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Taurus: "Fissura é um retrato verdadeiro do que somos!"

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 10 de outubro de 2010

É sempre legal vermos uma banda que conquistou tantos admiradores nos primórdios do Heavy Metal brasileiro retornar à ativa com um bom disco! O Taurus surgiu no Rio de Janeiro em 1985 e fez história com seus três álbuns – em especial com o clássico "Signo de Taurus" (86) – mas as dificuldades da época obrigaram a banda a encerrar suas atividades.

Porém, "Fissura" está aí para marcar o retorno do Taurus depois de quase duas décadas longe da cena. Thrash Metal com a garra tipicamente oitentista e cantado no bom e velho português! E quem diria que, mesmo assim, este álbum está sendo liberado pela Europa? O Whiplash! conversou com a banda, que revelou detalhes dos velhos tempos, falou sobre o novo disco e muito mais.

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Whiplash!: Olá pessoal, é bom vê-los de volta ao cenário! Vamos começar por aí: qual foi o estopim que gerou esse retorno, e depois de tanto tempo? Achei legal que a formação conta com os mesmos músicos que participaram no passado...

Cláudio Bezz: A gente nunca tem uma explicação para essas coisas. O contexto geral, em 2007, nos propiciou um momento onde pudemos nos reencontrar com o Taurus. Foi realmente algo muito especial, e sentimos isso em um ensaio que fizemos para matar as saudades. Realmente foi uma explosão de energia que transbordou... Não pudemos fazer nada para impedir. rsrs

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Otávio: A meu ver, tudo começou com a comunidade "Signo de Taurus" no Orkut, daí a proposta da Marquee Records para o lançamento remasterizado do primeiro álbum. Lembro-me quando Claudio me procurou falando do relançamento e fiquei muito surpreso e contente em saber que um trabalho que ajudei a construir agrada a tantos bangers. Infelizmente não pude participar do primeiro show de volta aos palcos na abertura do Testament no Canecão...

Otávio: A formação da banda no retorno: Cláudio Bezz (guitarra), Sergio Bezz (bateria), Jeziel (baixo), eu (voz) e o Beto de Gásperis (baixo), que é gente muito fina e competente e que chegou logo no início dessa volta, em 2007 no lugar do Jean. Mas teve que nos deixar por motivos pessoais, e o Jeziel assumiu o baixo.

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Whiplash!: Além de "Signo de Taurus" (86), a Marquee Records também relançou "Trapped In Lies" (88) e "Pornography" (89), devidamente remasterizados e no formato CD. Hoje, após cerca de duas décadas, que balanço vocês fazem destes registros?

Sérgio Bezz: Nossos ‘discos’ representam passagens conceituais vividas por nós. É a nossa história, por isso foi muito bom vê-los circulando novamente, e com ares de novidade para muita gente que nem era nascida na época.

Sérgio Bezz: Considero o "Signo de Taurus" um registro de alguns anos de ensaios, e primeiras experiências com a música de todos nós. Uma espécie de descoberta dos instrumentos, de um modo de tocar, por exemplo, a guitarra com palhetadas ‘abafadas’ era algo pouco convencional naquele tempo, ou ainda a bateria com presença de dois bumbos. Ë um disco que considero o de maior impacto, tanto na época como atualmente, nos shows. São as músicas mais pedidas e onde a galera mais agita. A qualidade técnica da gravação também marcou muito, visto o retorno dado a nós pelos próprios músicos de outras bandas. Acredito que contribuiu para levantar o nível das produções daí por diante.

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Sérgio Bezz: O segundo trabalho, "Trapped In Lies". Era a febre da língua inglesa, puxada pelos resultados internacionais do Sepultura na época, todos queriam seguir essa trilha, e fomos atrás, sem a repercussão esperada por nós, mas foi um bom momento da banda com muitos shows pelo Brasil. Tiramos um pouco o punch das músicas. Estávamos tocando melhor, e queríamos mostrar isso nas composições, então, há um instrumental mais trabalhado que foi uma qualidade daquele álbum. Havia a entrada do Jeziel e a saída do Otávio, foi também um período de assentamento de um novo componente, que trouxe uma reflexão nas letras que antes não havia, mas como escrevemos em inglês, muitos não prestaram muita atenção nisso.

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Sérgio Bezz: O "Pornography" é um disco que gosto muito, mas acho que alguns aspectos da gravação não favoreceram as qualidades instrumentais das músicas. É um disco com músicas mais rápidas, com elementos de punk rock que estávamos gostando muito na época. Nele mudamos de selo, foi uma nova etapa buscada e interrompida.

Whiplash!: Ainda que relativamente diferente de seus antecessores, "Pornography" foi considerado um bom álbum, mas contribuiu para o fim das atividades da banda. Nesta época vocês já vinham acumulando alguns desafetos, afinal? O que realmente ocasionou o término do Taurus?

Cláudio Bezz: Nós nunca tivemos desafetos, nem entre nós, nem com ninguém. Aliás, um dos motivos de estarmos juntos novamente é que nossa amizade estava intacta. Sempre fomos muito amigos, tanto que morávamos (eu, Jean e o Sérgio) no mesmo prédio. Sempre nos encontramos fora da banda. O que rolou foi um clima muito pesado vivido no Brasil daquele período. Casas de show fechando, a rádio Flu (maldita) fechou as portas, dificuldade para viajar e fazer shows, pois tudo era muito caro. Não havia vinil para prensar os LPs por conta dos planos econômicos malucos... Tudo isso foi nos desanimando, pois sempre prezamos pela qualidade e bem estar, independente do estávamos fazendo. Foi um desânimo geral, mas não com a banda. Resolvemos dar uma parada e nos manter inteiros.

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Whiplash!: O repertório de "Fissura" está excelente. Qual a diferença entre trabalhar em um álbum hoje, comparando com o que foi em "Signo de Taurus" ou "Trapped In Lies"? Houve algum tipo de 'policiamento' para as canções seguirem um rumo específico, ou a coisa toda foi fluindo naturalmente?

Cláudio Bezz: As coisas sempre fluíram muito bem com a gente. Nunca tivemos dificuldade em compor os álbuns. É muito natural e os riffs brotam que nem água. Não foi diferente agora. Ficamos três dias em um teatro com toda a parafernália ligada e compusemos o disco novo inteiro. Depois foi outra estória para fazer os acabamentos, mas aí as possibilidades técnicas que os estúdios têm hoje em dia fizeram a diferença. Como trabalho há muito tempo como músico em estúdio, pude tirar o máximo de tudo isso.

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Otávio: Atualmente temos uma qualidade de gravação muito superior e mais maturidade para definirmos sobre os temas das letras e composições. O "Fissura" é fruto de muito diálogo, por haver uma participação de todos. Mesmo que um ou outro não tenha participado diretamente na composição, houve um consenso geral neste trabalho e isto é o certo, apesar de ser trabalhoso. No "Signo de Taurus", e acredito que no "Trapped In Lies" também, tudo era mais fácil porque tínhamos mais tempo e respirávamos Metal.

Otávio: Em relação às canções, fluíram naturalmente, como disse anteriormente. Tudo era um consenso. Temos nossas diferenças, claro. Eu sou mais extremo nas minhas críticas, gosto de ser polêmico e agressivo nas letras, mas essa mistura de personalidades é que torna as canções mais ricas.

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Whiplash!: Algo curioso sobre "Fissura" é o fato de o Taurus novamente optar pelo idioma português, o que vai à contramão da tendência, onde as bandas visam o mercado externo. Porque essa decisão? Aliás, aproveito para elogiar o conteúdo de suas letras, a abordagem do comportamento humano está muito boa.

Sérgio Bezz: Foi uma opção que não foi imediata. Inicialmente fizemos as letras em inglês, estavam ótimas. Após conversas e um tempo de maturação, vimos que queríamos falar para o público no Brasil, ‘nosso público’ que reencontramos nos shows, que nos receberam tão bem, nos festejaram e cantaram as músicas sentindo o que elas diziam, não apenas como sonoridade da língua inglesa. Vimos que há uma mensagem que importa nas músicas, que isso toca o público em nossa língua que falamos. Isso não é indiferente para o público, e não é para nós, então, a decisão do português se impôs.

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Sérgio Bezz: Para nossa surpresa, está havendo um interesse do lançamento do "Fissura" em outros países, mas devo dizer que não era nossa intenção inicial, mas vamos lá, acho que ele é um disco de Thrash Metal, e isso é planetário hoje em dia. Ele já está em Portugal, com distribuição na Europa, e há outros países em contato para lançá-lo.

Otávio: Talvez a nossa ideia fosse mostrar que pode ser feito um bom trabalho em português, para dar mais valor ao nosso idioma. Já que você elogiou as letras - e agradeço - é bom ouvir algo que se entenda, e com temas construtivos, que façam você questionar sobre vários assuntos. Como em "Dias de Cão", abordando o tráfico de drogas ou ainda a música "Fanatismo", que aborda religião e intolerância. Neste momento não queremos seguir nenhuma tendência. Queremos fazer o que gostamos e acreditamos. Nada impede de, no futuro, optarmos pelo inglês. Mas, mesmo em português, o mercado europeu está nos acolhendo. Espero que gostem.

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Cláudio Bezz: Só para completar: nada mais moderno do que ser diferente. Houve total inversão de valores (ainda bem), pois nos anos 80 o "Signo de Taurus", nosso primeiro álbum, foi banido do mercado musical externo por cantarmos em português. Veja só... Hoje, em 2010, acabamos de licenciar o "Fissura", totalmente cantado na língua natal, para distribuição na Europa. Em breve estaremos no continente asiático também. Sinal dos tempos...

Whiplash!: Das trocas de fitas cassete nos anos 80 à troca de arquivos MP3 no novo milênio, um atual mercado fonográfico capenga... A estrutura mudou completamente. Considerando que "Fissura" é seu primeiro álbum independente, que esforços vocês tem feito para se inserir cada vez mais entre o público, com as possibilidades que a internet oferece?

Cláudio Bezz: Sempre fomos independentes. Reencontramos um público ávido por nos conhecer ao vivo, e que tem nos dado muita atenção. Não temos do que reclamar. Temos encontrado as portas abertas nos meios de comunicação, tanto virtuais como físicas (jornais, revistas, etc), pois fizemos um nome no passado que nos impõe hoje em dia. Temos todas as ferramentas ‘internáuticas’ possíveis para uma divulgação. Mas isso pode ser uma armadilha, pois se todos resolvem mandar um MP3 da sua banda para um meio de comunicação qualquer, ‘tudo vira nada’. Tem que ter foco e um ponto de ação. Um divulgador profissional é primordial. Estamos num momento de divulgação total do "Fissura" e nosso objetivo é fazer as pessoas ouvirem e terem acesso às nossas músicas. É nisso que acreditamos. Música é para ser ouvida.

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Whiplash!: Vocês estão entre os precursores do Heavy Metal brasileiro. Com todas as mudanças citadas acima, quais as maiores dificuldades enfrentadas pelo Taurus nesta nova fase?

Otávio: Acredito que a maior dificuldade é o tempo para nos dedicarmos mais à música. Todos têm outra profissão, família e não temos tanta disponibilidade para viagens e turnês longas.

Cláudio Bezz: Sinto ainda pouco profissionalismo na maioria das pessoas que ‘gerenciam’ e promovem shows de rock pesado no Brasil. Realmente faz diferença alguém que tenha visão objetiva e tome conta da logística que isso envolve. O público de Metal no Brasil é imenso e ninguém se tocou disso ainda. Um mercado totalmente aberto se trabalhado corretamente. Avante, senhores... Todos agradecemos.

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Whiplash!: E quanto às apresentações, elas estão acontecendo com frequência? Dá para sacar se houve uma reciclagem do público?

Otávio: Já fizemos apresentações em vários lugares pelo Brasil e percebemos a presença dos bangers das antigas, que por sinal é muito legal e gratificante, porque percebemos que fizemos parte da adolescência desta galera e fãs desta geração, que também nos engrandece e nos dá força para continuarmos. Nos shows vemos essa mistura de gerações participando e cantando nossas músicas. É foda demais!

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Sérgio Bezz: Sem dúvida. Ele é sempre reciclado, o que é uma característica do Heavy Metal. É de pai para filho. É freqüente encontrarmos os pais levando os filhos para conhecerem o Taurus nos shows. Acho que, se formos mais alguns anos adiante, serão os avós. A cultura do Rock e do Heavy é muito forte atualmente, e o público é também muito maior. Lembro-me do início da banda nos anos 80, quando avistávamos alguém com camisa de rock na rua íamos atrás para conhecer e ficarmos amigos, era comum isso. Hoje o mercado e a indústria do rock mudaram essa realidade, trazendo benefícios para a expansão do estilo, mas também trazendo muito lixo e reciclando muita porcaria puramente comercial, sem nenhuma verdade e nenhum sangue correndo nas veias.

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Whiplash!: Houve um tempo que a cena Heavy Metal do Rio de Janeiro era referência no Brasil, mas a situação declinou consideravelmente. A que se deve esse fato?

Sérgio Bezz: Difícil dizer. Uma ideia que tenho é que o Rio de Janeiro foi uma cidade de muita produção cultural nos anos 80. O Heavy Metal veio nesse contexto, com espaços para shows, muitas bandas pioneiras desbravando um estilo novo naquele tempo. Foi uma época de referência da cultura Heavy Metal para o Brasil, mas também como disparador de tendências culturais em outras áreas também, e isso declinou. Em parte, acho que com a internet isso se socializou. Antes tudo chegava ao Rio e São Paulo primeiro, e BH também. Agora qualquer um no interior do Tocantins pode ter acesso a novidades, novos lançamentos de todo o mundo.

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Sérgio Bezz: Houve também certo esvaziamento de iniciativas locais, como a rádio Fluminense da época, que era um grande criador de interesse pelo Metal, divulgando shows, bandas e incentivando quem tivesse algum trabalho para mostrar, como hoje há rádios em São Paulo, por exemplo. Mas o Rio, com tudo isso, continua com um enorme público de Metal esperando alguma organização mais profissional para aparecer, tenho certeza disso.

Whiplash!: Uma curiosidade final: o vocalista Otávio deixou o Taurus antes da gravação do segundo disco, "Trapped In Lies", que foi quando vocês adotaram o inglês com Jeziel no microfone. A troca de vocalistas teria algo a ver com o idioma? Afinal, "Fissura" segue em português, e o Otávio está novamente cantando...

Cláudio Bezz: Pura coincidência, já que não havia nenhuma idéia pré-concebida sobre o "Trapped In Lies" naquela época, muito menos no nosso novo disco, "Fissura". Aliás, o novo CD foi todo composto em inglês num primeiro momento e depois resolvemos cantar novamente em português, pelos motivos já citados.

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Otávio: A minha saída da banda não teve nenhuma relação com adotar o inglês no segundo disco, tanto que cheguei a assinar o contrato. Inicialmente o "Fissura" teria metade das composições em português e a outra em inglês, mas houve muitos pedidos de fãs pelo Orkut e nos shows, na preferência pelo português. Quem sabe o próximo trabalho será em inglês?

Whiplash!: Ok, pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte nesta nova fase do Taurus... O espaço é de vocês para os comentários finais - ao som de "Lágrimas de Sangue" (que porrada!).

Otávio: Eu é que agradeço por esta oportunidade e acredito que depois desta entrevista (perguntas muito bacanas, por sinal) os bangers poderão conhecer um pouco mais do Taurus, e ainda ao som de "Lágrimas de Sangue", que é a minha favorita. Porradaria de primeira. Muito obrigado, um abraço a todos e valorizem as bandas brasileiras.

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Sérgio Bezz: Agradeço ao Whiplash!. Escutem o "Fissura" e espero encontrá-los nos shows pelo Brasil.

Cláudio Bezz: Muito obrigado a você, Ben, pelo espaço e pelo apoio. Fizemos nosso novo CD sem concessões. Como sempre!!! É um retrato verdadeiro do que somos. Espero que possam escutá-lo... Queremos chegar muito longe com ele. Visitem-nos em www.taurusofficial.com e, se quiserem, podem adquirir o CD enviando um e-mail para [email protected]

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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