bandas do Thrash Metal mundial, lançaram em 2025 o documentário "The Art Of Destruction", também transmitido nos cinemas, retratando alguns dos anos mais desafiadores da história da banda. No Brasil, a sessão de estreia do documentário contou com a presença da própria banda, que estava no país para se apresentar no Bangers Open Air.


No universo das histórias em quadrinhos — e reforçando a necessidade constante de reinvenção até mesmo entre os maiores nomes do rock e do heavy metal, como já demonstraram Metallica e Ghost — o Megadeth celebrou seus 35 anos de carreira, em 2019, com o lançamento da coletânea "Warheads on Foreheads", acompanhada por uma HQ de 350 páginas inspirada nas músicas da banda. O projeto contou com contribuições de nomes de peso como a artista espanhola Belén Ortega, o criador de Metalocalypse Brendon Small, o ator Dan Fogler, o comediante e quadrinista Andy Belanger, entre outros.

Outro destaque marcante no universo dos quadrinhos é a adaptação de uma das obras de ficção mais icônicas do heavy metal: o álbum conceitual "Abigail", do lendário King Diamond. O roteiro ficou a cargo do premiado escritor Dan Watters, em colaboração com o próprio King Diamond. No Brasil, a obra é publicada pela editora Estética Torta, responsável também pelas edições nacionais de "Templo das Sombras" e "Renascimento", do Angra, "Holy Diver", do Dio, "Among the Living", do Anthrax, entre outras.


Expandindo suas fronteiras para além dos palcos e estúdios, muitas bandas têm investido na criação de seus próprios festivais como forma de estreitar laços com os fãs e proporcionar experiências imersivas. Um dos exemplos mais emblemáticos é o Knotfest, idealizado pelo Slipknot a partir de 2012. O evento incorpora elementos visuais, temáticos e sensoriais que refletem a estética sombria da banda, incluindo áreas temáticas, instalações interativas e performances que ampliam a experiência do público. Além do Slipknot, o Knotfest reúne nomes consagrados do metal mundial, como Deftones, Lamb of God, Anthrax, Bring Me the Horizon e Judas Priest, entre outros. No Brasil, o festival teve edições em 2022 e 2024, trazendo também uma forte presença nacional com bandas como Project46, Black Pantera, Sepultura, Oitão, Jimmy & Rats, Ratos de Porão, Krisiun, Eminence, Kryour, Ego Kill Talent, Korzus, Papangu, The Mönic e Eskröta.

Por fim, além dos produtos oficiais e dos festivais tradicionais, uma experiência que tem ganhado destaque entre os fãs de rock e heavy metal são os cruzeiros temáticos. Eventos como o 70000Tons of Metal, o Full Metal Cruise e o brasileiro 89 Rock Boat oferecem uma proposta única: transformar um navio de cruzeiro em um verdadeiro palco flutuante. Durante vários dias em alto-mar, os fãs têm acesso a shows diários, encontros com os artistas, festas temáticas, sessões de autógrafos e outras atividades exclusivas, tudo em um ambiente intimista e imersivo.
Essas iniciativas mostram que, mais do que nunca, o rock e o metal estão se reinventando e encontrando novas formas de se manterem vivos, relevantes e conectados com seu público. Em um cenário onde a música sozinha muitas vezes não basta para garantir visibilidade, bandas têm apostado em narrativas expandidas, produtos colecionáveis, experiências imersivas e eventos personalizados para criar vínculos mais profundos com seus fãs. Esse novo modelo de consumo, que mistura arte, interatividade e vivência, transforma o ato de ouvir música em algo maior: um universo a ser explorado, sentido e vivido intensamente. O futuro do gênero talvez não esteja apenas na música, apesar dela ainda continuar sendo o principal pilar desse universo, mas na capacidade de contar histórias e criar mundos nos quais o público queira habitar.

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