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Philippe Seabra - Entrevista concedida à Revista Rock Brasília

Postado em 29 de outubro de 1999

Philippe Seabra é uma figura ímpar na história do rock brasiliense. A primeira vez que eu o vi, junto com a Plebe Rude, foi num um palco da cidade, em 1982, tocando no Festival Interno de Música do Marista (FIMM) junto com as plebetes Ana Galbinsky e Marta Brenner. Na época, o guitarrista da Plebe Rude tinha apenas 13 anos e um topete de provocar inveja em qualquer Brian Setzer da vida. Seu cabelo cobria os olhos. Parecia mesmo a cabeleira de um hippie virada ao contrário, como se fosse uma peruca invertida.

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Naquele show, Philippe já mostrava ter carisma e presença de palco, pulando como um louco e tocando uma guitarra endiabrada - a mesma Gibson Les Paul que até hoje empunha com talento e desenvoltura. De lá para cá, a Plebe Rude saiu do gueto das festinhas para ganhar os grandes palcos da cidade, depois do país, até virar uma superbanda, ser premiada com disco de ouro, gravar mais três discos, tornar-se um duo e acabar. O grupo encerrou suas atividades quando Seabra decidiu largar tudo e partir para Nova York, em 1995, em busca de novas experiências. "Saí daqui porque estava cansado de ser o Philippe da Plebe", recorda. Naquele momento, a Plebe parecia não ter mais volta.

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Cinco anos depois de se instalar em Manhattan e dois anos depois de começar a trabalhar com sua nova banda, a Daybreak Gentlemen, Philippe resolve voltar ao Brasil para encerrar um ciclo de sua vida: consumar um grande show da Plebe Rude, a mesma saudosa Plebe que havia fundado para mudar a face do rock brasileiro na década de 80. Um show com a formação original da banda. Tocar novamente com André X, Gutje Woorthman e Jander Bilaphra. E sair em turnê para a gravação de um disco ao vivo da banda.

Guitar hero para os plebeus, Philippe Seabra recebeu a Rock Brasília após a concretização dos seus planos iniciais - o show da Plebe no 2º Festival Porão do Rock foi um sucesso de público e crítica. Feliz da vida e de ótimo astral, ele mostrou-se disposto a uma longa conversa ao me receber numa segunda-feira à tarde no apartamento do parceiro André X, na Asa Norte de Brasília. Ali, rodeado de discos e manuseando o supercomputador de André, Seabra falou sobre a volta da banda, as dificuldades de consolidar a reunião do grupo, contou histórias hilárias dos amigos, fez um balanço sobre a carreira e traçou seus planos para o futuro imediato: a gravação do disco ao vivo, a realização de shows pelo país, o lançamento de um documentário sobre a banda e o relançamento do média metragem Ascensão e Queda de Quatro Rudes Plebeus, produzido por Gutje Woorthman e a banda no início da década de 80.

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A seguir, a íntegra da entrevista concedida pelo líder da Plebe Rude, feita em duas sessões. A primeira, no apartamento de André, entrecortada pela audição de vinis raros do amigo - dono de um acervo de causar inveja a muitos colecionadores –, e a segunda, durante o percurso entre seu local de hospedagem e o restaurante Francisco, na Asa Sul, onde o plebeu-mor jantou.

Por Olímpio Cruz Neto, da revista Rock Brasília

Rock Brasília / Como é que surgiu a idéia de retomar a Plebe Rude e trabalhar pela volta da banda aos palcos?

Philippe Seabra / No meu querido Macintosh Classic existe um arquivo chamado Plebe. Ali, tem uma proposta que há muito tempo eu fiz, mandei para a EMI, por intermédio do Herbert (Vianna, guitarrista dos Paralamas do Sucesso), mandei para o Pedro (Ribeiro, produtor dos Paralamas), o Savalla (Carlos Savalla, engenheiro dos Paralamas)... Há muito tempo. E todo o ano mudava. A proposta continuava a mesma, só que mudava o ano. Era Plebe 96, aí virou Plebe 97, depois, Plebe 98. Com a mesma proposta: "Não existe nenhuma obra da Plebe em catálogo, há 12 anos, 13 anos... O Concreto já rachou ganhou disco de ouro, é considerado blablablabla... É chegado o momento de resgatar isso. O momento é muito oportuno, levando em conta a regravação de sucessos da década de 80 do Kid Abelha". Tinha mais alguma coisa acontecendo, uma onda de revival... Só que nada, nada rolou. Precisamos lembrar que estamos no Brasil, né? E planejar essas coisas, ainda mais onde não existe uma tradição cultural de revival, é muito difícil... Eu moro em Nova York e lá, todo final de semana, aparecem bandas tipo The Doobie Brother, Sex Pistols, The Almann Brothers... Tem um mercado de CDs... Pô, graças a isso, eu consegui ver todos os meus heróis: Buzzcoks, Gang of Four, Killing Joke, Sex Pistols, The Who, Stranglers, Specials... Eu vi Killing Joke duas vezes... Eu fiquei pensando: pô, seria tão legal um dia poder proporcionar isso aos fãs.

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Rock Brasília / A volta da Plebe então não era apenas um sonho para os fãs...

Philippe Seabra / Com o lançamento do Daybreak (Gentlemen, banda novaiorquina de Seabra) e todo o auê que rolou - pô, foi capa do Globo e tudo o mais... Isso no meio de 1997. Poucos meses depois, a EMI lançou o box set (a caixa com os três primeiros discos da Plebe)...

Rock Brasília / Com três mil cópias...

Philippe Seabra / Isso. Da mesma maneira que veio, foi embora. A gente, Djavan e Maria Bethânia sold out (venda esgotada) da noite para o dia. Só que a EMI travou e, nessa época, a gente começou a dar entrevistas, dizendo que ia levantar a bola e fazer uma excursão. Só que, sem o apoio da EMI, era muito difícil fazer da maneira que queríamos. Aí não rolou, continuaram os boatos, saiu o The Best Of (CD da Plebe Rude, pela série Preferência Nacional) com um repertório de primeira que eu escolhi a dedo, só que a capa e o texto do CD (faz uma expressão contrariada)... Eu ainda vou encontrar o jornalista que fez esse texto e dar um tapa nele (risos). Com isso, dá para ver o desdém da EMI em relação à Plebe...

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Rock Brasília / Mas isso foi em 1997, de lá para cá...

Philippe Seabra / Eu não sei exatamente quando começou a rolar... O Gutje (Woorthman, baterista da Plebe) gosta de ter a paternidade da volta da Plebe, mas não é bem assim. Um ano e meio atrás, eu fui encontrar com o Capital Inicial em Nashville, eu gravei uma música com eles. Aproveitei que ia ter uma reunião com o pessoal do meu escritório, do Daybreak Gentlemen, que tem uma divisão lá em Nashville, e toquei numa faixa do disco Atrás dos Olhos e conversei com o empresário do Capital sobre a possibilidade de um retorno da Plebe. Ele me disse que a Abril Music estava investindo muito em bandas de rock, mas avisou que a gravadora certamente não ia querer um disco Best of... da Plebe. Ia querer um disco novo. Aí eu fiquei pensando: não é à toa que eu tive que sair do Brasil...

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Rock Brasília / Por causa dessa coisa de gravadora?

Philippe Seabra / É. Um empresário discutir comigo que uma gravadora não ia querer ter em catálogo o melhor disco de rock brasileiro - quem disse isso não fui eu, foi a crítica. É meio bobão isso, né? Ah... Vá se foder todo mundo. Será que é só eu que vejo isso?

Rock Brasília / A burrice da indústria fonográfica?

Philippe Seabra / Exato. Será que só eu que vejo isso?

Rock Brasília / E o papo com a gravadora furou?

Philippe Seabra / Bom, eu fui embora, mas rolaram as conversas na Abril Music, que eventualmente se mostrou disposta e tal...

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Rock Brasília / Mas aí você ficou praticamente trabalhando com o Daybreak de lá para cá.

Philippe Seabra / É, praticamente. A banda é realmente bem legal e estamos em processo de negociação com uma grande gravadora internacional para lançar o disco no mercado externo - basicamente Estados Unidos e Inglaterra. Eu tenho músicos de nível internacional na banda. O meu baterista excursionou com o Duffy, baixista do Guns’n’Roses, fez uma tour internacional. Fez Japão, Itália. Esse cara tocou com o Lenny Kravitz, ele era da cena hardcore de San Francisco e de Los Angeles, embora hoje toque um pouco mais suave.

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Rock Brasília / Voltando à Plebe. E os contatos entre vocês da banda?

Philippe Seabra / Pois é, todo mundo falava da volta da Plebe, mas cadê a Plebe? Os caras não se encontram há dez anos, a gente não tem muito poder de barganha também, né? Foi então que, este ano, o André (X, baixista da Plebe Rude) me mandou um e-mail dizendo: "Cara, vai ter um festival aqui em Brasília (2º Festival Porão do Rock), com uma super-estrutura legal e estão querendo que a gente toque, não tem grana, mas eles cobrem todo o resto - hospedagem, passagens aéreas, infra no palco etc." Eu falei: "Pô, André, vai ser muito difícil eu parar aqui... Além disso, será que o Jander (Bilaphra, vocalista da Plebe) vai poder largar as coisas dele?" Aí foi indo... A gente começou a achar legal e começou a crescer a coisa. Teve uma hora que dissemos: tá bom, vamos fazer! A gente sentiu que a única maneira de concretizarmos essa volta era aparecermos e fazermos um show. E fizemos. O resto agora é história (risos)...

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Rock Brasília / A verdade é que o festival acabou viabilizando a vinda de vocês.

Philippe Seabra / Exato. Os quatro tinham que se encontrar e, o mais importante, todo mundo pensava: o Philippe tem que estar no Brasil.

Rock Brasília / Havia realmente um temor da produção do Porão do Rock em relação à sua vinda, porque todos achavam que você seria o...

Philippe Seabra / (Interrompendo) O mais difícil. Verdade. Eu tenho os meus compromissos lá, eu tenho o meu trabalho com o Daybreak Gentlemen que eu levo muito a sério e, na boa, não fodam com o Seabra que isso é muito sério (pausa). Mas a Plebe faz parte da minha vida, né? Eu queria encerrar esse ciclo com chave de ouro (risos). É muito estranha essa frase, né? (risos)

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Rock Brasília / Mas acabou rolando tudo...

Philippe Seabra / Eu fiz também algumas exigências, preciso de amplificador tal e mais isso... Mas quando eu soube que o Dênis e o Marcone (Dênis Torre e Marcone Barros, donos da empresa responsável pela montagem de palco do festival, a Instrumental) iam fazer o som eu pensei: "Pô! Isso vai ter um certo nível!"

Rock Brasília / O que você achou do festival?

Philippe Seabra / É o evento mais importante de rock de Brasília em muito tempo, né? Tem um certo mérito das bandas, eu vi na televisão, embora algumas delas sejam meio inexpressivas porque não têm um trabalho muito forte, algumas não têm personalidade, não têm carisma, mas teve outras que eu fiquei muito impressionado.

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Rock Brasília / Gostou de alguma banda, particularmente?

Philippe Seabra / Gostei do Sheik Tosado. É meio Raimundos, meio Chico Science, mas eles fazem bem feito. Não é o som que eu escuto, mas é legal. Finalmente, existe no país um rock com sotaque mais regional, porque quando a geeeente (exagera) foi fazer isso no nosso terceiro disco (Plebe Rude, EMI 1989), fomos massacrados. MAS - SA - CRA - DOS!!! (enfático)

Rock Brasília / Você gostou de outras coisas?

Philippe Seabra / No geral... Não sei, cara. Olha, eu estou fora do país. Sou a última pessoa a dizer o que vai e o que não vai (fazer sucesso). Eu seria aquele cara a jogar fora a fita demo do Engenheiros do Hawaii pela janela. Seria o cara a mandar os Beatles de volta para casa.

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Rock Brasília / (risos)

Philippe Seabra / É sério. Eu sou péssimo com isso.

Rock Brasília / Você seria aquele cara da Decca que deixou de contratar os Beatles (risos)...

Philippe Seabra / Exatamente. O cara que até hoje deve estar batendo com a cabeça na parede (risos). Eu moro fora do país, toco com americanos. Não sou a pessoa ideal para falar do rock nacional. Nem quero decepcionar os fãs, mas eu realmente não estou tão ligado mais em rock nacional. Até porque eu não estou morando no Brasil. Vejo esse lance de cooperativa, acho isso legal. Mas acho que isso está diluindo um pouquinho, porque todo mundo quer gravar, todo mundo quer aparecer na MTV... Na verdade, não é nem isso. É que todo mundo consegue se ver lá, já consegue imaginar rolando o disco. Isso dilui o conceito inicial. Perguntar se eu acho que vai se repetir aquele boom no rock de Brasília, é claro que não. De jeito nenhum, não vai se comparar nunca.

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Rock Brasília / O momento histórico é muito diverso.

Philippe Seabra / Naquela época não rolava nada, havia repressão militar, fim do governo (Ernesto) Geisel, início do governo (João) Figueiredo, havia censura. Não era nem essa coisa de ‘não tinha mercado’. Não havia nem mesmo o conceito de mercado. Não tínhamos acesso a absolutamente nada. E isso não vai se repetir, infelizmente. Não estou falando (imitando voz de velhinho): "na minha época..."

Rock Brasília / O dinossauro do rock [risos].

Philippe Seabra / Pois é. Mas o que eu acho é que as bandas não podem deixar diluir sua proposta inicial de fazer um som, de tentar mudar as suas próprias vidas, de reclamar e de ficar puto... Não essa coisa de vamos fazer assim, porque fulano tocou na rádio, sicrano está na MTV... Não sei. É outra época, mas me preocupa isso. Pelo que eu vi no festival, tem muita coisa boa, mas tem muita coisa que está naquele caminho: "o cara da gravadora está aí".

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Rock Brasília / Voltando um pouco ao show de vocês...

Philippe Seabra / Os quatro tinham que se encontrar um dia. Nos encontramos. E, sinceramente, eu não consigo imaginar rolando melhor, só se o Jander tivesse aqui antes para a gente ensaiar a semana toda. O show para mim foi perfeito. Sério. Eu não tenho uma reclamação do show. O André deu uma atravessada no meio de Bravo Mundo Novo, mas fora isso... E da mesma maneira que o André atravessou, o Gutje pá. Parou uma parte e conseguimos continuar. Pô! Eu toco junto com esses caras há tanto tempo e vi que a gente ainda tem aquela cumplicidade no palco.

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Rock Brasília / Durante os ensaios não rolou uma certa apreensão? Logo que você chegou em Brasília, a gente se encontrou e você estava meio pilha...

Philippe Seabra / É. Era meio surreal, né?

Rock Brasília / A mim, lembrou muito o começo da banda.

Philippe Seabra / É verdade. Eu fiquei preocupado. Afinal, eu estou tocando lá (em NY), mas eu não sei se o Gutje ainda está tocando bateria ainda, sabia que o André tocava aqui e ali, mas não tocava todo dia, né? Eu nunca parei de tocar. E, inegavelmente, o Daybreak me acostumou muito mal. Embora eu pregue a democracia e a liberdade de expressão, o Daybreak é uma ditadura e eu a exerço, embora seja um ditador benevolente (risos). Eu me acostumei mal porque não tenho que discutir arranjo, mas no caso da Plebe até que não rolou nada assim, porque as músicas tinham que sair iguaizinhas às gravadas nos discos.

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Rock Brasília / Qual foi a primeira música que saiu no ensaio?

Philippe Seabra / Até Quando Esperar, é lógico.

Rock Brasília / Saiu de uma vez?

Philippe Seabra / Saiu no pau, inteira. Até as firulas do André no baixo. Foi muito legal. Aí tiramos Proteção, foi indo. Teve umas mais cabeludas, como Valor e Códigos.

Rock Brasília / E Valor não entrou no show.

Philippe Seabra / Pois é, eu pensei que o Jander gostaria de cantar essa.

Rock Brasília / Engraçado, hein...

Philippe Seabra / Além da apreensão, eu também estava preocupado por conta de um pesadelo que eu tenho, que é recorrente, há cinco anos. A cada três meses eu tinha esse pesadelo e isso me estragava o dia.

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Rock Brasília / Como é que era esse pesadelo?

Philippe Seabra / Eu estava no palco, na volta da Plebe, e dava um branco total, a platéia vaiando e uma merda. E eu chego aqui em Brasília e estava rolando o resfriado da Tiazinha, eu comecei a me sentir meio mal e o Jander não está (leia mais na reportagem A Volta da Plebe). Aí eu descubro que o show vai ser transmitido ao vivo pela televisão, pelo rádio...

Rock Brasília / Você não sabia disso?

Philippe Seabra / Não sabia. Não sabia que todo crítico musical do país iria estar aqui, que ia rolar o maior auê e que todo mundo comentava sobre a volta da Plebe... Eu sabia que ia ter um auê, mas não nessa proporção toda. Estava tão preocupado em fazer o show legal que não conseguia pensar em mais nada. Nem em mulher (risos). Mas o show rolou, rolou muito bem. Foi um sufoco, porque muita coisa recaiu sobre mim. Até cinco horas do show, eu era o único guitarrista (Jander só chegou em Brasília no próprio domingo, dia da apresentação, por causa de compromissos profissionais como roadie manager dos Engenheiros do Hawaii). Apesar das guitarras do Jander serem base, fazer esse show como trio era uma incerteza... Até o último momento não sabíamos se o Jander vinha. Só quando ele ligou avisando que estava embarcando em Curitiba para cá é que deu para respirar... Olha só que legal! (Philippe aumenta o volume do toca discos em que está rolando a banda americana XTC).

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Rock Brasília / No show houve ainda uma surpresa, com uma justa homenagem ao Escola de Escândalos.

Philippe Seabra / Foi uma homenagem mesmo. O André até disse no palco que era para a banda que não chegou lá, infelizmente. Eu produzi a demo do Escola na EMI, você sabe. Na época, a EMI não quis porque estava entre o Escola e o Arte no Escuro e optaram pelo Arte no Escuro. O Herbert até ajudou, virou para o Jorge (Davidson, presidente da EMI Brasil) e disse: "dá o estúdio para eles gravarem". Eu me lembro que, depois, estávamos no estúdio, e o Bernardo (Müller, vocalista do Escola de Escândalos e irmão de André X) disse para o Herbert: "você acabou de mudar a minha vida. Você pediu e o Jorge deu o estúdio." Só que, infelizmente, não rolou. Agora, reconheço que a gente tem um pouquinho de culpa no cartório. A gente poderia ter dado mais força, mas estávamos tão preocupados em segurar a onda da Plebe, que já estava mal, o concreto já estava rachando dentro da Plebe.

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Rock Brasília / Isso foi em 1988?

Philippe Seabra / Foi. A gente estava partindo para a gravação do terceiro disco, a nossa relação com a EMI estava se deteriorando completamente a olhos vistos... Mas... Deixa para lá. E aí, fizemos esse belo show...

Rock Brasília / Vocês tocaram Luzes...

Philippe Seabra / Foi a única vez que eu fiquei arrepiado nesse festival todo, porque, na boa, faz tempo que eu não me dedico tanto a um projeto como esse. Não consegui nem dormir direito nessas duas semanas que antecederam o show, só pensando o que poderia dar errado. E deu tudo certo. Mas, digo a você que quando tocamos pela primeira vez Luzes, no ensaio, fiquei realmente emocionado.

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Rock Brasília / Havia na platéia uma expectativa de uma homenagem de vocês à Legião Urbana. Não passou isso pela cabeça de vocês?

Philippe Seabra / Eu cheguei a mencionar para o Gutje uma música inédita do Renato (Russo, vocalista da Legião Urbana, morto em 1996), que eu tenho gravada em k7, que é uma canção de ninar. Eu pensei em tocar ela lá no palco, mas não rolou. Eu falei para o Gutje e ele começou a rir, porque na letra tem uma parte que fala em gatinho - (cantarolando) "e todo gatinho um dia vai virar gatão, não se esqueça do seu coração". Aquelas coisas caretas do Renato, mas a música é superbonitinha. No show de estréia do Daybreak Gentlemen, eu cantei essa canção sozinho, no violão, além de Teorema, que é a minha canção favorita da Legião (cantarolando) "Não vá embora, fique um pouco mais, ninguém sabe fazer, o que você me faz". Mas era a noite da Plebe e, na boa, toda banda lá no festival estava prestando homenagens à Legião.

Rock Brasília / Está sendo realizado um documentário sobre a volta da Plebe?

Philippe Seabra / O André me escreveu por e-mail dizendo que tinha um cara aqui de Brasília querendo fazer um documentário. Pensei: Ah, legal! Mas quando soube que ele queria filmar o show em película... Falei: Pô, o cara é sério mesmo. O André então me passou o currículo do José Eduardo, os curtas que ele fez, os clipes que produziu, trabalhou com os Raimundos... Ele curte a banda, vê potencial nisso e, cara, dou graças a Deus que alguém está registrando esse momento. Os primeiros ensaios da gente e a primeira vez que a gente tocou com o Jander em dez anos. Isso está registrado, cara. Isso é fantástico. O José Eduardo vai ter livre acesso aos arquivos das tevês, para levantar material nosso no início da história da banda... Imagina, a Plebe no programa do Ronie Von, Clube do Bolinha, Chacrinha, Perdidos na Noite...

Rock Brasília / E o média metragem Ascensão e Queda de Quatro Rudes Plebeus?

Philippe Seabra / Está nos nossos planos relançar esse filme. Está na hora, estamos pensando em fazer um CD-ROM, temos o web site. Esse é o momento. Todo mundo está querendo resgatar essa história e fechar isso com chave de ouro. Existe um mito...

Rock Brasília / Vocês não têm medo de ser acusados de mercenários?

Philippe Seabra / Sempre vai ter um babaca para falar isso. É claro que é uma proposta tentadora, vai ter grana num projeto dessa envergadura... Mas, cara, quer saber, quem canta Proteção sou eu, quem canta Até Quando Esperar sou eu. Sou eu quem canta Johnny Vai À Guerra. Pô, foram 14 anos da minha vida com esse pessoal, a Plebe é uma coisa muito especial para mim e para muitas pessoas. Então, sempre vai ter alguém para falar... Não teve um babaca lá no show que disse que a volta da Plebe era armação da gravadora (Phú, baixista do Macakongs 2099, durante uma jam com Rumbora, Ponto G e o convidado Canisso, dos Raimundos)... Se ele soubesse o que é armação de gravadora... Cara, se ele soubesse um pouco de história, sacasse um pouquinho, ia perceber que a Plebe foi a banda mais injustiçada do rock brasileiro. Sem sacanagem.

Rock Brasília / Por que a relação de vocês com a EMI era tão complicada? O primeiro disco de vocês foi disco de ouro, Até Quando Esperar é hino... Não dá para entender.

Philippe Seabra / Eu realmente não sei. Não deve ser uma coisa pessoal, porque hoje em dia o pessoal da EMI mudou todo (longa pausa, enquanto Philippe procura um disco em vinil do Gang of Four). Não sei. Não consigo entender porque O Concreto Já Rachou não está em catálogo. Quando eu disse isso para os meus amigos músicos americanos, que tinha uma banda que ganhou disco de ouro mas o trabalho estava fora de catálogo, eles não acreditaram. Cara, ouve isso (pausa enquanto ouvimos We Live As We Dream, Alone, do disco Songs of Free, do Gang of Four)... Existem poucas músicas que eu escuto e que eu queria ter gravado. Eu realmente queria ter escrito isso (canta junto um trecho da música): "To crack the shell we mix with the others/ Some lie in the arms of lovers"... Eu fui ao show do Gang of Four e fiquei a dois metros do Andy Gill (guitarrista fundador da banda)... O cara é Deus!!! Voltando ao lance da EMI... Quer saber, eu quero todos os discos da Plebe em catálogo, quero colocar o disco do Daybreak no Brasil... É business? É, mas eu quero fazer isso com uma estrutura legal. Agora, me chamar de mercenário? (ironizando) A Plebe foi a banda menos comercial da história do rock brasileiro em termos de mainstream. Nunca fizemos o Globo de Ouro. A gente até gravou para o Globo de Ouro, mas não chegou a passar. Nunca fomos em novela, nunca entramos em coletânea de sucesso, nada, nada, nada. Mas sempre vai ter alguém falando. Fazer o quê? Rock and roll é isso, né? (risos) A Plebe foi a banda mais punk do mainstream brasileiro. E eu me orgulho disso. O André uma vez chegou a rasgar o selo da EMI, quando acabáramos de lançar o terceiro disco.

Rock Brasília / O fato de a Legião Urbana e os Paralamas do Sucesso, que eram bandas de Brasília contratadas pela EMI, terem vendido tanto numa determinada época, não levou a gravadora a esperar de vocês a mesma performance em termos de vendagem de discos?

Philippe Seabra / Sim, com certeza. Certamente. O primeiro disco recebeu disco de ouro, o segundo disco (Nunca Fomos Tão Brasileiros, 1988, EMI) faltou apenas 20 mil discos para receber também um disco de ouro e foi uma pena isso. Aqui no Brasil, o comerciante quer vender no atacado a 450, em vez de ir vendendo aos poucos. A mesma coisa é gravadora. Quer ter um artista que venda um milhão de discos, no lugar de dez artistas vendendo cem mil cada um. Veja o caso do Finis (Africae, banda da terceira geração de rock de Brasília, cujo segundo disco foi lançado pela EMI em 1986). A tiragem inicial cobriu os custos de gravação. No caso do Escola de Escândalos, eu também disse que a tiragem inicial ia cobrir os custos. Mas vai saber o que se passa na cabeça desses caras de gravadora. Oxalá eu soubesse como funciona. Agora, a Plebe foi injustiçada, eu acho, mas nós vacilamos muito. Muito mesmo. A gente brigou muito com a gravadora, mandava neguinho tomar no cu... Falava mal... Rasgamos o selo da gravadora fora... (risos) Isso sim é que é punk rock (risos). O Herbert falava para gente: cara, vocês são muito punks. São muito burros também, mas são muito punks (risos).

Rock Brasília / Como foi a participação sua no show dos Paralamas com os Titãs, que rolou aqui em Brasília?

Philippe Seabra / O Herbert entrou em contato comigo, estava em Goiânia, por intermédio de um jornalista, dizendo que queria me ver no palco e iriar rolar uma canja minha no show. E avisou: quero conversar. Eu cheguei ao show, achei até uma coisa muito simpática porque o Herbert me deu um pedal de presente. Deixa eu contar essa história, que é velha...

Rock Brasília / Fale sobre isso.

Philippe Seabra / Em 1982, quando o Herbert Vianna subiu para Brasília vindo do Rio, os Paralamas já haviam lançado o compacto Vital e Sua Moto, ele foi ao Rádio Center (centro comercial na zona central de Brasília onde Plebe, Legião, Capital Inicial e XXX ensaiavam), junto com uns figurantes - o Pedro (Ribeiro) e o Dinho (Ouro Preto, na época, futuro vocalista do Capital Inicial). Você sabe (risos) que, nessa época, quem mandava na cena musical de Brasília era a gente... O cara chegou com um bermudão, de óculos... Ficou no canto da sala, tirando uns solos de Eric Clapton. "Que porra é essa?", eu pensei (risos). A gente nem chegou a se falar, eu acho. Na semana seguinte, eu fui ligar o meu pedal flanger, modelo MXR, que ligava numa tomada e era 110 volts, só que aqui, como você sabe, a voltagem é 220 volts. E o pedal não funcionou. Eu pensei: "Pô, alguém queimou o meu pedal. Merda. Tem três pessoas que usaram a sala de ensaio". Perguntei: "Quem foi?" Alguém disse: "Foi o Ico (Ouro Preto, ex-guitarrista das bandas Aborto Elétrico e Legião Urbana)". Mas o Ico falou que não, que tinha sido o Herbert. Eu fiquei puto. Um ano e meio depois, quando a Plebe foi ao Rio para tocar pela primeira vez, eu já tinha dito - "fala praquele cara que ele queimou meu pedal". Descemos para fazer o show com Plebe, Legião e Paralamas. Show antológico no Circo Voador. Quando chegamos lá no Circo para fazer a passagem de som, o Herbert, que é um cara meio largo, chegou para mim: "Que papo é esse de dizer por aí que eu queimei o seu pedal? Que papo é esse?" Eu falei: "Não, não. Foi o Ico, foi o Ico" (risos). E o Herbert: "Tá bem, tá bem..." A gente passou o som, tocamos A Minha Renda. Na famosa passagem: "já sei o que fazer para ganhar muita grana, vou mudar meu nome para Herbert Vianna", o Herbert abriu um sorrisão e viu que o pessoal de Brasília tinha caráter... Ficamos amigos. Depois, ele acabou sendo nosso padrinho na EMI e, bem, o resto é história. Bem, ok. Fast forward da fita para os tempos atuais em Brasília (imitando o som de fita k7 em rotação rápida). Dezessete anos depois, os Paralamas vão tocar com os Titãs na capital, uma semana depois da volta triunfal da Plebe, estou chegando ao hotel, o Herbert avança em minha direção, a última vez que eu o havia visto fora há uns dois anos e meio, durante as gravações do disco Nove Luas, e diz: "Cara, eu tenho um presente para você". E me deu uma caixa, com um formato retangular, eu pensei que, de repende, era uma pica de Itu, sei lá, alguma coisa assim (risos)... Fiquei desconfiado e todo mundo ficou olhando. Eu abri e vi: um pedal MXR flanger, exatamente igual àquele meu. Ele assumiu, finalmente, que tinha culpa no cartório. Admitiu mesmo e eu falei: "Herbert, você está perdoado" (risos).

Rock Brasília / A produção de um eventual disco pela EMI ficaria sob a batuta do Herbert Vianna?

Philippe Seabra / Ele está disposto a falar com a EMI e interceder para que o novo disco seja lançado por lá e realmente me disse que quer produzir o disco. Resta agora esperar as negociações para ver como é que isso fica. Vamos ver. De qualquer maneira, a Plebe vai gravar esse disco. Isso é que é o mais importante. Os plebeus não perdem por esperar. E (empostando a voz, como se fosse um superherói) onde houver injustiça, a Plebe estará presente (entre risos, Philippe encerra a entrevista cantarolando o tema da canção do filme Superman).

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