Como uma gravação pirata acabou gerando o disco mais vendido do rock nacional
Por Bruce William
Postado em 26 de setembro de 2023
Embora não existam números oficiais, estima-se que o álbum mais vendido da história do rock nacional seja o "Rádio Pirata ao Vivo", lançado pelo RPM em 1986, com mais de 3 milhões de cópias vendidas.
O álbum foi gravado ao vivo nos dias 26 e 27 de maio de 1986 no Pavilhão de Convenções do Complexo do Anhembi, em São Paulo, e ele mostra a banda tocando sucessos como "Revoluções por Minuto", "Rádio Pirata" (que dá título ao trabalho), "Olhar 43" e as então inéditas "Naja" (instrumental baseado nos teclados de Luiz Schiavon) e "Alvorada Voraz", além de duas regravações: "London, London" de Caetano Veloso e "Flores Astrais" do Secos & Molhados - por sinal, o cantor Ney Matogrosso era o diretor do show.
E como relatou o jornalista Júlio Ettore no vídeo em que conta os bastidores da gravação do "Rádio Pirata ao Vivo", tudo começou quando, em outubro de 1985, o RPM se apresentou em Porto Alegre e, como eles haviam gravado até então somente um único álbum, se viram obrigados a incrementar o repertório com músicas inéditas e covers. E uma delas era "London, London", lançada originalmente por Caetano Veloso em 1971.
Acontece que um divulgador da gravadora CBS obteve autorização para gravar o show para usar como divulgação da banda, e haviam aquelas quatro músicas - as duas inéditas e as duas covers - que ainda não haviam sido registradas, então as pessoas que ouvissem aquelas músicas nas rádios não teriam como ir até uma loja de discos para comprar o álbum que contivesse as músicas.
E foi justamente uma delas, "London, London", a que bombou nas rádios, e aquilo fez com que a gravadora fizesse pressão para que a banda gravasse um álbum da forma que fosse, em estúdio ou ao vivo, não fazia diferença, desde que o álbum trouxesse a canção "London, London". Mas o empresário da banda, Manoel Poladian, não queria de forma alguma interromper a turnê que estava lotadaça e ele bateu de frente com a gravadora, inclusive relembrando que eles haviam deixado de divulgar a banda pelas baixas vendas do álbum de estreia.
A solução foi gravar um disco ao vivo. "Mataríamos três coelhos com uma cajadada só: estancaríamos a pirataria das músicas do show; teríamos tempo para terminar a turnê e, por fim, ganharíamos um tempo para descansar, tirar férias e voltar a compor um novo disco", disse Luiz Schiavon em declaração publicada no livro "RPM - Revelações por minuto".
Então foi assim que uma gravação pirata acabou gerando o disco mais vendido da história do rock nacional, conforme relata Júlio Ettore no vídeo a seguir, que traz muito mais detalhes sobre os bastidores da gravação de "Rádio Pirata ao Vivo", do RPM:
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