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Melhores de 2013: As escolhas do colaborador Ronaldo Celoto

Por Ronaldo Celoto
Postado em 29 de dezembro de 2013

I - É Sempre Difícil Fazer Uma Lista dos Melhores

O ano de 2013 foi marcado por grandes álbuns, que trataram de reviver a atmosfera dos bons e velhos trabalhos de rock/blues/metal, sem tantas inovações. Ouvi e apostei mais nos "dinossauros". Entre estes, resolvi destacar os trabalhos que, acredito, compõem os melhores lançamentos (na minha opinião) para este ano, sem diferenciar categorias, apenas apontando pela ordem de preferência, aqueles discos que contém músicas inéditas nos primeiros lugares, e, os álbuns "ao vivo" ou "acústicos" que por ventura tenham saído, a seguir nesta ordem de preferência, por respeitar primeiramente as novas criações.

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Acredito também, que alguns discos ficam melhores vistos/ouvidos do que apenas ouvidos, e, portanto, indiquei também, o que penso ser o "melhor formato" para cada álbum. Entendo que existe uma diferença muito impactante entre o que se vê e o que se ouve, dependendo do artista. Eu sei que os trabalhos lançados em DVD/BLU-Ray normalmente também são lançados em CD. Mas, há bandas que, se vistas e também ouvidas, traduzem uma magia infinitamente superior. Há algumas em que a sonoridade fala por si, e, se visualizadas, acabam até mesmo, por perder certa atmosfera. Alguns dirão que sou louco ou que estou "por fora" em achar isto, mas é uma questão pessoal. Posso facilmente citar neste exemplo, o impacto que é assistir o antológico show "Ziggy Stardust" (DAVID BOWIE) gravado no espaço do ´Hammersmith Odeon´ em 1973, enquanto as canções são destiladas, e, apenas ouvir o disco, sem a presença visual impactante de BOWIE e a oportunidade de presenciar o seu conjugar andrógino/lascivo para com a platéia que o assistia. Ou também, como segundo exemplo, o inesquecível "68 Comeback Special" de ELVIS PRESLEY, nitidamente superior em vídeo (pois estamos vendo e sentindo a magia acústica do "Rei", vestido com roupas de couro e a reinventar suas canções de forma carismática e a entreter-se com o público com maestria) do que apenas em CD (onde não percebemos todo este encanto).

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Mas, detalhes à parte, vamos à lista dos dez selecionados e dos outros dez que receberam menção honrosa, lembrando que escolhas são pessoais, e, por isto, devem ser respeitadas, sob todo e qualquer prisma de liberdade e democracia. E, aproveito desde já para agradecer à whiplash.net pela grandeza de suas publicações, pela gentileza e pela oportunidade.

II – Os Escolhidos

1 – MARCELO NOVA – 12 Fêmeas

Este é o disco fundamental de MARCELO NOVA. Desde "Blackout" (1991) ele não fazia algo tão espetacular e consistente. O melhor dentre todos os discos de músicas inéditas, que foram lançados em 2013. Um mergulho nos pesadelos e nas fantasias de um ícone da música, passeando pela lisergia de ALLEN GINSBERG, e, vez em quando, flertando com BOB DYLAN, DYLAN THOMAS, TOM WAITS, CHET BAKER, violoncelos, folk, blues, carregado de uma assombrosa e magnífica cortina de lirismo ácido.

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É o disco que mais me emocionou em todos os sentidos, neste ano de 2013. E, permito-me falar um pouco de suas canções, antes que elas se evaporem na eternidade dos clássicos.

Em "Claro como a Luz", é latente o desejo tomando forma de um guerreiro solitário, entre goles narcóticos de uma quase casa de campo, a observar uma lareira que estranhamente nunca se apaga:

"Ao norte da escuridão
Ouço os coiotes uivando
E ao som da tentação
Eu ouço a sua voz me chamando".

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São lampejos de breu e alucinação, ou apenas um simples blues de um homem que resolveu prestar tributo às mulheres em toda a sua divindade, ressaltando, ao invés da figura dos doze apóstolos de Cristo, doze fêmeas.

"Mas minha língua esta cheia de veneno
Minha alma repleta de buracos
Minhas veias intupidas de rancor
Meu sótão está lotado de macacos".

Enquanto isto, o violoncelo de ANTONIETA MINELLA e o bandolin posterior adicionam uma poesia dramática.

"Inverno Impiedoso" carrega um blue despretensiosamente DYLAN, mas não um BOB qualquer, e, sim, um ébrio trancafiado em seu quarto, um ALEX (Laranja Mecânica) que sabe que não abrir a janela e saltar simplesmente. Esta música poderia muito bem chamar-se "Blues Para o Diabo". E enquanto você, ouvinte, pensa estar dentro de uma tragédia previamente anunciada, surge a música seguinte simplesmente chamada "Eu Lhe Vejo Em Sonhos", lírica com requintes de southern rock dos melhores.

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"Sempre penso em você quando vou me deitar, pois só no mundo dos sonhos posso lhe encontrar", diz MARCELO, acompanhado pelos meninos DRAKE NOVA (guitarras e violões), LUIS DE BONI (piano e órgãos, contrabaixo), AIDAN DRUMMOND (gaita de fóles), ANTONIETA MINELLA (violoncelo), GOBA WANGKA (percussão), LEANDRO DALLE (bateria) e CÉLIO GLOUSTER (baixo), que dão a tona instrumental por todo o álbum.

E a rouquidão explícita do amor confesso prossegue:

"Eu lhe vejo em sonhos
Voando bem acima do caos dessa cidade
Acordo excitado, você do meu lado
Acho que não sei mais distinguir
Sonho de realidade".

Em seguida, nasce a melódica "Anjo Doce Anjo" dramatiza de forma exponencial a sonoridade, maravilhosamente. Belíssimo momento de MARCELO a rasgar toda a sua dor em forma de prece. Há muitos requintes de pérolas épicas como "A Ferro e Fogo" em todo o disco. Esta é mais uma delas.

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"A dor ainda é a mesma
Ela só aumentou de nível
Como uma faca cortando
O pescoço do seu bom rapaz
Como um verme corroendo
Tudo que for capaz
Como uma ilha de ódio
No seu oceano de paz".

É um embrião ainda híbrido, prestes a explodir e lançar fogo. Genial, diga-se de passagem! E com belo trabalho de guitarras lisérgicas!

"A Minha Inveja" é uma carta romântica que inaugura uma preciosa parceria entre MARCELO e DRAKE. Nela, temos um PABLO NERUDA em momentos de erotismo, travestido de HENRY MILLER em nuances de adultério com ANAÏS NIN. Afinal, a inveja também é uma forma de amor. E, não por acaso, MARCELO diz:

"Eu invejo o sol
Que derrete seu gelo
Faz seus dias mais longos
Aquece seus pelos
Faz seus pranto secar
E faz transpirar
Ilumina seus passos
Na sua noite um farol.
Eu invejo o vento
Que sussurra em seus ouvidos
Ele arrepia as coxas
Suspende seu vestido
Afasta seus medos
E sopra os cabelos
Afaga seus lábios
Varre seus pensamentos.
Eu invejo a chuva
Que você tanto gosta
Roçando sua nuca
Desce pelas suas costas
Que toca sua língua
Banha os seus olhos
Ele molha as mãos
Caindo como uma luva"

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É uma ode balzaquiana, também. Além de navegar no rio do erotismo, também permeia-se entre as pernas de toda e qualquer mulher, sem idade, sem frescuras, apenas direta, numa densidade holográfica quase narcótica.

"Blue Eyes" é um folk gostoso e simples, como que um marinheiro que mergulha em oceanos e nunca se afoga, a selva urbana que continua a estacionar-se nos portões da escuridão, a noite que não termina e o dia que não chega, as fronteiras que transformam o amor em distância, e, por fim, o naufrágio do mencionado marujo, que oceano algum conseguiu provocar, apenas os olhos azuis de uma bela mulher.

"O Nome do Jogo" revela antecipadamente, que a paixão é um jogo violento e perigoso. E não por acaso, um homem surge como narrador da canção, trancafiado em um quarto de motel barato, a descrever a sujeira urbana, enquanto lá dentro, há beleza em suas lágrimas, e, mesmo que esta beleza não seja pronunciada como alguns poemas clássicos, ela dói tanto quanto o ultra-romantismo.

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"Paixão é um jogo violento e perigoso
Com seus arames farpados seu terreno pantanoso
Era verão eu esperei você voltar pra mim
Mas o sol apaga a dor de tudo enfim.
Você me fez vir, você me faz voltar
E eu sigo quebrando o que não sei consertar.
O sino da igreja bate lá fora
E ele chama seu nome a cada hora
Eu vejo o seu rosto quando anoitece
Então o sino para você desaparece"

E lá vamos nós, enxertados de melancolia, a uma anunciada "Temporada No Inferno", nome da próxima canção. É a canção que rasga o ciúme e a saudade, e, ironiza, de forma domadora, o amor que quer dizer algumas verdades face a face para sua amada/amante.

"Jogue no lixo seus conceitos tão modernos
E bem vinda a outra temporada
No inferno
O que você lembra é mentira
E eu já esqueci da verdade
Então não vá acorda os mortos com o barulho
Da sua ansiedade
Só procure controlar
O seu pavor interno e bem vinda
A outra temporada no inferno"

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Belo trabalho instrumental da banda, num formato "reggae acústico" bem embrulhado ao blues, e, enquanto a noite chega dançando, e, as mentiras e jóias tornam-se falsas, as ´nóias´ não cessam, e, diante do espelho, surge uma total estranha, que de repente, a mulher a quem foi destinada a canção, parece conhecer de algum lugar, os desejos e enganos se igualam, e, todos se transformam na prova viva do imenso mal gosto de Deus. Eis a metáfora que MARCELO quer nos mostrar: viver é sobreviver. E isto é, algumas vezes, o inferno.

"O Ódio da Mão Que Afaga" é uma canção de amor limpa, autobiográfica e testamental. É uma carta recém-aberta, de uma alma que se coloca ao inteiro dispor, para recontar os erros e acertos, e, dizer: alô ou adeus, dependendo para qual caminho ambos querem seguir. Bela poesia de MARCELO. Senão vejamos.

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"Aqui estão os desertos e areias do nosso passado
Aqui está minha sede e o seu cantil furado
Aqui estão os rastros, pegadas da nossa dor
E a minha alma vazia, ao seu inteiro dispor
O que ontem achamos, hoje se perdeu
Alô, baby, e, então, baby, adeus
Aqui estão a esperança que ainda insiste em voltar
E o passado morto que você não quis soltar
Aqui esta o desejo na sua mais bela voz
Mas nada mais é tão belo para predadores como nós
E estão seus encantos, seus venenos e todas as suas pragas
E aqui esta o ódio da mesma mão que afaga
Aqui estão as taças, um brinde ao meu orgulho
E aqui estão nosso silêncio, que ainda faz tanto barulho".

Tudo funciona perfeitamente como uma canção de reconciliação ou separação. As cartas estão na mesa. Não há mais segredos! Que bela canção acústica transtornada pelas guitarras e slides, distorções e vozes ocultas das cordas! E por fim, uma gaita de fole inspiradíssima, maravilhosamente encaixada com perfeição nesta canção!

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E, ao dizer adeus, MARCELO ainda respira por aparelhos, e, o oxigênio que surge justamente é um blues despretensioso, chamado "Ela é Um Mistério Para Mim". É a figura do voyeur encantado com uma mulher que, entre idas e vindas, lhe alucina, e, ao mesmo tempo, permanece um mistério sem solução. É o casamento perfeito entre TOM WAITS e ALLEN GINSBERG, previamente ocorrido em algum bordel fechado dos bons tempos do disco "Closing Time" (WAITS). E assim o blues correu, a dizer:

"O temporal no fim do dia
Perguntei o que havia
Disse se era assim que acabaria
O que um dia foi paixão?
Com a cabeça disse não
Mas acabou dizendo sim
Nada que esclarecesse
O seu mistério para mim
Com o coração partido
Me disse coisas sem sentido
Como se eu fosse um inimigo
Em quem não se pode confiar
Logo começou a chorar
E o garçom do botequim
Trouxe então uma dose dupla
Do seu mistério para mim".

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Esta canção é daquelas que se toca em algum bar, e, todos, todos mesmo, tem vontade cantar e pedir mais uma daquelas sequências de intermináveis shots.

"Não Consigo Escapar de Você" abraça o romantismo, com um dedilhado acústico similar a "All Apologies" (NIRVANA), para permanecer no ritual ao qual MARCELO e seus amigos queriam que ela permanecesse: Garrafas, saudades, lembranças.

"Era o último minuto do ano
E os fogos bailavam no ar
Contemplei o espaço ergui meus braços
Mesmo sem ter ao que brindar
Então transbordei minha taça
Nesse ritual ao qual tentei me submeter
Na garrafa nem mais uma gota
E eu não consigo escapar de você
O tempo anda tão devagar
Quando se espera pela luz da manhã
Nesse outro planeta onde a luz é mais preta
Esse quarto escuro deve ser de satã
Talvez se eu sonhasse você se afastasse
Quem sabe eu pudesse não enlouquecer
Mais o sol não levanta, o galo não canta
E eu não consigo escapar de você".

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Poesia pura! Sem nenhum medo de escarniar a saudade ou a dor! Todos os livros neste momento poderiam ser rasgados. Menos o livro do coração! E, com coração, MARCELO ainda anuncia:

"A estação, a distância
Me lembrou da infância
Quis brincar com os vagões
Mas já é tarde pra isso
Você me tem submisso
E não importam as razões

(...)
Todos os trens já partiram
E eu não consigo escapar de você".

E já é hora de levantar. Afinal, os requintes ébrios de todo e qualquer álbum de lembranças se resumem a palavras, fotografias esculpidas na memória, e, ressonar de beijos invisíveis. Mas, é preciso seguir. Mas, será que ainda não existem sinais na memória?

Sim, há "Sinais de Fumaça", muito bem percebidos na última canção que leva este nome, e, abre com distorções e concessões uma ode ao rock, com as guitarras de repente plugadas em meio a um ribombar acústico que se estendeu por todo o disco, e, mais do que de repente, algo parece estar a queimar.

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"Tem algo queimando baby
Que não me deixa dormir
Eu não consigo ver
Más certo posso sentir
As cores estão na janela
O leite na geladeira
O jornal por debaixo da porta
O relógio na cabeceira
Más tem algo queimando baby
Não sei se você percebeu
O que ontem estava aqui
Hoje desapareceu
Então eu segui a placa
Que indicava a direção
Cheguei num beco sem saída
Com o mistério da contra mão
Você tem suas razões
Fantasias vontades
E pensa que elas flutuam
Bem acima da realidade"

E o rock abraça o blues, e, o órgão transforma-se em um grandioso solo no lugar da guitarra, e, a mensagem suburbana do bom e velho iconoclasta chamado MARCELO NOVA responde, entre tantos soluços, que "a chuva não tem piedade...é a verdade nua e crua...existe um vexame no céu...e só uma fatia da Lua".

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E, em meio a esta danação eterna, a lamparina de DIÓGENES mostra sim, a grande luz para todo ano de 2013. E a poesia maldita se confirma:

"Más a ponte está em frente
Nos conduz a Babilônia
Então traga as suas máscaras
E sua água de colônia.
Lá tem pântanos feitos de luxuria
Muita lama e bruxas pequenas
Pra ouvir o canto do cisne
E a risada das siriemas".

Desfecho melhor, impossível. Canção longa, que não perde em momento algum sua veia colossal. Sem dúvida, o melhor disco dos últimos 20 ou 30 anos do rock brasileiro! Nada mais do que merecido, para um andarilho tão especial, que continua a cantar sem cortinas ou ternos, a verdade, nada mais do que a verdade. MARCELO NOVA, receba os nossos parabéns!

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A seguir, ouça o álbum, na íntegra. Natural e necessariamente, no formato CD. A imaginação fica por sua conta. E, o querido MARCELEZA não precisa ser visto, para ser lembrado. Ele apenas precisa de uma Gibson CHET ATKINS, um papel em branco, uma caneta, e, uma garrafa enobrecida do melhor malte.

2 – ERIC BURDON – Til Your River Runs Dry

Mais do que um disco na carreira do eterno "poeta animal". O representante de Newcastle, já com 72 anos, retoma a essência poética beatnik que sempre o marcou, e, traz um disco brilhante. Soul, gospel, blues, rock, folk, cajun, muitos estilos se fundem neste trabalho.

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Canções como "Water" parecem mergulhar dentro da alma de BURDON e inseri-lo num universo pessoal criado por ele. Fantástica música, com a sempre marcante voz e os corais gospels inseridos de forma brilhante.

"Memorial Day" passeia pela áurea sessentista, "Devil and Jesus" é uma canção melancolicamente soul, que poderia ter sido escrita pelo inesquecível JOSÉ SARAMAGO no diálogo entre Deus e o Diabo presente no livro "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", e, além de tudo, poderia entrar em alguma sequência cinematográfica do filme "Natural Born Killers".

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O suave e lírico trabalho feito em "Wait" mostra um BURDON romântico, pronto para não se intimidar ao chamar de amor à primeira dama que ele encontra em um bar quase vazio, às três da manhã. E, o melhor de tudo é que ela é um tango com guitarras flamencas.

E ainda tem "Medicine Man", um flerte com o folk e rock irlandês sessentista, cruzado com alguns versos que parecem ter saído de JIM MORRISON. E, falando em MORRISON, nada melhor do que uma canção chamada "27 Forever" para reviver, com classe de um "Sir", o passado fabuloso.

Esta canção, aliás, poderia muito bem ter sido escrita pelo genial MARCELO NOVA, em seu álbum "12 Fêmeas", que cairia como uma luva e, mais alguns goles de bourbon.

Abaixo, alguns momentos deste genial álbum.

Melhor formato para prestigiar este álbum? Uma garrafa de JACK DANIELS e o CD ao lado, para tocar na íntegra. Se quiser, alguns rabiscos de DYLAN THOMAS para ler depois.

3 – PLACEBO – Loud Like Love

"Breathe... breathe... believe"... são as palavras marcantes que rasgam as distorções bem melódicas das guitarras cortantes, que, de forma agradável aos ouvidos, trazem na minha imaginação enquanto a escuto, uma mensagem similar a de um músico prisioneiro de seus fantasmas em uma torre, que de repente, abre a janela e vê lá embaixo a multidão clamar, aos brados: "We... are... loud... like... love!". E assim é construído o grande trabalho de BRIAN MOLKO e sua trupe, que, na minha humilde opinião, é o melhor álbum e o mais evolutivo deles. Adorei todas as canções, sem exceção!

Há momentos lindíssimos aqui. Desde a balada autobiográfica "Too Many Friends", até a linhagem maravilhosa de "Hold On To Me", como que a relatar alguém que resolve levantar da sua cadeira depressiva e perguntar: "Quem disse ao mundo que eu estava mais velho? Quem disse que a corrida terminou?". E ainda temos "A Million Little Pieces", que conta a saga de alguém que perdeu o poder de compreender o mundo ao seu redor, que antes se contentava com a brisa de um sorriso a soprar em seu rosto. "Rob The Bank" traz o lado underground do álbum. Tem um belo trabalho de baixo e bateria feito por STEFAN OLSDAL e STEVE FORREST, respectivamente. E, claro, conclama a todos para roubarem os bancos do Reino Unido e de toda a União Européia. "Purify" traz novamente um momento perdidamente glam... sim, é glam desde os riffs até a forma com que MOLKO convida a sua (ou o seu) meretriz a ouvi-lo declamar: "My kiss... Can you feel it yet?... In the back of your legs... And on the nape of your neck... Are you a temple? Are you a temptress?". E por fim, a balada "Bosco", muito, muito melancólica, introspectiva, ao estilo de "Perfect Day", "Sad Song" e tantas outras baladas tristes compostas por LOU REED. A letra traz um amor em forma de agradecimento, de autodependência, mas também, de afirmação. Belíssimo trabalho orquestral em muitas canções, guitarras afiadas em contracena com a voz de MOLKO em seus melhores momentos em toda a carreira. Ouçam comigo o disco na íntegra.

Não preciso nem dizer que, pela nuvem climática renovadora trazida pelo disco, o melhor formato é o CD.

4 – PURSON – Circle And The Blue Door

Belíssimo trabalho desta banda que já batalha há dois anos no mercado underground, traz um revival do mais puro "occult rock" (COVEN, por exemplo), de forma soberba e batendo nas portas justamente destas bandas do passado. PURSON é o nome, na demonologia, do grande Rei do Inferno. Mas aqui, trata-se de uma banda fantástica, em seu merecido disco de estréia (foto).

Do "occult" ao progressivo e folk, de forma brilhante, eles trazem uma musicalidade há muito tempo não realizada. Canções como "The Contract", "Spiderwood Farm", "Sapphire Ward" e "Rocking Horse" são uma surpresa magnificamente genial. Senti-me perdido nos entrecostos dos filmes antigos, dos personagens sombrios e das odes líricas que passeiam por OSCAR WILDE e acabam em HOMERO, HAMLET, e, tantos personagens atordoados pelas criaturas e pelos egos pessoais. Uma palavra para definir: maravilhoso trabalho! Abaixo, algumas canções desta obra-prima. Um CD bom para ser apreciado em sua totalidade, com rosas e vinho tinto, numa casa na floresta, de preferência.

5 – DAVID BOWIE – THE NEXT DAY

O doce retorno de um alquimista. Nada mais a dizer, porque gosto demais da obra de BOWIE e fica difícil defini-lo através das canções. Um encontro de "Station To Station" com "Low" e alguns empréstimos de um "Heroes" em dias de chuva, talvez, definiria bem esta álbum. Claro, se eu pudesse escolher um destaque entre todas elas (que são ótimas), eu oferecia para a magnífica canção "The Stars Are Out Tonight", "Where Are We Now?" e a própria "The Next Day", glamorosas, andróginas e chocantes, em todas as suas vertentes possíveis. A seguir, os vídeos com as duas favoritas.

Aviso: Até que não saia um concerto em DVD/BLU-Ray deste trabalho, é sempre um primor poder ouvir BOWIE. Mas, vê-lo e ouvi-lo, como já descrevi no início, tem um sabor mais impactante. Há poucos astros e bandas que conseguem emplacar também visualmente, a sonoridade e a mensagem que querem transpor. BOWIE é um deles.

6 – KADAVAR – Abra Kadavar

Era uma vez um sonho onde o BLACK SABBATH encontra-se com PENTAGRAM, LEAF HOUND, HAWKWIND, e, ambos resolvem adotar um filho. O seu nome? KADAVAR. Este supergrupo formado pelos músicos CHRISTOPH LINDERMANN (vocal e guitarra), MAMMUT (baixo) e TIGER (bateria), não inventou a roda, em momento algum. Suas letras marcantes envolvem temas como espiritualidade, ocultismo, e, composições galgada por riffs pesados, e, passagens instrumentais excelentes.

A seguir, três canções para dizer algo sobre a banda: "Doomsday Machine", "Come Back To Life" e "Liquid Dream".

Há muitos anos eu não ouvia algo tão sensacional, e, que, ao mesmo tempo, me transferisse espiritualmente imediatamente para os anos 70, mas com requintes de estar presenciando um dinossauro, um gigante entre os gigantes, e, estamos falando de uma banda surgida em 2012, mas que decidiu, por coração e alma, tocar da forma que eles acreditam que deve ser a verdadeira música.

Sem dúvida, ainda que houvesse um DVD de vídeos de todas as canções do álbum, o melhor formato para sentir a atmosfera climática dos anos 70, neste caso, é realmente, o CD.

7 – MOTORHEAD – Aftershock

Não, este disco não é "o mais do mesmo que é sempre bom". É sim, "um dos melhores do mais do mesmo que é sempre bom". A banda de LEMMY acertou em cheio com este trabalho, que é tão bom quanto "Overkill", "Ace of Spades", "1916", "Inferno", "Motorizer" ou "Another Perfect Day", por exemplo. É um discaço, do começo ao fim. É o melhor do que o MOTORHEAD sabe fazer à perfeição: rock’n’roll visceral, pesado, rápido. É a banda que influenciou o thrash e o speed metal prestando um tributo para si, pois eles bem sabem que são únicos, nunca mudam, nunca se venderam a extremismo ou modismo algum, apenas tocaram e continuam a tocar por prazer, por amor à música.

Canções como "Queen Of The Damned", "Heartbreaker", "Silence Qhen You Speak To Me", "Going To Mexico", "Lost Woman Blues" trazem uma sonoridade magnífica, direta. A última dentre as mencionadas ainda carrega a vertente de um blues muito bem elaborado por este trio já eternizado em nossos corações. A seguir o álbum, na integra.

Petardo! Discaço! Fantástico! Qualquer adjetivo é pequeno para dizer algo a respeito. Melhor consumido, obviamente, no formato CD, mesmo que o MOTORHEAD um dia resolva tocá-lo na integra ao vivo, em algum futuro DVD/BLU-Ray, mas a minha aposta para o MOTORHEAD sempre será mais auditiva do que visual em termos de impacto. Ouvir MOTORHEAD é libertar-se de todo e qualquer estigma e abraçar o rock em sua essência mais crua e verdadeira.

8 – DEF LEPPARD – Viva Hysteria!

O meu destaque pessoal como melhor registro do ano iria para "Viva Hysteria", do DEF LEPPARD. Mas, por se tratar de um álbum que apresenta apenas uma canção inédita, o classifiquei como primeiro entre os álbuns que repetem canções, embora tenha adorado o trabalho e, acredito, é um dos melhores shows já registrados em vídeo em toda a história (entre as bandas que admiro), e, um tributo definitivo a tudo que de melhor o "Leopardo" já fez até hoje. É fantástico do começo ao fim, marcado pela reprodução na íntegra do álbum "Hysteria", mais canções dos discos "Pyromania" (como "Photograph" e "Rock of Ages"), e, na segunda parte, tudo que os fãs aguardaram desde sempre: "Rock Brigade", "Wasted" e a épica e inédita até então "Good Morning Freedom" (as duas primeiras do álbum "On Through The Night" e a última um lado "B" do compacto "Hello America"), e, não bastasse, ainda temos "Let It Go", "(High n´ Dry) Saturday Night", "On Through The Night", "Another Hit and Run", "Mirror, Mirror (Look Into My Eyes)", "Briging On The Heartbreak" e "Switch 625" (do fantástico "High and Dry"). A produção e qualidade do trabalho estão impecáveis, os encartes e acabamentos em determinadas edições também.

Clássico dos clássicos, sem dúvida! A seguir, o show na íntegra, dividido em três partes. A primeira, com o álbum que dá nome ao show tocado na íntegra. A segunda e terceira partes, com a banda tocando com outro nome: DED FLATBIRD, numa brincadeira consigo mesma, tocando os mencionados clássicos dos álbuns mencionados.

Observação: melhor de consumido no formato DVD/BLU-Ray para experimentar visualmente toda a energia do trabalho.

9 – SCORPIONS – Live In Athens

Os deuses da mitologia eram alemães nas três noites de Atenas, onde a banda alemã mais significativa do século XX apresentou o que viria a ser o seu segundo trabalho acústico, agora, sob a custódia da logomarca da MTV.

Mais um belo trabalho de uma das minhas bandas preferidas em todos os tempos. Muito embora possa parecer repetitivo o lançamento de mais um álbum no formato acústico, as versões estão diferenciadas, há canções nunca executadas, como a magnífica "Born To Touch Your Feelings", que contou com a presença de uma bela mulher grega na segunda parte da música, que eu soube depois, tratar-se da atriz DIMITRA KOKKORI, que, na ocasião, emocionou-se verdadeiramente às lágrimas, enquanto declamava parte da letra. "No One Like You" também ganhou uma roupagem muito bonita, além dos já clássicos hits sempre executados, com destaque para os belos duetos, entre os quais, para a antológica "In Trance" (nesta versão, com a participação da performática artista CÄTHE, de timbre rouco e suave), "Wind of Change" (com ótima participação de MORTEN HARKET, sim, ele mesmo, o vocalista do A-HA, que, gostem ou não os metaleiros mais radicais, tem realmente uma voz impressionante) e "Rock You Like a Hurricane" (com ajuda de JOHANNES STRATE, vocalista da banda de rock-pop alemã REVOLVERHELD, nos vocais), e, as belas versões para "Blackout", "Big City Nights", e, o desfecho melancólico (mas sempre lindo) com "When The Smoke Is Going Down". E, entre as várias inéditas apresentadas, "Follow Your Heart", com KLAUS a tocar guitarra e a cantar, e, a monumental "Love Is The Answer", cantada por RUDOLPH, deram o tom a uma noite inesquecível. Abaixo, um pequeno resumo de videos, com alguns belíssimos momentos que, espero, possam agradar a todos.

Lição de casa: O formato ideal para este trabalho, sem sombra de dúvidas, é o DVD/BLU-Ray. O cenário, os duetos, a emoção dos músicos, pedem o formato audiovisual.

10 – EUROPE – Live At Sweden Rock Festival 2013

O EUROPE renasceu melhor. Não é a FENIX mitológica, propriamente dito, pois seus trabalhos a partir do ano 2000 são muito superiores à década de 80 e início dos anos 90. E, este concerto, realizado em seu país natal, com um público empolgado e um JOEY TEMPEST em plena forma, assim como toda a banda, nós temos o que há de melhor em toda a carreira destes gigantes.

A performance dos músicos é sensacional, com direito a uma belíssima versão acústica para "Open Your Heart", participações de MICHAEL SCHENKER na canção "Lights Out" (UFO) e SCOTT GORHAM em "Jailbreak" (THIN LIZZY), além de uma versão absolutamente perfeita e iluminada para a épica "The Final Countdown". É o melhor momento do EUROPE já registrado em vídeo. Abaixo, o show na íntegra.

Breve apontamento: Produto melhor se consumido em DVD/BLU-Ray, pois estamos falando de uma banda que comemora 30 anos de carreira justamente em sua terra natal, diante de seu público, e, as expressões e a emoção de todos os presentes, é indiscutivel. E, evidentemente, é muito mais preferível para todo fã de guitarras "ouvir e ver" MICHAEL SCHENKER e SCOTT GORHAM como convidados, do que apenas ouvi-los.

III – As Menções Honrosas:

11 – RITCHIE BLACKMORE´S RAINBOW – Black Masquerade/Live in Dusseldorf

Apesar de ser um registro capturado no ano de 1995 (e por isto não entra na lista dos meus dez favoritos), é um concerto fantástico, e, confere pela data em que foi lançado, ou seja: 2013. Mas, decidi, ainda assim, mante-lo como primeiro das "menções honrosas". Trata-se de um momento ímpar, com um BLACKMORE inspiradíssimo, um time de primeira linha, com DOOGIE WHITE a brilhar com sua voz, GREG SMITH no baixo, PAUL MORRIS nos teclados e um grande trabalho de CHUCK BURGI na bateria, com destaque para a qualidade sonora espetacular do DVD! É o merecido tributo a uma banda magistral, e, nem sempre reverenciada, e, em especial, é um tributo a um disco que não poderia ficar de fora em nenhum dos registros de shows do RAINBOW.

Do início ao fim, uma avalanche sonora de extrema qualidade. Ali está a alma do grande RITCHIE BLACKMORE de forma uníssona. Percebe-se, neste show, um músico apaixonado pelo que faz, voltando a sonhar e a demonstrar toda sua energia e toda a técnica que sempre constituiram-no entre os gigantes da música. A seguir, as canções "Black Masquerade", "Ariel" (show de BLACKMORE), "Spotlight Kid" e "Hall Of The Mountain King", "Perfect Strangers" e "Wolf To The Moon/Difficult To Cure". Reparem, se puderem assistir, na qualidade sonora deste show. Espetacular!

12 – TOM ZÉ – Tribunal do Feicebuqui

"ORDEM NO TRIBUNAL! Tendo o Detetive-Chefe Marcus Preto considerado os textos do Tribunal do Feicebuqui literatura consistente para a criação de uma nova edição de Imprensa Cantada, soube pelo depoimento de Tom Zé que este resolvera doar o cachê do referido anúncio da Coca-Cola à banda de música de Irará, para uso na Escola de Música que ela mantém. Como isso não criava impedimento, ele convidou os artistas supracitados: Emicida, Filarmônica de Pasárgada, Tatá Aeroplano, O Terno e Trupe Chá de Boldo para fazer parceria com os amigos de Tom Zé que postaram mensagens no Feicebuqui sobre o anúncio. E começaram a nascer as canções que comporiam este compacto duplo".

Com esta construção iconoclasta e em forma de paródia, TOM ZÉ dita o ritmo de um grande trabalho independente, mais uma vez, um chute na face de todo e qualquer modismo, desta vez, associado ao facebook, que ele aqui chama calorosamente de "feicebuqui", adotando a destruição da língua portuguesa, para protestar, e, não homenagear. As letras? Preste um pouco a atenção:

"Seu americanizado
Quer bancar Carmen Miranda
Rebentou o botão da calça
Tio Sam baixou em sampa
Vendido, vendido, vendido!
A preço de banana
Já não olha mais pro samba
Tá estudando propaganda
Que decepção
Traidor, mudou de lado
Corrompido, mentiroso
Seu sorriso engarrafado
Não ouço mais, eu não gostei do papo
Pra mim é o príncipe que virou sapo
Onde já se viu? Refrigerante!
E agora é a Madalena arrependida com conservantes
Bruxo, descobrimos seu truque
Defenda-se já
No tribunal do Feicebuqui
A súplica:
Que é que custava morrer de fome só pra fazer música?".

Fantástico! No mínimo, fantástico! E com uma instrumentalidade que mescla o suingue sambado dos bons requintes temporários de JORGE BEN, troçados com tropicália pura, bossa nova, novos baianos, e, tudo que se imagina nesta mistura rítmica. Atenção: Este disco é obra-prima de poesia concreta e crítica. Amem-no ou odeiem-lho.

13 – CLAIRY BROWNE and THE BANGING RACKETTES – Baby Caught The Bus

Você já deve ter perguntado: "nossa, quem canta aquela música do comercial brasileiro da cerveja HEINEKEN, em que o pessoal entra no bar e o garçom aperta um botão e muda tudo, o cenário, a música, as pessoas???". Enfim... este é o melhor lançamento de soul/jazz/rock/pop (sim, ela mescla tudo isto em seu disco) feminino lançado nos EUA em 2013.

CLAIRY BROWNE é uma artista performática fantástica, sensual, com estilo e personalidade criativa, muito talento e muita alma. Ou, muito "soul", como preferem os músicos. É uma "soul woman". Seu disco é excelente. Muitos irão compara-la a AMY WINEHOUSE, mas acredito que AMY tinha uma linha pré-definida e CLAIRY navega, além do soul, pelas vertentes dos cabarés dos anos 30, pelo blues melancólico da sempre triste JONNI MITCHELL, e, pelo folk introspectivo de JOAN BAEZ. É mais artista, mais versátil, do que AMY. Mas AMY WINEHOUSE morreu, e, bem sabemos a mania que as pessoas têm de endeusar os músicos que morrem. É a chamada NECROFILIA DA ARTE.

14 – GAROTAS SUECAS – Feras Míticas

Muita musicalidade "psico-jovem-mutante". Não sei se posso crirar este termo, mas as influências da banda vagueiam entre RITA LEE, ARNALDO BATISTA and OS MUTANTES, ERASMO CARLOS, JORGE BEN, DULCE QUENTAL, SECOS and MOLHADOS. Canções como "Manchetes na Solidão", "Bucolismo", "Eu Vou Sorrir Pra Quem é Gente Boa", "Pode Acontecer", "L. A. Disco", "A Nuvem", "Bicho", "Charles Chacal" e "Roots Are For Trees" são imensamente criativas e revivem a boa cozinha de miscelâneas e estilos que sempre caracterizou a música brasileira. Épico trabalho, como há muito não era visto em terras tupiniquins. Revive, com extrema qualidade, o que de melhor estes músicos supracitados já fizeram. Em alguns momentos, como em "Roots Are For Trees", parece que estamos a ouvir JOÃO RICARDO, GERSON CONRAD e NEY MATOGROSSO a recitar "Primavera Nos Dentes", só que não é. E o melhor de tudo isto é que justamente "não é".

15 – BLACKMORE’S NIGHT – Dancer And The Moon

Muito superior aos últimos trabalhos de RITCHIE e sua bela esposa. Belíssima instrumentação e vocalização, e, uma interessante regravação para "Lady in Black" (URIAH HEEP) e "Temple of the King" (RAINBOW).

16 – GOV’T MULE – Shout!

Bandaça fazendo o melhor blues de sempre, com a presença de convidados muito mais do que ilustres: BEN HARPER, ELVIS COSTELLO, GLENN HUGHES, Dr. JOHN, DAVE MATHEWS, STEVE WINWOOD, GRACE POTTER e outros. Discaço do começo ao fim!

17 – TAILGUNNERS – Gloomy Night

Belíssima banda brasileira. Belíssimo trabalho. Influência direta e latente do IRON MAIDEN, com uma veia criativa e técnica impressionante, vocais perfeitamente encaixados, e, uma temática muito bem explorada: vampiros. Só que sem mergulhar em momento algum no esperado efeito gótico para tal sonoridade, ao contrário. Temos o melhor heavy metal melódico em todas as suas linhas. Do início ao fim, um grandioso trabalho. Desde o início com "In My Eyes" (autobiografia de um vampiro) até a épica "Vlad Tepes: The Impaler", que, como bem já dito aqui mesmo na whiplash, seria a "Alexander The Great" deles, tudo soa perfeitamente coeso. Para ouvir sem trocar música alguma.

18 – WHITESNAKE – Made in Britain

Um belíssimo trabalho de COVERDALE e sua trupe. Tudo bem, eu sei que é um disco ao vivo, e, muitos ouvintes certamente estão cansados de ouvir coletâneas de bandas. Mas o fato é que muito superior ao badalado "Made in Japan", mais poderoso e muito mais bem acabado em termos de emoção. Por registrar momentos diversos da banda, talvez consiga capturar um COVERDALE mais apaixonado, mais em contato com seu público. Merece sim, um destaque especial nesta menção honrosa. Há versões lindíssimas de músicas já conhecidas. A serenidade, por exemplo, com que DAVID e banda executam "The Deeper The Love" e "Ain’t No Love In The Heart Of The City" é algo supremo. Bom, as canções são todas conhecidas, e, entre poucos discos que realmente me impressionaram, eu prefiro apostar nas bandas que me fazem bem. Não gostei muito do "Made In Japan", mas adorei "Made In Britain". E, aqui está ele, entre os colocados.

19 – KANDIA – All Is Gone

A ascenção de uma grande banda portuguesa da cidade de Porto, recentemente premiada mundialmente no concurso "Global Rocstar". Um álbum com a alma dos fãs, que contribuiram, inclusive, neste projeto, com um trabalho de recolher doações para financiar o disco. Boa banda, sonoridade extremamente em sintonia com o que pretende. Liderados pela bela vocalista NYA CRUZ, apresentaram um trabalho honesto e com instrumental digno de requinte. Por este motivo, "All Is Gone" merece ser apreciado por todos os fãs de música de qualidade. A influência? Bom, desde EVANESCENCE até LACUNA COIL, passando por METALLICA, PERFECT CIRCLE, BUTTERFLY EFFECT. Conheçam!

20 – NOX ARCANA – Legion Of Shadows

E Deus criou o NOX ARCANA. Ou teriam sido os príncipes da escuridão? Não há muito a dizer sobre a melhor banda instrumental (dentro do seu estilo) que já ouvi. Sua história já perfaz dezessete discos com temática gótica sobre vampiros, castelos assombrados, hospitais homicidas, halloween, natal soturno, criaturas da floresta, espíritos da noite, tudo isto regado ao som de piano, sussurros do vento, cravos, violinos, violoncelos, num conjunto apaixonado de canções que apaixonam, assustam, comovem e seduzem. Alguém se lembra do filme "Suspiria" de DARIO ARGENTO, e, o tema inicial tocado pela banda "THE GOBLINS"? Ouvir NOX ARCANA traz esta sensação: um mergulho no passado e no tempo, uma releitura das revistas KRIPTA de trinta anos atrás, e, tantos outros momentos ‘atmosféricos’. Perfeito lançamento de JOSEPH VARGO e sua trupe.

IV – Conclusão

Acredito que não deva existir uma conclusão quando decidimos apenas comentar e expor o que gostamos de ver e ouvir em um ano, como dito, cheio de homenagens ao passado. Fica aqui apenas a certeza de que a música é o maior de todos os presentes que a humanidade pode conceber, e, que o privilégio dos que ouvem música de qualidade é e sempre será maior do que o daqueles que seguem modismos.

Um feliz 2014 a todos da whiplash.net, e, especialmente, aos leitores! Saúde, paz, prosperidade e amor, sempre, no coração de todos nós!


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Sobre Ronaldo Celoto

Natural do Estado de São Paulo, é escritor, professor, poeta e consultor em direito, política e gestão pública. Bacharel em Direito, com Mestrado em Ciência Política, atualmente cursa Doutorado em Direito, Justiça e Cidadania pela Universidade de Coimbra. Além destas atividades, dedica diariamente parte de seu tempo à pesquisa e produção de artigos científicos, contos, romances, matérias jornalísticas, biografias e resenhas. Seus interesses pessoais são: cinema, política, jornalismo, literatura, sociologia das resistências, ética, direitos humanos e música.
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