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Genocidio: expressando o sangue frio das Máfias!

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 18 de agosto de 2010

O Genocidio certamente ajudou a escrever alguns capítulos da ruidosa história do Heavy Metal brasileiro. Natural de São Paulo (SP), a banda foi formada no fim dos anos 80 e sempre teve como preocupação não se estagnar artisticamente, liberando álbuns bem distintos entre si e, consequentemente, conquistando um diversificado público pelo underground.

Ainda que tenha dado uma pausa de cinco anos, em 2006 o Genocidio retorna com o fundador W. Perna (baixo), Murillo L. (voz), Dennis D. (guitarra) e Fabio M. (bateria), que estão liberando agora seu sexto disco, "The Clan", via Mutilation Records. O Whiplash! conversou com Perna e Murilo, numa entrevista que mostra um pouco do passado e presente deste grupo que é tão importante para aqueles que acompanharam sua trajetória.

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Whiplash!: Olá pessoal! Já se passaram mais de duas décadas desde o início de suas atividades. Quais foram os destaques e pontos baixos da carreira do Genocidio neste período?

WPerna: Muita coisa aconteceu nessas duas décadas, e ter a oportunidade de gravar alguns LPs, CDs e um DVD foi de muita importância, como também os vários shows que fizemos pelo país. Acredito que o ponto baixo que tenha sido, não só para o Genocidio, mas sim para todas as bandas, a desvalorização musical.

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Murillo L.: Em minha opinião, na primeira época que eu fiz parte da banda, de 1992 a 1996, creio ter sido um dos pontos altos de nossa carreira, pois gravamos dois álbuns importantes, "Hoctaedrom" (93) e "Posthumous" (96), fizemos shows grandes e atingimos um patamar de popularidade e respeito que até hoje nos acompanha. Quanto ao ponto baixo, talvez o período após o lançamento do Rebellion (2001), onde a banda ficou inativa por cinco anos.

Whiplash!: Pois é, vocês atravessavam uma excelente fase com "Hoctaedrom". Porém, no ano seguinte, "Posthumous" chegou para dividir as opiniões do público, e inclusive houve tal briga que o Genocidio deu uma parada em suas atividades. O que aconteceu, afinal? E, passados todos esses anos, que análise você faria de "Posthumous"?

WPerna: Foi uma época muito conturbada, musicalmente todos estávamos satisfeitos com o resultado do CD, mas entre nós, não nos suportávamos mais (risos). Hoje essa briga foi superada e o maior exemplo foi o Murillo ter voltado ao posto de vocalista e guitarrista. Realmente foi uma grande perda para a história da banda, foi um CD que inovou em muitas coisas, como a faixa acústica "Goodbye Kisses", que tem vocal feminino e violino, o cover da música "Black Planet", do The Sisters Of Mercy, assim como o restante do CD, que traz riffs pesados e vários duetos de guitarra.

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Murillo L.: A briga foi motivada por desentendimentos na questão de como gerenciar a carreira da banda, pois musicalmente tínhamos feito nosso melhor álbum até então. Até hoje as pessoas falam dele e de como ele impactou a cena, trazendo uma veia gótica muito pronunciada. Considero "Posthumous" um álbum de vanguarda e alguns músicos da cena atual me disseram que ele foi uma influência para suas bandas, o que atesta a importância do material.

Whiplash!: O Genocídio foi reativado em 2006, e inclusive liberou seu primeiro DVD, "Probations Live", que mostrava todo o entrosamento da nova formação. Como foi a repercussão deste registro?

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WPerna: Foi melhor do que esperávamos, afinal a banda estava parada desde 2001, após o lançamento do CD "Rebellion". Conseguimos colocar um resumo da história da banda com alguns registros antigos e um show com a formação atual. Foi uma forma de mostrar para a nova geração um pouco do que era a cena no final dos anos 80 e anos 90, e acabou sendo compensador.

Whiplash!: Pois bem, estava na hora de um novo álbum de estúdio, e "The Clan" convence pelo bom gosto de suas composições e diversidade do repertório. Com sua história e a estabilidade da nova formação, que tipo de abordagem vocês quiseram proporcionar com este disco?

Murillo L.: Fico agradecido por sua visão do álbum, e nosso objetivo principal com "The Clan" foi mostrar mais uma vez que o Genocídio é uma banda original, que nunca apelou para modismos, e que agora, possuindo uma formação mais técnica, soube criar um material moderno, pesado e coerente com a história da banda.

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Whiplash!: E o quanto a produção de Marco Nunes e co-produção de Gilberto Bressan influenciaram no áudio de "The Clan"?

Murillo L.: Conversamos com eles no início de 2009 para, primeiramente, alinharmos aonde queríamos chegar em termos sonoros. Desde a pré-produção eles participaram contribuindo com idéias e sugestões, ambos souberam extrair o máximo da banda na hora da gravação, procurando realçar as diversas nuances do material e no momento da mixagem e masterização trabalharam muito para que o álbum soasse pesado e nítido. Certamente, a qualidade da produção foi um dos pontos altos de "The Clan".

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Whiplash!: Máfia! Não me lembro de outra banda usando esse tema em seus discos... Poderia falar mais sobre a forma como abordaram o assunto em "The Clan"?

Murillo L.: Na verdade a sua pergunta já responde o porquê de termos utilizado este tema. Como instrumentalmente estávamos buscando uma sonoridade ímpar, queríamos também fugir das temáticas usadas por outras bandas. As diversas máfias e suas características distintas de atuação formam um tema muito interessante. Expor o comportamento humano inerente a estas instituições foi o principal objetivo em "The Clan". Para construir esta obra me inspirei em filmes, séries e literatura em geral.

Whiplash!: Aliás, Perna, sua ilustração para a capa de "The Clan" ficou excelente. Qual a relação daquela criatura rastejante com a Máfia?

WPerna: Eu tenho ouvido muitas interpretações sobre essa imagem, as pessoas realmente estão associando-a com a máfia de várias formas, é gratificante poder ver que as pessoas ainda se preocupam com a parte ilustrada da música. Na verdade, foi uma idéia simples, os répteis, entre os seres vivos, são as criaturas mais traiçoeiras que existem no nosso planeta, então busquei uma forma de expressar o sangue frio, exatamente como agem as pessoas ligadas às máfias!

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Whiplash!: A primeira vez que o Venom tocou no Brasil, lá pelos meados da década de 80, rolou umas frescuras por parte dos ingleses, inclusive até com a imprensa da época afirmando que o Cronos até simulou um choque no microfone. Considerando que vocês abriram para o grupo há alguns meses, como rolou a apresentação e entrosamento com os caras do Venom? Tudo tranqüilo?

WPerna: Em primeiro lugar queria dizer que abrir esse show foi a realização de um sonho, em 1986 eu estava indo pela primeira vez assistir um show gringo, e esse show era do Venom! Mas infelizmente tivemos alguns problemas com o empresário do Venom, que a certo ponto do estrelato, ou melhor, estralado (risos) queria cancelar o pequeno show das bandas de abertura. Mas isso não abalou a noite e foi inesquecível!

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Whiplash!: Fale sobre os próximos shows da banda, como está a agenda?

WPerna: Temos três shows confirmados para o mês de setembro: dia 11 no Clash Club (SP) abrindo para o Voivod; dia 22 no Carioca Club (SP) abrindo para o Hypocrisy; e dia 25 no Conic em Brasilia (DF). Ainda existem outros, mas não temos uma confirmação exata.

Whiplash!: Tendo o Genocidio vindo de um período em que era importante adquirir discos de suas bandas preferidas, como estão se adaptando a esta ‘Era dos Downloads’, em especial morando em um país cuja população não se preocupa muito em baixar um disco de forma ilegal?

Murillo L.: Estamos tão adaptados a esta nova realidade que a idéia inicial de se lançar "The Clan" seria através do MySpace da banda! O formato CD está passando por um período de obsolescência e tende a desaparecer em um futuro próximo. A pirataria não nos afeta, pois não somos uma banda que vende milhões de cópias dos nossos álbuns, apesar de que já autografamos material pirata do Genocidio (risos).

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Whiplash!: Neste sentido, como está sendo o trabalho da Mutilation Records? Nestes dias de transição da indústria fonográfica, até onde os selos pequenos e de médio porte podem ajudar no desenvolvimento de uma banda?

Murillo L.: Perfeito! O Tullula, dono da Mutilation, distribui o CD em âmbito nacional e ainda anuncia o produto em revistas especializadas, ou seja, atende as nossas necessidades de divulgação do álbum. Os selos pequenos e de médio porte são essenciais para a cena Metal no Brasil, mesmo porque as grandes gravadoras não se interessam pelo gênero e já se encontram em situação complicada, pois seus produtos são os alvos prediletos da pirataria. Podemos ficar tranqüilos, enquanto os selos menores trabalharem corretamente e existirem, o a produção de CDs de Metal nacional está garantida! (risos)

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Whiplash!: A ideologia era um termo bastante comum, e preservada com unhas e dentes pelo público headbanger da década de 1980. Como vocês encaram a postura dessa nova geração, em relação ao Heavy Metal?

Murillo L.: É verdade, havia um conservadorismo maior na década de 80, mas também tínhamos uma cena mais unida e íntegra, até de certa forma radical. Porém, hoje em dia há mais acesso à informação e a ideologia deixou de ser um aspecto fundamental da cena, fazendo com que as pessoas curtam bandas de Metal e de outros estilos também.

Whiplash!: Perna, uma curiosidade final... Há alguns anos, você se acidentou nas escadas da Galeria do Rock. Que fim levou todo esse episódio? Tudo certo com sua mão?

WPerna: Infelizmente eu perdi metade do polegar direito... O que me impediu de continuar a tocar guitarra. Vamos dizer que sou uma das poucas pessoas que deu um pouco mais que o sangue pela cena do Metal nacional. (risos)

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Whiplash!: Pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Genocidio. O espaço é de vocês para os comentários que julgarem necessários, ok?

WPerna: Obrigado a todos que estão sempre nos acompanhando e, em especial, a você e toda a equipe do Whiplash!, hoje vocês são uma referência para o que está acontecendo na cena do Metal nacional!

Murillo L.: Ben, mais uma vez muito obrigado pelo espaço cedido ao Genocidio, e também gostaria de agradecer às pessoas que nos ajudaram desde o início do Genocidio até o "The Clan". Quem quiser conhecer mais da banda acesse www.genocidio.com.br. Abraço!

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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