Camisa de Venus: Inteligência e sarcasmo já no debut
Resenha - Camisa de Venus - Camisa de Venus
Por Mário Orestes Silva
Postado em 08 de fevereiro de 2020
O próprio Marcelo Nova admite em entrevistas que a sonoridade da banda incomodava no início de carreira. Interessante que quanto mais se conhece da Camisa de Venus, maior é a atração por ela. As letras inteligentes, os timbres das guitarras, o sarcasmo explícito e o tom de voz debochado são tão cativantes que não se demora pra se tornar fã.
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Este primeiro disco pode soar punk rock, mas a própria banda nega o rótulo, não querendo prender-se a causas adolescentes ou movimentos idealistas. "Passamos Por Isso" abre a bolacha demonstrando para os executivos da gravadora que tentar mudar o som e o nome da banda não foi uma boa ideia, como se achava. Infelizmente a versão digitalizada que se encontra disponível sofreu censura nos comentários finais da música que teve a palavra "ridículo" (dirigida para o tema "Brasileirinho"), literalmente cortada. "Metástase" é a segunda e tem uma das letras mais inteligentes que do rock nacional. "Bete Morreu" é um punk rock trágico e sempre cantado em uníssono pelo público. "Correndo Sem Parar" expõe a psiquiatria da rotina urbana de uma forma bem bukowiskiana. A versão de "Negue" que fecha o lado A do disco, é uma das paródias mais debochadas já registradas. "O Adventista" é outra pérola de letra que leva à reflexão. "Dogmas Tecnofacistas" é outro punk rock com letra direta. "Homem Não Chora" explora com ironia o machismo de nossa sociedade. "Passatempo" é totalmente atemporal e estará sempre atualizada pela loucura da vida urbana, inspirada em "That's Entertainment" do The Jam. "Pronto Pro Suicídio" é uma das mais trágicas já feitas em toda carreira do grupo. E "Meu Primo Zé", inspirada na canção "My Perfect Cousin" dos norte-irlandeses The Undertones, fecha o álbum que marca a estreia em LP da Camisa de Venus no ano de 1983.
O fato de estar fora de catálogo, o álbum homônimo à banda e a versão lançada em CD não fazer jus ao legado, torna este disco uma pérola esquecida. O "arquivo morto" pelos diretores da gravadora que não aguentaram por muito tempo o gênio dos membros, que eram irredutíveis naquilo que se propunham. Vale lembrar que tal garantia de que sabiam o que estavam fazendo, está na confirmação de que Marcelo Nova não mudaria hoje palavra alguma de nenhuma das letras. Vale conferir.
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