"Necrocosmos" consolida o Vazio como um dos maiores nomes do black metal nacional
Resenha - Necrocosmos - Vazio
Por Mário Pescada
Postado em 22 de abril de 2024
Nota: 9
Quando escutei "Eterno Aeon Obscuro" (2020), disco debut do VAZIO, fiquei impressionado com o a qualidade do grupo paulista formado apenas quatro anos antes. Com muita agressividade e uma aura verdadeiramente negra nas suas músicas, entregou o que para mim foi um dos melhores discos que escutei naquele ano.
Havia, portanto, muitas expectativas criadas sobre como a banda se portaria no temido segundo disco, já que a estreia havia sido em alto nível. Quatro anos se passaram e em março agora o VAZIO lançou seu segundo disco, "Necrocosmos" (2024). Após várias audições, posso dizer que novamente o quarteto entregou um material muito acima da média.
"Necrocosmos" (2024) tem similaridades com seu antecessor, mas está longe de ser um "parte dois" dele. A agressividade do black metal de outrora foi mantida, mas há mudanças nítidas nas estruturas das músicas, como o uso de vozes dobradas e coros remetendo a rituais, presentes nas faixas "Escuridão, Seja Minha Guia", "Oráculo De Ossos", "Necrocosmos", "Funeral Astral" e em "Legiões Da Chama Negra", que com seu final arrastado, guiado pelo coro "Legiões", chega a ser hipnotizante.
Se no disco anterior as letras, obra do guitarrista/vocalista Renato Gimenez, eram voltadas ao obscuro/desconhecido, aqui o foco é mais para a necromancia e na interação com o mundo espiritual. Ao contrário da maioria das bandas do estilo que preferem a temática do satanismo, o VAZIO tem uma visão mais voltada ao espiritual, inclusive, seu encarte traz uma única e direta dedicatória: "Este trabalho é dedicado aos poderosos mortos".
Falando em encarte e artes em geral, o cuidado que o grupo dedica as artes visuais dos seus discos precisa ser elogiado e que sirva de inspiração as demais bandas nacionais. A arte de "Necrocosmos" (2024) é extremamente bem-feita: lançado no formato CD, o digipack se desdobra em três painéis ilustrados por Rafael Frattini, que também fez a arte de "Eterno Aeon Obscuro" (2020), e criador da capa e do macabro, mas, ao mesmo tempo fascinante pôster, com suas cores e traços fortes.
Trabalhado durante um ano e meio no estúdio Sinfonia de Cães, o som está mais limpo do que o apresentado no trabalho anterior. Apesar do instrumental brutal durante quase toda duração do disco, todos os instrumentos ficaram bem-distribuídos, como as ótimas linhas de baixo de "Cerimônia Dos Espíritos Primordiais" e "Reino Das Almas", mérito da mixagem feita pelo guitarrista Eric Cavalcante e da masterização do engenheiro Neto Grous (Absolute Master). Os vocais distorcidos de Renato estão mais claros e mantém aquela atmosfera tétrica nas músicas, como nas faixas "Escuridão, Seja Minha Guia" e a funesta "As Lágrimas Que Regam Os Túmulos". Assim como em "Eterno Aeon Obscuro" (2020), o grupo acertou ao colocar faixas instrumentais que quebram o extremismo do disco. Se engana quem acha que por terem percussão e sintetizadores, "O Despertar Do Okutá" e "Eteuê Eteuá Kotô Shiuá", não conseguem soar ameaçadoras como as outras músicas do disco.
"Necrocosmos" (2024) foi lançado pela parceria dos selos Xaninho Discos, Black Hole Productions, Misanthropic Records, Excarnation Records e Sinfonia de Cães.
A serpente das assas negras rasga os céus e o VAZIO se consolida como um dos maiores nomes do black metal nacional.
Formação:
Renato Gimenez: voz e guitarra
Eric Cavalcante: guitarras e teclados
Nilson Slaughter: baixo
Daniel Vecchi: bateria
Luís Tykyra (convidado): efeitos eletrônicos
Tata KixiKaringoma e Escola Utakizabula (convidado): percussão
Cauê Santos (convidado): vozes adicionais
Faixas:
01 Escuridão, Seja Minha Guia
02 Cerimônia Dos Espíritos Primordiais
03 Oráculo De Ossos
04 Necrocosmos
05 O Despertar Do Okutá (instrumental) com Luís Tykyra e Tata KixiKaringoma e Escola Utakizabula
06 As Lágrimas Que Regam Os Túmulos
07 Funeral Astral
08 Reino Das Almas
09 Legiões Da Chama Negra
10 Eteuê Eteuá Kotô Shiuá (instrumental) com Cauê Santos
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