Cryhavoc - Entrevista exclusiva com o guitarrista Risto Raven.
Postado em 20 de janeiro de 2000
Com os pés na estrada desde 1992 (há quase uma década), o Cryhavoc lança agora seu segundo disco intitulado curiosamente "Pitch-Black Blues". A Whiplash! foi atrás da banda e conseguiu uma entrevista exclusiva com Risto Raven, guitarra do grupo, que, muito divertido, conversou numa boa. O resultado está aí.
Por Haggen Kennedy
Tradução: Haggen Kennedy
Whiplash! / Primeiramente, como tem sido as vendas do "Pitch-Black Blues"?
Risto Raven / Na verdade, eu não tenho a mínima idéia [risos]. Pelo que eu ouvi ele tem se saído relativamente bem, porém não há quebra de recordes ou coisa assim. Acho que ainda falta muito até que estejamos vendendo tanto que possamos pagar o aluguel de nossos apartamentos. [risos]
Whiplash! / Como você compara "Sweetbriers" e "Pitch-Black Blues"? O que você acha que a banda atingiu com esse álbum?
Risto Raven / Acho que "Pitch..." é um disco mais intenso e mais pensado. Quando fizemos "Sweetbriers", tivemos apenas uns poucos ensaios com a line-up completa antes de entrar em estúdio. Mas com o "Pitch..." nós tivemos mesmo grandes momentos tocando e dessa vez todos nós tivemos grande parte em sua escrita. Hoje em dia sabemos o que queremos e pra onde queremos ir. Isso é realmente muito bom.
Whiplash! / E por que o nome "Pitch-Black Blues"? Quem escolheu o nome?!
Risto Raven / [risos] Muita gente tem me perguntado isso, até mesmo o pessoal da gravadora [mais risos]. Bem, eu pensei no nome num dia quando saímos de um bar. A idéia pareceu preencher exatamente o que estava sentindo e eu contei ao resto do pessoal e eles gostaram. Então, o Kaapro [vocalista] escreveu a letra "Pitch-Black Ink" e adicionou o seu próprio feeling e é isso aí. "Room is falling down on me..." [N do T: "o quarto está caindo em cima de mim"] depois de uma puta noitada num bar é uma coisa bem normal de acontecer. [risos]
Whiplash! / No comecinho de tudo, quando a banda ainda era chamada Preprophecy o som de vocês era mais orientado ao death metal cru. Como você encara o fato de estar soando hoje não tão brutal quanto antes e com músicas onde as melodias são marcantes? Quero dizer, suas músicas hoje em dia têm melodias extramemente bonitas e as letras não são do tipo "Morra! Morra! Morra!". Isto pode ser encarado como um sinal de evolução?
Risto Raven / [pensando] Na verdade, quando tocamos Death Metal no começo era um tanto melódico. [pensa mais um pouco] Sim, é verdade, no comecinho era mais cru, mesmo. Mas foi por pouquíssimo tempo. Sempre tivemos esta parte melódica muito forte conosco. Um bom exemplo é "Wolfdance" que escrevemos em 95 e foi a última música do nosso período de Death Metal cru e após essa canção nós basicamente mudamos pra uma coisa mais rock. Aliás, é realmente engraçado o fato de ainda estarmos tocando essa música em nossos shows.
Whiplash! / E sobre a evolução?
Risto Raven / Oh, você não esqueceu, hein [risos]. Bem, esse lance de evolução acho que é uma coisa muito natural. Se você não toma as músicas como elas vêm e apenas quer mantê-las no mesmo nível o tempo todo, isso será em primeiro lugar muito chato. E segundo, se você fica o tempo todo naquele mesmo lugar, você não pode ver o que está adiante na mesma estrada.
Whiplash! / Quando Taneli Nyholm e Matti Roiha se juntaram ao grupo... por que a banda mudou seu nome para Ravensfall?
Risto Raven / Porque não queríamos atuar mais sob um nome death metal. Acho que quando o estilo da música muda tanto, você precisará de um novo nome pra isso. E eu realmente odeio bandas que ganharam seu sucesso com aquele som cru e hoje em dia tocam techno ou alguma porcaria do tipo e mantém o mesmo nome. Isso me deixa fulo, cara. Digo, apenas mudanças radicais, não o progresso natural.
Whiplash! / Em 1996, Taneli e Matti tiveram que sair porque a Absurdus [banda dos dois] conseguiu um contrato com a Candlelight Records. Então, Kari Myöhänen e Pauli Tolvanen vieram. Mas de onde exatamente esses dois últimos vieram?! Eles tinham banda ou eram velhos amigos ou coisa do tipo?
Risto Raven / Eu conheci Pauli com um amigo de um amigo meu [risos]. Eu tinha ouvido que ele era um puta batera e então estávamos enchendo a cara um dia numa festa na praia e eu perguntei ao Pauli se ele estaria interessado em chegar junto e pegar o lugar da batera pro nosso primeiro disco. E ele estava. E Kari tocou na primeira line-up, a original, mesmo, com Kaapro e Jouni em 1991, se não me engano. Naquele tempo ele tocava bateria, mas logo depois virou baixista.
Whiplash! / Baixista?!
Risto Raven / [risos] É. Deus sabe o que se passa na cabeça daquele lá [mais risos]. Bem, ele então ficou sendo uma escolha bastante óbvia para o baixo no "Sweetbriers" porque ele era o único cara que poderia aprender as músicas em um tempo tão curto. E estava completamente a cargo dele aceitar ficar no Cryhavoc. Ainda bem que ele aceitou.
Whiplash! / E se ele não aceitasse?
Risto Raven / Aí então daríamos um chute no traseiro dele e espalharíamos que nós o colocamos pra fora porque ele era muito ruim. [gargalhadas gerais]. Brincadeira, o Kari é muito gente fina. Bem, nós teríamos que procurar alguém mais, mas provavelmente estaríamos ferrados. Estávamos com data marcada pra entregar o material.
Whiplash! / Pois é. Em 97, a banda assinou com um selo de Singapora e então vocês entraram num estúdio chamado Tico-Tico para gravar o disco. Mas pelo que eu sei a Ásia teve uma puta crise na moeda corrente e vocês se ferraram legal, tendo problemas até pra pagar o estúdio. Como diabos vocês se livraram dessa?
Risto Raven / [rindo muito] Oh, meu Deus, você me lembrou disso, não acredito [mais risos]!! Cara, nós tivemos um momento muito divertido no estúdio enquanto quebrávamos nossas cabeças pra pensar em como diabo faríamos pra pagar as contas [risos]. Mas, bem, terminamos o disco muito cuidadosamente e fizemos com que fosse lançado da melhor maneira possível. Então, assim que saímos do estúdio, a primeira coisa que fizemos foi ligar para o Ewo [N do E: empresário da Spinefarm Records] e eu disse a ele "Alô? Ewo? Adivinhe? Estamos completamente ferrados aqui!!". E ele do outro lado da linha sem ter a mínima idéia de que inferno estava acontecendo [rindo muito]. Foi muito engraçado. Bom, o Ewo deu uma ouvida no disco depois, e tendo analisado o material, ele nos ligou e disse: "mandem Singapora pro inferno". [gargalhadas gerais]
Whiplash! / Qual era o nome do selo de Singapora?
Risto Raven / Eu prefiro não dizer publicamente porque não quero que eles fiquem com má reputação. Eles simplesmente foram o único selo que nos ofereceu um contrato na época e por causa deles entramos no estúdio, então de uma certa forma devemos a eles muita coisa.
Whiplash! / Tá bom. Bem, hoje vocês têm um contrato com a Nuclear Blast. Vocês estão felizes com o selo?
Risto Raven / Na verdade, nós não temos um contrato com eles. Temos um acordo de três álbuns com a Spinefarm Records e a Nuclear Blast não quis pegar o "Pitch..." como fizeram com o "Sweetbriers" antes. Aliás, isso é bem ruim porque o marketing europeu central anda podre esses dias...
Whiplash! / [risos] Bem, eu perguntei isso porque vocês mudaram o nome de "Ravensfall" para "Cryhavoc" quando assinaram com a Spinefarm Records e a Nuclear Blast ajudou na distribuição do CD. Mas por que vocês mudaram o nome da banda novamente? O selo impôs isso ou foi uma decisão da banda? Digo, vocês não tiveram nenhuma mudança brusca no som de Ravensfall pra Cryhavoc.
Risto Raven / Bem observador, você [risos]. Bem, quando fizemos o acordo com a Spinefarm Records, pensamos em mudar o nome porque aqui na Finlândia haviam toneladas de bandas com Raven-alguma-coisa e não queríamos ser apenas mais uma. Era o mais óbvio a fazer.
Whiplash! / Depois que vocês lançaram o "Sweetbriers", fizeram uma tour com o The Gathering...
Risto Raven / Oh, a turnê, na verdade, era pra ser com o Sculpture e com o The Gathering, mas o Sculpture cancelou a parte deles. Então, o Eddie [N do E: promotor da Nuclear Blast] ligou pra nós em uma Sexta-feira e disse: "tour de três semanas como The Gathering. Estão nessa??". Bem, nós estávamos e os alcançamos uma semana depois.
Whiplash! / E foi legal a tour?
Risto Raven / Oh, sim, tivemos ótimos momentos lá e toda a crew do The Gathering foi formidável conosco.
Whiplash! / Quando terminou essa tour e em que países vocês tocaram?
Risto Raven / Terminou em Fevereiro de 99. Tocamos na Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, França, Inglaterra e Bélgica.
Whiplash! / Bem, eu pensei que vocês tivessem lançado o segundo disco pela Nuclear Blast, mas como vocês disseram, esse selo não quis distribuir o CD e vocês lançaram pela Spinefarm. Mas quando é que a nova turnê vai começar?
Risto Raven / É, nós lançamos o disco em Agosto pela Spinefarm. Como a Nuclear Blast não fez um contrato de licença com a Spinefarm acho muito improvável sairmos em uma tour realmente grande num futuro próximo...
Whiplash! / É uma pena... mas mesmo assim há quaisquer planos para tocar em outros continentes? Talvez uma chancezinha de vir pra cá...?
Risto Raven / Seria realmente ótimo se nossos discos vendessem o bastante para cobrir todas as despesas e houvesse alguém tomando todas as providências, agilizando o necessário. Porque estamos prontos para ir para onde quer que soe cabível. Esperamos poder estar aí no futuro. Então estamos prontos para ir aí e "rock your asses". [risos]
Whiplash! / De volta ao disco, o encarte de "Pitch-Black Blues" diz que todas as letras foram escritas por L. C. Rough. Afinal, quem é esse personagem misterioso?!?
Risto Raven / [rindo] L. C. vem de Lord Calvert, que é o whiskey mais barato que existe na Finlândia. [risos]. As letras foram escritas pelo Kaapro. Às vezes eu dou a ele um título para as músicas e ele faz com que a letra encaixe na música.
Whiplash! / Na versão brasileira de "Pitch-Black Blues" há 3 bonus tracks. Sãs elas: "The Key", "Wolfdance" e "Blackheart". Mas tanto quanto sei, elas são da Promo Demotape lançada em 1996 e estas faixas têm outros nomes. São, respectivamente: "Key to Paradise", "Wolfdance" e "My Heart Is Black (As The Sky Above Me)". Por que estas músicas tiveram seus nomes mudados? Vocês realmente mudaram ou teve alguma coisa a ver com prensagem errada e coisa do tipo?
Risto Raven / Na verdade, eu nem sei porque têm títulos diferentes. Acho que a Laser Company Records e/ou Rock Brigade Records [N do E: selo que distribui o CD aqui no Brasil] quis colocá-los desse jeito ou nas fitas DAT masters elas foram escritas desse modo. Mas eu não me importo contanto que elas soem boas. [risos] E, ah, sim, elas são da promo 96, mesmo, e é realmente engraçado porque nunca pensamos em lança-las em qualquer formato, mas agora estão no nosso novo CD.
Whiplash! / Então são os antigos componentes tocando as músicas ali?
Risto Raven / Sim, lá são Taneli Nyholm e Matti Roiha tocando baixo e bateria, respectivamente. Acho que eles realmente gostaram dessa idéia. [risos]
Whiplash! / Uma pequena curiosidade: por que você parou de usar seu verdadeiro nome, Risto Lipponen, e começou a assinar como Risto Raven?
Risto Raven / Originalmente foi idéia do Kaapro me chamar de Raven porque eu estou sempre em roupas pretas e tal [N do T: ‘Raven’ como adjetivo significa ‘negro e lustroso’]. E no final eu gostei disso, é melhor ser um corvo nas árvores do que um pardal no meio dos outros [N do E: ‘Raven’, como substantivo, significa ‘corvo’].
Whiplash! / "Sweetbriers" tem 8 músicas. Assim como "Pitch-Black Blues". Vocês têm músicas que não entraram na track list do álbum? Se sim, planejam relançá-las num B-Side ou coisa do tipo? Talvez um EP...
Risto Raven / Não, nós não temos nenhum plano para singles ou qualquer coisa. Há 8 músicas porque queríamos manter o disco numa embalagem apertada. Sabe, sem que seja um disco chato. As músicas vêm com todas as suas forças depois de algumas ouvidas, e quando o álbum é estreito uma pessoa pode ouvi-lo de novo e de novo sem ficar entediado de morrer.
Whiplash! / Bem, não poderia deixar de perguntar... quem teve a idéia para ambas as capas?
Risto Raven / [risos] Kaapro encontrou a de "Sweet..." em uma revista de fotos e ele quis aquela foto na capa. Ele contou a idéia para o pessoal da Spinefarm e então eles compraram os direitos autorais das fotos. Com "Pitch..." nós pedimos ao mesmo fotógrafo que tirou a foto da primeira capa [N do E: o nome do cara é Johan Sorensen] e ele mandou um pacotão cheio de fotos no estilo pra gente. Foi bem fácil escolher essa que se tornou a capa do "Pitch...".
Whiplash! / Vocês já tiveram problemas por causa dessas capas?
Risto Raven / Não. Quer dizer... as pessoas nos perguntam se não temos medo de ser taxados de sexistas, mas não estamos com medo e não somos sexistas. Para nós, as capas simbolizam a bela e a fera no mesmo pacote. E as capas são também muito ilusórias mais ou menos no estilo de David Lynch.
Whiplash! / Há alguma coisa pronta para um novo disco ou vocês estão focalizando a atenção de vocês em uma possível turnê do álbum por aí pela Finlandia?
Risto Raven / Temos algumas idéias e metade das músicas terminadas, mas nada de espetacular por agora. E como não há turnês ou shows à vista (talvez alguma coisa muito pequena), estamos aproveitando todo o nosso tempo sem estresse e tal. Vamos ao estúdio provavelmente no próximo outono ou inverno [N do T: nossa primavera e verão]. Não sei, veremos.
Whiplash! / Bem, é isso aí, chegamos ao final da entrevista. Algum comentário final?
Risto Raven / Bem, obrigado por essa entrevista e, pessoal, peguem o "Pitch-Black Blues" na sua loja de metal local. Para mais informações dêem uma olhada em www.come.to/cryhavoc.
Whiplash! / Posso divulgar seu e-mail de contato?
Risto Raven / Claro, sem problemas [N do E: é [email protected]]. Muitos abraços, cuidem-se por aí. Mais uma vez, obrigado pela atenção. /)
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