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Resenha - A Ira de Nasi - Mauro Beting e Alexandre Patillo

Por Mário Orestes Silva
Postado em 25 de julho de 2016

Com uma narrativa de fácil compreensão e sinceridade quase comprometedora, Marcos Valadão Rodolfo ficou mesmo conhecido como Nasi, o vocalista que se iniciou com o grupo Ira! no início dos infames anos 80. Fez blues, pós punk, rock flertando com rap, apresentação de programas de televisão, comentarista e ainda hoje mantem suas empreitadas artísticas no palco e na televisão. Com o auxílio de Mauro Beting e Alexandre Petillo, Valadão discorre sua auto biografia com sugestivo título de "A Ira de Nasi", onde conta histórias que variam de hilárias a sinistras.

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A infância e adolescência foram bem vividas e ainda no ginásio colegial, fez amizade com Edgard Scandurra, com quem viria a se tornar parceiro de composições, noitadas e brigas. O cenário musical brasileiro não era tão fértil, mas começava a ficar promissor, devido a ascensão comercial do mercado que exigia uma "nova tendência" a ser inserida no viés fomentado em rádios, lojas de discos e programas de auditório, mais conhecido como "jabá". Sobrou para o rock desfrutar dessa "abertura". No ensejo, fervilhava no exterior a fusão de new wave, pop e pós punk com o que havia restado do movimento punk. O paradigma foi absorvido com veemência por muitos dos que estavam experimentando suas brincadeiras de garagem com bandas. Antes do Ira!, Nasi fazia parte do grupo Voluntários da Pátria, com quem chegou a gravar disco, enquanto Edgard passou por Cabine C, Smack e Ultraje a Rigor. Posteriormente com a banda definitiva, não tardaram a fixar uma escalação de músicos, após tentarem com alguns nomes. Começaram os primeiros shows, vários porres, algumas situações surreais e a inclusão categórica do ponto de exclamação no nome do grupo que ganhava cada vez mais e mais fãs. No lançamento do primeiro LP, já vieram sucessos derradeiros com status de hits e uma longa carreira que só acumulou discos de ouro, paradas de sucesso, shows por todo o país, participações em programas de televisão (com maior ênfase para a MTV Brasil, nos anos 90) e muito mais. Um momento histórico do rock brasileiro, pouco conhecido, está na fusão com o rap, iniciado, quase que acidentalmente, por Nasi. Como toda longa carreira com as mesmas pessoas, nos ambientes promíscuos, logicamente que haveria brigas, discussões, amantes, drogas e outros fatores de funções negativas. Na separação que ganhou os noticiários do país, na época, mais devidamente aos processos jurídicos envolvidos, Nasi conta a sua versão e sua passividade para a reconciliação. Outro ponto interessante do livro, está no fato deste ex-sex simbol não ter nenhum problema em falar abertamente de seu envolvimento (desde infância, diga-se de passagem) com a Umbanda. A propósito, o livro termina com uma ótima história contada, em que Nasi perde seu telefone celular e só consegue reavê-lo, tirando proveito deste seu lado místico. A sessão de fotos traz uma coletânea de imagens raras que abraça desde o protagonista bebê, até shows e parcerias diversas.

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O ótimo acabamento gráfico emprega um ar de best seller que fica mais atrativo para leitura por não possuir uma fonte tão pequena.

"A Ira de Nasi" pode até ser taxada como mais uma auto biografia de cantor de rock, mas é um livro denso, divertido e honesto, onde se é possível compreender um dos pontos de vista mais controversos e significativos da música brasileira.

Editora Belas Letras, Rio Grande do Sul, 2012, 320 páginas.

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Sobre Mário Orestes Silva

Deuses voavam pela Terra numa nave. Tiveram a idéia de aproveitar um coito humano e gerar uma vida experimental. Enquanto olhavam, invisíveis ao coito, divagavam: - Vamos dar-lhe senso crítico apurado pra detratar toda sua espécie. Também daremos dons artísticos. Terá sex appeal e humor sarcástico. Ficará interessante. Não pode ser perfeito. O último assim, tivemos de levar à inquisição. Será maníaco depressivo e solitário. Daremos alguns vícios que perderá com a idade pra não ter de morrer por eles. Perderá seu tempo com trabalho voluntário e consumindo arte. Voltaremos numas décadas pra ver como estará. Assim foi gerado Mário Orestes. Décadas depois, olharam como estava aquela espécie experimental: - O que há de errado? Porque ele ficou assim? Criamos um monstro! É anti social. Acumula material obsoleto que chamam de música analógica. Renega o título de artista pelo egocentrismo em seus semelhantes. Matamos? - Não. Ele já tentou isso sem sucesso. O Deixaremos assim mesmo. Na loucura que criamos pra vermos no que dará, se não matarem ele. Já tentaram isso, também sem sucesso. Então ficará nesse carma mesmo. Em algumas décadas, voltaremos a olhar o resultado. Que se dane.
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