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Resenha - Queens of The Stone Age - Queens of The Stone Age

Por Fernando Claure
Postado em 28 de abril de 2024

Entre o meio da década de 1980 e o final da de 1990, a cena musical de Palm Desert, na Califórnia, se transformou de uma consagração local para um efeito global. Bandas como Fu Manchu, Kyuss, Mondo Generator, Nebula e Queens of The Stone Age são precursoras dessa pequena cena e hoje são conhecidas mundialmente por sua sonoridade alta, marcante, psicodélica e intensa. Uma das personalidades que ajudaram a fundar esse som é o Josh Homme, protagonista do Kyuss do começo ao fim e que depois veio a fundar o QOTSA.

"Isso acabou. [Essa] ideia de tentar adivinhar o que alguém que você não conhece pode estar pensando enquanto você tenta algo. Nós estávamos apenas fazendo o único trabalho que não possui regras, e estávamos travados, com regras que nós mesmos estabelecemos ao longo dos anos. Com [Stone Age], nós somos mais abertos para pegar algo e tentar ir além e fazer algo maior, sem barreiras", reflete Homme sobre seu tempo no Kyuss e o início do Queens of The Stone Age para a MTV, em 1998.

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Homme começou suas atividades com a banda logo após o fim do Kyuss em 1995, lançando três EPs entre 1996 e 1998. "Gamma Ray" era o nome da banda e do EP, até que Homme recebeu uma notificação de cessar e desistir de uma banda alemã de power metal de mesmo nome. Ao mudar de nome para Queens of The Stone Age, Homme transferiu as faixas "If Only Everything", "Born to Hula" e "Spiders and Vinegaroons" para o novo álbum split "Kyuss/Queens of The Stone Age", de 1997. O projeto reuniu brevemente Josh com seus ex-colegas de trabalho, mas vida que segue para o terceiro e último EP, "The Split CD", agora em colaboração com a banda Beaver. As faixas "The Bronze" e "These Aren’t the Droids You’re Looking For" no projeto marcaram a estreia do baterista Alfredo Hernández, ex-Kyuss, agora no QOTSA.

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Após tantas colaborações e músicas gravadas, o Queens of The Stone Age estreou seu primeiro LP em setembro de 1998, quatro dias após o lançamento do "The Split CD". O grupo agora estava firmado em Josh Homme como vocalista e guitarrista, Alfredo Hernández como baterista e Nick Oliveri no baixo. Os fundamentos do grupo ainda estavam bastante atrelados ao Kyuss, o que faz sentido, considerando que todos os três eram ex-membros do conjunto. Vale ressaltar que Oliveri entrou um pouquinho tarde para a banda e teve participação nas gravações apenas a partir do segundo álbum, "Rated R". Por isso, Homme assumiu o baixo, teclado e piano e foi creditado como um de seus pseudônimos, Carlo Von Sexron, que viria a aparecer de novo no grupo "Eagles of Death Metal".

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O CD utilizado para esta resenha é a reedição de 2011, mas o conteúdo é similar ao original de 1998. A foto de capa e na parte de trás do livreto vem do livro "The Pin-up: A Modest History" por Mark Gabor. A escolha é refletida por todo o resto do encarte, com algumas imagens espalhadas nas páginas. Os mamilos das moças nessas duas primeiras páginas do livreto estão tapados, mas logo nas próximas páginas de letras, agradecimentos e créditos (em inglês e espanhol), todas as fotos são de mulheres sem sutiã. A imagem na parte de trás da capa de acrílico retrata Homme, Oliveri e Hernández no quintal de uma casa. Muito provavelmente um detalhe intencional, Homme usa uma camiseta do DARE, um projeto dos EUA similar ao Proerd do Brasil, enquanto a camiseta de Oliveri possui "Cocaine" escrito na fonte da Coca-Cola. No fundo estão um disco voador e um poste em formato de cruz. Vale mencionar que a capa dos CDs e LPs são diferentes, sendo a do LP feita pelo artista Frank Kozik, conhecido por seu trabalho com bandas como Offspring e Melvins.

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O álbum começa com a faixa "Regular John", que apresenta um começo promissor, com um instrumental básico que foca em criar um ritmo estiloso e cativante. O vocal de Homme é suave e sem muitos exageros ou maneirismos que destaquem sua performance. A letra fala sobre uma relação em desenvolvimento entre um cliente e uma prostituta e, de acordo com Homme, o número que é cantado no segundo verso é um número de telefone com um dígito extra. Apesar de não ter muitas tiradas criativas nos instrumentais, a simplicidade da música apenas mascara o experimentalismo que Homme viria a exibir em algumas faixas seguintes. Em seguida, "Avon" mostra algumas similaridades com a faixa anterior, como o instrumental frenético e constante, a entrega vocal tranquila de Josh Homme e a simplicidade estrutural da melodia. O refrão de "tu tu tu tuUuu" é o exemplo mais concreto da simplicidade da faixa, mas extremamente boa. "Avon" foi lançada inicialmente em "Volume 3: Set Co-Ordinates For The White Dwarf!!!", terceiro álbum do coletivo musical The Desert Sessions, fundado por Homme.

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Uma das músicas mais famosas do álbum, "If Only" é um tesouro esquecido da discografia do QOTSA. O refrão fica preso na sua cabeça imediatamente e a guitarra de Homme, inteligente e mais elaborada dessa vez, casa perfeitamente com a bateria de Hernández. É com certeza a melhor música para apresentar para um novo fã da banda. Inicialmente, começou como "If Only Everything" nos primeiros projetos de Homme pós-Kyuss e eventualmente foi regravada e lançada apenas como "If Only". A quarta faixa, "Walkin’ On The Sidewalks" é a primeira música com um instrumental mais diferente e menos casual, o que por consequência acaba sendo menos cativante que as anteriores, mas tão boa quanto. A bateria de Hernández começa a se destacar mais e se tornar a protagonista da música. O único ponto negativo é o fim, que acaba sendo um pouco longo demais, mas nada que estrague o som inteiro.

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Do início ao fim, a guitarra rítmica na faixa seguinte "You Would Know" segue um padrão que repete tanto que acaba sendo o que fica na sua cabeça ao invés da letra. A bateria também repete um padrão, mas acaba sendo menos expressiva que a guitarra. A letra faz algumas alusões sutis a drogas, o uso delas e a perspectiva de quem é contra elas. O alcance vocal de Homme não muda muito no decorrer da faixa, o que combina com o tema da música nas letras e nos instrumentais, criando um ambiente apático. Logo após uma faixa mais tranquila, "How to Handle a Rope" chega para retomar a fórmula das duas primeiras músicas, incluindo o ritmo frenético e forte. Josh Homme agora incorpora um vocal mais expressivo mas um pouco rígido e não polido para cantar uma música sobre suicídio.

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Em "Mexicola", o baixo introdutório (que volta a aparecer no meio da música) é pesado, sério e ameaçador, o melhor jeito de começar uma música sobre uma prisão no México. Assim como "If Only", é uma das faixas mais populares do álbum, o que se dá principalmente pela combinação da entonação de Josh com os instrumentais que deixam a experimentação de lado e flertam mais com o metal do Kyuss. Já por um outro lado, a primeira faixa instrumental do álbum, "Hispanic Impressions", surge como uma boa transição de ideias, mas acaba resultando na música menos atraente do projeto. A ausência dos vocais e o estilo adotado não ajudam a manter o interesse e por isso acaba sendo a primeira decepção da banda.

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Só o início da próxima faixa, "You Can’t Quit Me Baby", já é o suficiente para revigorar o interesse pelo resto do álbum que faltou na última. Possui uma linha de baixo mais básica, com foco na guitarra. Os backing vocals e ‘oohs’ de Homme dão uma aura mais relaxada para aliviar a rapidez e o caos da faixa anterior, apesar do final que gradativamente começa a acelerar. Além de ser a música mais longa do álbum, possui uma possível referência a "I Can’t Quit You Baby", do Led Zeppelin. Em seguida, "Give The Mule What He Wants" traz um dos melhores riffs iniciais de baixo do LP inteiro. O instrumental é tão absorvente que você já começa a cantarolar junto no ritmo sem perceber. Na última música do lançamento original, "I Was a Teenage Hand Model" começa como uma história. O refrão de "nah nah nah" em um estilo de zumbido de Josh Homme e a narrativa depressiva com um personagem no fundo do poço são os elementos que compõem a faixa final do álbum. Alguns dos efeitos sonoros no início voltam para o final, parecendo um jogo de Atari 2600, até que uma voz de rádio começa a falar algo inteligível. É uma música relaxante para fechar um projeto com muitas experiências e diversidade sonora, considerando que este foi o primeiro projeto de Homme e Hernández após o Kyuss.

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No relançamento do álbum de 2011, a banda decidiu incluir algumas músicas de projetos antigos. A primeira, "The Bronze", lançada inicialmente no EP "The Split CD", começa um pouco amena, assumindo um tom mais explosivo em seguida. As excelentes tiradas de Josh, sua voz flutuante e a base concreta na percussão de Hernández criam uma melodia um pouco dramática mas suave, doce e salgada ao mesmo tempo. Em "These Aren’t The Droids You’re Looking For", também do "The Split CD", o caos de "Hispanic Impressions" volta, mas um pouco melhor estruturado. As liberdades experimentais abordadas mostram que se demonstra datada e esquecida por um bom motivo. O título referente a Star Wars é tão aleatório quanto a ideia da música.

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Para encerrar todas as edições do álbum (até hoje), "Spiders and Vinegaroons" é a terceira e última faixa instrumental presente, originalmente presente no EP split com o Kyuss. As palmas e a ausência da bateria do início ao meio trazem um sentimento mais sinistro que as faixas anteriores não exibiram, ao mesmo tempo mais calma e serena que todas as outras músicas. Quando a bateria surge, parece que vira uma linha instrumental do Nine Inch Nails da década de 1990. Diferentemente de "You Can't Quit Me Baby", você sente o tempo passar com esta música, que é a segunda mais longa do álbum.

O álbum é sensacional e muito bem produzido. Apesar do baixo servir mais como um suporte para a guitarra e não ter muitas ideias próprias, Homme fez um trabalho excelente com os dois instrumentos, enquanto Hernández faz um ótimo papel de assistente para ajudar a concretizar a visão do líder sobre a sonoridade do álbum. "If Only", "Regular John", "Give the Mule What He Wants", "How to Handle a Rope (A Lesson in the Lariat)" e "Mexicola" são faixas muito bem construídas, que exemplificam a criatividade que Josh Homme viria a perfeccionar em lançamentos futuros e outros projetos. Os vocais são bons, mas não tão quanto em outros álbuns. O álbum original em si é um clássico, mas a adição das faixas extras espalhadas não faz muito sentido, considerando que essas são muito diferentes em comparação com o resto do material. Algumas das músicas não são muito cativantes e poderiam ter sido adicionadas no final como faixas bônus para manter a estrutura do projeto de 1998 intacta. 8.5/10.

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Faixas

1. Regular John
2. Avon
3. If Only
4. Walkin’ on the Sidewalks
5. You Would Know
6. The Bronze (incluída na versão de 2011)
7. How to Handle a Rope (A Lesson in the Lariat)
8. Mexicola
9. Hispanic Impressions
10. You Can’t Quit Me Baby
11. These Aren’t The Droids You’re Looking For (incluída na versão de 2011)
12. Give The Mule What He Wants
13. Spiders and Vinegaroons (incluída na versão de 2011)
14. I Was a Teenage Hand Model

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Vocal, guitarra, teclado, piano - Josh Homme
Baixo - Carlo Von Sexron (pseudônimo de Josh Homme)
Bateria - Alfredo Hernández
Produção - Joe Barresi e Josh Homme
Tempo: 46min e 27seg
Selo: Loosegroove Records (1998), Rekords Rekords (2011)


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Sobre Fernando Claure

Jornalista formado em 2023, cresci ouvindo Sabbath e Metallica com o meu irmão mais velho e hoje escuto de tudo e mais um pouco. No momento meu ato favorito é o Nine Inch Nails, mas é capaz que mude daqui a um tempo. Se pudesse pegar três ídolos pessoais, estes seriam Iggy Pop, Glenn Danzig e Trent Reznor.
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