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Carcass: Jeff escreve letras gore com qualidade quase política

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 11 de junho de 2017

A lendária banda britânica Carcass, um dos principais nomes do metal extremo mundial, está de volta quatro anos após bem-sucedida passagem pelo Brasil. Jeff Walker (vocal/baixo), Bill Steer (guitarra/vocal), Daniel Wilding (bateria) e Ben Ash (guitarra) trazem a turnê do elogiado álbum "Surgical Steel" (Nuclear Blast) para São Paulo (no Liberation Festival) e Rio (com HEAVEN SHALL BURN, acompanhando o LAMB OF GOD). Formado em Liverpool (ING) em 1985, a banda considerada a criadora do grindcore, passou por um hiato de 11 anos, que durou de 1996 até 2007, mas agora já falam em um novo álbum, como você confere nesta entrevista que fiz com Bill Steer. O guitarrista também falou sobre a saúde de Ken Owen, da preferência de Mike Amott pelo ARCH ENEMY e fez um comparativo entre seus dois "primeiros" álbuns, um de cada fase: "Reek of Putrefaction", o álbum de estreia, e "Surgical Steel", o álbum de retorno. "No primeiro, éramos adolescentes sem noção com um engenheiro inepto. Agora, não fazíamos ideia do quanto o público estaria interessado no que fazíamos". Apesar do CARCARSS ser um dos inventores do grind, a entrevista é longa, então, não esqueça de dar play nos vídeos enquanto a confere na íntegra logo abaixo.

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Daniel Tavares: Vocês vão tocar aqui no Brasil outra vez, mas também para muitas pessoas que nunca tiveram a chance de ver o CARCASS ao vivo, incluindo eu próprio. Supondo que eu também nunca tenha visto vocês em DVDs, no YouTube ou de qualquer forma similar, o que não é verdade, o que é que eu vou ver no seu show?

Bill Steer: Ha, não é uma questão tão fácil de responder, porque eu nunca vi a banda tocar... mas, de acordo com várias pessoas com que eu tenho falado, uma performance típica do CARCASS envolve quatro caras, de idades variadas tocando um monte de riffs em frente a um show de luzes altamente imprevisível com projeções adicionais.

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Daniel Tavares: E vocês vão estar em São Paulo com o KING DIAMOND, o LAMB OF GOD, o HEAVEN SHALL BURN e então, sair em turnê com as duas últimas. O que você acha delas? Qual você gosta mais? E qual não é exatamente a que faria você balançar a cabeça numa noite de quarta-feira?

Bill Steer: É uma vergonha que algum dos outros membros da banda não esteja aqui pra responder esta. Em toda honestidade, eu raramente ouvi o LAMB ou HEAVEN, então, eu não estou em posição de comentar o que elas fazem. Dan ou Jeff, por exemplo, seriam bem familiares com ambas. Quanto ao KING DIAMOND, eu acho que é seguro afirmar que a maioria de nós é fã da originalidade de seus álbuns. Eles são bem únicos e já passaram muito bem pelo teste do tempo. De verdade.

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Daniel Tavares: "Manifestation of Verrucose Urethra", "Carbonized Eye Sockets" e, mais recentemente, "Cadaver Pouch Conveyor System"... Você seria capaz de explicar de alguma forma porque este foco no gore e o apelo dele para os fãs? Como podem alguns fãs, que fecham os olhos quando tomam uma vacina, por exemplo, gostar de temas e cenários como os que vocês criam em suas canções?

Bill Steer: As duas primeiras canções que você mencionou aqui são duas das nossas mais novas. Nessa fase da banda, éramos adolescentes angustiados procurando uma maneira de provocar uma reação das pessoas. O humor negro era um elemento forte. Escrever letras horríveis com foco nos aspectos menos agradáveis da anatomia humana pareceu ser o caminho para nós. Gradualmente Jeff tomou conta desse lado da banda - do "Necroticism" em diante, ele estava escrevendo todas as letras - e lá pelo "Heartwork" ele estava começando a se mover em uma direção ligeiramente diferente. Uma música como "Cadaver" em "Surgical Steel" é um bom exemplo de como Jeff pode escrever algo que parece ser gore superficialmente, mas de fato tem uma qualidade quase política, se alguém lê com cuidado suficiente. Ou talvez eu só estou falando besteira novamente.

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Daniel Tavares: Não há um álbum da CARCASS que pareça semelhante ao seu sucessor ou antecessor. Todos eles têm, digamos sua própria personalidade. Como as músicas de álbuns tão diferentes convivem no setlist?

Bill Steer: Pessoalmente, acho que os contrastes funcionam bem ao vivo. A maioria dos meus artistas musicais favoritos passou por "fases" em suas carreiras, em vez de fazer o mesmo álbum repetidamente. Esse tipo de variação torna um repertório mais interessante. E para colocar isso em perspectiva, se uma pessoa que não for do meio do metal acaso entrar em um dos nossos shows, ele/ela provavelmente terá dificuldade em dizer a diferença entre uma música e outra de qualquer maneira.

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Daniel Tavares: Vocês vão tocar algo do "Swansong"?

Bill Steer: Espero que sim. Normalmente, tocaremos uma pelo menos desse álbum, mais talvez a alguma passagem estranha de um ou dois outros.

Daniel Tavares: Ser de Liverpool, o lugar de nascimento dos Beatles, isso explica todos os ganchos melódicos incomuns que vocês inserem em gêneros que são tão naturalmente agressivos?

Bill Steer: Bem, isso é bastante lisonjeiro para dizer. Em termos estritos, nenhum de nós é realmente de Liverpool, mas todos nos conhecemos e iniciamos a banda no noroeste, então acho que é assim que conseguimos essa etiqueta. É justo dizer que os BEATLES não são uma influência direta sobre nenhum de nós, mas sim, nós apreciamos um pouco de melodia quando possível.

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Daniel Tavares: Após um longo e aparentemente permanente hiato, o CARCASS se reuniu e fez muitos fãs felizes. Que bandas estão inativas hoje em dia e você acha que devem seguir o mesmo caminho e se reagrupar, embora talvez elas não possam contar com todos os membros da sua formação mais clássica, da mesma forma que o CARCASS?

Bill Steer: CATHEDRAL..? É a única que pula na minha mente agora.

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Daniel Tavares: O que significa "1985", a música? Estou certo ao afirmar que essa música recebeu esse nome do ano em que o CARCASS começou a tocar? Em caso afirmativo, vocês queriam expressar algo como um reinício, um renascimento, algo assim, ao usar essa música para reabrir sua discografia? Estou certo ou vagando demais?

Bill Steer: Foi o Jeff que deu o título pra essa música. Ela era originalmente a introdução de uma música que tivemos durante a versão original da banda, lá em... 1985. Então, sim, talvez você tenha razão em algum grau.

Daniel Tavares: Como você compara o seu primeiro álbum, "Reek of Putrefaction", e o primeiro álbum de sua nova vinda, "Surgical Steel", não em termos musicais, mas como pontos em sua história em que ela começa e recomeça, em termos de empolgação, etc.?

Bill Steer: Pergunta capciosa. O "Reek" foi uma experiência que nunca pode ser repetida. Nunca mais seríamos jovens e sem noção, nem seria fácil encontrar um engenheiro de gravação tão inepto. Havia uma atmosfera de excitação naquele momento, já que tudo era novo para nós. Essa emoção rapidamente se transformou em desapontamento quando percebemos que o álbum não seria o que esperávamos. "Surgical" também foi um momento emocionante, mas de uma maneira muito diferente. Tínhamos confiança na música, mas realmente nenhuma ideia do quão interessado (ou não) o público poderia estar no que estávamos fazendo.

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Daniel Tavares: Você acha que o Mike Amott não visualizou o que seria o "Surgical Steel" e, se ele tivesse feito isso, ele teria optado por ficar com o CARCASS ao invés de suas outras bandas?

Bill Steer: Até hoje, ainda não tenho certeza sobre isso. A julgar por coisas que ele disse quando voltamos, pareceu que ele acreditava que a banda nunca deveria fazer um novo álbum. E sim, talvez ele também sentisse que não seríamos capazes de qualquer maneira. O restante da sua pergunta é puramente hipotético, mas, finalmente, o ARCH ENEMY sempre foi sua prioridade, por isso é difícil imaginá-lo permitindo que qualquer outra coisa tenha precedência.

Daniel Tavares: E uma vez que estamos falando sobre sua discografia, quais/como estão os planos para um sucessor do "Surgical Steel"? Se você está planejando / escrevendo músicas, com qual álbum esse próximo álbum parecerá mais? Pareceria mais com o 'Surgical Steel' ou com algum dos anteriores?

Bill Steer: Sim, pretendemos gravar um novo álbum. Alguns de nós começamos a trabalhar em algumas músicas em 2015, mas a máquina de turnês começou de novo. Então só recentemente foi que tivemos a chance de voltar a uma sala de ensaio e nos concentrar em ser criativos novamente. É muito cedo para resumir como será essa música, mas certamente será um registro diferente de "Surgical".

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Daniel Tavares: Que outros gêneros de música você gosta? Há algum que você tocaria com Ken Owen, uma vez que em sua nova condição, soubemos que ele não pode tocar death, grind and thrash metal?

Bill Steer: Todo mundo na banda gosta de coisas diferentes. Ocasionalmente temos coisas em comum, mas outras vezes varia drasticamente. Como o mais novo, Dan gosta de se manter antenado com algumas das bandas contemporâneas de metal, especialmente aquelas que tem bateristas habilidosos tocando um monte de blast beats. Ele também gosta de "pop punk", alegadamente. Ben pode ser bastante aleatório, mas sempre favoreceu a era dourada das bandas americanas que vendiam milhões de discos e que alcançaram proeminência na década de 1990, com uma série de coisas mais velhas como Van Halen. O gosto de Jeff na música permanece misterioso, embora pareça curtir o MONSTER MAGNET. Eu gosto de hard rock dos anos 70, NWOBHM e blues. Como você afirmou, Ken ainda não é capaz de tocar bateria nesse estilo hiperativo, mas ele ainda toca em casa por prazer. Ele contribuiu com vocais de apoio para várias músicas em "Surgical Steel".

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Daniel Tavares: Mudando um pouco de assunto, o Jeff falou uma vez em uma entrevista que todo baixista é um guitarrista frustrado, assim como todo jornalista [do meio musical] é um músico frustrado. Eu não posso falar nada sobre meus colegas, mas ele estava certo sobre mim. Eu, eu mesmo, sou um tecladista sem talento. Sou terrível. Você tem essa opinião sobre baixistas e jornalistas musicais?

Bill Steer: O Jeff disse isso. Pessoalmente eu não concordaria, enquanto há um monte de baixistas que são mais habilidosos que seus companheiros guitarristas. Quanto aos jornalistas, eu posso comentar apenas sobre aqueles que eu conheço aqui no Reino Unido. Poucos deles já expressaram o desejo de estar no palco. Parece que eles apenas gostam de fazer parte do que quer que a indústria da música envolva hoje em dia, com quaisquer vantagens que possam implicar.

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Daniel Tavares: Existe uma pergunta que eu sempre faço para todos os meus entrevistados. Existe algum artista brasileiro ou banda que você goste, que você escute em casa ou mesmo que tenha tido qualquer influência sobre seu som?

Bill Steer: No momento, talvez não. Como você já deve ter pescado, eu estou um pouco desatualizado com o metal contemporâneo. Mas quando eu era mais jovem, eu certamente curtia os primeiros álbuns do SEPULTURA, SARCÓFAGO e por aí vai.

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Daniel Tavares: Agora, fique à vontade para deixar uma mensagem para todos os seus fãs brasileiros.

Bill Steer: Obrigado por nos permitir voltar para sua amável nação. Nós estamos muito empolgados com a chance de tocar aí de novo.

O LIBERATION FESTIVAL 2017 (25/06 – Espaço das Américas/SP) tem como headliner o lendário King Diamond, que fará histórica apresentação, executando, na íntegra, o clássico álbum "Abigail" (1987). Além do rei do terror, CARCASS, LAMB OF GOD, TEST e HEAVEN SHALL BURN tocam no festival. Apesar da grande procura, ainda há ingressos à venda na bilheteria do Espaço das Américas, pelo site da Ticket 360, pelo telefone (11 2027-0777) e pontos autorizados pela empresa.

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Foto: Sabrina Ramdoyal, This Is Not A Scene
http://www.thisisnotascene.com/2014/carcass-bloodstock-2014/

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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