Como punks "mentiam descaradamente" para criar abismo geracional, segundo Regis Tadeu
Por Gustavo Maiato
Postado em 06 de setembro de 2025
A história do punk sempre foi marcada pelo discurso de ruptura. Desde os anos 1970, bandas como Sex Pistols e Ramones ficaram conhecidas por ridicularizar o rock progressivo, o hard rock virtuoso e toda a grandiosidade que dominava o cenário musical. O famoso lema "do it yourself" pregava simplicidade, crueza e negação de tudo que havia antes. Mas, segundo o crítico musical Regis Tadeu, boa parte dessa postura não passava de marketing ensaiado.
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Em conversa com André Barcinski, no canal dele, Regis destacou que os próprios músicos do movimento punk ajudaram a alimentar esse abismo — mesmo que, nos bastidores, ouvissem e admirassem justamente aquilo que diziam detestar.
"Os próprios músicos do punk faziam questão na época de criar esse abismo. Embora fosse um abismo mentiroso, pegava bem para o John Lydon, por exemplo, meter o pau no Pink Floyd, falar que odiava Pink Floyd. Mas muitos anos depois ele declarou que gostava de Pink Floyd, gostava de Hawkwind, gostava de Van der Graaf Generator", afirmou.

Regis Tadeu e os punks
Para o crítico, a crítica musical da época apenas reforçou o discurso, mas não foi a responsável por inventá-lo. "Nesse ponto não, a crítica não teve um papel preponderante nesse abismo. Esse abismo foi criado pelos próprios personagens do punk, que mentiam descaradamente dizendo que não gostavam de Van der Graaf. E o John Lydon era fãzaço de Van der Graaf, Hawkwind e Pink Floyd", completou.
Barcinski, que acompanhava a análise, lembrou do episódio em que o vocalista dos Sex Pistols apareceu com a famosa camiseta "I Hate Pink Floyd". "Depois ele falou bem das bandas do krautrock, das alemãs dos anos 60. Já os Ramones, em todas as entrevistas dos anos 70, diziam que odiavam Emerson, Lake & Palmer, odiavam progressivo. Mas depois, com o pós-punk, tudo mudou. O Blondie, por exemplo, começou a flertar com reggae e hip hop. O Robert Fripp, do King Crimson, tocou com o Bowie em Heroes. E até o Killing Joke começou a colocar teclados meio progressivos ali", observou.

Essa ambiguidade, segundo Tadeu, mostra como a construção da "rebeldia punk" era mais uma estratégia de choque do que uma realidade musical. O crítico citou casos de músicos que, anos depois, admitiram sua admiração por artistas do rock progressivo. "A maioria dos punks adorava Rick Wakeman. É que ninguém queria falar. Mas tinha muito disso: uma rivalidade fabricada. O The Damned, por exemplo, era amigo do pessoal do Eddie and the Hot Rods, mas em entrevistas sacaneava os caras", contou.
Confira a entrevista completa abaixo.

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